Assenção aos Deuses
Capítulo 1: O Encontro do Destino
A cidade de Orta era pequena, cercada por montanhas que escondiam antigos mistérios. Mariana vivia lá desde que se lembrava. Ela era uma jovem comum, trabalhava em uma pequena biblioteca e tinha uma vida tranquila, embora, às vezes, sentisse que algo em seu destino esperava para acontecer. Seus dias se repetiam, mas ela gostava da simplicidade de sua rotina. Entre livros e caminhadas pela praça central, o mundo parecia estável, e ela não esperava grandes surpresas.
Certo dia, uma tempestade desabou de repente sobre Orta, uma força inusitada para a estação. Mariana estava fechando a biblioteca quando, ao sair, foi surpreendida pela ventania. Correu para se abrigar sob a marquise de um prédio antigo, mas a chuva caía com tanta força que quase a cegava. Foi nesse momento que ela viu um homem estranho parado no meio da praça.
Ele estava completamente seco, mesmo sob a tempestade furiosa. Sua aparência era incomum. Alto, de feições perfeitas, e seus olhos brilhavam como relâmpagos. Mariana sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Havia algo nele que era ao mesmo tempo fascinante e assustador.
Curiosa, ela se aproximou, e assim que seus pés tocaram a borda da praça, a tempestade cessou abruptamente. Um silêncio incomum tomou conta do lugar. O homem virou-se lentamente, e quando seus olhos se encontraram, Mariana sentiu uma onda de poder invisível ao seu redor.
“Você está bem?”, ela perguntou, apesar da estranheza da situação. Sua voz soou mais frágil do que esperava.
Ele sorriu levemente, como se já soubesse quem ela era. "Você não sabe quem sou, Mariana?" A maneira como ele pronunciou seu nome fez o coração dela bater mais rápido. Como ele sabia seu nome?
“Eu sou Evander,” ele continuou, “deus dos ventos e das tempestades, e estive esperando por você.”
Mariana riu nervosamente. "Isso deve ser uma piada, certo?" disse ela, ainda incerta sobre o que estava acontecendo.
Evander deu um passo à frente, e o chão sob seus pés pareceu vibrar levemente. “Eu não brinco, Mariana. Sua vida sempre esteve destinada a se cruzar com a minha. Você foi escolhida pelos deuses há muito tempo, e agora chegou o momento.”
Ela deu um passo para trás, o coração disparado, sem saber se deveria fugir ou ouvir o que ele tinha a dizer. Mas algo na voz de Evander era irresistível, como se ele estivesse puxando uma corda invisível que ligava suas almas.
“Escolhida? Escolhida para o quê?” Ela conseguiu perguntar, apesar do nó em sua garganta.
“Para se tornar minha esposa,” ele disse calmamente, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Mariana congelou. Aquelas palavras giravam em sua mente, mas não faziam sentido. Como uma pessoa comum poderia ser esposa de um deus? No entanto, no fundo de sua alma, algo parecia reconhecer aquelas palavras, como se uma memória antiga e esquecida estivesse sendo trazida de volta à superfície.
“Eu não sou especial,” ela murmurou, quase como um protesto. "Sou só uma bibliotecária."
Evander se aproximou ainda mais, sua presença esmagadora. “Você é muito mais do que isso, Mariana. Acredite em mim, sua verdadeira natureza será revelada com o tempo. Mas agora, precisamos partir. Sua vida está prestes a mudar para sempre.”
A mente de Mariana estava em turbilhão, mas antes que ela pudesse responder, o vento voltou a soprar ao redor deles, formando uma espécie de vórtice. Evander estendeu a mão para ela. "Venha comigo, Mariana. Não há como voltar atrás agora. O destino já foi selado."
Olhando para a mão dele, Mariana soube que sua vida nunca mais seria a mesma. Ela tinha uma escolha a fazer: permanecer em sua vida comum ou mergulhar no desconhecido ao lado de um deus.
Com um último suspiro de hesitação, ela pegou a mão dele.
E então, o vento os levou.
Mariana não sabia o que pensar. A mão de Evander, quente e firme, segurava a dela com um toque ao mesmo tempo reconfortante e assustador. O vórtice de vento ao redor deles crescia, e o mundo que ela conhecia parecia se dissolver. As luzes da praça e as construções de Orta ficaram distantes, como se estivessem sendo engolidos por um turbilhão. O ar ao seu redor era espesso e, por um breve momento, tudo ao seu redor parou.
