Tratado

Amanheceu quando Zoe percebeu que estava em sua forma normal. Ela notou que estava nua, mas havia uma jaqueta em cima do seu corpo deitado próximo ao lago. Ela olhou em volta e viu Alaric, lavando seu rosto na água cristalina. Seus cabelos molhados estavam puxados para trás de sua cabeça, escorrendo sobre a camiseta branca. Ele usava calças jeans escuras e um par de sandálias. Ele parecia relaxado e satisfeito, como se tivesse passado a noite mais divertida de sua vida.

"Já está acordada", ele disse, notando o seu olhar. "Precisamos voltar para casa. Não a levei porque imaginei que não fosse gostar de acordar e descobrir que a carreguei de volta à mansão nua", ele disse, lembrando-a de sua situação. "Pedi para Sasha preparar algumas roupas para você. Se troque", ele apontou com o queixo as roupas que ele havia deixado do seu lado, saindo para que ela se trocasse.

Zoe se sentiu envergonhada e irritada. Ela pegou as roupas e se vestiu rapidamente. Eram simples, mas confortáveis: uma calça jeans clara, uma blusa azul e um tênis branco. Ela prendeu seus cabelos ruivos em um rabo de cavalo e foi encontrar com Alaric, que estava a esperando perto de uma árvore. Ela se aproximou dele e ainda em relutância, fez beiço enquanto dizia.

"O-obrigada", ela disse baixo.

"Coma", ele entregou um saco com biscoitos recheados para ela.

Eles voltaram à mansão em silêncio. Logo que Alaric pisou na casa, ele retirou sua camisa branca, a desabotoando. Ele entregou a camisa para Hunter, que estava na porta, e vestiu a camiseta preta que Hunter lhe trouxera, abotoando-a. Seguiram até a sala de estar, onde Alaric se sentou em uma poltrona de couro vinho.

"Você se saiu bem na caçada", ele comentou.

"Seu pai não disse para fazer de mim sua companheira? Então por que você é louco de me entregar como bandeja a esses lobos virgens?", perguntou Zoe enfurecida.

"Então queria que eu a tornasse minha companheira?", perguntou Alaric, observando-a com curiosidade.

"Enquanto eu estiver aqui, nunca me tornarei sua companheira! Então desista!", Zoe se negou.

"Não era minha intenção a tornar, fique tranquila. Você é quem vai querer que eu me torne seu companheiro", insinuou ele.

"Nem morta", ela revirou os olhos, se virando para ir ao seu quarto.

"Alaric", Rodolf disse entrando na sala. "Por que ofereceu sua companheira como caça ontem à noite?", ele parecia furioso.

"Pai, sei que ordenou que a tomasse como companheira, mas acha mesmo que a alcatéia vai aceitar uma Loba vinda do Norte, sem ao menos testar a dignidade dela?", perguntou Alaric.

"E o que teria feito se ela fosse marcada ou encontrasse outro companheiro?", seu pai perguntou no mesmo tom.

"Ela não vai", Alaric disse em tom de autoridade.

"Como é?" Rodolf estava confuso. Ele não conseguia entender como uma garota tão jovem e frágil poderia ser uma alfa.

"Sua mãe foi uma alfa temida e poderosa, e seu pai é um dos alfas mais respeitados da sua região. Seus irmãos foram bem treinados por eles, e ela foi orientada diretamente por seus irmãos mais velho desde pequena. Me informei de tudo antes que o senhor assim me ordenasse, e também acredito que ela herdou os traços de liderança e força de seus pais", explicou Alaric, o filho de Rodolf.

"Ela herdou? Como isso seria possível, ela nem mesmo é uma primogênita", Rodolf dizia pensativo. Ele sabia que os traços de um alfa eram raros e geralmente passados para o primeiro filho.

"Investiguei a fundo sobre a família Northwind, e todos de sua descendência têm histórias de mais de um filho herdar traços de um alfa, portanto é capaz de que os três irmãos tenham recebido esses traços, exceto claro, a mais nova por ser meia irmã, e sua mãe não ser da linhagem de um alfa", explicou ele. "Ela é uma alfa rara, senhor. Uma que pode mudar o destino da nossa matilha." (...)

Zoe estava exausta depois de uma noite longa cheia de aventuras e perigos. Ela entrou no banheiro e ligou o chuveiro, sentindo a água quente relaxar seus músculos tensos. Ela fechou os olhos e se lembrou do lobo que havia encontrado no lago na noite anterior. Ele era um belo exemplar, de pelagem negra e olhos vermelhos, que a encarava com curiosidade e fascínio. Ele se aproximou dela com cautela, mas sem medo, e se deitou ao seu lado, protegendo-a do frio e dos outros lobos que rondavam a floresta. Ele era imponente e autoritário, nenhum lobo se atrevia a invadir seu território ou desafiar sua liderança. Zoe sentiu uma conexão com ele, uma sensação de pertencimento e confiança. Eles ficaram deitados até que Zoe adormeceu, envolvida pelo calor e pelo aroma dele. E quando ela acordou, ele já não estava mais lá. Em seu lugar, havia Alaric, o alfa da matilha, que a olhou com um misto de curiosidade e admiração. Ele a encontrou sozinha no lago. Zoe acabou agradecendo sua gentileza, mas sentiu uma pontada de decepção por não ver o lobo negro novamente. Foi então que um pensamento surgiu em sua cabeça, fazendo seu coração disparar.

