Capítulo 7: Luto
Subcapítulo 1: A morte do Rei
À medida que o sol se punha, tingindo o céu com tons alaranjados e rosados, a família real do Reino Aryes se reuniu na frente do castelo para se despedir dos visitantes do Reino Grayws. A carruagem luxuosa estava pronta para partir, cercada pelos guardas que haviam acompanhado a família durante a visita. O Rei Kael, sua esposa Lenora, e as princesas Eira e Selene se preparavam para a viagem de volta, trocando palavras cordiais com Tristan e os demais membros da corte.
Tristan, sentindo-se aliviado com a partida dos convidados e a promessa de uma volta à normalidade no castelo, despediu-se com um sorriso sincero, abraçando seu velho amigo Kael uma última vez. A paz momentânea que reinava no castelo enchia seu coração de esperança de dias mais tranquilos.
Anna, sempre dedicada ao pequeno Leofric, anunciou que iria dar banho no príncipe, como de costume. Leofric, com sua energia infantil, brincava animado, sem sinais do cansaço que começava a se mostrar no fim do dia. A princesa Melisande, por outro lado, mencionou que iria pintar, sua atividade favorita e um talento que, se não fosse por suas responsabilidades reais, certamente a teria tornado famosa.
Enquanto isso, Tristan dirigiu-se ao salão real, onde gostava de relaxar jogando xadrez. Era um de seus passatempos favoritos, uma tradição que ele e seu irmão Galahad mantinham desde a infância. O demônio, que agora habitava o corpo de Galahad, seguiu-o, carregando as lembranças do verdadeiro Galahad, mas com intenções bem diferentes.
Tristan, ao sentar-se à mesa de xadrez, sorriu ao se lembrar das muitas horas que ele e Galahad passavam jogando juntos quando eram crianças. A familiaridade da situação trouxe um calor nostálgico ao seu coração.
- Me lembro que passávamos horas jogando xadrez quando crianças!" comentou Tristan, enquanto organizava as peças no tabuleiro.
O demônio, manipulando as memórias de Galahad, respondeu com um tom desinteressado
- Era porque não tínhamos mais nada para fazer.
Tristan riu, concordando:
- Verdade! Nosso pai nunca foi de deixar a gente sair do castelo tão facilmente. Éramos praticamente prisioneiros aqui.
Enquanto as peças se moviam no tabuleiro, Tristan sentia a conexão fraterna de sempre, alheio ao fato de que a mente de seu irmão estava aprisionada e que a figura à sua frente era algo maligno. O demônio jogava com a mesma habilidade que Galahad tinha, mas por trás das estratégias de xadrez, havia uma escuridão que Tristan não podia perceber.
Cada movimento no tabuleiro era uma dança sutil de poder, com o demônio planejando seus próximos passos, tanto no jogo quanto em seus planos para o futuro. Para Tristan, aquele era apenas um momento tranquilo com seu irmão, mas para o demônio, era a oportunidade perfeita para continuar seus esquemas sombrios, infiltrando-se cada vez mais profundamente na vida do reino.
O salão real, que até então havia sido um espaço de nostalgia e lembranças, iria se transforma em um cenário de tensão e traição. As palavras de "Galahad" ecoaram pelo salão como um veneno, plantando dúvidas e provocando a fúria de Tristan. A súbita mudança no comportamento de seu irmão, que sempre foi leal e dedicado ao reino, era inexplicável para Tristan, e a confusão rapidamente se transformou em raiva.
-Eu sempre achei isso uma besteira!, começou o demônio no corpo de Galahad, com um tom desdenhoso.
Tristan, confuso e surpreso, perguntou:
- O quê?
- Isso tudo! Essa besteira de reino e deveres reais! Tantas coisas para conquistar, um mundo tão vasto para explorar, e só se preocupam em cuidar dos outros, em manter as coisas como são!
Tristan não pôde acreditar no que estava ouvindo.
- O que está tentando dizer? Está insultando o nosso legado?
O demônio riu, movendo uma peça no tabuleiro de xadrez com uma calma perturbadora.