Ela fechou os olhos, o coração disparado. Quando os abriu novamente, já não estava mais na pequena cidade que conhecia. O cenário ao redor era completamente diferente.
Mariana agora se encontrava em um vasto campo de colinas ondulantes, o céu acima de um azul tão profundo que quase doía aos olhos. As nuvens se moviam com uma velocidade estranha, como se fossem seres vivos. O ar era puro, e uma brisa suave, muito diferente do vento feroz que a trouxera ali, acariciava seu rosto. Ao longe, montanhas imponentes cortavam o horizonte, e sobre elas pairavam nuvens densas que relampejavam silenciosamente, como se estivessem sempre à beira de uma tempestade.
Ela olhou para Evander, que agora parecia ainda mais imponente. Sua figura resplandecia sob a luz do sol, e seu semblante tranquilo não mostrava nenhuma dúvida. Ele observava Mariana atentamente, esperando que ela processasse o que estava acontecendo.
"Que lugar é esse?" ela perguntou, com a voz trêmula.
"Você está no meu domínio agora", respondeu Evander. "Este é o Reino dos Ventos, meu lar. Aqui, o tempo obedece à minha vontade, e os céus respondem aos meus desejos."
Mariana respirou fundo, tentando encontrar algum sentido no que ele dizia. Seu lar? Deus dos ventos? Aquilo parecia impossível. Era como estar em um sonho, mas tudo era absurdamente real — o cheiro da grama, o toque suave da brisa, o calor do sol em sua pele.
"Por que eu?" perguntou, sentindo uma pontada de angústia. "Por que fui escolhida?"
Evander se aproximou, seus olhos brilhando com uma mistura de intensidade e gentileza. "Há muito mais em você do que pode imaginar, Mariana. Seu destino está entrelaçado com o meu. Há tempos, os deuses vislumbraram uma ligação entre nós, algo que transcende o tempo. Você tem uma força interior, uma conexão com o equilíbrio natural que nem você mesma conhece."
Ela franziu o cenho. "Conexão? Eu sou apenas uma bibliotecária, vivo uma vida normal..."
"Normal?" Evander sorriu, mas não era um sorriso de zombaria. "A normalidade é apenas uma percepção limitada do que você conhece. Há muito mais além disso. A partir do momento em que você tocou minha mão, sua vida antiga ficou para trás."
Mariana sentiu um frio na espinha. "Então, eu nunca mais vou voltar?"
Ele ficou em silêncio por um momento. "Você ainda pode voltar, se realmente desejar. Mas saiba que, se o fizer, as forças que já foram colocadas em movimento não poderão ser desfeitas. Algo maior está em jogo, algo que você ainda não compreende. Você tem um papel a desempenhar entre os deuses."
"Eu? Entre os deuses?" Ela mal conseguia acreditar nas palavras que saíam da boca dele. Tudo o que sabia sobre mitos e lendas agora parecia estar se desdobrando diante de seus olhos. "E se eu não quiser isso?"
Evander deu mais um passo em sua direção, seus olhos fixos nos dela. "O destino é uma força poderosa, Mariana, mas o livre-arbítrio também. Você ainda pode escolher. Mas se decidir ficar, precisará aprender a viver entre os imortais."
Ela o encarou, as palavras dele se repetindo em sua mente. O peso da escolha que tinha nas mãos era imenso. Seu coração batia forte, como se soubesse que algo mais profundo estava em jogo.
"Se eu ficar, o que isso significa para mim?" ela perguntou, a voz quase um sussurro.
Evander sorriu suavemente. "Significa que você se tornará minha esposa. E juntos, vamos governar os ventos e tempestades, equilibrar o caos e a ordem do mundo natural. Você descobrirá que não é uma mera humana. Há um poder adormecido dentro de você, esperando para ser despertado."
As palavras dele ressoavam como trovões distantes. Ela olhou para o vasto céu acima e sentiu, pela primeira vez, uma curiosidade ardente sobre esse novo mundo. Havia tanto que ela não entendia, mas, ao mesmo tempo, sentia uma estranha familiaridade, como se já pertencesse àquele lugar.
"Eu... eu não sei se estou pronta para isso," ela murmurou.
Evander inclinou a cabeça, sua expressão compreensiva. "Ninguém nunca está realmente pronto, Mariana. Mas às vezes, é no inesperado que encontramos nosso verdadeiro caminho."
