Pacto De Sangue

Pacto De Sangue

Capítulo 1. Pacto

Já era quase meia noite do dia dos mortos. Uma figura pequena e magra, trajando uma capa com capuz preto, caminhava apressada, seguindo uma trilha por dentro da floresta. As árvores altas, com galhos compridos, balançavam ao sabor da brisa noturna. 

A lua cheia iluminava o parco caminho, com seus raios passando precariamente por entre as copas folhadas. Animais noturnos emitem seus sons, formando a cantoria tenebrosa, que assustava a criatura inocente. Havia poucas corujas, mas eram as de som mais sombrio.

O local parecia mais sombrio do que era normalmente, pareciam ter olhos por todo lugar e a sensação de estar sendo observada, era o que  mais assustava. Olhos apareciam e desapareciam à procura de alguém especial.

**

Para esclarecer o que a pequena fazia ali, é necessário voltar uns meses atrás. Depois da escola, um grupo de alunas adolescentes se reuniu depois da aula, na mesma clareira para onde Janice seguia agora e ela se encontrou com as quatro colegas.

Naquele fatídico dia, as cinco colegas resolveram fazer um pacto de sangue. Com um pequeno corte na palma da mão, deixaram que o sangue pingasse sobre um pote, onde repousava um objeto de cada uma. Após isso, sugeriram que Janice dissesse algumas palavras, para confirmar o pacto.

A menina, sem hesitar, citou alguns versos que ouviu sua avó recitar no dia de halloween:

mortuum, mortuum, accipie promissionem unionis

(Mortos, mortos, recebam esse sangue como promessa de união)

Depois de falarem, fizeram uma pequena fogueira e despejaram tudo ali. Quando os objetos, banhados na mistura de sangue, entraram em contato com o fogo, houve uma pequena explosão, o fogo azul, se tornou vermelho e logo apagou, deixando só cinzas.

As meninas estavam estáticas, de boca aberta, sem entenderem o que havia acontecido, era para ser só uma brincadeira, que no final, foi muito estranha. Elas olharam umas para as outras e caladas, se foram daquele lugar.

Janice, sem temer o que aconteceu, pegou um galho pequeno e espalhou as cinzas. Não havia sobrado nada e ela tinha colocado o anel que sua avó lhe dera, dizendo que não tirasse do dedo, naquela brincadeira. Futucou mais um pouco até fazer um buraco no chão e sentir o galho prender em algo. 

Puxou com força e do chão pulou um anel. Ele voou alto e ela aparou com a mão, quando caiu. Depois de limpar a terra, achou que era parecido com o de sua avó e colocou no dedo. Depois, seguiu pelo caminho e saiu da floresta, indo para casa.

**

Depois desse dia, vários acontecimentos estranhos, preocuparam a garota. As meninas que participaram do ritual, todas, morreram de causas estranhas, acidente de carro, atropelamento, bala perdida e afogamento durante um treino de natação. Em todos os casos, ninguém soube explicar o que aconteceu.

Janice pensou consigo, eu sou a próxima e voltou ao local, para tentar desfazer o tal pacto. Chegando lá, juntou uns gravetos no mesmo lugar, pôs o anel em cima, cortou a mão e deixou pingar o sangue, repetindo as mesmas palavras de antes. Pegou os fósforos que levara e acendeu a fogueira.

Dessa vez foi diferente, uma fumaça densa saiu da pequena fogueira e em sua frente apareceu um rapaz. Ele era muito bonito e vestia roupas de época. Parecia pertencer a classe abastada da cidade.

— Quem é você? — perguntou ela.

— Sou quem tu chamaste. — respondeu ele.

— Não chamei ninguém, só vim desfazer um pacto de sangue que fiz com outras meninas, só que agora, todas estão mortas. — Esclareceu ela.

— Estás com medo de morrer, também? — perguntou ele.

— Como sabe que alguém morreu?

— Porque eu estava aqui, quando fizeram o pacto e vi elas chegarem com seus noivos.

— Chegarem, onde? Que noivos?

— Não importa, responda a pergunta. Está com medo de morrer? — perguntou novamente.

— Claro que sim, mas você está atrapalhando meu ritual de cancelamento do pacto.

— Acho que fizeste o ritual errado e todas se uniram a alguém do submundo. — relatou ele, com uma certeza que tirou ainda mais o sossego dela.

— E agora? O que eu faço? — perguntou ela ao rapaz estranho.

— Agora, é sua vez de vir comigo.

— Como assim, ir com você pra onde? —  Estava cada vez mais assustada.

— O seu pacto foi comigo, até levaste meu anel e agora quiseste me devolver, mas pactos feitos com sangue, não podem ser desfeitos.

— Não me respondeu. Para onde quer me levar?

— Para minha morada, onde mais seria? — respondeu ele, mas não disse onde era, de propósito.

— Tá bom, mas onde é a sua casa? — Ela não se deixou iludir.

— Já que você insiste, eu moro no inferno! — Exclamou ele, com ênfase e as feições sombreadas por uma aparência diabólica.

— NÃÃÃOO!!!!! — gritou ela.

— Ei, eu não sou surdo.Qual o problema? Suas amigas já estão lá com seus pares, só falta você, minha noiva. — Ao mesmo tempo que falava, aproximou-se dela com a mão estendida.

— Eu não quero ir com você! Me diz o que devo fazer para desfazer o pacto e elas voltarem? — perguntou Janice, tentando uma última cartada.

— Vou te dar uma chance. Você tem que trazer sua avó aqui, na noite dos mortos, desenhar um pentagrama e acender cinco velas negras, uma em cada ponta e sua avó ficará no centro.

— Mas minha avó já morreu! — reclamou ela.

— Traga o corpo dela.

— Ela foi cremada!

— Traga as cinzas.

Isso ela podia fazer. A urna com as cinzas estava na sala de casa, em um pequeno altar feito só para ela.

— Está bem, eu faço.

— Então te espero aqui, daqui a dois dias.

Ela virou de costas e saiu correndo. Nos próximos dias, teria muito o que fazer. E assim foi: trocou as cinzas por areia e reservou dentro de um saco. Pegou o dinheiro da despensa de casa e comprou as velas e o pó de giz, conforme a dona da loja de artigos religiosos a instruiu, para desenhar no chão.

Os olhos estranhos continuavam seguindo seus passos, mas agora, suas orelhas pontudas também eram visíveis.

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Comments

Maria Helena Macedo e Silva

Maria Helena Macedo e Silva

📖 começando mais uma aventura, sobrenatural👀
isso é que dá brincar e mexer com o desconhecido , menosprezando os conselhos dos anciãos🤦

2024-10-31

0

Regiane Pimenta

Regiane Pimenta

fácil de fazer como que alguém vai sair carregando um corpo de uma pessoa que já foi enterrada

2024-06-16

0

Regiane Pimenta

Regiane Pimenta

meu Deus que medo eu ficaria no lugar dela

2024-06-16

0

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