ALGUNS DIAS DEPOIS
Os dias estão passando bem devagar. Queria mesmo que as férias de verão acabassem logo e as aulas recomeçassem. Na verdade, sinto um misto de medo e ansiedade. Não sei como vou ser recebida por aqui. Sempre estudei inglês, sempre falei bem, meu pai praticamente me obrigava a fazer aulas... Bom, parece que ele sabia que um dia eu precisaria. Valeu, pai.
Com a família da Diana é mais fácil — todos falam português. A maioria deles é brasileira também, pelo menos Diana, Max e Armando. Acho que falam em português para me deixar mais confortável. É gentil da parte deles.
Talvez eu fique nervosa em lidar com pessoas novas... E se não gostarem de mim na escola? E se acharem que sou esquisita? Bom, no meu antigo colégio eu também não era exatamente popular.
Toc toc.
— Só um instante! — digo, ainda de pijama. Coloco um robe por cima e vou atender à porta.
Ao abrir, levo um susto.
— Bom dia — diz Armando, seco. — Minha mãe pediu pra te chamar pro café. Recado dado.
Ele se vira, dá dois passos e então olha de novo por cima do ombro.
— Ah, e por favor, não demora. Preciso sair em dez minutos.
— Mas o que isso tem a ver?
— Olha, eu não tenho que te dar explicações.
— Grosseiro! — resmungo alto antes de fechar a porta.
Me visto rapidamente, escovo os dentes e desço.
— Desculpem o atraso para o café.
A família Staves tem o costume de tomar café da manhã toda junta. É quase uma superstição para garantir um bom dia.
— Não se preocupe, querida — diz Diana com um sorriso —, é o Armando quem está com pressa.
Ele me encara enquanto morde uma fatia de pão. Levanto uma sobrancelha e desvio o olhar, ignorando-o. Logo ele se levanta.
— Estou indo. Não posso me atrasar para a reunião. Você vem, pai?
Ele beija a testa de Diana, depois cumprimenta os dois irmãos menores, ignorando a existência de Jhony — que também não parece se importar.
Antes de passar pela enorme porta de vidro, ele lança um último olhar por cima dos ombros e vai embora.
— Então tá... eu vou me retirar também.
— Espere um instante, querida — chama Diana. — Quero te contar uma novidade.
— Novidade? Ah, claro. Pode falar.
— Vamos viajar neste fim de semana. Férias de verão em família.
Fico em silêncio. Não consigo reagir. A última viagem de férias que fiz foi com meus pais, e guardo memórias incríveis desse tempo.
— Ah, não é nada. Como devo arrumar as malas? Roupas de frio ou calor?
— Calor, com certeza. Vamos para nossa casa de praia nos Hamptons.
HAMPTONS?! É simplesmente o bairro de férias dos milionários de Nova York! Nenhuma casa ali custa menos de cinco milhões de dólares. Estou em choque.
— Uau... então tá bem.
Os dias passam, e quase não vejo Armando. Ele costuma ser rude comigo. Tento ignorá-lo… e também aquele corpo lindo e aquele rosto de revista. Queria poder ignorar a idade dele também.
DIA DA VIAGEM
— Mãe, onde coloco isso? — pergunta Jhony.
— Pai, posso levar meu tablet? — grita Fernando.
— Eu queria ainda estar dormindo — resmunga Simon.
A casa está um caos. Malas, gente falando alto, correndo de um lado pro outro.
— Bom dia, Diana. Onde posso deixar minha mala?
— Pode colocar no porta-malas do carro do Max. Vamos todos no dele, cabe todo mundo.
— Tá bem!
Quando tudo parece pronto, todos entramos no carro. Só falta uma pessoa… Armando. Talvez tenha ficado atolado de trabalho, mas não pergunto.
1h e 50min depois...
O carro para em frente a uma verdadeira mansão. Janelas e portas de vidro enormes, uma piscina deslumbrante, lanchas, jetskis, funcionários por todos os lados… é o paraíso. Cada detalhe da casa é mais impressionante que o outro. Meu quarto é ainda mais bonito que o da outra casa.
Coloco um biquíni e por cima uma camisa grande, pego um livro e meus chinelos. Todos já estão na piscina. Diana e Max conversam nas espreguiçadeiras, Fernando e Simon passam protetor solar, e Jhony se diverte mergulhando.
O dia está lindo.