O vento soprou ao redor deles, suave e constante, e pela primeira vez, Mariana não se sentiu perdida, mas conectada a algo maior. Ao lado daquele deus enigmático, ela se via diante de uma escolha que não podia mais ignorar.
"Então... o que você decide?"
O silêncio que se seguiu à pergunta de Evander parecia durar uma eternidade. Mariana olhava para o horizonte, onde o céu se misturava com as montanhas ao longe, tentando encontrar respostas em meio ao caos em sua mente. Parte de si gritava para correr de volta à sua vida tranquila, mas outra parte—uma que ela mal conhecia—sentia uma estranha conexão com aquele lugar, com aquele deus.
"Eu não sei se estou pronta para abrir mão de tudo o que conheço," ela disse, sua voz baixa, mas firme. "Mas, ao mesmo tempo, há algo aqui... algo que me atrai."
Evander a observava em silêncio, seus olhos como tempestades controladas. Ele não a pressionava, apenas esperava, paciente, como o vento que sempre está presente, mesmo quando imperceptível. Mariana respirou fundo. As palavras dele ecoavam em sua mente: destino, força interior, conexão com o equilíbrio natural. Ela nunca tinha se visto como alguém especial, mas havia algo na presença de Evander que fazia com que ela questionasse isso.
"Se eu decidir ficar, o que acontece comigo?" ela perguntou, finalmente reunindo coragem para encarar aquela escolha.
"O que acontece depende de você," respondeu Evander, sua voz grave e suave ao mesmo tempo. "Se você aceitar seu papel ao meu lado, será muito mais do que imagina. A vida mortal que você conhece ficará para trás, mas em troca, você descobrirá o poder dentro de você, uma força que ressoa com a natureza, com o próprio vento."
Mariana sentiu o peso das palavras. O que ele estava oferecendo não era apenas um destino compartilhado, mas a possibilidade de descobrir algo novo dentro de si mesma. Um poder que, até aquele momento, ela jamais imaginara possuir.
"Eu ainda não entendo por que eu, entre tantas pessoas," ela sussurrou, sentindo a necessidade de respostas mais claras.
Evander deu um passo à frente, sua presença forte e imponente, mas havia uma ternura em seus olhos que a surpreendeu. "Os deuses são antigos, Mariana. O tempo deles não segue as mesmas regras que você conhece. Há eras, seu espírito foi marcado, destinado a se juntar a mim. O que você vê como uma vida comum é apenas uma fração do que realmente é."
Ela franziu a testa. "E o que sou, então?"
Ele ergueu uma das mãos, e um vento suave começou a circular ao redor dela, como se respondesse ao simples gesto dele. "Você é alguém que tem uma ligação natural com o fluxo do universo. Os ventos, a natureza, as forças invisíveis que moldam o mundo... elas reconhecem em você uma harmonia que poucos possuem. E é por isso que os deuses a escolheram."
As palavras de Evander eram incrivelmente profundas, e Mariana sentia um misto de medo e excitação. Havia algo de assustador em deixar sua vida para trás, mas a perspectiva de descobrir mais sobre si mesma, de tocar um mundo que ela mal conhecia, era igualmente tentadora.
Ela olhou para Evander novamente, e de repente, percebeu que, apesar de tudo, ele não a tratava como alguém inferior. Havia respeito em seu olhar, como se ele estivesse falando com uma igual.
"O que significa ser sua esposa?" ela perguntou, hesitante.
Evander sorriu, um sorriso que não tinha arrogância, mas sim uma calma serena. "Significa estar ao meu lado, governando os ventos e tempestades. Significa ser parte de algo maior, equilibrando as forças da natureza. Mas também significa liberdade. No meu mundo, você terá a liberdade de descobrir quem realmente é."
Ela ficou em silêncio, absorvendo aquilo. Seu coração batia acelerado, mas havia uma clareza crescente em sua mente. Mariana sempre fora uma mulher pragmática, alguém que gostava de respostas diretas. No entanto, aquele novo mundo que Evander oferecia era tudo, menos simples. Era vasto, misterioso, mas também parecia prometer um sentido mais profundo de vida.
Finalmente, Mariana tomou uma decisão. Olhando diretamente nos olhos de Evander, ela disse com firmeza: "Eu vou ficar. Quero descobrir quem sou e o que isso tudo significa."
Evander a encarou, e por um momento, ela achou que viu um relâmpago refletido em seus olhos. "Então, Mariana," ele disse suavemente, "seja bem-vinda ao Reino dos Ventos."
