É Só Você

É Só Você

Capítulo 1. Memória

Parada na janela, Célia observava a chuva que caía do lado de fora e regava as roseiras do jardim. Oas aromas refrescantes enchiam o lugar,mas o frio também. Havia tanto tempo que estava internada naquele lugar, que acompanhou as rosas crescerem e florescerem, várias vezes. Mas porquê estava ali? Sua mente era um vazio, sentia falta de algo ou alguém e isso a entristecia. 

Sequer lembrava de sua família, seu nome ou onde morava, mas a tratavam como uma criminosa, sem direito a regalias ou a uma comida decente. No inverno, sentia frio com a camisola fina que usava e chegou a se pendurar na cortina de veludo, para arrancá-la e conseguir dormir, enrolada e quentinha.

Neste dia, lhe deram uma roupa melhor, um terninho branco de linho, sapatos e um casaco de lã. Com certeza iriam a algum lugar importante, pois não teriam lhe vestido tão bem, se não fosse sair e ver outras pessoas. A água do banho estava gelada e o sabão em barra, ressecou sua pele, não havia shampoo e a toalha era de saco de farinha de trigo.

— Está na hora de ir, senhora. — chamou a funcionária carrancuda.

Já estava arrumada e esperando para ir. Finalmente sairia daquele lugar infernal e descobriria o que estava acontecendo. Se virou e seguiu a enfermeira até saírem pelo portão do casarão e se livrarem do cheiro de coisa velha e desinfetante do lugar. Havia um carro preto, estilo diplomata, parado. O motorista segurava a porta do carro aberta e o guarda-chuva sobre a sua cabeça, enquanto a enfermeira a acompanhava, cobrindo-a também, com um guarda-chuva. 

Entrou no carro.

Ao cruzarem o grande portão de ferro, ela olhou para trás e leu, escrito sobre o portão: Sanatório Sta Luzia. Pelo menos, sabia ler.

Depois de viajarem por duas horas, chegaram ao seu destino. O motorista desceu e a porta foi aberta, ela desceu e imediatamente foi cercada por guardas. Avistou a multidão que ali estava para vê-la e muitos eram jornalistas, fotógrafo e faziam perguntas:

" Por que cometeu aquele crime, senhora?"

" A senhora se arrepende? "

" O que ele fez para a senhora? "

" Ele lhe abusava? "

Pacientemente, seguiu em frente, subindo a escadaria do grande prédio, que mais parecia um museu e entrou, sem ligar para as pessoas. Não entendia nada do que estava acontecendo. Será que foi sempre assim? Por não entender, suas emoções eram nulas e ela só estranhava e queria entender, mas:

Não lembrava.

Depois que o tribunal lotou, o meirinho avisou a entrada do juiz, todos ficaram de é e a figura altiva de toga preta e cabelos brancos, entrou.

— Podem se assentar. — bateu o  martelo — Este é o julgamento de Maria Lúcia Galvão Nepomuceno por assassinato, como se declara a ré?

Um estalo e dor intensa, acometeu a cabeça de Maria Célia e ela segurou as têmporas com a base das mãos, fechando os olhos, enquanto uma sucessão de imagens vinham à sua mente. O juiz perguntou o que estava acontecendo e um médico levantou, aproximou-se dela, tirando uma seringa do bolso e queria injetar algo em seu braço.

A dor de cabeça passou e ela ergueu a cabeça com uma postura e um olhar, totalmente diferentes do que estava antes, levantou-se, olhou para o médico com autoridade e ordenou, com voz baixa:

— Não toque em mim…nunca mais!

O médico olhou para ela, assustado e percebeu que ela estava consciente. Sabia que aquilo podia acontecer, mas não contou que ela fosse vir direto para o tribunal. Pretendia aplicar a injeção, assim que chegasse. Notou o olhar enraivecido de sua cliente e começou a elaborar outro plano.

— Senhora, controle-se, por favor. — disse o juiz.

— Estou bem, excelência, só peço que afastem esse médico de mim. — falou ela, com seriedade e controle.

— Peço que afastem o médico e sua seringa de minha cliente, excelência. — pediu o advogado de defesa, levantando-se da cadeira em que estava sentado ao seu lado.

Ela olhou para ele e sorriu, agradecida.

— Ela me parece bem, pode ir doutor. — ordenou o juiz.

O médico se retirou, a contragosto, pois sabia que aquela atitude, significava a derrota dos planos meticulosos, postos em prática a tanto tempo.