"Mas se Alaric estava lá, talvez o lobo negro seja...", ela pensou consigo mesma, enquanto a água do chuveiro escorria por seu corpo. "Ah, minha cabeça dói só de pensar nisso".

Depois do banho, ela se trocou com uma roupa simples e confortável, e desceu as escadas indo até o salão principal, mas parece que não havia ninguém na casa, exceto por Hanami, a mãe de Alaric. Ela estava sentada em um sofá de couro, lendo um livro com uma xícara de chá na mão.

"Como foi sua noite querida?", Ela perguntou com um sorriso gentil, colocando o livro de lado. Ela era uma mulher linda, cabelos loiros como de Alaric, e olhos dourados que brilhavam com sabedoria.

"Foi um porre... Digo cansativo", ela corrigiu sua postura ao se referir a mulher a sua frente. Ela não queria parecer mal-educada ou desinteressada pela hospitalidade que recebeu. "Não vi Alaric se transformar noite passada, ele ficou na fogueira durante a caçada toda", perguntou Zoe com curiosidade.

"Não sei, mas ele faz isso desde que se tornou alfa, são poucas as vezes que o vi se transformar desde então, mas ele em sua forma Lupino é bem mais poderoso que os outros jovens de sua idade", explicou a mulher com orgulho. "Ele tem uma pelagem negra como a noite, com algumas mechas prateadas que destacam sua nobreza".

"Desculpa a curiosidade mas qual a pelagem dele?", Zoe estava curiosa. Ela nunca tinha visto um lobo negro com mechas prateadas antes.

"Se está tão interessada no meu filho, por que não marcam um encontro juntos e pergunta diretamente a ele, as coisas que são do seu interesse", sugeriu Hanami com um tom brincalhão. Ela podia perceber que Zoe tinha uma certa atração por Alaric, mesmo que ela negasse. "Ele é um rapaz muito gentil e atencioso, quando quer".

"Não senhora! Ele vai achar que estou interessada em ser a companheira dele!", Zoe negou a ideia com veemência. Ela não queria se envolver com alguém tão arrogante e autoritário como Alaric.

"Mas você assim não deseja?", Hanami perguntou confusa. Ela achava que Zoe seria uma ótima companheira para seu filho, já que ela era bonita, inteligente e corajosa.

"Negativo", ela fez um "X" com as mãos. "Eu nunca pensaria nessa possibilidade, ele é só um cara convencido a beça". Ela disse sem rodeios.

Hanami caiu na gargalhada, ela não poderia imaginar que uma jovem teria tamanha coragem para falar assim de seu filho na frente dela, ela a achava adorável, e gostava de sua ousadia.

"Perdoe meu filho, ele nem sempre foi assim, desde que ele assumiu a liderança, suas atitudes têm sido diferentes de três anos atrás, ele sempre foi um jovem alegre e adorável, mesmo por sua fama de ser um mulherengo", ela contou com nostalgia. "Se conhecê-lo melhor, talvez acabe gostando dele, se tem uma coisa que meu adorável Alaric preza, é a justiça!", Ela sorriu de um jeito fofo.

Depois daquela conversa, Zoe ficou pensando se estaria julgando Alaric mal, já que tantas pessoas vinham dizendo o mesmo sobre ele. Decidida então a conhecer melhor o Alfa, ela saiu para uma caminhada pela cidade, afinal de contas, em nenhum momento ele a proibiu de sair ou disse que seria uma prisioneira ali, mesmo Zoe acreditando que tudo aquilo era uma prisão infernal para ela.

A cidade era muito grande, com prédios altos e ruas movimentadas. Zoe caminhou até uma loja de conveniência, onde olhou algumas coisas, curiosa sobre os produtos locais. Uma mulher de óculos, cabelos castanhos presos em um coque e um avental azul, notou a jovem entrar em seu pequeno mercado e então falou:

"A senhorita precisa de ajuda?", ela apertou seus óculos com um sorriso cordial.

"Não, obrigada, estou apenas dando uma olhada, desculpa, mas sou nova na cidade, então não trouxe nenhum dinheiro", respondeu Zoe com um tom de desculpa.

"Que tipo de pessoa sai na rua sem dinheiro para emergência, de qual família você é?", perguntou a moça com uma expressão de surpresa e desconfiança.

"Família? Perdão, mas o que isso significa?", Zoe perguntou desentendida. Ela não estava acostumada com aquele tipo de pergunta.

"Na cidade nós nos dirigimos por sobrenomes familiares, então em qual local você reside?", ela insistiu em sua pergunta, achando estranho que alguém não soubesse disso.

"Ah! Estou morando atualmente com a família dos Blackwood", quando Zoe citou aquele sobrenome, a expressão da mulher mudou totalmente.

"Oh céus! Peço perdão pela minha indelicadeza, não sabia que você era a moça que todos falavam", a mulher mudou seu tom, para um gentil e respeitoso.

"O que estão falando sobre mim?", perguntou Zoe, intrigada.

"A garota dos Northwind, acolhida pelos Blackwood", respondeu ela. "Dizem que você é a companheira do jovem mestre Alaric e que ele te trouxe para cá depois de um tratado de aliança entre uma das quatro companhias".

Zoe estava pensativa enquanto a mulher respondia. "Eles pensam que sou algum tipo de órfã ou o que? E que tipo de companhia ela está falando, isso é algum tipo de meio de esconder os lobos dessa região?". Pensou enquanto ouvia a mulher. Ela não sabia se devia se sentir lisonjeada ou ofendida por toda aquela história.

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