De repente, o vento ao redor dela começou a aumentar, mas dessa vez, não era violento. Era como uma dança, envolvendo seu corpo e seus sentidos, quase como se as próprias correntes de ar estivessem celebrando sua decisão. Ela sentiu o solo tremer levemente sob seus pés, e o céu acima parecia pulsar com energia.
Enquanto o vento girava ao redor dela, Mariana sentiu algo novo despertar dentro de si. Era uma sensação de poder, de força. Ela olhou para suas mãos e, por um momento, sentiu como se pudesse controlar o próprio ar ao seu redor.
Evander estendeu a mão novamente, e dessa vez, Mariana a pegou sem hesitação.
"Agora, começamos a verdadeira jornada," ele disse.
E assim, ao lado do deus dos ventos, Mariana deu o primeiro passo em direção a um futuro que ela nunca poderia ter imaginado.
O vento ao redor de Mariana começou a se dissipar lentamente, deixando-a com uma sensação de leveza e poder que jamais havia sentido antes. Ao seu lado, Evander a observava em silêncio, como se estivesse esperando algo. Seus olhos, com a profundidade de um céu tempestuoso, seguiam cada movimento dela, enquanto o ar ao redor deles voltava a ficar calmo, mas carregado de expectativa.
Mariana soltou a mão de Evander, ainda processando o que havia acabado de acontecer. Olhou para o vasto campo ao seu redor e para as montanhas que se erguiam à distância, sentindo-se pequena, mas ao mesmo tempo, parte de algo infinitamente maior. Havia uma estranha conexão entre ela e aquele lugar, como se cada rajada de vento, cada nuvem no céu, estivesse em sintonia com seus pensamentos.
"Então, o que acontece agora?" ela perguntou, quebrando o silêncio. "Eu disse que ficaria, mas ainda me sinto perdida. Não sei o que fazer."
Evander a observou por um momento antes de responder, sua voz calma, mas carregada de significado. "Agora, Mariana, você começará a compreender seu verdadeiro papel. O poder dentro de você não será despertado de uma só vez. Ele precisa ser cultivado, controlado. E é por isso que estamos aqui."
Ela franziu a testa. "Aqui? Esse lugar... é onde vou aprender?"
Ele acenou com a cabeça. "Este é apenas o início. O Reino dos Ventos é vasto e repleto de mistérios, muitos dos quais você terá que descobrir por conta própria. Mas primeiro, você precisa entender a força que reside em você."
Antes que Mariana pudesse responder, Evander fez um gesto suave com a mão, e o vento ao redor deles começou a mudar. De súbito, o céu escureceu levemente, nuvens se acumulando de forma rápida e precisa sobre suas cabeças. Mariana podia sentir o poder no ar, a eletricidade estática dançando em sua pele, e soube instantaneamente que não era uma tempestade comum.
"O vento, Mariana, é muito mais do que apenas uma brisa ou uma tempestade. Ele é uma manifestação de forças invisíveis, conectadas ao equilíbrio do mundo. E agora, você está ligada a ele," disse Evander, enquanto uma leve corrente de ar começava a se formar ao redor dela.
Mariana respirou fundo, tentando se concentrar. Ela podia sentir o vento ao seu redor, não apenas como algo externo, mas como uma extensão de si mesma. Era estranho, quase instintivo, como se algo em seu interior respondesse à energia que Evander estava desencadeando.
"Concentre-se," disse ele suavemente. "Deixe o vento responder a você. Não o force, apenas sinta sua presença e guie-o."
Mariana fechou os olhos, tentando fazer o que ele dizia. Por um momento, sentiu apenas o ar comum ao seu redor, mas então, algo mudou. Uma corrente suave começou a girar em torno de seu corpo, como uma dança invisível. Ela não sabia exatamente como, mas podia sentir que estava, de alguma forma, controlando aquela força.
Quando abriu os olhos novamente, viu que o vento havia respondido ao seu comando. A leve brisa que girava ao redor dela era suave, mas presente, como se estivesse à espera de suas ordens. Mariana sentiu uma onda de excitação e medo ao mesmo tempo.
"Eu... eu fiz isso?" ela perguntou, surpresa com o que tinha acabado de acontecer.
Evander sorriu levemente. "Sim, você fez. O vento respondeu ao seu chamado. Mas isso é apenas o começo, Mariana. Você está começando a entender sua conexão com as forças naturais. E esse poder que você sentiu agora? Ele pode se tornar infinitamente mais forte."
