Saímos da casa dos meus pais e caminhamos em silêncio por toda a alcateia, sem rumo, apenas seguia os passos do meu companheiro, em silêncio, não queria falar e ele pareceu entender e não disse nada, sentia um peso no peito que não me deixava respirar, tinha magoado o meu irmão, o meu gémeo, a minha outra metade e ele nunca tinha dito nada, tinha-se calado e tinha respeitado o meu silêncio, era óbvio que algum dia iria explodir e diria algo mas a minha parte egoísta sempre tinha esperado que esse dia nunca chegasse, sentia-me como a pior pessoa do mundo, comecei a duvidar das decisões que tinha tomado no passado, se tinha sido correto ficar calada e afastar-me. Estávamos a chegar à entrada da casa da alcateia e lá fora estavam as crianças a brincar com o Jace, a Elaine estava sentada nos degraus da entrada e olhava-os a sorrir, ela era feliz apesar de tudo, tinha feito o que achei correto pela felicidade dos meus dois melhores amigos, mas nunca tinha parado para pensar que não seria só eu a pagar o preço do meu silêncio, achei que sabia o que estava a fazer e para onde ia, mas agora tudo parecia tão instável, olhei para o meu companheiro e ele olhou para mim, como se conseguisse atravessar todas as muralhas que tinha criado para afastar os outros de mim e chegar ao mais profundo do meu coração e compreender como sangrava, como sofria pelos segredos de um passado que queria apagar, olhando-o nos olhos perguntei-me, como ele reagiria, como reagiria se soubesse a verdade, se soubesse o que eu fiz, duvidaria do meu amor, da minha lealdade para com aqueles que amo, ver-me-ia como alguém fraco, estúpido, não sabia e naquele momento, na verdade, não queria saber.
Continuamos a andar e chegamos à entrada, a Elaine notou a nossa presença e aproximou-se de nós, os seus olhos pousaram em mim e aproximou-se rapidamente e pegou nas minhas mãos.
- Estás bem, Azula? O que aconteceu?
- Tive uma discussão com o Aron. - O seu rosto franziu-se em confusão, nós nunca discutíamos, éramos duas metades de um todo, sempre que eu tinha uma ideia, o Aron completava-a, nunca tinha havido uma discussão entre nós e muito menos uma que me fizesse sentir tão uma porcaria.
- Não te preocupes, Lua.
- Claro que me preocupo, Azula, vocês nunca discutem, o que pode ter acontecido para vocês discutirem? - O meu rosto distorceu-se trazendo o rosto de dor e deceção do Aron à minha mente, larguei as suas mãos e afastei-me.
- Não queria falar sobre isso, Lua, mas obrigada por te preocupares. - Olhando mais para trás dela, lá estava o Jace a olhar para nós enquanto as crianças corriam à procura de alguma coisa, os seus olhos pousaram em mim com preocupação e eu senti-o a abrir caminho na minha cabeça.
- O que aconteceu, Azula? Estás bem?
- Não quero falar sobre isso, Alfa.
- Tens a certeza? Pareces tão triste, Azula, sabes que estou aqui para ti sempre, pois não?
- Sei, obrigada.
Cortei a ligação mental sem me importar se era uma falta de respeito para com o meu Alfa, naquele momento não queria falar com ele, peguei na mão do Alec e insisti para continuarmos a andar.
- Retiro-me, Lua, queria ir deitar-me um pouco com o meu companheiro.
- Claro, claro, podem ir.
Passamos por eles e entrámos em casa, subimos as escadas e chegamos ao quarto dele, ele abriu a porta e entrámos, mal fechou a porta, os seus braços envolveram o meu corpo e eu desabei a chorar, libertei toda a dor que tinha guardado durante todos aqueles anos, chorei e chorei até adormecer, estava nos seus braços e estava em paz.
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Acordei a sentir alguém na ligação.
- Azula, estás acordada?
- Aron... Sim, sim, estou acordada... Eu...