Abro meu livro na página em que parei. É estranho estar lendo com essa piscina divina e esse sol maravilhoso? Talvez seja mesmo.
Me concentro na história, até escutar o som de um carro se aproximando. Olho. É o carro do Armando. Diana também nota e parece tão surpresa quanto eu — a diferença é que ela não tenta esconder.
— Max, aquele não é o carro do Armando?
Ele se levanta rápido e olha.
— É sim, querida. Mas o que ele faz aqui? Disse que não viria. Falou de trabalho, reuniões, relatórios, clientes desesperados...
— Ele comentou isso comigo também. Vamos lá recebê-lo.
Eles se aproximam do carro, que para bem à frente da casa. Armando abre a porta do passageiro.
Espera… ele está no banco do passageiro?
E então entendo tudo. Uma mulher lindíssima sai do carro. Sinto minhas mãos suarem e meus olhos se arregalam.
Diana a cumprimenta:
— Oi, Mendy! Como vai?
A moça a puxa para um abraço. Mesmo de longe, dá pra perceber o desconforto da Diana.
Armando olha em direção à piscina. Desvio o olhar na hora.
Poucos minutos depois, os quatro chegam ao deque. Armando cumprimenta os irmãos, e todos falam com a moça. Tento não encarar. Volto para meu livro, mas sou interrompida:
— Mia? MIA? — grita Diana.
— Será que ela tá ouvindo? — pergunta Max.
— Deve estar no mundo da lua, como sempre — provoca Armando.
Balanço a cabeça, tentando retomar o controle.
— Oi! Desculpa, estava distraída.
— Não falei? — diz Armando com ironia. Diana lhe dá um tapinha em seu braço.
— Mia, quero te apresentar a...
— Mendy. — A moça interrompe. — Sou a namorada do Armando.
O silêncio toma conta por um instante.
— Ah, legal. Vou voltar pra lá, tá, Diana?
— Tá bem, meu amor. Fique à vontade.
Caminho para o outro lado do deque, com a cabeça fervendo. Namorada? Eu não sabia. Mas não entendo por que isso me afeta tanto. Isso não deveria estar acontecendo. Eu nem devia estar aqui.
Pego meu livro, meu celular, meus chinelos. Começo a andar em direção à casa. Aperto o passo, mas então escuto:
— Mia?
Era Jhony.
— Oi...
— Já vai? Nem entrou na piscina.
— É que... não tô mais afim.
— Ah, não diz isso. Vamos nos divertir. Vou colocar uma música.
Ele acerta em cheio. Toca uma das minhas músicas favoritas, e começo a me sentir um pouco mais confortável.
— Vem, vamos dançar?
— Ah, não... não, não danço.
— Nossa, quantos “nãos”.
Ele sorri, divertido, e me puxa com leveza. Coloca uma mão nas minhas costas, segurando minha camiseta, e a outra segura minha mão. Ficamos muito próximos. É inevitável encarar seus olhos hipnotizantes.
— Você é ainda mais linda assim, de pertinho.
Suas palavras me arrepiam por inteiro.
— E-eu... eu tenho que ir agora.
Pego minhas coisas às pressas e saio quase correndo. Antes de sumir, olho pra trás. Armando está me observando fixamente, o que só me faz querer sair mais rápido dali.
Subo as escadas correndo, deixo algo cair, mas não volto. Tranco a porta do quarto com o coração acelerado.
Um banho quente vai ajudar. Com certeza.
Demoro bastante no banho. Relaxa, mas a lembrança dos olhos de Jhony e do olhar de Armando ainda me atormenta.
Vou voltar pro meu livro... onde está? Sumiu!
No mesmo instante, alguém bate na porta.
— Já vou!
Procuro uma camisa, visto rápido e abro a porta.
— Acho que isso é seu.
É Armando. Fala com a voz baixa e grave, segurando meu livro.
— Era exatamente o que eu procurava. Valeu. Deve ter caído na escada.
— Você é tão distraída. Devia prestar mais atenção nas coisas.
Ele fala num tom estranho, como se escondesse outra mensagem por trás. Mas não me importo.
— E você devia cuidar da sua vida.
Acho que estou aprendendo a ser irônica com ele.
— E você não devia dar mole pra ninguém.
A fala sai com uma irritação visível.
— E você devia se tratar.
Ele não responde. Sai andando, descendo as escadas apressado e bufando.
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Atualizado até capítulo 157
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