Mariana ficou em silêncio, absorvendo tudo. O vento ao seu redor estava sob seu controle, mas ela ainda mal compreendia a profundidade daquele poder. Se aquilo era apenas o começo, o que mais estaria por vir? E mais importante, quem ela se tornaria no processo?
Evander continuou, agora mais sério. "Há muito o que aprender, e o tempo não está ao nosso favor. Existem forças no mundo que não aceitarão sua ascensão tão facilmente. Outros deuses, outras entidades, podem ver você como uma ameaça. Precisamos estar prontos."
"Uma ameaça?" Mariana piscou, surpresa. "Por que eu seria uma ameaça?"
"Porque, ao lado de um deus, você não é mais uma simples mortal. Seu poder influencia o equilíbrio das forças do universo. E isso pode alterar o curso de muitas coisas. Aqueles que buscam poder absoluto sempre verão os novos como rivais."
Mariana sentiu uma nova onda de incerteza. A ideia de ser alvo de algo maior era apavorante. Ela estava apenas começando a entender seu lugar naquele novo mundo, e agora precisava enfrentar desafios que não imaginava.
"Eu não pedi por isso," ela murmurou, sentindo o peso da responsabilidade que começava a crescer sobre seus ombros.
Evander assentiu, sua expressão suave, mas resoluta. "Eu sei. Mas, muitas vezes, os maiores destinos são aqueles que não escolhemos. Você pode não ter pedido por isso, mas agora que aceitou, precisa abraçá-lo completamente. E eu estarei ao seu lado."
Mariana olhou para ele, sentindo uma mistura de gratidão e medo. Havia muito que ela ainda não entendia, muito a descobrir sobre aquele novo mundo e sobre si mesma. Mas, por ora, ela sabia que estava pronta para o próximo passo.
"Então, por onde começamos?" perguntou, com uma determinação recém-descoberta em sua voz.
Evander sorriu, como se estivesse esperando aquela pergunta. "Agora, começamos a sua verdadeira jornada. Você irá aprender a dominar o vento, a controlar as tempestades e a descobrir os segredos que o tempo esconde. Mas, para isso, precisaremos viajar ainda mais fundo no Reino dos Ventos."
E com isso, o deus dos ventos estendeu a mão mais uma vez, e Mariana, sem hesitar, pegou-a.
Enquanto o vento ao redor deles começava a crescer novamente, carregando-os para longe, Mariana soube que estava apenas começando a desvendar o mistério de sua nova vida — e que, ao lado de Evander, o desconhecido era seu novo destino.
O vento que carregava Mariana e Evander parecia diferente dessa vez. Não era apenas uma força invisível que os transportava, mas uma sensação profunda de propósito. Enquanto eles flutuavam pelo céu, as paisagens abaixo passavam em uma névoa de cores e formas, montanhas se misturando com rios e florestas, tudo se fundindo em um borrão hipnótico. Mariana apertava a mão de Evander, tentando absorver tudo o que estava acontecendo.
Depois de um tempo que ela não soube medir, começaram a descer lentamente. O ar ao redor deles se acalmou, e ela percebeu que estavam pousando em um lugar que, à primeira vista, parecia um campo vasto e desolado. No entanto, à medida que seus pés tocavam o chão, Mariana sentiu o poder sob a terra, uma energia pulsante que parecia estar escondida ali, esperando para ser descoberta.
O lugar era cercado por rochas imponentes, e no centro havia uma antiga construção de pedra, parcialmente coberta por vinhas. Não era grandiosa, mas tinha uma presença inegável, como se aquele local tivesse testemunhado eras inteiras de história.
"Bem-vinda ao Coração dos Ventos," disse Evander, sua voz calma, mas carregada de respeito. "Este é o ponto onde todas as correntes de ar do mundo se encontram. Um lugar de poder antigo, onde os deuses dos ventos vieram para aprender e se conectar com as forças que moldam o universo."
Mariana olhou ao redor, sentindo a grandiosidade invisível daquele lugar. Mesmo sem ver nenhum sinal óbvio de magia ou mistério, ela sabia que algo profundo estava presente ali. Cada rajada de vento parecia sussurrar segredos em seus ouvidos, como se o ar carregasse as vozes de espíritos antigos.
"É aqui que eu vou aprender?" ela perguntou, com um tom de reverência em sua voz.
