Capítulo 8

Bento

Bom, acredito que tudo tenha dado certo, porque acordamos hoje pela manhã com um convite para participarmos da última cerimônia de casamento do Zayn, então parece que a noiva não desistiu.

Kaleb: Lembre-se do que o Sheik disse, fique longe da filha dele, a moça já está bem constrangida com o episódio de ontem.

Bento: Ok, mas em minha defesa, eu não fazia ideia que a tal Aisha ia entrar feito um furacão naquele escritório. - bufo.

Kaleb: Bento, Bento... eu te conheço! - estreito ainda mais os olhos. - Lembro bem do que disse ontem, sobre a moça ser diferente e bonita.

Bento: E ela realmente é! - repito o óbvio. - Eu nunca vi uma mulher sair correndo só porque eu vi os cabelos dela! Se ela tivesse feito uma tintura que deu errado ou um corte mal feito, até entenderia... - meu irmão meneia a cabeça.

Kaleb: Olha, te ver interessado em outra mulher me deixa feliz, de verdade...

Bento: E quem disse que eu estou interessado na moça?! - bufo. - Vamos logo ou vamos chegar mais atrasados do que a noiva! - saio irritado.

Keleb: Ah, dona Helena... acho que seu filho está querendo se amarrar, e sinceramente, não sei se isso é uma boa ideia.

《••••》

A cerimônia é bem diferente do que estou acostumado. São duas cerimônias, na verdade.

Uma foi mais voltada para a família, e ao invés do tão aguardado beijo dos noivos, um abraço casto e carinhoso sela o casamento.

E depois, a noiva acho que faz mais uma troca de roupas e se junta aos convidados, mas fica sentada ao lado do noivo, de onde eles apreciam a festa.

Bento: Um tanto curiosa a celebração desse casamento, não acha? - pergunto, encostado em uma das grandes colunas do salão do Palácio.

Kaleb: Culturas diferentes, meu irmão. - Observo o Bento bem inquieto após os noivos saírem. - Não adianta procurar. Ela saiu logo após o Zayn e a esposa dele.

Bento: E quem disse que estou procurando alguém?! - finjo estar bravo. - Vou voltar para o quarto! - me viro mas meu irmão segura meu braço e me encara, com a expressão preocupada.

Kaleb: Se quer abrir seu coração novamente, vá em frente, se aproxime da moça que eu seguro o que estiver por vir. - suspiro. - Mas se não tiver certeza, vá realmente direto para o quarto. Eu te conheço, te amo, sou seu irmão mais velho e enfrentaria o mundo só para ver você sorrir abertamente de novo, sendo feliz de verdade, tirando toda essa sombra de dor do seu coração...

Bento: Eu sei... mas eu vou para o quarto. - dou um sorriso fraco. - Não sei diferenciar o que sinto, não agora.

Kaleb: Tudo bem.... sinto que você está tentando convencer mais a si mesmo do que a mim, mas você é quem sabe. - dou de ombros. - Só se lembre de uma coisa, aqui não existe namoro, se tocar tem que casar, se olhar tem que casar, se beijar tem que casar ou morre, e se fizer algo a mais, você está morto. Mas em todas as opções, você pode se livrar, afinal você é um Donartti e sempre temos quem nos defenda, mas vai conviver com a culpa de ter manchado e condenado a uma vida de vergonha, uma moça que não tem culpa de nada e sequer pegou na mão de um homem que não seja da família, porque foi isso o que eu soube.

Bento: Está aí algo que nos separa, a cultura. Já imaginou alguém com tantos costumes diferentes, vivendo em Nova York? Andando pelas ruas e quase surtando com um casal se beijando, por exemplo?

Kaleb: Pelo que sei, a esposa do Zayn é brasileira, filha de pai árabe mas nasceu e cresceu no Brasil. Então imagino que o choque cultural também seja grande.

Bento: Sabe de uma coisa?! Chega dessa história sem pé nem cabeça! - resmungo. - E você deveria parar de imaginar coisas e ligar para a sua tica! - saio, deixando meu irmão lá, meneando a cabeça.

Onde já se viu?! Eu vou para o quarto e talvez até vá para um hotel ainda hoje!

