No dia seguinte, em mais uma manhã de verão, diferente do normal, eu não acordei atrasado dessa vez. Depois de levantar da cama, eu recomeço a minha rotina.
Primeiro eu coloco o meu uniforme, depois eu vou pro banheiro e arrumo o meu cabelo pra e ficar bem estiloso. Aí então eu vou pra cozinhar tomar café com a minha família.
Eu entro lá e todo mundo está no seu lugar de sempre, meu avô lendo o seu jornal e a minha irmã cozinhando o nosso café.
Antes era o nosso avô que cozinhava pra nós, mas depois que a Helen fez quatorze anos ela aprendeu a cozinhar e sinceramente, a comida dela é bem melhor que a do vovô. Depois disso ela assumiu a cozinha, ela diz que gosta de cozinhar, então sorte a nossa.
Na hora eu me sentei e fiquei esperando ela acabar de preparar, normalmente quando eu acordo a comida já tá na mesa, mas dessa vez eu acordei na hora. Em pouco tempo ela já serve o café pra nós, hoje ela fez omelete, delícia.
Quando a Helen foi me servir o prato, ela me olhou de canto de olho, um olhar de raiva, acho que ela ficou bolada mesmo dessa vez. Como sempre nós começamos a comer em silêncio, a Helen no celular e o vovô lendo o jornal:
- Finn, por que você faltou ao treino ontem? - perguntou o meu avô.
Ou pelo assim que era:
- Uh, eu... Me voluntarie pra ajudar o zelador depois da aula, aí eu fiquei muito cansado e decidi faltar no treino ontem.
- Mentira! Ele ficou de castigo depois da aula por causa de uma briga! – informou a Helen, dedo-duro.
- Helen! Isso não é da sua conta! - eu disse.
- Mesmo assim, por que você faltou no treino? Se não pode ir à tarde, devia ter ido à noite.
- É ruim velhote!
- Moleque fraco... Você pelo menos ganhou a briga que te rendeu um castigo?
- Vovô! Não incentiva ele!
- Sim, eu ganhei e com folga aliás.
Mesmo ainda parecendo meio bravo, ele voltou a ler jornal dele como sempre, então por enquanto, eu acho que com o vovô tá tudo bem.
Depois de acabar o café, eu corri pro banheiro e escovei meus dentes, como eu já disse antes, eu não escovo os dentes antes de comer, afinal o gosto da comida fica horrível quando se faz isso.
A gente se despede do nosso avô, sem muita enrolação, agora nós pegamos a estrada.
O caminho pra escola não é muito longo, geralmente nós levamos uns dez minutos pra chegar. Hoje eu percebi que Helen nem quer olhar na minha cara, ela ficou andando na minha frente o caminho todo.
Caramba, ela nem quer ficar do meu lado, deve estar irritada além da conta, mas eu sei como contornar essa atitude. Os meus dezessete anos de experiência como irmão mais velho me ensinaram muito.
Silenciosamente, eu começo a andar mais rápido, quando eu já estou bem perto dela, eu me aproximo por trás e começo a fazer cosquinhas na cintura dela. Ela começou a rir na hora, isso me trás lembranças de quando ela era criança, mas depois de uns dois segundos de alegria, ela se virou e tentou me acertar um cruzado.
Cruzado esse que eu desvie é claro. Ela ficou me encarando com uma raiva fervente nos olhos, deu até medo:
- Qual o seu problema!? Irmão desnaturado!
- Pronto, agora você voltou a falar comigo.
Acho que eu escolhi mal as palavras, porque depois que disse isso, ela voltou a andar pisando duro enquanto resmungava baixinho, talvez os meus anos de experiência não sejam tão grande coisa assim.
Depois de um tempinho nós chegamos no colégio, a frente dele fica sempre cheia de pessoas de bobeira antes das aulas. As amigas da Helen, a Mia e Mai estavam paradas no portão esperando ela.
Logo que ela viu as amigas a Helen já seguiu o caminho dela, caramba, ela nem me deu um tchau:
- Ah, oi irmão da Helen! – a Mia gritou isso quando me viu, ela é tão fofa.
A minha irmã e as amigas dela seguiram o caminho delas, agora que eu tô sozinho, é minha vez de ir pra sala de aula.
A minha sala fica no segundo andar, naturalmente eu passo pela escada pra chegar nela, mas nos últimos dias tem um grupinho do primeiro ano que sempre que passo por ali, eles ficam me olhando feio.
Eles não fizeram nada, então eu ignoro, se bem que eu e o pessoal sempre temos que segurar o Jonny pra ele não voar no pescoço deles. Semana passada eu tive que segurar ele no mata-leão pra garantir.
Passando pela frente das salas do andar de baixo, eu vejo uma comoção perto da escada, mas tem muita gente em volta, então eu não consigo ver direito. Quando eu me aproximo, eu passo pelas pessoas e aí eu consigo ver.
Caramba, os carinhas que me olham feio toda vez que eu passo na escada estavam enfileirados no chão, todos de joelhos. Na frente deles estavam uns três monstros com as braçadeiras do conselho estudantil. Até eu tive medo daqueles caras.
