Gustavo: A Hortênsia vai trabalhar na nossa casa.
Emma: Sério?
As palavras nossa casa ecoam na minha cabeça me deixando ainda mais confusa.
Gustavo: Ela me deu as informações e ficou preocupada em perder o emprego. Falei que se você aceitasse a proposta que te faria, ela teria um emprego garantido. Cuidar de um paciente com demência é difícil Emma, será bom ter ajuda e principalmente se for de alguém que gosta e confia.
Emma: Aqui no contrato diz que eu não posso trabalhar. Eu...
Gustavo: A Emma está literalmente entrando em pânico. Posso ver pelas suas mãos tremulas e a sua respiração descompassada. Pego o rosto dela e olho nos olhos dela.
Respira Emma, está tudo bem.
Emma: Fico olhando o Gustavo assustada. Tento respirar, mas parece que falaram o ar aqui. Ele me pede para respirar e foco na respiração.
Gustavo: Emma agora nesse momento eu não quero que trabalhe. Quero que termine os seus estudos e faça uma faculdade, por isso a cláusula para não trabalhar. As suas duas fugas do hospital, me fizeram entender que é teimosa e fiz isso pensando no melhor para você. Eu vou te proteger e cuidar de você, farei tudo que puder para que dê hoje em diante tenha uma vida tranquila, tudo bem?
Emma: Estou em pânico Gustavo... isso... é assustador.
Gustavo: Puxo a Emma para o meu peito e abraço ela, o seu corpo inteiro está tremendo. Passo as mãos pelos seus cabelos e aos poucos ela se acalma.
Emma: Tento controlar as lágrimas, mas é impossível. Estou lutando para acreditar que tudo isso é real, mas me dá muito medo da proposta tão generosa do Gustavo. Eu não sei nada sobre ele ou sobre a família dele que terei que enganar.
Gustavo: Assina o contrato, peça demissão e amanhã vou te apresentar a minha família e farei o pedido de casamento no jantar.
Emma: Já?
Gustavo: Vai dar tudo certo Emma. Já estou vendo o lugar que vamos morar e temos um casamento para planejar. A minha família não vai aceitar nada pequeno e a minha mãe vai te ajudar com tudo.
Emma: Gustavo eu...
Gustavo: Emma sai do carro muito nervosa. Desço e ando atrás dela.
Aonde vai?
Emma: Não sei, só preciso respirar... estou sufocada.
Gustavo: Me deixe te levar em casa Emma.
Emma: Meu pai, é o que preciso nesse momento para me acalmar.
Não precisa.
Gustavo: Emma sei tudo sobre você. Para ir para casa daqui, precisa pegar dois ônibus. Como vai fazer isso, nesse estado?
Emma: Tudo bem.
Entro no carro com o Gustavo em silêncio. De carro é bem mais rápido chegar em casa e só me dou conta que chegamos quando o Gustavo estaciona. Estava tão nervosa que só reparei agora que tem um carro atrás de nós.
Gustavo: Observo a Emma nervosa com os meus seguranças.
É a minha equipe de segurança Emma.
Emma: Por Deus Gustavo, é um mafioso?
Gustavo: Não Emma.
Emma: Respiro aliviada.
Obrigada por me trazer em casa.
Gustavo: Posso conhecer o seu pai?
Emma: Encaro o Gustavo sem saber o que responder.
Gustavo: Sem pressão Emma.
Emma: Po... de...
Gustavo me acompanha em silêncio, entro em casa e a Hortênsia está tentando convencer o meu pai a vestir as calças. Ele está só de cueca.
(Hortênsia, 38 anos. Vizinha e amiga da Emma)
Hortênsia: Por Deus Emm, que bom que chegou. O seu Otto decidiu que todas as calças estão querendo enforcar ele!
(Otto, 48 anos. Pai da Emma)
Otto: Não de ouvidos a essa alcoviteira filha, ela quer a minha caveira.
Emma: Pai, temos visita e está só de cueca.
