Voltando às celas do fórum, Maria Lúcia foi colocada ao lado de sua irmã, e estavam separadas por grades de ferro. O guarda que as vigiava, ficou impressionado com a semelhança das gêmeas.
Duas mulheres lindas, uma inocente e outra culpada, mas qual delas era o quê? São tão lindas, não dava para imaginar que uma delas era assassina. Pensava ele, fitando as duas com admiração.
— Oi, irmãzinha, qual é a sua jogada ao dizer que se lembra de tudo e se fazer passar por mim? — disse Maria Lúcia, sabendo que estava sendo vigiada.
Maria Célia conhecia bem os truques da irmã e resolveu não dar munição para uma psicopata,pois tinha certeza que era isso que ela era. Deitou-se na cama de ferro estreita, virada para a parede e mesmo naquele lugar frio e duro, sentiu-se bem, depois de tanto tempo solitária e esquecida naquele sanatório.
Dormiu.
Os gritos de sua irmã eram como música de ninar, para seus ouvidos, que não ouviam sons de vozes a muito tempo. Não deu a mínima importância ao que ela falava, ainda mais sabendo do que aquela cobra era capaz.
Quando os advogados foram liberados pelo juiz, tiveram permissão para falar com suas clientes. Lúcia foi levada para uma sala de interrogatório, no próprio fórum e lá a esperava uma refeição refinada. Mas para Célia, não foi dado nada e Flávio entrou na própria cela e chamou-a, para que acordasse.
— Oi, Flávio — disse ela, alegre, sentando-se.
— Oi, Célia. Eu sei que você é você e que jamais mataria seu avô. Mas acontece que você foi pega com uma faca ensanguentada na mão e sua irmã disse que a viu matá-lo. — disse ele, taxativo, sem nenhum cumprimento carinhoso e saudoso, causando estranheza em Célia.
— A história é ao contrário, fui eu que a vi matando meu avô. Ela saiu correndo e fui socorrê-lo, mas não adiantou, então peguei a faca do crime e a guardei em um lugar secreto, no escritório, onde meu avô foi morto. Não toquei na faca com minha mão e sei que Lúcia cortou a mão, quando esfaqueou ele.
— Então, você tem a verdadeira arma do crime? — perguntou Flávio, pensativo. Não dava para dizer o que se passava em sua cabeça, olhando só para sua expressão.
— Sim e logo quando estava ligando para a polícia, Lúcia voltou com o doutor, que me aplicou uma injeção e não vi mais nada, até acordar desmemoriada no sanatório.
— A questão agora, é provar que você é Célia, pois sua irmã assumiu sua vida toda e ela interpreta você muito bem, diga-se de passagem, enganando até o seu marido.
Célia ficou triste ao saber disso, lembrando de seu marido e sua filhinha, que tinha apenas dois anos, quando foi para o sanatório e pelo tempo que passou, estaria crescida.
— Quanto tempo fiquei no sanatório?
— Três anos. — respondeu espantado, por ela não saber o tempo que ficou internada lá. Achou melhor nem perguntar o que fizeram com ela.
— Por que o julgamento demorou tanto a ser realizado? — quis saber ela, pois se já tivesse ocorrido, poderia não ter passado tanto tempo longe de sua filha.
— O médico vivia dando desculpas, dizia que você não estava bem e foram adiando. — respondeu ele friamente, com receio dela culpá-lo pelo atraso.
Ela pensou por um instante e disse:
— Deve ter algum motivo por trás dessa suposta melhora que tive, para Lúcia estar me deixando sair, ela está tramando algo, talvez ela não aguente mais viver a minha vida.
Flávio fez uma expressão estranha, olhando para Célia, pensativo, mas ela não notou.
— O que diz o testamento de meu avô? — perguntou ela.
Flávio não queria responder aquela pergunta, mas não pode fugir dela, então contou:
— Ele deixou um fundo de pensão, uma casa e um apartamento, para Lúcia, mas as ações da empresa estão no seu nome, assim como todo o restante de seu patrimônio.
Estava explicado.
Uma luz piscou na mente de Célia e ela não contou seus pensamentos para Flávio, resolveu que não deveria confiar em ninguém e mudou de assunto.
— Gostaria tanto de ver Clara.
— Enquanto não for esclarecido quem é quem, nenhuma das duas poderá ver ninguém, além dos seus advogados, claro. — disse Flávio.
— E comer, pode? Estou com fome.
Flavio percebeu sua falha, pois deveria ter pedido uma refeição para ela e ficou envergonhado. Estava tratando ela muito mal, mas ainda era resquício do ciúme que sente, por ela ter casado com seu irmão. Levantou-se e pediu para sair, dizendo a ela:
— Vou resolver isso agora mesmo. Aguenta firme, logo vamos te tirar daqui. — saiu sem se despedir, deixando Célia pensando que logo ele votaria.
Célia ficou matutando em toda aquela história. Sua irmã era esperta e assim como enganou Fausto, podia ter enganado Flávio, ou não, pode ter usado sua paixão, para provocar seu ciúme e colocar ele do lado dela.
Pois, se Lúcia tomou o seu lugar, só podia ser pela herança e como ela saberia que seu avô não deixaria nada para ela. O advogado de seu avô, era Flávio, então, só podia ter sido ele a contar para Lúcia.
Chamou o guarda e pediu:
— Quero outro advogado.
O guarda arregalou os olhos e se comunicou pelo rádio, comunicando seu superior, sobre o pedido da ré, ou seja lá, como deveria chamá-la. Recebeu uma resposta e desligou.
— Vai demorar um pouco, senhora, talvez só chegue amanhã de manhã.
O guarda percebeu a falta de atenção do advogado dela, que veio até a cela, ao invés de levá-la para uma sala reservada e fornecer-lhe os cuidados primários a que tinha direito, mas que precisava solicitar. Ela ficaria até de manhã, com frio.
— Não tem problema, obrigada.
Ela esperou Flávio chegar com a comida, sem imaginar que ele parou no caminho para ver Lúcia e depois de falar o necessário com ela, foi comprar a comida. Como já era tarde, não havia nenhum restaurante aberto nas imediações, então, ele precisou se distanciar e acabou demorando muito.
Quando ele voltou, mandou que lhe entregassem as sacolas, que foram revistadas e pareciam restos da lixeira do restaurante. Quando ela viu a comida e descobriu que ele não voltaria, resolveu nem comer. Por sorte, havia uma banana e uma maçã e foi no que ela confiou, para se alimentar.
Isso só deixou Célia mais desconfortável com o advogado e dali em diante, não falou mais nada com ninguém. Lúcia voltou para sua cela, a tempo de vê-la comendo só as frutas e gargalhou, zombando da irmã.
— Tadinha da criminosa, não consegue nem mais comer. O que é, está desconfiada que tem veneno na comida?
— …
— O quê, não vai responder?
— …
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Atualizado até capítulo 74
Comments
HENEMANN- M. Henemann
Sem comentários 😡😡😡
2025-02-28
0
Celia Chagas
Poxa Flávio com ciúmes negligenciou Célia minha chará autora deixa eu entrar no livro e da na cara dele 😡😡
2024-05-02
6
Fatima Vergueiro
Ela est com a razão que podem ter envenenado a comida,que história diabólica
2023-10-15
5