O que olhos não veem não confunde a mente, ainda mais algo que meus olhos mal viram.

Caminho decidido pelo Palácio e acabo saindo num pátio com uma decoração diferente, duas espécies de lagos ou piscinas rasas, sei lá. Luminárias penduradas sobre a água e almofadas azuis espalhadas pelo lugar... será que teremos mais festas aqui?

Quando estou prestes a sair escuto um choro baixinho...

- Bento, só dá meia volta e sai... por favor, seja prudente... - falo comigo mesmo. - Droga de instinto! - resmungo já indo em direção ao som e vejo a jovem Aisha abaixada, falando baixinho enquanto chora.

A cena me corta o coração, mas ouvir as palavras dela é ainda pior...

Aisha: Allah... eu não quero morrer seca... eu sempre sonhei com um casamento... com uma família... filhos... por favor... eu prometo até mesmo desistir do meu sonho de ser professora... eu não me importo... só me dê uma família.... me permita ser esposa... ser mãe... eu não quis cometer o Haran... eu não sabia... me perdoe... ouça meu pedido Allah...

O choro e os soluços interrompem as palavras, mas a dor nesse choro é quase palpável.

Ouvindo suas palavras algo se move no meu peito. Compaixão e carinho, vontade de cuidar... há tanto tempo eu não me sentia assim, mexido por uma mulher, com vontade de cuidar e proteger, mas como homem.

Eu sei que a prudência me mandariam dar meia volta e seguir meu caminho, mas...

Me aproximo devagar, mesmo sabendo que posso estar me metendo num grande problema, e assim que estou frente a ela, tiro um lenço do meu bolso.

Bento: Uma moça tão linda não deveria estar aqui sozinha, chorando escondida. - ele ergue o rosto e logo parece assustada, se encolhendo e puxando mais o lenço, cobrindo os cabelos. - Não precisa se assustar, pequena. Não vou tocar em você, só aceite o lenço.

Aisha: Obrigada... - digo, fungando, enquanto pego o lenço e seco minhas lágrimas.

Bento: Me desculpa, mas acabei ouvindo suas palavras... porque acha que não terá um casamento? Se é pelo que houve, não direi nada, não se preocupe. - tento não ser julgador, me lembrando a todo o tempo que para ela, tudo é diferente.

Aisha: Não é sobre você dizer ou não... - respiro fundo, tentando me acalmar. - É sobre ter acontecido, sobre o que eu aprendi... eu sei que cometi um erro... erros tem consequências, e agora... - sinto minha voz embargar.

Bento: Não seja tão dura consigo mesma. - tento acalmá-la. - Não foi sua intenção e você não tem culpa de nada.

- Ah, mas eu sabia! Eu sabia que o rompimento do compromisso tinha um motivo!

Vejo um homem alterado, vindo a passos largos na nossa direção e tentando partir para cima da moça, e eu o seguro pela camisa, erguendo seus pés do chão.

Bento: Escute bem, eu não sei quem você é, e muito menos sua relação com essa moça, mas na minha frente homem nenhum bate em mulher! - rosno e vejo o sorriso cínico no rosto do homem.

- Eu sou Jamal, o ex prometido dessa mulherzinha imoral! - grita, irritado. - O Sheik nos disse que minha conduta não era digna, mas a filha dele não passa de uma qualquer, se encontrando pelos cantos com estrangeiros! Sua...

Bento: Você não vai dizer!

Nem dou tempo e acerto um belíssimo e merecido soco na boca do idiota, que cambaleia, mas devolve o golpe, me causando um corte no canto da boca... que filho da mãe!

Bento: Ok... - limpo o corte e olho meu dedo sujo de sangue. - Eu estou realmente a fim de quebrar a cara de alguém, e adivinha, hoje é meu dia de sorte, porque encontrei o otário certo pra encher de porr@d@!

Parto pra cima do babac@, sem dar tempo dele revidar, e soco a cara dele sem a menor pena, vendo o idiota cambalear e tentar se livrar dos golpes, mas eis uma diferença... Eu sou um Choi Donartti, eu fui treinado e eu sei muito bem como defender o que é meu!

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