Capítulo 20

Alessandra já estava sentada quando Vincent se aproximou. Ela preferiu uma mesa mais afastada.

Alessandra: Ué, mudou de ideia?

Ele puxou a cadeira e sentou-se de frente para ela.

Alessandra: Acho melhor mudar de mesa. O Arthur já está vindo com os nossos pratos, vamos almoçar juntos.

Vincent: Você acha que me provoca falando isso? Que vão almoçar juntos?

Alessandra: Só estou avisando que este lugar já está ocupado.

Vincent: Ele arruma outro.

Alessandra revirou os olhos.

Alessandra: Eu não te entendo. Nos últimos dias, você me tratou super mal e agora quer ficar atrás de mim?

Vincent: Atrás de você? Eu só quero garantir que esse projeto não vá por água abaixo por sua irresponsabilidade. Não me preocupo e muito menos estou satisfeito com a sua presença.

Alessandra: E você acha que eu estou feliz com a sua? Se eu pudesse voltar atrás, não teria te aceitado como sócio.

Vincent: Mas agora você terá que aguentar.

Alessandra: Aguentar? Eu não sou obrigada. Saiba que na primeira oportunidade, eu te mostro quem manda. A única pessoa que já te aturou foi a sua esposa, mas nem ela aguentou.

Nesse momento, Alessandra tremeu ao ver Vincent levantar rapidamente e segurá-la pelo pescoço.

Vincent: Não volte a falar dela.

Ele a soltou e saiu. Alessandra olhou ao redor para ver se alguém tinha testemunhado aquela cena, e pelo jeito, ninguém havia visto.

Arthur: Voltei.

Ele colocou os dois pratos na mesa.

Alessandra: Me desculpe, Arthur, mas preciso ir...

Arthur: Aconteceu alguma coisa?

Alessandra: Não, só lembrei que tenho algo a fazer e não pode ser aqui, preciso das minhas coisas.

Arthur: Que pena! Mas então eu te levo, vamos para o carro.

Eles foram para o carro e Arthur a deixou na fazenda.

Alessandra: Obrigada, Arthur.

Arthur: De nada! Se precisar de algo, é só ligar.

Ela assentiu e ele foi embora.

Alessandra entrou na casa e a funcionária de Vincent veio falar com ela. Ela disse que Vincent havia deixado as malas e saído com o cavalo.

Alessandra: Você sabe para onde ele foi?

Zefá: Não, ele nem falou comigo direito, parecia estressado.

Alessandra: Entendi...

Zefá: A senhora também não está com uma boa aparência, por que não toma um banho e vem almoçar?

Alessandra assentiu e subiu para o quarto. Ela ainda se sentia mal pelo que havia dito. Enquanto tomava banho, pensava no melhor a fazer: ir à procura de Vincent ou esperar ele chegar para tentar conversar e pedir desculpas. Depois do banho, desceu para a cozinha e Zefá já tinha colocado a comida na mesa.

Alessandra: O Vincent não voltou?

Zefá: Ainda não. A senhora vai comer agora ou vai esperar por ele?

Alessandra: Vou esperar.

Zefá: Está bem, é só usar o micro-ondas se ele demorar muito. Eu vou embora mais cedo hoje. Até amanhã!

Alessandra sorriu para ela enquanto Zefá se afastava.

Ela esperou durante horas e nada de Vincent aparecer. Estava com fome e decidiu comer sozinha. Quando estava na sala esperando, ouviu um barulho na cozinha. Ao ir até lá, viu Vincent colocando a comida para esquentar, ele provavelmente havia entrado pelos fundos.

Alessandra: Vincent, eu não vi você chegar…

Ele permaneceu calado, de costas para ela.

Alessandra: Eu sei que você está chateado e com razão, eu faltei com respeito a...

Vincent: Não termine!

Ele disse firme.

Alessandra: Está bem, mas você me desculpa?

Vincent: Com fome eu não consigo ter essa conversa, Alessandra.

Alessandra: Tudo bem então, vou te esperar na sala.

Ela deixou-o sozinho e ficou aguardando na sala.

Quando ouviu os passos de Vincent, ela se levantou do sofá e ele se aproximou dela.

Alessandra: Podemos conversar agora?

Vincent: Estou aqui.

Alessandra: Quero me desculpar pelo que disse mais cedo, foi impulsivo e eu jamais falaria algo assim.

Vincent: Você nem conhecia ela, ou melhor, você nem me conhece.

Alessandra: Eu sei, não tinha o direito de falar aquilo…

Vincent: Está tudo bem, talvez eu compreenda. Não foi você quem cresceu sem afeto? Isso já diz muito sobre quem você é... Não consegue entender o sentimento de quem perde alguém porque nunca teve... E se teve, parece que nunca foi amada por ninguém ou foi capaz de amar. Estou certo?

A cada palavra, ele falava de forma mais fria, fazendo-a se sentir cada vez pior.

Alessandra: É, você está certo… Tem toda razão, Vincent.

Vincent: Sendo assim, você está desculpada. Não posso cobrar nada de uma pessoa como você.

Ela assentiu, segurando o choro, e foi para o quarto.

Vincent saiu de casa e percebeu que já estava anoitecendo. Ele foi até o estábulo e ficou lá por um tempo, refletindo sobre o que disse… Se não foi muito duro e se Alessandra realmente merecia ouvir aquilo.

Alessandra não pôde evitar e começou a chorar assim que entrou no quarto. Ela detestava chorar e nem se lembrava da última vez que isso aconteceu, mas não conseguiu segurar. Apesar de ter tido os avós por um tempo, para ela aquilo não significou nada, já que eles apenas a criaram para que não fosse para um orfanato. Amor ela nunca teve.

Alessandra: Bem feito… Esse foi o preço por falar o que não sabe.

Ela estava sentada na cama quando disse isso. Alguns minutos depois, alguém bateu na porta e ela levantou.

Era óbvio que era ele; não havia mais ninguém na casa.

Alessandra: Já vou!

Ela se dirigiu até o espelho para secar as lágrimas e, quando ficou com a aparência um pouco melhor, foi abrir a porta.

Alessandra: Vincent.

Vincent: Agora quem quer conversar sou eu.

Alessandra: Sobre o quê?

Vincent: Sobre o que eu te disse. Não vou negar que fiquei enfurecido com o que você falou, não gosto que falem da Laura. Mas não deveria ter agarrado seu pescoço nem dito aquelas coisas para você.

Alessandra: Você não precisa se desculpar. Você tem razão em tudo que disse, a única errada aqui sou eu.

Vincent: Não, eu também estou errado.

Alessandra: Eu já disse que você não precisa se desculpar, Vincent. É melhor você ir dormir, vamos esquecer isso... Boa noite.

Ela tenta fechar a porta do quarto, mas ele a impede.

Alessandra: Amanhã temos muito trabalho a fazer e estou cansada.

Vincent: Não saio até você me dizer que me perdoa pelo que eu fiz.

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