No meio dos gigantes do conselho estudantil, tava a presidente do conselho, ela fica tão pequena no meio desses caras que fica difícil ver ela. A presidente tava anotando alguma coisa em um bloco de notas:
- Muito bem, perturbação da ordem, atrapalhar o fluxo da escada e ameaçar outros alunos, querem adicionar mais alguma coisa na lista de infrações rapazes? - perguntou a presidente, com a mesma expressão de general do exército de sempre.
- N-não - responderam os caras no chão, os coitados tão até gaguejando de medo, tadinhos.
- E vocês em volta! Não tem nada pra ver aqui, todos pra salas, faltam cinco minutos pro sinal tocar!
Em menos de cinco segundos, a multidão se dissipou toda, mas ninguém correu, até porque não se pode correr nos corredores, a essa altura acho que ninguém quer ser o próximo a levar a bronca.
Minha curiosidade falou mais alto, então eu continuei assistindo. A presidente colou os papéis com as reclamações nas testas deles. Nessa hora ela me percebeu olhando, não sei por que, mas ela me olhou com um sorriso convencido e então seguiu seu caminho.
Mesmo não sabendo o porquê ela fez isso, o sorriso dela me deu raiva, qual o problema dela? Mas quando eu parei de sentir raiva dela, eu voltei a olhar pro grupinho da escada, os coitados ainda estavam de joelhos no meio do corredor, nem se atreviam a se mexer.
Dava pra ver na cara deles que o susto que eles levaram não foi pequeno, provavelmente os gigantes do conselho devem ter assustado eles. Confesso que eu fiquei com dó, eu nem consigo imaginar o que a presidente fez pra assustar eles assim.
Bom, isso também não tem nada a ver comigo, né? Eu passei pelo grupinho e subi as escadas pra chegar na sala. Quando eu cheguei no segundo andar o sinal tocou, eu ignorei e continuei andando.
Quando eu chego na frente eu ouso uma voz familiar de dentro da sala, eu abro um dedinho da porta e vejo ela, a professora de matemática, uma velha chamada Agnes! Como eu pude esquecer que a primeira aula é dela. Ela sempre chega na hora exata e pune você por se atrasar um minuto. Droga!
Agora danou-se, eu tô atrasado, se ela me vir, eu vou ser punido, mas eu também não posso simplesmente ficar do lado fora. Como a aula acabou de começar, ela ainda não deve ter feiro a chamada, então eu ainda tenho chance, basta entrar sem ela me ver.
Eu fico olhando e de repente ela começa escrever no quadro, minha chance! Na hora eu abro a porta de leve pra não fazer barulho e vou engatinhando por de trás das pessoas pra não ser visto.
O pessoal me percebe passando trás deles, mas o máximo que eles fazem é rir de mim achando engraçado, eu tenho uma boa relação com todo mundo, graças a isso ninguém quer me ferrar.
O plano deu certo, eu tô pertinho da minha carteira e a professora não me viu.
Som da porta abrindo:
- Desculpe o atraso professora, assuntos do conselho - é a presidente, ela também tá atrasada!
- Ah, sim Alya, como é você que está dizendo, eu acredito que você deve ter tido uma boa razão, mas não serei tão conivente na próxima vez.
- Sim, me desculpe senhora.
A professora volta a escrever no quadro como se nada tivesse acontecido, eu não acredito, ela não me viu! Eu tô salvo, eu fico me vangloriando na minha cabeça, mas aí eu olho pro Mike, ele tá apontando pra presidente, eu me viro e percebo que a presidente tá me encarando.
Nós fazemos contato visual e eu travo na hora, eu viro pra ela e fico de joelhos, junto as mãos, praticamente implorando pra ela não dizer nada:
- Professora, o aluno Finn Taylor também chegou atrasado e está tentando entrar sem autorização - disse a presidente, dedo-duro do caramba!
- Hum, é mesmo? Onde ele está?
A presidente aponta pra mim. Qual é a dela?! Sem ter escolha, eu me levanto e todo mundo olha pra mim, que vergonha! A professora me encara e diz:
- Ora, ora, ora senhor Finn, não bastando estar atrasado, você ainda tentou me enganar?
- Eu não diria enganar, tá mais pra... esconder a verdade?
- Hum, imagino que não, Alya, por favor, entregue uma advertência para o Finn. Sua punição vai ser ficar depois da aula para me ajudar com alguns papéis.
Saco! De novo, duas vezes seguidas:
- Agora sente-se, vamos começar a aula.
Completamente derrotado, eu me sento na minha cadeira e pego o meu caderno, enquanto eu procuro a matéria, a presidente chega do meu lado. Ela me entrega um papel e vai pra mesa dela, é a minha advertência.
A minha vontade é de amassar esse papel e jogar nela, mas eu sei que isso só vai dar ruim, então eu devo me acalmar, me lembrar das técnicas de meditação que o meu avô tentou me ensinar antes.
Mas nessa hora, eu ouvi uma risada, eu olho pro Mike e na hora ele desvia o olhar, ele tá rindo de mim, amigo traíra. Pelo jeito esse vai ser outro longo dia.
Continua...
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Atualizado até capítulo 51
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