Otto: Não posso vestir essas calças filha. São perigosas. Ele não deveria ter entrado aqui de calça, está colocando todos nos em perigo.
Hortênsia: É melhor eu ir Emm, me liga quando estiver saindo. Tenho uma conta para pagar.
Emma: Obrigada Hortênsia, mas hoje não vou sair.
Hortênsia passa por mim e me dá um beijo, ela cumprimenta e se despede do Gustavo. Não consigo olhar na cara dele, de tão constrangedor que essa situação está.
Otto: A visita... não gosto da calça dele filha.
Emma: Papai, por favor fica calmo. Não tem nada de errado com as calças.
O meu pai começa a ficar nervoso e tento acalmar ele. Ele estreita o olhar para o Gustavo e respira aliviado, olho na direção dele e arregalo os olhos o vendo tirar as calcas.
Otto: Isso meu filho, fez o certo! Essas calças são um perigo, obrigado.
Gustavo: Me chamo Gustavo, seu Otto.
Otto: Só Otto meu filho. Eu vou passar um café para você.
Emma: Eu passo papai, tenho mesmo que ir a cozinha.
Não consigo acreditar na cena que está diante dos meus olhos. Vou acabar enlouquecendo.
Gustavo: Observo a casa da Emma, é muito mais simples do que imaginei. Eles tem o básico, observo algumas fotos do Otto jogando domino com os amigos.
Gosta de dominó Otto?
Otto: E como gosto. Você quer jogar?
Gustavo: Claro.
Me sento com o Otto, ele parece mais calmo e a Emma se quer me olha. Ela vai para cozinha de cabeça baixa e começo uma partida de dominó com o Otto. Ele me conta de quando era mais novo e ficamos horas conversando. O convenço a colocar as calcas e coloco a minha também. O Otto vai descansar um pouco e a Emma acompanha ele. Ela volta muito constrangida, toda molhada.
Emma: Desculpa a demora.
Gustavo: Porque está molhada?
Emma: Dei um banho no meu pai. Ele dorme melhor quando banha nesse calor. Eu, queria te agradecer, tornou tudo mais fácil.
Gustavo: Seu pai é gente boa, gostei dele.
Emma: O meu pai aparentou os primeiros sintomas de demência precoce. Ele era um homem ativo, brincalhão... Tinha tantos amigos, todos se afastaram quando o quadro dele foi se agravando. Ele ficou impaciente, agressivo e as pessoas foram desistindo e abandonando ele.
Engulo o choro e forço um sorriso na direção do Gustavo.
Gustavo: Deve ser difícil confiar em algo boa em meio a tanto sofrimento Emma.
Emma: Não é fácil, mas vou me esforçar.
Gustavo se despede e sai. Aproveito o sono do meu pai e vou fazer as coisas de casa muito pensativa. A minha cabeça chega a doer de tão confusa que me sinto.
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Atualizado até capítulo 62
Comments
Suzana Silva
Parabéns autora por abordar o assunto sobre a demência, é um assunto muito delicado só quem sabe é quem passa e toma conta de pacientes com esse transtorno.
No caso da Emma ela é apenas uma menina para assumir um pai com uma responsabilidade tão grande, é uma menina guerreira.
Em relação ao Gustavo dispenso palavras, ele é nota 1000.
Amando a história do Gustavo e da Emma.
2023-10-06
297
Anonymous
É triste qualquer doença relacionada a Alzheimer. independe da idade, chega devastando todos os envolvidos. Somente muito amor e paciência para tratar os sintomas que causam tantas confusões mentais. Parabéns, autora! em cada livro seu é abordado um tema de extrem relevância. Cuidemos mais uns dos outros porque nunca sabemos o que nos espera no caminhar de nossa jornada aqui na Terra.
2025-01-22
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Josefa Gomes Silva
escrevo poesias desde sempre e me vi na descrição da Emma falando dos amigos do pai dela,pois quando tive COVID e fiquei 10 dias sozinha passando por tudo dentro de casa sem uma viva alma por perto,pensei que estava com demência e todos me trataram assim.
2025-03-19
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