Guerreiras Lupinas

"Eu já disse, vamos parar de nos vermos", a mulher dizia do outro lado da porta, com a voz embargada pela emoção.

"Por que você está assim de repente? O que aconteceu?", Alaric parecia nervoso, batendo na parede com força.

"Já disse, eu cansei disso, não combinamos mais, preciso voltar para minha alcatéia", a mulher disse num tom frio, tentando esconder o seu sofrimento.

"Você me disse que perdeu sua família, e que aquela não era mais sua alcatéia, então o que está me dizendo agora?", Alaric estava confuso, sentindo uma pontada no peito.

"Alaric, não podemos ficar juntos, você tem um dever, e eu também tenho o meu", a mulher parecia furiosa, jogando as roupas dele na mala.

"Que dever é esse, que te fez mudar do dia para a noite? Por que não podemos ficar juntos?", ele insistiu, tentando impedir que ela pegasse suas coisas.

"Eu não te amo, isso foi só um erro de adolescente, somos adultos agora, devemos seguir em frente, e outra agora você tem ela...", a mulher se referia à outra à qual Alaric deveria se preocupar.

"O que a Zoe tem a ver com isso agora?", Alaric perguntou, surpreso.

"Viu só, você claramente sabia de quem eu estava falando, não precisei nem dizer o nome, você está começando a se apaixonar por ela não enxerga isso?", a mulher dizia caminhando pelo quarto, pegando as últimas coisas dela.

"Não estou apaixonado por Zoe, só a aceitei por que era última vontade do meu pai, não misture as coisas, não somos nada um para o outro." Alaric tentou se explicar enquanto puxava as mechas do seu cabelo para trás de sua cabeça.

"Alaric, esse é um adeus", a mulher tentou ir até a porta, mas Alaric a segurou pelo braço.

"Está dizendo que está tudo acabado?", ele perguntou enquanto a segurava pelo braço, olhando nos seus olhos.

"Sim, está tudo acabado", a mulher disse puxando a porta para abri-la.

Quando ela deu de cara com Zoe do outro lado da porta, escutando toda a conversa. Zoe estava assustada, ela olhou para Alaric com lágrimas nos olhos e então correu indo embora.

"Zoe! Espera!" ele foi até o corredor, mas Zoe já estava longe.

"Viu só, você se importa com ela, é melhor ir logo antes que perca as duas", ela se virou indo embora.

"Mika! Espera...", Alaric em fúria socou a parede com força causando uma rachadura nela. "Droga!"

Zoe voltou correndo para a mansão Blackwood, sentindo uma mistura de raiva e tristeza. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar, e seu coração batia forte no peito. Ela entrou na mansão sem olhar para ninguém, ignorando os chamados de Hunter, que tentava falar com ela. Ela subiu as escadas correndo, em direção ao seu quarto, enquanto murmurava entre soluços.

"Todos são iguais, eles sempre mentem para mim. Ninguém se importa comigo, ninguém me ama de verdade", Zoe segurava o choro, mas as lágrimas não paravam de cair.

Ela se jogou sobre a cama, e enfiou a cara nos travesseiros, tentando abafar os soluços. Ela se sentia traída e magoada pelo que havia ouvido. Alguns minutos depois, Zoe ouviu alguém bater na porta do seu quarto. Era Alaric, o jovem mestre da matilha Blackwood, e o motivo da sua dor.

"Zoe, vamos conversar... O que você ouviu antes, você entendeu errado!", A voz de Alaric era suave, mas carregava um tom de culpa e arrependimento.

"Vá embora, não quero vê-lo, você mente como todos. A minha vida toda, todos têm mentido para mim. Eu não deveria ter confiado em você", ela gritou da sua cama, sem se levantar.

"Escuta, eu não quis dizer que você é um estorvo. Eu sei que você é uma boa garota, e que isso tudo é difícil para você viver entre nós, longe de sua família. Mas essa era a última vontade do meu pai como alfa da matilha, como parte do tratado para selar a paz entre as duas alcatéias. E eu gosto de você. Só que...", Ele não encontrava as palavras certas para se explicar.

"Mentiras, e mais mentiras! Você não gosta de mim, você só está me usando para cumprir o seu dever. Você nunca me disse a verdade, você só me enganou como todos fazem. Vá embora, eu não quero te ver", Zoe voltou a repetir, sentindo o ódio crescer dentro dela.

Alaric suspirou e foi embora. Ele sabia que Zoe não o escutaria naquele momento de raiva. Ele tinha esperança de que ela se acalmasse e entendesse a situação. Ele tinha sentimentos por ela, mas não tinha certeza, ele não podia negar que também tinha um compromisso com a sua matilha. Ele se sentia dividido entre seus sentimentos e o dever.

