Capítulo 4. Desacordo

Voltando às celas do fórum, Maria Lúcia foi colocada ao lado de sua irmã, e estavam separadas por grades de ferro. O guarda que as vigiava, ficou impressionado com a semelhança das gêmeas. 

Duas mulheres lindas, uma inocente e outra culpada, mas qual delas era o quê? São tão lindas, não dava para imaginar que uma delas era assassina. Pensava ele, fitando as duas com admiração.

— Oi, irmãzinha, qual é a sua jogada ao dizer que se lembra de tudo e se fazer passar por mim? — disse Maria Lúcia, sabendo que estava sendo vigiada.

Maria Célia conhecia bem os truques da irmã e resolveu não dar munição para uma psicopata,pois tinha certeza que era isso que ela era. Deitou-se na cama de ferro estreita, virada para a parede e mesmo naquele lugar frio e duro, sentiu-se bem, depois de tanto tempo solitária e esquecida naquele sanatório.

Dormiu. 

Os gritos de sua irmã eram como música de ninar, para seus ouvidos, que não ouviam sons de vozes a muito tempo. Não deu a mínima importância ao que ela falava, ainda mais sabendo do que aquela cobra era capaz.

Quando os advogados foram liberados pelo juiz, tiveram permissão para falar com suas clientes. Lúcia foi levada para uma sala de interrogatório, no próprio fórum e lá a esperava uma refeição refinada. Mas para Célia, não foi dado nada e Flávio entrou na própria cela e chamou-a, para que acordasse.

— Oi, Flávio — disse ela, alegre, sentando-se.

— Oi, Célia. Eu sei que você é você e que jamais mataria seu avô. Mas acontece que você foi pega com uma faca ensanguentada na mão e sua irmã disse que a viu matá-lo. — disse ele, taxativo, sem nenhum cumprimento carinhoso e saudoso, causando estranheza em Célia.

— A história é ao contrário, fui eu que a vi matando meu avô. Ela saiu correndo e fui socorrê-lo, mas não adiantou, então peguei a faca do crime e a guardei em um lugar secreto, no escritório, onde meu avô foi morto. Não toquei na faca com minha mão e sei que Lúcia cortou a mão, quando esfaqueou ele.

— Então, você tem a verdadeira arma do crime? — perguntou Flávio, pensativo. Não dava para dizer o que se passava em sua cabeça, olhando só para sua expressão.

— Sim e logo quando estava ligando para a polícia, Lúcia voltou com o doutor, que me aplicou uma injeção e não vi mais nada, até acordar desmemoriada no sanatório.

— A questão agora, é provar que você é Célia, pois sua irmã assumiu sua vida toda e ela interpreta você muito bem, diga-se de passagem, enganando até o seu marido.

Célia ficou triste ao saber disso, lembrando de seu marido e sua filhinha, que tinha apenas dois anos, quando foi para o sanatório e pelo tempo que passou, estaria crescida.

— Quanto tempo fiquei no sanatório?

— Três anos. — respondeu espantado, por ela não saber o tempo que ficou internada lá. Achou melhor nem perguntar o que fizeram com ela.

— Por que o julgamento demorou tanto a ser realizado? — quis saber ela, pois se já tivesse ocorrido, poderia não ter passado tanto tempo longe de sua filha.

— O médico vivia dando desculpas, dizia que você não estava bem e foram adiando. — respondeu ele friamente, com receio dela culpá-lo pelo atraso.

Ela pensou por um instante e disse:

— Deve ter algum motivo por trás dessa suposta melhora que tive, para Lúcia estar me deixando sair, ela está tramando algo, talvez ela não aguente mais viver a minha vida.

Flávio fez uma expressão estranha, olhando para Célia, pensativo, mas ela não notou.

— O que diz o testamento de meu avô? — perguntou ela.

Flávio não queria responder aquela pergunta, mas não pode fugir dela, então contou:

— Ele deixou um fundo de pensão, uma casa e um apartamento, para Lúcia, mas as ações da empresa estão no seu nome, assim como todo o restante de seu patrimônio.

Estava explicado.

Uma luz piscou na mente de Célia e ela não contou seus pensamentos  para Flávio, resolveu que não deveria confiar em ninguém e mudou de assunto.

— Gostaria tanto de ver Clara.

— Enquanto não for esclarecido  quem é quem, nenhuma das duas poderá ver ninguém, além dos seus advogados, claro. — disse Flávio.

— E comer, pode? Estou com fome.

