O Casamento do Destino

Capítulo 5: O Casamento do Destino

Evander passou o dia inteiro perdido em pensamentos, revivendo os momentos que tivera com Mariana e as palavras frias de Akunanto ecoando em sua mente. O peso da situação parecia insuportável, como se a realidade estivesse contra ele, empurrando-o para um destino inevitável. Ele precisava de tempo para pensar, encontrar um caminho para reverter o que havia acontecido, mas tudo parecia escapar de suas mãos como areia entre os dedos.

Enquanto ele se afundava nas reflexões, ouviu passos firmes e uma batida forte na porta. Antes que pudesse responder, Sid, um antigo amigo de longa data, entrou com seu habitual sorriso largo, como se o mundo fosse sempre mais simples do que realmente era.

“Evander! Você está louco?!” Sid exclamou, cruzando os braços e o encarando com um olhar sério, embora um pouco divertido. “É o dia do seu casamento, e você está aí, parado, sem fazer nada. Não dá para se atrasar para o próprio casamento, meu caro.”

Evander piscou, confuso, a realidade voltando a ele. “Casamento? Do que você está falando, Sid?”

Sid balançou a cabeça, como se estivesse diante de uma criança teimosa. “Você não lembra? Você concordou em se casar com Akunanto! E olha, pelo que ouvi, o Primeiro Deus vai comparecer. É uma oportunidade única. Não vai querer perder isso.”

A menção do Primeiro Deus fez Evander parar. Seu coração acelerou. Se o Primeiro Deus realmente fosse ao casamento, haveria uma chance, ainda que pequena, de ele reverter tudo, de trazer Mariana de volta. Sabia que, de alguma forma, o Primeiro Deus tinha o poder para isso.

“Venha, vamos te arrumar. Não dá para se casar com uma deusa vestindo qualquer coisa,” disse Sid, puxando-o pelo braço e arrastando-o para um grande closet ao lado.

Dentro, uma dúzia de empregadas aguardava, prontas para vesti-lo. Elas começaram a rodeá-lo, analisando-o de cima a baixo, escolhendo peças de roupa luxuosas e ajustando tudo com uma eficiência impressionante. Sid, sentado em uma poltrona próxima, observava tudo com um sorriso satisfeito, como se estivesse organizando a celebração do século.

“Você sabe, Evander, não é todo dia que temos um casamento com tanta gente importante. Digo, o Primeiro Deus, o próprio criador... Isso nunca acontece. E claro, é o seu grande dia!” Sid riu, ignorando o desconforto evidente de Evander. “Se fosse qualquer outro, eu diria que você está com sorte!”

Mas para Evander, sorte era a última coisa que sentia. Ele sabia que algo estava errado. Mesmo com a oportunidade de ver o Primeiro Deus, algo sobre aquele casamento parecia forçado, como se estivesse sendo empurrado para ele. No entanto, ele manteve o pensamento para si. Precisava estar presente, se havia qualquer chance de trazer Mariana de volta, ele enfrentaria qualquer coisa.

Logo depois, ele estava vestido. As roupas finas, adornadas com símbolos divinos, pesavam sobre seus ombros, uma lembrança constante do peso do destino que o aguardava. Sid bateu palmas, satisfeito com o resultado, e começou a guiá-lo até o local da cerimônia.

O casamento aconteceria em um grande salão de mármore, com colunas imponentes e luzes mágicas que flutuavam no ar como estrelas presas dentro da cúpula celestial. O lugar estava lotado de deuses, anjos e seres imortais, todos esperando ansiosos pela cerimônia. Ao longe, ele avistou Akunanto, com um vestido de noiva negro, simbolizando sua natureza vazia e fria. Ela estava deslumbrante de uma forma sombria, mas seus olhos permaneciam tão vazios quanto antes.

Evander, entretanto, estava focado em outra coisa. Ele olhou ao redor, procurando por sinais do Primeiro Deus, mas ele ainda não havia chegado. Havia uma pequena chama de esperança dentro de Evander. Talvez, com a chegada dele, ele pudesse intervir.

Mas então, o bispo que presidia a cerimônia, um homem imponente de barbas brancas e olhar severo, ergueu as mãos. Uma magia antiga e poderosa começou a emanar de seus dedos, preenchendo o ar com uma energia irresistível. Evander sentiu seu corpo tenso, como se estivesse sendo puxado por cordas invisíveis. Ele olhou para Akunanto, e viu que ela também estava sendo afetada.

Sem qualquer aviso, suas bocas começaram a se mover sozinhas, concordando com os votos que o bispo ditava. Era uma espécie de encantamento de controle, uma mágica antiga usada para garantir que ninguém pudesse recusar ou quebrar a cerimônia. Mesmo Akunanto, com todo seu poder como a Deusa do Vazio, parecia incapaz de resistir. Os dois estavam sendo obrigados a se casar, como peças de um destino já escrito.

“Eu os declaro eternamente unidos,” disse o bispo, lançando a magia final que selava o compromisso eterno entre eles.

