O dia de ir embora

Desde o dia que entrei na escola, nunca mais tive notícias nenhuma de ninguém, meu soldado virou meu amigo, conversamos muito, ele me explicou que a dois anos não manda notícias minhas para ninguém, e disse que ninguém me procurou também, me disse que foi treinado pelo meu noivo e que ele era assustador, e que vivia cercado de belas mulheres, claro que ele só me confiou isso porque sabe que pode confiar em mim, mas é muito injusto, eu com tudo negado e ele Com mulheres demais, isso  que eu estou a quatro anos presa aqui, os muros são altíssimos não vimos nada fora daqui, estou sempre estudando ou treinando o que é ótimo, eu era bem gordinha, sofri muita ofensa aqui, falavam que eu estava abandonada no Brasil e que ia morrer sozinha, todo final de semana as meninas iam embora e eu ficava sozinha no orfanato inteiro, só algumas professoras e funcionárias não iam para casa, as meninas aqui ricas são péssimas, elas tinham acesso a tudo que era restrito para mim, e eu achava isso doloroso.

Mas no segundo ano Marco chamou a minha tutora e ela logo me colocou em aulas de etiqueta, consulta com nutricionista, academia, tratamentos semanais com ervas hidratantes, meu único ato ``Rebelde'’ na vida foi pintar meu cabelo de castanho, eu era bem loira, a tutora ficou muito brava, mas quando ela saiu da sala para cuidar de outras meninas aproveitei a cabeleireira e pedi, fiquei me sentindo muito bem, adorei meu visual novo, Marcos disse que fiquei muito bonita, semana que vem já saio daqui e como já estou com 17 anos durmo sozinha no meu quarto e Marcos fica na porta todos os dias, isso faz com que poucas pessoas me incomodem, eu percebo os olhares que ele arranca aqui, mas ele mesmo sendo muito profissional da sua escapulida em outros quartos também.

_ Boa noite, Bela, até amanhã, descanse bem, está nervosa com a ida para casa depois de tanto tempo, como está se sentindo?, - ele perguntou

_ é engraçado falar casa quando não tenho uma, não sei nem para onde vou ir, vou fazer 18 anos sábado e saio daqui direto para um casamento, sem contar que vai chegar o momento daquilo, você sabe. — Senti meu rosto queimar na hora nunca falamos de sexo, às vezes Marco me fazia sentir mal contando histórias que me assustavam demais, de coisas que eles faziam na hora.

_ Queria poder tirar você dessa história Bela, Levar você longe de lá e dele, se eu tivesse cumprido meu objetivo inicial não passaríamos por isso- falou a última parte baixo, mas eu entendi, senti uma pitada de desgosto na sua voz, acho que é como um instinto de irmão que se formou nele.

__ Ta tudo bem, Marco, eu aceitei o meu destino no momento que vi meu pai desesperado, ele nunca gritou com a minha mãe, então vi que era algo sério. - eu respondi.

   Dias depois.

Sexta a noite Marco me avisou que iriamos embora, o jato às 22 horas estaria pronto, me apurei a correr e arrumar tudo, queria me despedir das funcionárias e também das professoras, estava louca para ir embora, meu coração não parava quieto, será que ele viria me buscar, finalmente verei seu rosto? E se for barrigudo, Grosseiro, Per Dio, estou perdida.

_ Vamos Bela, chegou a hora, amanhã é uma nova vida, vieram te buscar. — Abri a porta e meu olhar buscava respostas, ele veio? - mesmo estando isolada por 4 anos eu não queria que fosse ruim, torcia para que a sorte estivesse do meu lado.

_ Esta doida Bela, ele não viria, não queria esse casamento tanto como você, o seu cunhado foi quem veio. - ele disse e eu me entristeci

Me afastei um pouco triste, e ele me chamou de Bela, quando fui me virar ouvi uma voz grave no ar, era impossível não lembrar, era meu cunhado, Marcos no mesmo momento deu um passo para trás e baixou a cabeça.

__ Estava demorando, então vim atrás, do que você chamou ela Soldado? O que está acontecendo aqui?- meu cunhado perguntou com a sobrancelha arqueada.

_ Ela estava triste, senhor, só iria consolar ela.

_ uhuhum meu irmão não vai gostar de saber que você quer consolar a noiva dele, não esta nova versão, por isso a dois anos não temos notícias, como está cunhada?

Em um momento de raiva respondi com grosseria:

__ Ele não tem que gostar ou não gostar, afinal me abandonou aqui sem a minha família, Marcos é como meu irmão, não é justo sofrer por cuidar de mim.

Meu cunhado arqueou a sobrancelha e riu.

__ Vamos logo, chegaremos lá no início da manhã e seu casamento é logo a noite- ele disse.

Entramos no jato e partimos até a Itália. Olhando a paisagem e o convento para trás não senti nada além de alívio, afinal acabou um tormento, só não sei se não vai começar outro.

Acabei dormindo após tomar um remédio, porque passei muito mal e quando acordei já estava em uma cama, tomei um remédio que meu cunhado me ofereceu porque estava enjoando na viagem, não me alimentava desde o início do dia anterior, ouvi batidas na porta e me encolhi, toc, toc

__ Pode entrar, respondi

__ Olá meu amor, que bom que acordou,Sou Victória a sua futura sogra, meu filho Pietro disse que você passou muito mal, então ele te deu um remédio, hoje é seu casamento, vamos logo se cuidar, se sente bem? Já são 13 horas, já estão te aguardando para começar a te arrumar- a senhora muito gentil e elegante falou

  __ Eu me lembro que me senti mal, acho que foi o estresse do dia, a despedida, quem me trouxe para o quarto? Estou melhor, sim, obrigada, só não sinto fome, vamos aos preparativos, né, -dei um meio sorriso amarelo, pois tudo era muito estranho para mim, mas ela se mostrou uma boa senhora, muito linda e receptiva, então não serei rude com ela, até agora não estava parecendo o pesadelo que o Marco falava.

__ Foi Pietro, seu noivo não estava em casa, então o irmão cuidou de tudo, mas precisa se alimentar, será um dia corrido, tome um banho porque está pálida meu amor. - ela insistiu mais uma vez, mas eu me conhecia, se comesse eu iria vomitar.

_ Onde está minha mala? Perguntei querendo urgente um banho e desviando do assunto comida

_ Já está no closet, já arrumaram tudo enquanto dormia, você não viu por estar apagada, vamos lá, vá logo tomar um banho- ela finalizou me esticando a mão.

Me levantei e fiz o que pediu, tirando a parte do alimento já que nada entrava no meu estômago, me olhei no espelho e achei bom finalmente ser magra e bonita, assim meu noivo saberia que valeu a pena.

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