Flavio percebeu sua falha, pois deveria ter pedido uma refeição para ela e ficou envergonhado. Estava tratando ela muito mal, mas ainda era resquício do ciúme que sente, por ela ter casado com seu irmão. Levantou-se e pediu para sair, dizendo a ela:

— Vou resolver isso agora mesmo. Aguenta firme, logo vamos te tirar daqui. — saiu sem se despedir, deixando Célia pensando que logo ele votaria.

Célia ficou matutando em toda aquela história. Sua irmã era esperta e assim como enganou Fausto, podia ter enganado Flávio, ou não, pode ter usado sua paixão, para provocar seu ciúme e colocar ele do lado dela. 

Pois, se Lúcia tomou o seu lugar, só podia ser pela herança  e como ela saberia que seu avô não deixaria nada para ela. O advogado de seu avô, era Flávio, então, só podia ter sido ele a contar para Lúcia.

Chamou o guarda e pediu:

— Quero outro advogado.

O guarda arregalou os olhos e se comunicou pelo rádio, comunicando seu superior, sobre o pedido da ré, ou seja lá, como deveria chamá-la. Recebeu uma resposta e desligou.

— Vai demorar um pouco, senhora, talvez só chegue amanhã de manhã.

O guarda percebeu a falta de atenção do advogado dela, que veio até a cela, ao invés de levá-la para uma sala reservada e fornecer-lhe os cuidados primários a que tinha direito, mas que precisava solicitar. Ela ficaria até de manhã, com frio.

—  Não tem problema, obrigada.

Ela esperou Flávio chegar com a comida, sem imaginar que ele parou no caminho para ver Lúcia e depois de falar o necessário com ela, foi comprar a comida. Como já era tarde, não havia nenhum restaurante aberto nas imediações, então, ele  precisou se distanciar e acabou demorando muito. 

Quando ele voltou, mandou que lhe entregassem as sacolas, que foram revistadas e pareciam restos da lixeira do restaurante. Quando ela viu a comida e descobriu que ele não voltaria, resolveu nem comer. Por sorte, havia uma banana e uma maçã e foi no que ela confiou, para se alimentar.

Isso só deixou Célia mais desconfortável com o advogado e dali em diante, não falou mais nada com ninguém. Lúcia voltou para sua cela, a tempo de vê-la comendo só as frutas e gargalhou, zombando da irmã.

— Tadinha da criminosa, não consegue nem mais comer. O que é, está desconfiada que tem veneno na comida?

— …

— O quê, não vai responder?

— …

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Comments

HENEMANN- M. Henemann

HENEMANN- M. Henemann

Sem comentários 😡😡😡

2025-02-28

0

Celia Chagas

Celia Chagas

Poxa Flávio com ciúmes negligenciou Célia minha chará autora deixa eu entrar no livro e da na cara dele 😡😡

2024-05-02

6

Fatima Vergueiro

Fatima Vergueiro

Ela est com a razão que podem ter envenenado a comida,que história diabólica

2023-10-15

5

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1. Memória
2 Capítulo 2. Verdades e Dúvidas
3 Capítulo 3. Proposta
4 Capítulo 4. Desacordo
5 Capítulo 5. Troca
6 Capítulo 6. Audiência
7 Capítulo 7. Invasão
8 Capítulo 8. Bruxa
9 Capítulo 9. Compras
10 Capítulo 10. Restaurando
11 Capítulo 11. Intoxicação
12 Capítulo 12. Solução
13 Capítulo 13. Empresa
14 Capítulo 14. Doença
15 Capítulo 15. Discussão
16 Capítulo 16. Procura
17 Capítulo 17. Em Seus Braços
18 Capítulo 18. Tentativa
19 Capítulo 19. Herança
20 Capítulo 20. Surpresas
21 Capítulo 21. Sanatório
22 Capítulo 22. Paixão
23 Capítulo 23. Parecia
24 Capítulo 24. A Fazendinha
25 Capítulo 25. Irritação
26 Capítulo 26. Suspeitas
27 Capítulo 27. Ratazana
28 Capítulo 28. Descanso
29 Capítulo 29. Atitudes
30 Capítulo 30. Porquês
31 Capítulo 31. Jantar
32 Capítulo 32. Pressão
33 Capítulo 33. Confronto
34 Capítulo 34. Ciúme
35 Capítulo 35. O Pai da Múmia
36 Capítulo 36. Perguntas
37 Capítulo 37. Respostas
38 Capítulo 38. Vingança?
39 Capítulo 39. Transformação
40 Capítulo 40. Alívio
41 Capítulo 41. Lição
42 Capítulo 42. Austeridade
43 Capítulo 43. Quase Amor
44 Capítulo 44. Susto
45 Capítulo 45. Culpado
46 Capítulo 46. Antes da Inauguração
47 Capítulo 47. Inauguração
48 Capítulo 48. Sucesso
49 Capítulo 49. Tempo
50 Capítulo 50. Véspera de Natal
51 Capítulo 51. Natal
52 Capítulo 52. Presente
53 Capítulo 53. Contra Ataque
54 Capítulo 54. O Mistério Da Família
55 Capítulo 55. Bem ou Mal
56 Capítulo 56. Mudança
57 Capítulo 57. Motivo
58 Capítulo 58. Paz e Amor
59 Capítulo 59. Surpresas
60 Capítulo 60. Planejamento
61 Capítulo 61. A festa
62 Capítulo 62. Ponto Alto
63 Capítulo 63. Nervosismo
64 Capítulo 64. Ultrassonografia
65 Capítulo 65. Julgamento parte 1
66 Capítulo 66. Julgamento Parte 2
67 Capítulo 67. Julgamento Parte 3.
68 Capítulo 68. Culpada
69 Capítulo 69. Condenação
70 Capítulo 70. Mimos
71 Capítulo 71. Gratidão
72 Capítulo 72. Casamento
73 Capítulo 73. Final
74 Epílogo
Capítulos