- Sabe, esse jogo é interessante. Aqui temos dois reis e seus soldados, representando dois reinos se enfrentando, uma guerra como vocês gostam de chamar. Onde o único objetivo é ganhar, e no momento, esse é o meu único objetivo.
A raiva de Tristan explodiu, e ele bateu a mão com força no tabuleiro de xadrez, fazendo as peças voarem pelo salão.
- Se explique! Não tolerarei suas palavras!
O demônio, satisfeito com a reação que provocou, sorriu cruelmente.
- Ah, irmão... Se você não tivesse tido um filho, ainda teria seus poderes! E com certeza sobreviveria.
Antes que Tristan pudesse responder, uma dor aguda atravessou seu peito. Ele levou a mão ao coração, sentindo-se fraco, enquanto sua visão começava a escurecer. Com um último olhar de descrença e dor, Tristan caiu ao chão, sem vida.
O demônio, olhando para o corpo inerte do rei, chutou-o com desprezo.
- Menos um infeliz no meu caminho!, murmurou, sua voz carregada de ódio.
Mas, sabendo que precisava manter sua fachada, o demônio rapidamente assumiu uma expressão de choque e gritou por socorro. Seus gritos ecoaram pelo castelo, e logo os servos e guardas vieram correndo, encontrando "Galahad" ajoelhado ao lado do corpo de Tristan, fingindo desespero.
O castelo, que momentos antes parecia em plena segurança e ordem, mergulhou em caos e luto. A morte repentina e misteriosa de Tristan lançou uma sombra sombria sobre o reino de Aryes, enquanto o verdadeiro culpado, oculto nas aparências de Galahad, continuava a tecer seus planos malignos.
O reino de Aryes, outrora repleto de vida e alegria, agora estava mergulhado em uma sombra profunda de luto. A notícia da morte repentina do rei Tristan espalhou-se rapidamente, levando tristeza e desespero não apenas para o povo de Aryes, mas também para reinos vizinhos. O som dos risos que costumavam ecoar pelas ruas deu lugar ao choro e às lamentações, e o ar estava carregado de uma dor palpável.
Dentro do castelo, o coração da rainha Melisande estava despedaçado. Dias se passaram desde a tragédia, e ela não tinha forças para sair do quarto. A dor de perder Tristan era insuportável, e cada vez que fechava os olhos, via o sorriso dele, lembranças que agora pareciam punhaladas no peito. Tudo o que conseguia fazer era chorar, derramando lágrimas de saudade e arrependimento. O castelo, antes um símbolo de poder e estabilidade, agora parecia frio e vazio.
Sem a presença de sua mãe, Leofric ficou sob os cuidados constantes de Anna. A governanta, sempre dedicada e amorosa, tentou ao máximo confortá-lo, mas mesmo ela sentia o peso do luto que pairava sobre todos. O menino, tão jovem e cheio de vida, agora estava envolto em uma tristeza que ele ainda não compreendia completamente. Anna fazia o possível para mantê-lo distraído, mas havia momentos em que ele perguntava pela mãe, e a resposta era sempre a mesma: "Ela está descansando, querido."
Enquanto isso, o demônio no corpo de Galahad desfrutava do caos que havia causado. Ninguém suspeitava que havia algo de errado com ele. A morte de Tristan fora considerada natural, sem sinais de envenenamento ou assassinato. As autoridades do reino concluíram que o rei provavelmente sofrera de alguma doença desconhecida, e não havia suspeitas de crime. O luto dominava as mentes de todos, impedindo que qualquer desconfiança surgisse.
Entretanto, dentro do corpo que já não controlava, Galahad estava fervendo de ódio. Ele estava preso, incapaz de agir, mas suas emoções eram intensas e implacáveis. O demônio que tomara seu corpo agora representava tudo o que ele desprezava. Galahad jurou que, de alguma forma, encontraria um meio de se libertar e de destruir a criatura que usurpou sua vida. Mesmo que isso significasse sacrificar sua própria existência, ele estava determinado a lutar até o fim.
Mas por enquanto, ele estava impotente, forçado a assistir enquanto o demônio continuava a tecer seus planos sombrios.
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Atualizado até capítulo 23
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