Evander assentiu. "Sim. Aqui você começará seu treinamento. O vento, como você já começou a perceber, não é apenas uma força física. Ele responde às emoções, às intenções e à essência de quem o comanda. Mas para dominá-lo verdadeiramente, você precisará se fundir com ele. Deixar que ele flua através de você, como uma extensão de sua própria vontade."
Mariana sentiu um frio percorrer sua espinha. O que ele estava dizendo parecia simples, mas ao mesmo tempo, ela sabia que seria muito mais difícil do que apenas controlar o vento com gestos ou pensamentos. Era uma questão de se conectar profundamente com algo que, até então, sempre fora visto como uma força externa.
"Então, como eu começo?" ela perguntou, sua voz firme, mas cheia de incertezas.
Evander fez um gesto para a construção de pedra no centro do campo. "Lá dentro, você encontrará o primeiro teste. Não vou interferir, pois essa parte da jornada é só sua. O que você encontrar lá será um reflexo de sua própria força interior, de suas dúvidas e medos. Enfrente o que está por vir com coragem, e você começará a entender o que significa ser parte dos ventos."
Mariana olhou para a construção. A entrada estava aberta, mas a escuridão lá dentro parecia chamá-la, como se algo profundo e misterioso esperasse por ela do outro lado. Seu coração acelerou, e por um momento, ela sentiu o impulso de recuar. Mas algo dentro dela a empurrou para frente — talvez fosse curiosidade, talvez fosse a necessidade de provar a si mesma que pertencia àquele novo mundo.
"Eu vou," disse ela, com mais confiança do que realmente sentia.
Evander não disse nada, apenas deu um leve aceno de cabeça, seus olhos fixos nela com uma intensidade que a fez sentir como se estivesse sendo analisada a cada passo.
Mariana se aproximou da entrada. O ar ao redor parecia mais pesado, como se estivesse cheio de expectativas. Quando ela atravessou o limiar, a escuridão a envolveu, e por um momento, tudo ao seu redor desapareceu.
Dentro, o ambiente era frio e silencioso. As paredes de pedra eram lisas, e o chão parecia ser feito de algum tipo de material antigo, quase vivo. Conforme ela avançava, a escuridão começou a se dissipar, revelando uma grande sala iluminada por uma luz suave que não parecia vir de uma fonte específica.
No centro da sala, flutuando no ar, havia uma pequena esfera de luz — brilhante e pulsante, como um coração batendo em um ritmo lento e constante. Mariana se aproximou, sentindo a energia vibrar ao seu redor. Aquela luz parecia estar conectada a ela de alguma forma. Havia algo familiar naquela sensação, como se ela já tivesse encontrado aquilo antes, em algum lugar nas profundezas de sua alma.
De repente, uma voz ecoou pela sala, profunda e etérea.
"Você que busca o poder dos ventos... está pronta para encarar a verdade dentro de si mesma?"
Mariana congelou. A voz parecia vir de todos os lados, uma presença invisível que a rodeava. Ela respirou fundo, tentando controlar o medo que subia em sua garganta.
"Eu estou pronta," respondeu, sua voz firme, embora suas mãos estivessem suadas.
A luz diante dela começou a pulsar mais rapidamente, e o ar ao redor ficou denso, como se algo estivesse prestes a acontecer. A sala começou a tremer levemente, e de repente, uma rajada de vento surgiu do nada, circulando ao redor de Mariana com força crescente. A luz à sua frente explodiu em centenas de pequenos fragmentos brilhantes que se espalharam pela sala, girando em uma tempestade controlada.
Cada partícula de luz parecia se conectar ao vento, e Mariana sentiu a força aumentar ao seu redor. Seus cabelos voavam descontroladamente, e o ar parecia querer derrubá-la. Mas, ao invés de se encolher, ela fechou os olhos e estendeu as mãos, tentando sentir o fluxo ao seu redor, tentando se conectar com aquilo.
E então, algo aconteceu.
Ela sentiu uma corrente suave, uma presença quase imperceptível dentro de si, que começou a responder ao caos ao seu redor. Era como se o vento dentro dela reconhecesse o vento externo, e por um momento, tudo parou. O ar ao redor se acalmou, e a luz que girava pela sala começou a se juntar novamente, flutuando até ela.
Mariana abriu os olhos e viu a esfera de luz agora pairando sobre sua mão, como se estivesse esperando por seu comando.
Ela sorriu, sabendo que aquele era apenas o primeiro de muitos passos em sua nova jornada.
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