Capítulo 4

Com uma mistura de constrangimento e dificuldade, ele luta para vestir o vestido adornado. Os enfeites complicam ainda mais o processo, fazendo com que cada movimento seja um desafio para ele. Se um vestido normal já é uma dificuldade para ser colocado por um homem, imagina um vestidinho de princesa cheio de trecos de enfeites?

— Muitas vezes fui obrigado a rasgar os vestidos das mulheres que se deita em comigo, porque eu não tinha ideia de como retirar, agora sou obrigado a colocar essa merda com delicadeza, pois se rasgar, vou ter que andar pelada por aí — Ele fala com um sorriso irônico nos lábios.

Ele sente a textura suave do tecido contra sua pele, pelo menos nisso a mulher tinha bom gosto, pois não pinica a pele como se imagina ao olhar para o vestido. Mas a sensação de cada enfeite delicado o aborrece, pois ele se sente uma menininha de verdade usando aquele vestido de princesa.

Ao sair do quarto, ele evita olhar para as pessoas ao seu redor, sentindo o peso do julgamento em seus ombros. A vergonha o consome, tornando cada passo um lembrete doloroso de sua nova realidade. Ele se pergunta como chegou a esse ponto, vestido como uma princesa em meio à sociedade que o admira por ser um homem de sucesso, um home com H maiúsculo.

— Não sei o que é pior, sair assim, e ser visto como um homem no corpo de uma mulher, ou sendo mulher vestindo igual uma retardada. Será que pode piorar? — Ele resmunga baixinho entre os dentes.

Só que pode piorar a sua situação, e muito, pois quando ele chega do lado de fora do hospital, percebe que o seu carro não está estacionado ali, afinal ele veio para o hospital de ambulância, e o seu carro está sendo usado pela usurpadora do seu corpo. Isso se tiver alguém no seu corpo mesmo.

Uma onda de raiva percorre suas veias, pois ele não deixa ninguém dirigir o seu carro, e agora vai ter uma desconhecida sentando no seu banco. O pior de tudo, é que ele está em uma localização desconhecida e não tem meios para voltar para casa. Sem celular e sem dinheiro, ele se vê enfrentando as ruas movimentadas da cidade, xingando mentalmente por estar preso nessa situação surreal.

Caminhando pelas ruas, ele se sente vulnerável e exposto. As pessoas ao seu redor lançam olhares curiosos e julgadores, aumentando sua sensação de desconforto. Ele se pergunta se todos estão pensando o mesmo que ele: que ele é uma aberração, uma figura fora do lugar. Mesmo que esteja no corpo de uma mulher, sair desfilando de princesinha de contos de fadas, é para uma pessoa anormal.

Apesar da raiva e confusão que fervem em sua mente, ele ainda se agarra à esperança de que tudo isso seja apenas um delírio passageiro. Ele se recusa a aceitar que sua vida mudou tão drasticamente da noite para o dia. Enquanto enfrenta as ruas agitadas, ele mantém a crença de que encontrará uma maneira de desvendar esse enigma e recuperar seu corpo, onde estiver, ele vai achar.

Após horas de caminhada exaustiva, ele finalmente chega ao prédio de seu apartamento. A sensação de alívio é substituída por uma onda de frustração quando o porteiro, um rosto familiar, não o reconhece. Ele é barrado na entrada, impedido de acessar seu próprio lar.

Com o coração apertado, ele tenta explicar a situação ao porteiro, mas suas palavras parecem cair em ouvidos surdos. A raiva e o desespero se misturam em seu rosto, enquanto ele luta para encontrar uma solução.

— Sou eu, eu preciso entrar no meu apartamento, dá para abrir o portão?

— Desculpa senhora, eu não a conheço, não posso deixar você entrar.

— Senhora é o seu rabo, eu sou o Thiago Aiken, da para abrir o portão agora, estrume?

— E eu sou a chapeuzinho vermelho. Olha senhorita, é melhor você ir embora, ou vou chamar a polícia para você, esse lugar não é um palácio real não, é um prédio que só mora executivos e empresários. Se quer encontrar seu príncipe, está no lugar errado.

Cada vez mais essa situação está deixando o Thiago com raiva, ele sente como se o mundo tivesse caído sobre a sua cabeça. Ele se encosta no muro, e espera pelo Pedro, pois ele tem a chave, e vai dar um jeito de colocar ele para dentro.

Olhares curiosos e julgadores dos outros moradores começam a se voltar para ele. Ele se sente como um estranho em seu próprio prédio, um intruso em sua própria vida. A sensação de ser invisível, de ser negado o acesso a um espaço que costumava chamar de lar, é esmagadora.

Logo ele que sempre teve a atenção de todos por sua beleza e empoderamento, agora está parecendo um cãozinho de rua que acabou de ser abandonado.

Ele se vê em um impasse, sem saber para onde ir ou o que fazer. A ideia de passar uma noite nas ruas, vulnerável e desamparado, é assustadora. A sensação de isolamento e desespero o consome, enquanto ele tenta encontrar uma maneira de contornar essa barreira que surgiu entre ele e seu apartamento.

— Isso só pode ser um pesadelo, não é possível que isso seja real, isso não existe, em lugar nenhum, nunca ouvir falar que isso aconteceu.

Enquanto ele se afasta da entrada principal, desolado e incerto sobre o que fazer a seguir, seus olhos se fixam em seu carro se aproximando lentamente. Um raio de esperança surge em seu coração, pois reconhece o veículo como sendo o seu. No entanto, o que ele vê ao olhar para dentro é algo que desafia toda a lógica e compreensão.

Para sua surpresa e perplexidade, ele testemunha Pedro e a sua própria imagem saindo do carro e caminhando em sua direção. Seus olhos se arregalam de espanto e confusão, enquanto as palavras saem simultaneamente dos lábios de Isabela e Thiago, em perfeita sincronia.

— Esse corpo é meu...— As vozes se misturam, criando um eco estranho no ar. A expressão de Pedro é de choque e atordoamento, incapaz de compreender a situação bizarra que se desenrola diante dele.

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