— Responda a pergunta, senhora! — ordenou o juiz.

— Essa pergunta não foi dirigida a mim, então não posso respondê-la. — disse ela com tranquilidade e lucidez.

O juiz franziu a testa sem entender nada.

— Como assim, seu nome não é Maria Lucia Galvão Nepomuceno?

— Não, eu sou Maria Célia Nepomuceno Aragão.

— A senhora quer dizer que foi presa por engano?

— Sim, excelência, fiquei em um sanatório sem ter contato com ninguém do mundo exterior, creio que por ter perdido a memória, mas chegando aqui e vendo tantos rostos conhecidos — olhou para um casal, sentado na segunda fileira oposta a dela — e o senhor me chamando por outro nome, lembrei de todo o ocorrido.

— O que me diz o senhor advogado da ré? — perguntou o juiz, impaciente.

— Sempre tive essa desconfiança, meritíssimo juiz, mas nunca me deixaram vê-la e não pude confirmar. — respondeu o advogado, constrangido.

— Então, existe uma maneira de confirmar o que ela diz e qual seria? — perguntou o juiz, mostrando sua irritação e zombando da situação.

Se o advogado tinha tanta certeza de que, a mulher ali presente, não era quem todos achavam que era, ele devia ter alguma maneira de provar.

— A senhora Aragão e eu, sempre fomos muito amigos e quando éramos jovens, para a diferenciar da irmã gêmea, que vivia se fazendo passar por ela, fez uma tatuagem no couro cabeludo.

As gêmeas

Imediatamente, Maria Lúcia levantou-se e disse, enérgica:

— Isso é uma calúnia, cuidado advogado!

Maria Célia olhou para sua irmã e viu seus olhos arregalados e seu nervosismo.

— Pode me mostrar, senhora? Aproxime-se. — pediu o juiz.

Ela foi até o juiz e afastou o cabelo de sua fronte, onde podia-se ver um pequeno desenho de um coração vermelho.

— Que conste dos autos que a interrogada mostrou a tatuagem de um coração vermelho, sob os cabelos. — ordenou o juiz.

— Tenho o registro da tatuagem, com o nome da tatuada, meritíssimo juiz. 

— Esclarecida esta questão, essa audiência será adiada por 24 horas, para que possamos atualizar os dados e por via das dúvidas, detenham, também, a irmã da acusada. Advogados, na minha sala, agora!

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Comments

Rosangela Martins

Rosangela Martins

eita este juiz e porreta,tô adorando já 😍

2024-09-23

0

Maria Helena Macedo e Silva

Maria Helena Macedo e Silva

iniciando mais uma leitura 📖
um teste de DNA ou arcada dentaria tiraria as dúvidas de quem é quem fora a personalidade que cada pessoa tem a sua.

2024-09-14

0

Celia Chagas

Celia Chagas

Começo muito interessante 😳😳

2024-05-02

4

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1. Memória
2 Capítulo 2. Verdades e Dúvidas
3 Capítulo 3. Proposta
4 Capítulo 4. Desacordo
5 Capítulo 5. Troca
6 Capítulo 6. Audiência
7 Capítulo 7. Invasão
8 Capítulo 8. Bruxa
9 Capítulo 9. Compras
10 Capítulo 10. Restaurando
11 Capítulo 11. Intoxicação
12 Capítulo 12. Solução
13 Capítulo 13. Empresa
14 Capítulo 14. Doença
15 Capítulo 15. Discussão
16 Capítulo 16. Procura
17 Capítulo 17. Em Seus Braços
18 Capítulo 18. Tentativa
19 Capítulo 19. Herança
20 Capítulo 20. Surpresas
21 Capítulo 21. Sanatório
22 Capítulo 22. Paixão
23 Capítulo 23. Parecia
24 Capítulo 24. A Fazendinha
25 Capítulo 25. Irritação
26 Capítulo 26. Suspeitas
27 Capítulo 27. Ratazana
28 Capítulo 28. Descanso
29 Capítulo 29. Atitudes
30 Capítulo 30. Porquês
31 Capítulo 31. Jantar
32 Capítulo 32. Pressão
33 Capítulo 33. Confronto
34 Capítulo 34. Ciúme
35 Capítulo 35. O Pai da Múmia
36 Capítulo 36. Perguntas
37 Capítulo 37. Respostas
38 Capítulo 38. Vingança?
39 Capítulo 39. Transformação
40 Capítulo 40. Alívio
41 Capítulo 41. Lição
42 Capítulo 42. Austeridade
43 Capítulo 43. Quase Amor
44 Capítulo 44. Susto
45 Capítulo 45. Culpado
46 Capítulo 46. Antes da Inauguração
47 Capítulo 47. Inauguração
48 Capítulo 48. Sucesso
49 Capítulo 49. Tempo
50 Capítulo 50. Véspera de Natal
51 Capítulo 51. Natal
52 Capítulo 52. Presente
53 Capítulo 53. Contra Ataque
54 Capítulo 54. O Mistério Da Família
55 Capítulo 55. Bem ou Mal
56 Capítulo 56. Mudança
57 Capítulo 57. Motivo
58 Capítulo 58. Paz e Amor
59 Capítulo 59. Surpresas
60 Capítulo 60. Planejamento
61 Capítulo 61. A festa
62 Capítulo 62. Ponto Alto
63 Capítulo 63. Nervosismo
64 Capítulo 64. Ultrassonografia
65 Capítulo 65. Julgamento parte 1
66 Capítulo 66. Julgamento Parte 2
67 Capítulo 67. Julgamento Parte 3.
68 Capítulo 68. Culpada
69 Capítulo 69. Condenação
70 Capítulo 70. Mimos
71 Capítulo 71. Gratidão
72 Capítulo 72. Casamento
73 Capítulo 73. Final
74 Epílogo
Capítulos