Uma sensação de peso caiu sobre Evander, como se correntes invisíveis se fechassem ao redor de sua alma. Ele tentou lutar contra isso, mas era inútil. O vínculo havia sido forjado, e agora ele e Akunanto estavam ligados para sempre, quer quisessem ou não.

E então, no momento em que o bispo abaixou as mãos, as grandes portas do salão se abriram com um estrondo. Um vento poderoso varreu o lugar, e todos os presentes se viraram para a entrada. Ali, iluminado pela luz celestial, estava o Primeiro Deus.

Ele era uma figura imponente, envolto em uma luz dourada que cegava todos os mortais que ousassem olhar diretamente para ele. Em suas mãos, ele segurava algo – ou melhor, alguém. Evander arregalou os olhos ao perceber o que era. O corpo etéreo que o Primeiro Deus segurava nos braços era o de Mariana, sua alma, intocada e intacta.

“O destino desta alma foi roubado antes do tempo,” disse o Primeiro Deus, sua voz retumbando como trovões distantes. “Mariana deveria reencarnar sob meus cuidados, mas alguém interferiu, apressando o processo. Sua essência foi dividida, mas agora eu a recupero.”

Evander sentiu uma onda de esperança e desespero ao mesmo tempo. “Então ela... ela pode voltar?”

O Primeiro Deus assentiu lentamente. “Sim, mas agora há um problema. Você foi forçado a se casar com Akunanto, a outra metade de sua alma. O equilíbrio do mundo depende disso, Evander. Mariana pode ser restaurada, mas você também terá que se casar com ela novamente. O destino da Terra e da humanidade depende de que ambas, Akunanto e Mariana, existam como partes de uma unidade maior.”

Evander olhou para o Primeiro Deus, confuso e atordoado. Ele agora estava casado com a Deusa do Vazio, e teria que se casar novamente com Mariana, sua amada. O que antes parecia um amor simples e puro, agora estava enredado em uma teia de complexidade divina.

O Primeiro Deus, segurando a alma de Mariana, continuou: “Você não terá escolha. A Terra só sobreviverá se esse equilíbrio for mantido. Mariana retornará, mas você deve aceitar o destino que lhe foi imposto. Somente assim o mundo poderá resistir ao que está por vir.”

O destino de Evander estava selado. O amor de sua vida estava de volta, mas o custo seria alto, e o futuro incerto. Ele olhou para a alma de Mariana, que agora começava a ganhar forma novamente, e soube que faria o que fosse necessário, mesmo que o peso desse destino fosse insuportável.

Evander permanecia imóvel, sua mente girando com a revelação esmagadora do Primeiro Deus. O salão do casamento, antes repleto de convidados imortais e divinos, parecia apertado demais, como se o peso do destino se acumulasse ao seu redor. Ele olhou para Akunanto, agora sua esposa forçada, cujo rosto ainda exibia a expressão vazia e sem emoção. E então, seus olhos voltaram-se para Mariana, cuja alma flutuava nas mãos do Primeiro Deus, etérea, mas começando a ganhar forma.

A confusão em sua mente era insuportável. Como ele poderia estar casado com duas entidades ao mesmo tempo? Como era possível que o destino do mundo dependesse de uma união tão incomum, tão contrária à natureza? Evander sabia que amar Mariana era sua essência, mas agora, de alguma forma, ele também estava atado à Deusa do Vazio, Akunanto. E o mais terrível era que ele não tinha escolha.

O Primeiro Deus caminhou lentamente até ele, seus passos ecoando no vasto salão. A presença divina irradiava poder, e os outros deuses e seres ao redor inclinavam suas cabeças em reverência.

“Você compreende o que está em jogo aqui, Evander?” a voz do Primeiro Deus ressoou, não apenas no espaço físico, mas dentro da própria mente de Evander, como um eco cósmico que vibrava em sua alma.

Evander assentiu lentamente, ainda sem encontrar palavras. Ele olhou para a alma de Mariana novamente, sentindo um aperto no peito. Ela estava tão perto, e ainda assim tão distante. Se ela fosse trazida de volta, ela teria memórias dele? Ela o amaria da mesma forma? Essas perguntas rodavam em sua mente, sem resposta.

O Primeiro Deus continuou: “O equilíbrio entre luz e escuridão, vida e vazio, depende de você. Akunanto é o vazio, a ausência de tudo. Mariana, por outro lado, representa a vida, o amor, a essência da criação. Apenas com ambas as forças equilibradas, o mundo poderá se manter estável.”

Evander finalmente encontrou sua voz, embora ela estivesse rouca e hesitante. “Mas como... como isso pode funcionar? Como posso estar casado com Akunanto e também com Mariana? Isso... isso é impossível!”

O Primeiro Deus olhou para ele com um olhar profundo e quase paternal. “No mundo dos deuses, Evander, muitas coisas que para você, como humano, parecem impossíveis, são meramente o curso natural do destino. Mariana e Akunanto são duas faces de uma mesma moeda agora. O amor que você sentia por Mariana não será perdido, mas você também deve entender o vazio de Akunanto, pois ela é parte desse equilíbrio.”