- Podemos conversar, estou fora da casa da alcateia.
- Sim, já vou ter contigo.
Cortei a ligação e levantei-me da cama, o Alec estava profundamente adormecido, calcei os sapatos e saí do quarto em silêncio, desci as escadas e estava tudo escuro, quando ia sair pela porta, vi a luz da cozinha acesa, aproximei-me e entrei na cozinha e lá estava a Elaine, tinha uma chávena quente nas mãos e olhava pela janela em direção à floresta, entrei na cozinha e ela não reagiu, continuou ali a olhar para a floresta, como se esperasse por alguém.
- Lua. - Os seus olhos nunca se desviaram da janela, era como se não me ouvisse, como se eu não estivesse ali, coloquei as minhas mãos nos seus ombros. - Elaine.
Ela reagiu e virou-se para mim assustada. - Azula, meu Deus, assustaste-me, não te senti entrar.
- Reparei, estava a falar contigo, mas não respondias.
- Desculpa, não conseguia dormir. - Voltou a olhar para a floresta com um olhar triste. - Sempre que fecho os olhos vejo o rosto dele, Azula, sinto tanta dor, não tenho conseguido dormir bem desde aquele dia, não consigo ter paz de espírito, pergunto-me se fiz o certo em não esperar pelo meu companheiro.
Ficamos em silêncio apenas a olhar pela janela.
- Azula, já vens? - Raios, tinha-me esquecido do Aron.
- Vou, desculpa, estava a falar com a Elaine.
- Está bem, espero por ti.
Olhei para a Elaine presa nos seus pensamentos, sabia que para ela seria cada vez mais difícil porque ela não o conseguiu rejeitar, ele foi-se embora e não a deixou rejeitá-lo.
- Elaine, o Aron está à minha espera lá fora.
- Ah, tudo bem, vai lá. Eu fico aqui. - Não a podia deixar ali, presa nos seus pensamentos, a refugiar-se na dor.
- Anda connosco, Elaine, vamos dar uma volta. - Ela olhou para mim com os olhos brilhantes como uma menina.
- Posso?
- Sim, anda. - Puxei-a pela mão e ela deixou a chávena na bancada e saímos de casa, o Aron estava lá fora, tinha um cigarro nos lábios, olhou para mim e atirou o cigarro ao chão.
- Azula. - Veio ter comigo e abraçou-me, abracei-o com força. - Desculpa, princesa, fui um idiota, estava chateado, não tinha o direito de te falar daquela maneira.
- Eu compreendo, Aron, magoei-te, magoei o teu coração e lamento muito.
O Aron afastou-se do meu abraço e viu que a Elaine estava ao meu lado. - Olá, Elaine, não sabia que vinhas.
A Elaine riu envergonhada. - Bem, a Azula convidou-me, espero não vos estar a incomodar.
- Como é que vais incomodar, tonta? - O Aron abraçou-a e ela riu nos seus braços.
- Bom, acho que vos devo uma corrida até ao rio, vamos.
Os dois sorriram e aproximámo-nos da floresta, parei atrás de uma árvore e tirei a roupa, dobrei-a e guardei-a na relva para a voltar a vestir quando voltássemos, dei lugar à minha transformação e fui ter com eles, já todos na forma de lobos, ouvi o Aron na minha cabeça.
- O último a chegar é um ovo podre.
Ele saiu a correr e nós corremos atrás dele, a brisa a mover o meu pelo, o meu coração a bater em sintonia com os deles, sentia-me tão bem, estava tudo bem.
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Atualizado até capítulo 80
Comments
Ana Regina Fernandes Raposo
NOSSA ELES SÃO AMIGOS DE INFÂNCIA, NÃO TEM COMO NÃO DEFENDER ELES.
2025-03-16
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Claudia Maria
para que , esconder esse sofrimento todo, tá na hora de libertação !
2025-01-30
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Ana Claudia
já estou ficando com raiva dela ficar parecendo a madre Tereza 😕
2024-12-29
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