Atualizado até capítulo 74

1
Capítulo 1. Memória
2
Capítulo 2. Verdades e Dúvidas
3
Capítulo 3. Proposta
4
Capítulo 4. Desacordo
5
Capítulo 5. Troca
6
Capítulo 6. Audiência
7
Capítulo 7. Invasão
8
Capítulo 8. Bruxa
9
Capítulo 9. Compras
10
Capítulo 10. Restaurando
11
Capítulo 11. Intoxicação
12
Capítulo 12. Solução
13
Capítulo 13. Empresa
14
Capítulo 14. Doença
15
Capítulo 15. Discussão
16
Capítulo 16. Procura
17
Capítulo 17. Em Seus Braços
18
Capítulo 18. Tentativa
19
Capítulo 19. Herança
20
Capítulo 20. Surpresas
21
Capítulo 21. Sanatório
22
Capítulo 22. Paixão
23
Capítulo 23. Parecia
24
Capítulo 24. A Fazendinha
25
Capítulo 25. Irritação
26
Capítulo 26. Suspeitas
27
Capítulo 27. Ratazana
28
Capítulo 28. Descanso
29
Capítulo 29. Atitudes
30
Capítulo 30. Porquês
31
Capítulo 31. Jantar
32
Capítulo 32. Pressão
33
Capítulo 33. Confronto
34
Capítulo 34. Ciúme
35
Capítulo 35. O Pai da Múmia
36
Capítulo 36. Perguntas
37
Capítulo 37. Respostas
38
Capítulo 38. Vingança?
39
Capítulo 39. Transformação
40
Capítulo 40. Alívio
41
Capítulo 41. Lição
42
Capítulo 42. Austeridade
43
Capítulo 43. Quase Amor
44
Capítulo 44. Susto
45
Capítulo 45. Culpado
46
Capítulo 46. Antes da Inauguração
47
Capítulo 47. Inauguração
48
Capítulo 48. Sucesso
49
Capítulo 49. Tempo
50
Capítulo 50. Véspera de Natal
51
Capítulo 51. Natal
52
Capítulo 52. Presente
53
Capítulo 53. Contra Ataque
54
Capítulo 54. O Mistério Da Família
55
Capítulo 55. Bem ou Mal
56
Capítulo 56. Mudança
57
Capítulo 57. Motivo
58
Capítulo 58. Paz e Amor
59
Capítulo 59. Surpresas
60
Capítulo 60. Planejamento
61
Capítulo 61. A festa
62
Capítulo 62. Ponto Alto
63
Capítulo 63. Nervosismo
64
Capítulo 64. Ultrassonografia
65
Capítulo 65. Julgamento parte 1
66
Capítulo 66. Julgamento Parte 2
67
Capítulo 67. Julgamento Parte 3.
68
Capítulo 68. Culpada
69
Capítulo 69. Condenação
70
Capítulo 70. Mimos
71
Capítulo 71. Gratidão
72
Capítulo 72. Casamento
73
Capítulo 73. Final
74
Epílogo

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