Evander olhou de relance para Akunanto, que permaneceu impassível. Não havia ódio em seus olhos, nem afeto. Apenas um vazio infinito que parecia sugar qualquer possibilidade de emoção. Ele sentiu uma pontada de desespero. Como poderia haver qualquer relação entre eles, se ela não sentia nada? E como poderia Mariana aceitar esse destino, quando soubesse da verdade?

“A alma de Mariana foi preservada,” o Primeiro Deus disse, interrompendo os pensamentos de Evander. “Mas há uma condição. Para restaurá-la completamente, você terá que se unir a ela novamente. O amor entre vocês deve ser reforçado, mas também, a aceitação de sua nova realidade. Você, Evander, será o elo que manterá as duas existências em equilíbrio.”

Evander deu um passo à frente, sua voz mais firme agora. “Se isso é o que precisa ser feito para trazer Mariana de volta, então eu aceito. Mas... ela ainda será ela mesma? Ela se lembrará de tudo?”

O Primeiro Deus assentiu. “Sim. Mariana ainda será quem sempre foi, mas as memórias de sua última vida e de sua alma não serão fáceis de restaurar por completo. Haverá um processo de adaptação, e você precisará estar ao lado dela durante esse tempo. Assim como Akunanto, ela também precisará aceitar o destino que agora compartilha.”

Evander ficou em silêncio, absorvendo as palavras do Primeiro Deus. O destino parecia cruel, implacável. Mas se havia uma maneira de restaurar Mariana, ele faria o que fosse necessário, não importando o sacrifício. Ele olhou para Akunanto mais uma vez. Ela não demonstrava nenhuma oposição ao que estava acontecendo, apenas uma neutralidade quase dolorosa.

“E quanto a Akunanto?” Evander perguntou, virando-se para o Primeiro Deus. “Ela... o que ela sente sobre tudo isso?”

Antes que o Primeiro Deus pudesse responder, Akunanto deu um passo à frente, sua voz fria cortando o ar. “Eu sou o vazio, Evander. Eu não sinto. Não da forma que você gostaria ou espera. Para mim, este casamento é apenas uma formalidade, uma necessidade para manter o equilíbrio. A vida que você conheceu como Mariana... é apenas uma lembrança distante, uma sombra. Eu não me importo com o que você faça, desde que o equilíbrio seja mantido.”

Essas palavras atingiram Evander como uma rajada de vento gelado. Era como falar com uma parede de gelo intransponível. Akunanto era, de fato, o oposto de Mariana em todos os sentidos. Enquanto Mariana irradiava vida, paixão e amor, Akunanto era a personificação do vazio, do nada. Um ser que existia sem desejo, sem emoção. E agora ele estava preso a ela, ligado por um vínculo forjado em magia e destino.

O Primeiro Deus, vendo a tensão no ar, falou mais uma vez, sua voz calma e solene. “Evander, você deve entender que o equilíbrio entre Mariana e Akunanto será frágil. Você será o pilar que sustentará essa harmonia. Se falhar, o mundo cairá em ruína. A Terra sobreviverá, sim, mas apenas se você aceitar seu papel.”

Evander suspirou, exausto pelas revelações e pelo peso de suas novas responsabilidades. “Eu aceito. Farei o que for preciso para trazer Mariana de volta e manter o equilíbrio.”

O Primeiro Deus assentiu, satisfeito com a resposta de Evander. Ele ergueu a mão, e a alma de Mariana começou a brilhar com uma intensidade crescente, tomando forma lentamente. As feições delicadas de Mariana começaram a se materializar, sua figura etérea gradualmente se transformando em carne e osso. Evander observava com olhos marejados, seu coração acelerado. Era como se todo o seu sofrimento finalmente estivesse chegando ao fim. Mariana estava voltando.

E então, ali, diante dele, Mariana abriu os olhos.

Ela estava de volta. Mas o olhar em seu rosto era de confusão. Seus olhos, que um dia haviam sido cheios de vida e amor, agora estavam distantes, como se não reconhecessem o homem que a amava tanto. Ela piscou várias vezes, olhando ao redor, tentando entender onde estava.

“Evander?” ela perguntou, sua voz trêmula e incerta.

Ele deu um passo à frente, com lágrimas nos olhos. “Mariana, sou eu. Estou aqui.”

Mas Mariana ainda parecia perdida, como se houvesse uma névoa em torno de suas memórias. Ela tocou sua própria testa, como se estivesse tentando se lembrar de algo, mas não conseguia.

O Primeiro Deus, observando tudo, falou novamente. “Ela está aqui, Evander. Mas será sua tarefa ajudá-la a se lembrar, a reconstruir suas memórias. E assim como Akunanto, Mariana também deverá aceitar o destino que foi colocado diante dela.”

Evander assentiu, determinado. Ele se aproximou de Mariana, pegando suas mãos com delicadeza. “Eu vou te ajudar, Mariana. Eu prometo.”

A cerimônia havia terminado, mas o verdadeiro desafio de Evander estava apenas começando. Agora, ele não apenas teria que equilibrar o vazio de Akunanto e o amor de Mariana, mas também navegar pelas complexidades de um destino que ele nunca escolheria para si, mas do qual não poderia escapar.

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