Atualizado até capítulo 74

1
Capítulo 1. Memória
2
Capítulo 2. Verdades e Dúvidas
3
Capítulo 3. Proposta
4
Capítulo 4. Desacordo
5
Capítulo 5. Troca
6
Capítulo 6. Audiência
7
Capítulo 7. Invasão
8
Capítulo 8. Bruxa
9
Capítulo 9. Compras
10
Capítulo 10. Restaurando
11
Capítulo 11. Intoxicação
12
Capítulo 12. Solução
13
Capítulo 13. Empresa
14
Capítulo 14. Doença
15
Capítulo 15. Discussão
16
Capítulo 16. Procura
17
Capítulo 17. Em Seus Braços
18
Capítulo 18. Tentativa
19
Capítulo 19. Herança
20
Capítulo 20. Surpresas
21
Capítulo 21. Sanatório
22
Capítulo 22. Paixão
23
Capítulo 23. Parecia
24
Capítulo 24. A Fazendinha
25
Capítulo 25. Irritação
26
Capítulo 26. Suspeitas
27
Capítulo 27. Ratazana
28
Capítulo 28. Descanso
29
Capítulo 29. Atitudes
30
Capítulo 30. Porquês
31
Capítulo 31. Jantar
32
Capítulo 32. Pressão
33
Capítulo 33. Confronto
34
Capítulo 34. Ciúme
35
Capítulo 35. O Pai da Múmia
36
Capítulo 36. Perguntas
37
Capítulo 37. Respostas
38
Capítulo 38. Vingança?
39
Capítulo 39. Transformação
40
Capítulo 40. Alívio
41
Capítulo 41. Lição
42
Capítulo 42. Austeridade
43
Capítulo 43. Quase Amor
44
Capítulo 44. Susto
45
Capítulo 45. Culpado
46
Capítulo 46. Antes da Inauguração
47
Capítulo 47. Inauguração
48
Capítulo 48. Sucesso
49
Capítulo 49. Tempo
50
Capítulo 50. Véspera de Natal
51
Capítulo 51. Natal
52
Capítulo 52. Presente
53
Capítulo 53. Contra Ataque
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Capítulo 54. O Mistério Da Família
55
Capítulo 55. Bem ou Mal
56
Capítulo 56. Mudança
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Capítulo 57. Motivo
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Capítulo 58. Paz e Amor
59
Capítulo 59. Surpresas
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Capítulo 60. Planejamento
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Capítulo 61. A festa
62
Capítulo 62. Ponto Alto
63
Capítulo 63. Nervosismo
64
Capítulo 64. Ultrassonografia
65
Capítulo 65. Julgamento parte 1
66
Capítulo 66. Julgamento Parte 2
67
Capítulo 67. Julgamento Parte 3.
68
Capítulo 68. Culpada
69
Capítulo 69. Condenação
70
Capítulo 70. Mimos
71
Capítulo 71. Gratidão
72
Capítulo 72. Casamento
73
Capítulo 73. Final
74
Epílogo

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