Robson Narrando
A dor que carreguei desde o dia da morte de Merlinda nunca diminuiu. Não importa quanto tempo tenha se passado, a imagem dela morrendo diante de mim, seus olhos vazios de vida, continua marcada em minha mente. Eu tentava viver, seguir em frente, mas era impossível. Ela era a minha razão, o meu tudo. Quando ela partiu, o mundo simplesmente perdeu o significado. Eu não sabia mais quem eu era ou como continuar sem ela ao meu lado.
Foi em um dia comum, sem presságio ou aviso, que eu me vi em um lugar que nunca imaginei existir. Um campo de flores que parecia sair de um sonho. As cores vibrantes ao redor eram de um tipo que nunca havia visto. O campo parecia infinito, com flores de todos os tons imagináveis, todas dançando suavemente com o vento. O aroma das flores preenchia o ar, calmante e doce, como se o próprio ambiente quisesse me envolver em um abraço de paz.
No entanto, o que mais me marcou foi a sensação de que eu não estava sozinho. Eu não sabia de onde vinha essa certeza, mas a presença parecia me cercar. Era como se o próprio campo estivesse vivo, com uma energia pulsante que tocava a alma.
E então, quando o vento parou por um momento, eu a vi.
Ela apareceu de repente, sem aviso, como uma visão iluminada pela luz da lua. Seus cabelos prateados brilham suavemente, como se estivessem imbuídos da luz estelar. Ela usava um vestido longo, feito de uma matéria etérea que parecia mais luz do que tecido. E os olhos... aqueles olhos que eu tanto amava, agora pareciam mais profundos, mais antigos, mas ainda eram os mesmos.
Merlinda.
Eu a vi ali, diante de mim, mas não acreditei no que estava vendo. "Merlinda?" Eu sussurrei, quase sem voz. O som saiu rouco, como se as palavras estivessem presas na minha garganta. "Como... você está aqui? Você... você está viva?"
Ela sorriu, um sorriso sereno, calmo, como sempre foi. "Sim, Robson. Eu estou aqui. E eu sempre estarei."
Minhas pernas fraquejaram, e eu me forcei a ficar em pé, não acreditando no que meus olhos estavam vendo. "Mas... você... você morreu! Eu te vi morrer. Eu vi o sangue, eu vi... vi tudo."
"Eu sei", ela respondeu com suavidade. "Eu sei o que você viu. E eu sei a dor que isso te causou. Mas o que você não sabe é que a morte não é o fim. Não para todos."
Aquelas palavras eram difíceis de digerir. "Então... o que você é agora? O que aconteceu comigo? Com você?"
Ela deu um passo à frente, e sua presença iluminou ainda mais o campo ao nosso redor. "Eu fui chamada para um outro lugar, Robson. Para um papel que vai além da vida e da morte. Eu não morri da forma como você entende, mas sim, me transformei. Eu sou agora a Deusa da Lua. Parte do ciclo que rege a vida, a morte e a renovação. Fui escolhida para ser uma guardiã entre os mundos."
A revelação caiu sobre mim como uma avalanche, esmagando tudo ao meu redor. "A Deusa da Lua? Como isso é possível? Eu te vi morrer, Merlinda! Não entendo!"
Ela suspirou, seu olhar profundo refletindo uma sabedoria ancestral. "Eu não escolhi essa transformação, Robson. Mas ela foi necessária. A minha essência foi chamada para algo maior, algo que vai além do que compreendemos como vida. Eu agora sou uma guardiã, uma força que ajuda as almas a atravessarem os ciclos da existência. Minha missão é mais importante do que qualquer desejo pessoal. E a morte... é apenas uma transição."
"Mas e nós? O que acontece com nós?" Minhas palavras estavam carregadas de frustração e dor. "Eu ainda preciso de você, Merlinda. Como posso viver sem você? Você não pode me deixar assim!"
