Célia colocou todo o lixo dentro das sacolas e devolveu para o guarda, deitou-se e dormiu novamente, deixando Lúcia discutir com as grades de ferro, até que também cansou e deitou-se, se enrolando no casaco de pele, que seu advogado lhe entregou a mando de alguém e dormiu.
Duas horas depois, uma advogada novinha chegou para atender Célia e ao vê-la naquele estado, encolhida e com frio, saiu e chamou a atenção do responsável pelo cárcere, que rapidamente providenciou colchão, travesseiro, lençol e cobertor. Célia foi chamada e levada para a sala de interrogatório e lá a esperava um fast food, que para ela foi a melhor refeição do mundo.
Depois de comer, ela revelou a advogada tudo que passou com sua irmã, sua prática em se passar por ela e suas desconfianças.
— Senhora Aragão, tem algo em seu corpo, marca ou sinal, que possa diferenciá-la de sua irmã.
— Se minha irmã é esperta e ela é, deve ter copiado minhas cicatrizes, mas acho que tem uma doença que peguei e ela não: dengue.
— Ótimo, vou solicitar um exame de anticorpos e uma visita ao local do crime, para pegarmos a arma do crime verdadeira.
— Obrigada, doutora, a senhora é a única com quem posso contar.
A doutora Djanira Macedo, era uma advogada nova, mas muito dedicada, que queria seguir carreira e abraçou a oportunidade de pegar um caso tão complicado como aquele. Nenhum de seus colegas aceitou, mas ela já tinha estudado o caso todo, antes, e tinha várias suposições. Célia não sabia, mas pegou a mais dedicada advogada que podia querer.
Quando chegou de volta a cela, ficou surpresa e feliz por encontrar tudo arrumado e confortável. Até o guarda sorriu, ao ver a felicidade dela ao deitar no colchão macio e se aconchegar nas cobertas limpas. Dormiu tranquila, pois sentiu que fez a coisa certa ao trocar de advogado. Resolveu nem pensar mais em Flávio, pois teria vontade de chorar.
Mas havia uma pessoa que não conseguia dormir e andava de um lado para o outro, vestido de pijama e roupão acolchoado, andando de um lado para o outro, pensando:
" Como pode Célia ter ficado internada esse tempo todo e Lúcia estar no lugar dela? Não é possível que eu tenha me enganado tanto! Não foi fácil conquistar Célia, fazê-la confiar no meu amor e se entregar. Fazíamos tudo juntos e nos fins de semana passeávamos e fazíamos picnic com Clara, que amava tanto a mãe. E na cama, ela é tão diferente da Lúcia. Era doce, carinhosa e ao mesmo tempo apaixonada. Se não conhecesse as duas, até poderia não diferenciá-las, mas como Lúcia podia saber como Célia era na cama e imitá-la tão bem ao ponto de me enganar? "
Fausto lembrou de sua primeira noite com Célia, da entrega dela, com medo, por ser sua primeira vez e a confiança de se deixar tocar por ele. Lembrou dos gemidos e de seu primeiro orgasmo, como poderia esquecer e trocar ela por outra? Não conseguia aceitar que sua Célia, não era a sua Célia.
Então, foi juntando alguns fatos que deixou passar: sua filha Clara estranhando a mãe e a educação rígida que a mãe começou a impor a criança. As diversas sugestões de empreendimentos errados que ela deu. Os documentos que levou para ele assinar, que se não tivesse o hábito de conferir tudo, teria lesado a empresa.
— Será?
Foi até o quarto da filha, que dormia inocente e franziu a testa, pensando no sofrimento da filha. Sofreu por três anos com a mãe errada e agora sofreria com a troca de mãe. Só podia confiar em Deus de que tudo ficaria bem, pois estava vendo que não adiantava dinheiro algum no mundo, se houvessem pessoas que só fizessem o mal.
Voltou ao quarto e desprezou o chá que deixaram para ele tomar. Finalmente conseguiu deitar e dormir, mas já era madrugada e logo teria que levantar para ir ao tribunal
e saber o que foi resolvido.
O interrogatório do médico, Dr. Carlos Leonel, não resultou em nada, pois ele se fez de doido e não respondeu a nenhuma pergunta eficazmente.
Flávio chegou no fórum, no dia seguinte, para acompanhar sua cliente e descobriu que foi destituído e ficou furioso. O que foi que disse para Célia não confiar mais nele? Pediu para vê-la uma última vez e foi levado até lá, pela consideração do delegado que cuidava das celas e era seu conhecido.
— Bom dia, Maria Célia! Vejo que lhe deixaram mais confortável.
— Bom dia, Flávio. Sim, foi uma noite até agradável, depois que me deram essas coisas.
— Está bonita.
— São seus olhos, estou amassada e descabelada.
Ele olhou para ela com um sorriso sem graça, pois não havia pensado em trazer nada para lhe dar um conforto.
— Agora entendo por que me destituiu. Desculpe.
— Não foi por isso. Depois que conversamos ontem, achei que era injusto mantê-lo nesta posição ingrata, sendo irmão de Fausto, meu marido e tendo que defender alguém, que ele pensa que não é quem diz ser. Foi melhor assim, fico mais à vontade.
— Que bom, então, entendi seu ponto de vista e até concordo, mas ajudarei no que for possível. Sua nova advogada já foi buscar a arma do crime?
— Não, eu mesma vou pegá-la.
— Tá, então, te vejo no tribunal.
— Está bem.
Depois que ele saiu, Lúcia começou a implicar novamente com Célia:
— Ué, dispensou o namoradinho de infância. Ele era tão apaixonado por você, mas você nunca deu bola, não é mesmo?
Célia não deu ouvidos, pois sabia que a outra estava só querendo diminuí-la e deixá-la nervosa e insegura. Dizem que a melhor defesa é o ataque, mas nesse caso, o melhor ataque é o silêncio. Percebeu que Lúcia ficou mais agitada por não conseguir provocá-la e isso sim, podia ajudá-la, já que psicopata não tem sentimentos.
Sentou em sua cama e ficou esperando, quieta e calada, pensando em seu primeiro passo depois que saísse dali.
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Atualizado até capítulo 74
Comments
Maria Helena Macedo e Silva
enganos acontecem e a humanidade tende a errar, mas a verdade chega e o justo segue em frente sem retribuir a injustiça...
2024-09-15
1
Cassia Soares
Nem perdoaria ele pois ele está com a Lúcia.
2024-09-08
2
Celia Chagas
Que decepção Flávio e era amigo imagina se não fosse , vai demorar para eu Célia lhe perdoar 🤨🤨
2024-05-02
2