Capítulo 6. Reencontro

Janice estava se divertindo com a situação, mas ele rangeu os dentes e achou melhor ficar quieto, precisava daquela atrevida e não poria tudo a perder, sendo implicante. Ficou por ali mais um tempo e se despediu.

— Espero que consiga o que tanto quer, maga e depois me devolva minha convidada.

— Agora virei um pacote. Por quê será que as pessoas acham que podem fazer o que quiser, comigo?

Ele já estava na porta, mas não resistiu em responder a atrevida.

— Talvez seja por você estar sempre se metendo em confusão, parece uma menininha mimada, querendo atenção.

Janice não é uma menininha mimada e sua mente pensa muito rápido e a resposta vem rápida:

— Olha quem tá falando de si mesmo! Desde que cheguei, você só fala de você e de tudo que você quer, sequer quis saber quem sou ou o que faço. Vai de catar, vampiro dos infernos!

— Como ousa falar assim comigo?

— Talvez você queira que eu fale cantando ou seria cacarejando? Me erra, vampiro!

Janice chamava ele de vampiro, como um xingamento, sem saber que ele realmente é um e pela providência cação dela, ele não teve dúvidas, rapidamente chegou nela e enfiou as presas em seu pescoço, saboreando o precioso néctar de sua vida.

— Pare, Toshiro! — Com um gesto, Chantal o jogou longe e o pescoço de Janice ficou sangrando.

A jovem estava paralisada, sem entender o que aconteceu, por ter sido tão rápido. Sentiu o sangue escorrendo de seu pescoço, alcançando o peito e colocou a mão nas feridas. Toshiro foi rápido, chegou nela, a hipnotizou e tirou sua mão das feridas, lambendo-as para fecharem e então se afastou, saindo pela porta e só então, desfez a hipnose.

Chantal ajudou Janice a sentar, examinando seu pescoço e reclamando:

— Aquele tolo, quase estragou tudo.

— O quê aconteceu? Ele é mesmo um vampiro?

— Me admira você, que sabe tantas coisas, não ter percebido…

— Você tem razão, eu só não queria acreditar, ele é tão lindo — disse suspirando, a bruxinha.

Chantal por um instante, ficou meditativa e tomou uma decisão, retiraria sim, tudo que fez que mudou o reino, mas daria uma lição naquele arrogante.

— Vamos jantar, querida, você precisa recuperar as forças.

Janice, depois de ser mordida pelo vampiro, caiu em si do conto de fadas em que estava vivendo. Olhou a sua volta, pensando no quanto de tudo aquilo, poderia ser ilusão. Levantou-se  mecanicamente e seguiu Chantal até a sala de jantar, sentou-se olhando o mundo de comida a sua frente e só conseguia lembrar da maçã da Branca de Neve.

Não queria que chutar ou percebesse o que ela estava sentindo, não sabia até onde ia o poder da maga. Então prestou atenção no que ela comia e serviu-se da mesma coisa. A única coisa que bebeu foi água e quando Chantal percebeu, perguntou:

— Por quê não está comendo e bebendo de tudo? Conchita quis te agradar, irá ficar chateada.

Janice sorriu para disfarçar e inventou uma desculpa:

— Para o que vamos fazer, não posso estar com o estômago muito cheio, nem com os sentidos embotados por qualquer tipo de bebida que não seja pura. — Aproveitou para mandar um alerta, caso lhe dessem algo impuro para comer ou beber.

— Ôôôuuu, entendi, você realmente é uma profissional.

Janice sorriu, fingindo estar aceitando aquela situação, a mágoa não fazia ideia de que ela era só uma adolescente em seu mundo e que tudo que fez,  foi brincar de bruxaria.

A hora chegou e Chantal a guiou até o cemitério da Aldeia, por trás da igreja antiga dos druidas. Janice olhou o local, iluminado pela lua cheia e sentiu o quanto tudo aquilo era macabro, resolvendo terminar tudo o mais rápido possível e sair dalí.

Escolheu um lugar e fez exatamente o que havia feito para invocar o namorado de sua avó. Limpou o chão, desenhou o pentateuco, colocou as velas, acendeu e iniciou o ritual, colocando um pouco do sangue do defunto no solo ( que Chantal havia guardado em frascos) e em um vaso de barro, o restante das coisas.

Chantal não gostou de ter sua mão cortada, mas precisava do sangue dela junto com o anel, para executar a bruxaria. Com tudo pronto, Janice queimou e proferiu as palavras:

— Mortuum, mortuum, accipie promissionem unionis

(Mortos, mortos, recebam esse sangue como promessa de união)

e acrescentou:

— Dilectus tuus vocat te, Gamaliel carissime ( Sua amada lhe chama, caro Gamaliel)

Do vaso de barro, subiu uma fumaça espessa e uma figura foi se formando e Gamaliel apareceu:

— Quem me perturba? — perguntou ele.

— Gamal, meu amor, sou eu, sua Chantal.

Janice se afastou para deixar que os dois tivessem seu momento.

— O que foi minha borboletinha, porquê precisou me chamar?

— Sinto tanto sua falta, meu amor.

— Sei que foi tudo muito rápido, mas estou em um lugar bom e não posso voltar, querida. Você precisa queimar o meu corpo e se desfazer das lembranças, preciso ser livre, querida e você também.

— Como posso ser feliz sem você?

— Você consegue, queime o corpo, agora preciso ir. Você é uma boa pessoa, Chantal, não seja má, me liberte. — suas últimas palavras foram ditas com ele já se esvaindo e finalmente sumiu.

— Adeus, meu amor…

Chantal caiu de joelhos no chão com as duas mãos apoiando o corpo e chorou, chorou todas as lágrimas que não tinha chorado antes, liberando seu amor e se despedindo, finalmente, dele. 

Janice foi até ela e quando viu que ela parava de chorar a ajudou a se levantar. Depois, limpou todo o local e foram embora.

 Ao longe, Toshiro observava tudo, mas não foi até elas, exigir que Janice fosse com ele, o que o faria se arrepender amargamente de não ter feito.

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