Capítulo 20

Raquel desce da carruagem com a ajuda dos guardas. A jovem observa o local por um momento e sente vontade de voltar para dentro da carruagem e ir embora. Ela sabia que nada de importante aconteceria ali, além de fofocas com aquelas garotas que não tinham nada para fazer da vida.

«Eu quero ir embora», lamenta-se mentalmente.

— Senhorita.

Ela olha para o guarda, recompondo-se, e entra, suspirando. Como imaginava, era um bando de garotas que não tinham o que fazer com o tempo livre.

— Bem-vinda, princesa. — Vitória, a filha do marquês e anfitriã da festa, faz uma leve reverência, sendo imitada pelas outras.

Raquel limita-se a olhá-las antes de se sentar, e todas as outras a imitam.

— Que alegria a senhorita ter vindo, princesa. Faz tanto tempo que não nos vemos.

Raquel, distraída enquanto ouvia a jovem falar, olha para trás dela e, então, aponta para si mesma.

— Está falando comigo? — As risadinhas de escárnio não tardam. Era óbvio que as garotas estavam rindo de Vitória.

— Estava dizendo que faz muito tempo que não nos vemos.

— É mesmo? — A jovem olha para Vitória, confusa, sem se lembrar de já a ter conhecido... até que a ficha cai.

«Vitória, filha do marquês... Como pude me esquecer? Ela é amiga de infância da Raquel.»

As risadas das jovens recomeçam, enquanto cochicham sobre Vitória, que apenas abaixa a cabeça.

— Levante a cabeça. — A voz firme de Raquel a faz se sobressaltar.

— E-eu...

— E nada de gaguejar. — Raquel encara a jovem com firmeza e, em seguida, olha para as suas supostas amigas. — Como as pessoas são hipócritas hoje em dia, não é? Pelo que parece, vocês são amigas dela, certo? Mas não fazem nada além de rirem dela.

— Princesa...

— E você deveria se lembrar de que, quando alguém a ridiculariza, você precisa se defender. Nunca abaixe a cabeça, pois isso só dará a essas pessoas mais autoridade e superioridade. E nunca gagueje, pois elas pensarão que você tem medo delas. — Vitória olha para Raquel, surpresa. Elas eram amigas há anos, mas Raquel nunca havia interferido quando ela era alvo de provocações e humilhações. — E vocês, senhoritas, o que fazem aqui?

As jovens olham para Raquel, confusas, até que ela bate na mesa, assustando a todas, inclusive Vitória.

— Vão embora. — As jovens se levantam, prontas para sair, mas uma delas, a filha do duque, Alice, não está disposta a aceitar tal humilhação.

— Como se atreve! Você pode até ser a princesa, mas não lhe dá o direito de nada! — A jovem sorri com superioridade. Raquel arqueia uma sobrancelha, encarando-a, e se levanta, aproximando-se.

— Quem disse que eu não tenho direito?

— Você pode até ser filha da imperatriz, mas não se esqueça de que ela não tem o favor do imperador. Você pode até ter o sangue da família real, mas não passa de lixo! — Antes que a jovem termine de falar, Raquel a segura pelo pescoço, erguendo-a no ar.

— Pensei que esta festa seria um tédio completo... — Ela aperta o pescoço da jovem, que se debate para se soltar. — Mas obrigada por me distrair.

Os gritos das jovens chamam a atenção dos guardas.

— Princesa, solte-a! — Raquel olha para os guardas com desdém e solta Alice. No entanto, como o movimento é brusco, a jovem acaba batendo a cabeça na quina da mesa e desmaia.

As outras jovens se assustam e saem correndo, enquanto os guardas rapidamente levam Alice de volta ao ducado em busca de um médico.

— Raquel, o que foi que você fez? Você sabe o tamanho da encrenca em que se meteu? — Vitória repreende a amiga.

— Não se preocupe, ela não morreu.

— Mesmo assim...

O olhar sério de Raquel faz com que a jovem abaixe os olhos.

— Ela mereceu. Se eu deixasse passar, ela se acharia no direito de continuar e sua atitude só pioraria. Então, já sabe, Vitória: não deixe nada passar e não abaixe a cabeça para quem não merece. — Ela suspira. — Eu já tenho que ir. — Sem mais delongas, ela se retira.

Vitória a observa partir, pensativa. Por algum motivo, as palavras de Raquel faziam sentido. Durante toda a sua infância, ela suportou provocações, mas nunca se defendeu. Se o fizesse, talvez as humilhações não tivessem continuado até hoje.

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