Ela colocou uma mão suave sobre meu peito, e o toque dela trouxe uma paz que eu não sabia que poderia sentir novamente. "Eu nunca te deixei, Robson. Mesmo quando você não podia me ver, eu estava com você, guiando você, protegendo você de longe. O amor que compartilhamos transcende o tempo e a morte. E eu estou aqui agora para te explicar tudo o que você precisa saber."
Eu respirei fundo, tentando processar as palavras dela. Mas algo em meu coração ainda não estava em paz. "Merlinda, você disse que estava com as almas. Significa que você também está ajudando outras pessoas? Ou apenas observa? Você... você sabia o que aconteceu com Nalanda?"
O rosto de Merlinda se fechou por um momento, e eu percebi que o que ela estava prestes a dizer não seria fácil. "Eu sabia que você sentiria falta de Nalanda. Eu também a vi, Robson. Ela esteve em contato comigo, mas... há coisas que ela precisa viver por conta própria. Eu não posso dizer onde ela está agora, mas posso garantir que ela está bem. O destino dela não está selado. Ela ainda tem muito a descobrir."
"Mas eu não posso viver com isso, Merlinda! Eu preciso saber onde ela está, eu preciso saber se ela está segura! Eu te perdi uma vez, eu não posso perder a Nalanda também!"
Ela olhou para mim com olhos cheios de compaixão, e em sua expressão havia uma tristeza silenciosa. "Eu entendo sua dor, Robson. Mas, assim como eu, Nalanda está no seu próprio caminho. Ela não pode ser guiada por mim. Ela precisa encontrar o seu próprio caminho, entender quem ela realmente é. E quando o momento certo chegar, ela será guiada para o seu destino, como todos nós somos. Eu não posso interferir. Eu posso apenas te pedir que tenha paciência."
Eu queria protestar, queria exigir mais respostas, mas sabia que não conseguiria mudar o que ela estava dizendo. Ela estava certa, em algum nível. A vida de cada um seguia seu próprio curso, e eu não podia interferir, por mais que desejasse. Eu tinha que confiar.
Merlinda olhou para mim mais uma vez, e seus olhos brilharam com um calor reconfortante. "Eu sei que é difícil, Robson. Eu sei que a dor que você carrega parece insuportável. Mas você tem dentro de si a força para seguir em frente. Você tem que acreditar nisso. Eu não posso fazer isso por você, mas posso te dar o conforto de que nunca estarei longe."
"Mas... e você?" Eu perguntei, um fio de angústia na voz. "Eu não consigo imaginar o mundo sem você, Merlinda. Como posso viver assim?"
Ela sorriu, um sorriso tão gentil e cheio de amor que me fez sentir como se o mundo inteiro estivesse em paz. "Você vai aprender, Robson. Você vai encontrar seu caminho. Não importa onde eu esteja, ou o que eu tenha me tornado. O amor que tivemos, isso nunca se apagará. Eu sou a Lua agora, e a Lua nunca deixa de brilhar, mesmo nas noites mais escuras. Eu estarei com você, sempre."
Com essas palavras, ela se afastou, mas não de uma maneira triste. Ela se afastou como a lua se afasta quando começa a esconder-se atrás das nuvens, sabendo que logo voltará a brilhar. E eu sabia, no fundo do meu ser, que ela nunca me deixaria. Merlinda ainda estava comigo, em cada lembrança, em cada estrela, em cada fase da lua.
E assim, enquanto ela se desvanecia no brilho suave da noite, eu entendi: a vida não era sobre os momentos de dor, mas sobre o amor que transcende tudo. E esse amor, por mais difícil que fosse aceitar, era a única coisa que importava.
Eu ficaria bem. Um dia.
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Atualizado até capítulo 84
Comments
Vânia Vieira
Mmerlinda colocou Robson numa encruzilhada: não pode ficar com ele, mas também não abre o caminho pra outro amor. Isso é injusto com ele.
2025-03-19
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