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NICOLE SALAZAR

O silêncio tornou-se constrangedor assim que entramos em casa. Eu não sabia como agir mesmo depois dele ter me defendido de Carlos. Minhas mãos suavam ao apertar uma contra a outra.

No passeio conversamos bastante, Henrico mostrou um lado dele que não era perceptível no início. Ele comeu três casquinha de sorvete e eu duas.

Agora não sei como agir diante dele.

O odeio? Somos amigos? Somos família?

O efeito de sua presença me deixa entorpecida e insegura sobre minhas próprias reações a ele.

- Obrigado pelo passeio.

Falo quando estamos subindo as escadas em direção aos dormitórios.

- Hum! hum! (expressou ele)

Ele está calado também, acho que a situação é estranha para nos dois.

Chego na porta do quarto.

- Henrico... eu...

Eu ia falar, mas ele me interrompeu.

- Amanhã irei viajar. Não é longe! Daniel vai comigo resolver um assunto de negócios.

- Ah! Boa viagem.

- Obrigado.

Henrico abre a porta de seu quarto e entra, me deixando ali no corredor, sozinha com os meus pensamentos.

Entro no quarto e fico olhando para o nada.

- NICOLE SALAZAR! O que está havendo com você?

Vou direto para o espelho. Fico analisando meu reflexo.

- Estou feliz! Olhe meu semblante... de relaxada. Uma boa amizade faz bem.

Sorrindo vou tomar banho.

O jantar foi silencioso, Henrico falou pouco no jantar. Estava focado em responder às mensagens de Daniel, eles têm um negócio importante para fechar.

Depois do jantar Henrico se trancou no escritório.

****

No dia seguinte.

HENRIQUE SALAZAR

Que noite péssima. Dormi mal.

Eu queria possuí-la. Eu queria mostrar a Nicole que existia prazer. Eu queria que ela esquecesse tudo e se lembrasse apenas de mim depois.

Não posso negar que apesar de não amá-la, estou atraído por Nicole. Tinha que resolver o problema da minha identidade, ignorar a sua presença será difícil agora. Nicole precisa saber que eu sou Henrique, seu marido.

Saio do quarto e dou de cara com Nicole no corredor.

- Descendo para tomar café? (diz ela)

- Sim.

Ela anda até a escada, eu chamo-a;

- Nicole?

- Sim.

- Quer ir comigo e Daniel na reunião de negócios?

Os olhos dela brilham. Sei que Nicole tem tirado boas notas na faculdade, e a melhor forma de testar e, na prática. Nicole precisa estar no meio para saber se tem vocação ou não.

- Está falando sério?

- Estou Nicole.

Ela bate palmas animada.

- Claro que aceito... quando partimos?

- Vamos tomar café primeiro e depois vamos.

- Certo! Preciso levar algo?

- Leve uma pequena mala, vamos voltar amanhã.

- Ok!

Nicole toma café animada, falando de tudo o que aprendeu até agora na faculdade. Eu fico a prestar atenção em tudo o que ela diz, as vezes rio.

Depois do café, Nicole sobe para arrumar a mala. Saímos meia hora depois.

Nicole está radiante.

- Não sai muito? (Perguntei)

Ela vira o olhar na minha direção.

Nicole está linda de boné e moletom. O sol batendo no seu rosto e o vento balança os fios dos seus cabelos conforme o carro se movimenta.

- Não tive muitas oportunidades de passeios em família. Meu pai sempre levou o meu irmão nas festas, férias e ventos. Eu servi apenas para casar com o seu irmão... desculpe!

Diz ela sem jeito. Eu aperto o volante do carro.

- Minha família não foi diferente no tratamento com você.

- Ser ignorada por estranhos e diferente de ser ignorada pelo seu próprio pai e irmão. A única pessoa que me amou foi a minha mãe, infelizmente ela se foi.

- Deseja permanente casada?

Minha curiosidade bate.

- Ainda não parei para pensar nisso. Por medo ou falta de opções, por não saber a onde recomeçar ou por ainda ter esperanças.

- Esperança?

- Acho que todos sonham em ter uma família. Amor e carinho. Eu queria que o seu irmão pelo menos tentasse ser meu amigo... mas fico feliz que você tenha aberto a sua mente e agora somos amigos certo?

Eu abro um sorriso.

- Quer ser minha amiga? (perguntei)

- Somos família também, nada mais justo do que nos darmos bem. Você pode me ajudar com seu irmão... talvez ele queira o divórcio futuramente. Preciso conversar com com Henrique sobre isso.

- Acabou de dizer que queria uma família.

- Eu disse, mas não posso ficar presa a alguém que não vai dar-me o que eu preciso e quero. Meu pai decidiu sobre a minha vida toda, até sobre com quem deveria casar... Não posso negar que apesar de tudo, uso o dinheiro de seu irmão para os meus estudos e talvez quando me formar consiga ser independente. Eu até pensei que ele seria o começo de uma felicidade, mas quem nunca me procurou em ano foi ele. Eu até que tentei através de Daniel, e nada. Desculpe Henrico acho que estou desabafando demais...

- Não tem problema Nicole, as vezes é bom falar o que se pensa.

Procuro uma estação de rádio e ficamos o restante da viagem ouvindo música.

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