Zoe passou a noite toda pensando no que havia escutado. Ela se lembrou de quando Alaric disse para Kath que ele estava apenas fazendo a última vontade de seu pai, e que ela não era nada para ele, que ele só estava cumprindo sua obrigação. Ela se sentiu humilhada e usada por ele. Ela não conseguia dormir, até que o cansaço venceu.

Na manhã seguinte, Zoe acordou com Hunter batendo na porta do seu quarto.

"Senhorita, vim informá-la que o Jovem Mestre pediu para que fizéssemos sua mala. Você passará alguns dias na matilha do Leste, para que possa relaxar um pouco. Você precisa tomar seu café da manhã, seu avião sairá ao meio-dia", disse Hunter do outro lado da porta.

Zoe se levantou da cama, sem entender nada. Ela não sabia o que estava acontecendo ou por que tinha que ir para outra matilha. Ela se sentiu ainda mais abandonada por Alaric. Ela pegou suas coisas e saiu do quarto sem dizer uma palavra.

Zoe se negou a tomar café da manhã, alegando que não tinha fome. Ela preferiu ir direto para o aeroporto, pois não queria se encontrar com ninguém da casa. Chegando ao local, ela fez o check-in e embarcou para o seu vôo. Dentro do avião, ela olhava pela janela, vendo as nuvens passarem. Ela não conseguia pregar os olhos por um segundo, pensando em tudo que havia acontecido noite anterior.

Quando o avião pousou, ela desembarcou e seguiu até a saída do aeroporto, carregando suas malas. Ela esperava encontrar alguém da matilha que a levasse até a residência do senhor Lupus, mas o que ela viu foi um rosto familiar que a fez sorrir.

"Tia Irina?", ela soltou suas malas no chão e correu para abraçá-la. "O que você está fazendo aqui?", Zoe parecia alegre em rever sua tia depois de tantos anos longe.

"Como está a minha sobrinha favorita?", Irina abraçou Zoe com força. Ela era uma mulher alta de cabelos ruivos, com um olhar afiado e uma personalidade forte. Ela era uma das Lup Lunar mais respeitadas entre as alcatéias.

"Eu não sabia que você estava com a matilha do Leste!", Zoe parecia surpresa.

"Bem, na verdade, estou de passagem, ainda tenho muitos lugares para treinar", Irina explicou. "Mas vamos para o carro, me conte tudo no caminho. Jessi, pegue as malas da minha sobrinha", ela ordenou.

"Sim senhorita Irina", um rapaz de cabelos cinza respondeu pegando as malas. Ele era um dos alunos de Irina, e tinha uma expressão séria.

Durante o caminho, Zoe contou tudo que ocorreu em sua vida desde que deixou sua antiga matilha. Ela falou sobre seu pai, sua nova amiga, sobre Alaric. Enquanto Irina a escutava com atenção, fazendo perguntas e dando conselhos.

Não demorou muito para que elas chegassem à pequena região de Lowdort, a cidade onde a matilha do Leste residia. Era um lugar tranquilo e acolhedor, cercado por natureza e bem protegido. Elas foram direto para a casa de Irina, uma residência enorme e luxuosa.

"Achei que seria forçada a ir para casa do alfa?", Zoe encarou sua tia.

"Sem essa, você é minha sobrinha, e eu cuido da minha família", Irina disse com orgulho. "De qualquer forma, precisei ameaçar o pessoal para que deixassem você ficar aqui comigo", ela riu debochada.

Do lado de dentro, a casa tinha um ar aconchegante. A casa era decorada no estilo de Irina, com móveis elegantes e objetos exóticos. Havia quadros nas paredes, tapetes no chão e plantas nos cantos. Zoe sentiu-se em casa assim que entrou.

"Querida, que bom que você está aqui! Você poderia treinar com os jovens lobos na próxima aula que vou dar", disse Irina, a tia de Zoe, com um sorriso orgulhoso. Ela era uma das melhores em artes marciais e combate corpo a corpo, ela tinha uma reputação de ser exigente e rigorosa.

"Tia, você ainda tortura seus alunos?", Zoe disse assustada. Ela se lembrava bem das aulas que tinha feito com Irina quando era criança. Eram intensas, dolorosas e às vezes até perigosas.

"O que? Eu não te torturava! Eu te ensinava a ser forte, disciplinada e confiante!", Irina disse indignada com a resposta de Zoe. Ela achava que estava fazendo um favor à sobrinha, preparando-a para enfrentar os desafios da vida de uma loba.

"Me lembro do formato do seu soco até hoje", Zoe disse esfregando a cabeça. Ela tinha vagas lembranças do resultado de um golpe de Irina. "Você quase me nocauteou naquele dia!"

"Ah, isso foi um acidente! Você se esquivou muito tarde!", Irina disse se defendendo. "Mas veja pelo lado bom: você aprendeu a lição, não foi?"

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