Capítulo 4

Após o funeral, os três irmãos e as crianças sentaram-se para recordar e conversar como já não faziam há muito tempo, pois ultimamente nunca podiam estar todos juntos em família.

Não sabia por que, mas Kilian e Elian mal se falavam, agora haviam deixado essas diferenças de lado.

Kilian: faz tanto tempo que não te vejo, desde quando deixaste o cabelo crescer?

Noah: bem, tive que fazer isso para que a Zoe não quisesse cortar o dela.

Kilian: como assim ela queria cortar o cabelo?

Elian: na verdade, ela cortou, lembro-me da cara de horror do Noah e de quanto nosso pai riu quando a viu com todos os tufos de cabelo nas mãos, já faz um ano, certo?

Noah: nem me fales nisso, vê só, a Zoe estava convencida de que, se Joe e eu tínhamos o cabelo curto, ela também deveria tê-lo assim.

Kilian: por Deus, então decidiste deixar o teu cabelo crescer?

Noah: sim, disse-lhe que a partir de agora nem ela nem eu iríamos cortar o nosso cabelo...

Foi engraçado, embora naquele dia eu realmente tenha me preocupado, ela cortou demais, o pior é que nosso pai ria tanto, chamava-a de lindo cavaleiro, e também foi ideia dele que um de nós deixasse crescer o cabelo, e coube a mim, ainda é difícil acostumar-me com o cabelo longo.

Kilian: estás lindo, fica muito bem em ti.

Noah: vou colocar a Zoe na cama, com licença. —levantou-se rapidamente, a última vez que falou com Kilian ele confessou ter sentimentos por ele, e embora tenha sido claro em que não estava interessado em romance, e muito menos em vê-lo de forma diferente de um irmão, é difícil lidar com suas insinuações, só se interessa pelos filhos.

Noah

Vários meses se passaram desde a morte do pai, ainda é difícil acostumar-nos à sua ausência, e como ele estipulou, nós, seus três filhos, encarregamo-nos de todos os negócios. Eu continuo à frente das empresas nacionais, como quando ele estava presente, mas não esperava por isto.

—Elian? Que surpresa!

Elian: infelizmente não trago boas notícias.

—O que aconteceu?

Elian: nosso representante na América enviou isto. —recebi os documentos das mãos de Elian, mas não faziam sentido.

—isto não é possível, eu mesmo verifiquei os relatórios dos meses anteriores e as cifras eram bem maiores, diz-lhe que o refaça.

Elian: esta é a terceira revisão, Noah, precisamos de ti lá, deveria ter visto isto antes, tenho certeza de que não é de agora.

—voltar à América? (não posso fazer isso)

Elian: sei que não pretendias regressar, e talvez seja muito difícil para ti, mas nem Kilian nem eu podemos ocupar-nos disso, temos as mãos cheias agora, és o único que pode tratar.

Eu sei disso, eles estão ocupados fazendo todas as viagens e gerenciando todas as empresas que eu não posso, vi isso acontecer, com a ausência do pai, as empresas na América seriam um caos. Além disso, entre as empresas que estão roubando da companhia Montenegro estão os Cossio, além disso, para tomar conta dos negócios na América, tinha de ser a partir do nosso escritório principal, que se encontra nas empresas Daniels, o nosso maior sócio e aliado.

Se vou para lá, tenho que estar preparado para lidar com todas as pessoas que me viraram as costas e me feriram, não posso, não estou pronto.

—quero ajudar, de verdade eu gostaria de recompensar a esta família tudo o que fez por mim, mas voltar para lá... Não posso.

Elian: podes sim, Noah. Isso e mais, mas diz-me, até quando vais fugir? —talvez tenha razão, só fujo e me escondo, mas para mim é paz acreditar que todas essas pessoas me consideram morto, não vou me colocar na mira delas novamente.

—desculpa.

Elian: assim como a ti... anos atrás pai também salvou Kilian, que havia sido vendido para ser um lutador, era violento e problemático, não confiava em ninguém além de si mesmo, mas aos poucos pai conseguiu que se abrisse para nós, então passou a cuidar mais de nós do que qualquer um.

—ele era um grande homem.

Elian: era, eu e meu irmão nos sentíamos felizes e afortunados por sermos seus filhos, mas o que estou a tentar dizer é que, desde que o pai te trouxe, já não estás só; Kilian, eu e todo o poder dos Montenegro estão ao teu lado, então mesmo que te cruze novamente com a tua antiga família, ou com o maldito alfa que te feriu, pisa-lhes na cabeça, ninguém vai dizer que não podes, nem te vai deter, porque não há família mais poderosa do que a nossa. —sei que isso é verdade, mas não esperava ouvir isso do Elian, é como se ele me desse a oportunidade de obter uma vingança, ou justiça, de qualquer forma, ele tem razão, não tenho motivos para temer, eles é que devem temer-me a mim e é isso.

—obrigado Elian, está bem, eu vou.

Elian: assim se fala, conto contigo irmão.

—Elian, o que se passa entre ti e Kilian? Vocês voltaram a distanciar-se, pensei que agora...

Elian: não te preocupes com isso, são bobagens, já resolveremos.

—certo, começarei a preparar a minha estadia na América.

Elian: quanto a isso não te preocupes, as pessoas que vão cuidar da tua segurança e dos meus sobrinhos já foram selecionadas, assim como a melhor e mais segura propriedade já foi escolhida para vocês.

—pensaste em tudo, estavas assim tão seguro de que eu não ia recusar?

Elian: não, é só que confio em ti e no meu bom julgamento.

—nisto pareces muito com o pai, sabes exatamente o que dizer para que os outros ajam como desejas, não há dúvida de que és seu filho.

Elian: pelo menos posso dizer que aprendi bem.

—Zoe e Joe estão de saída, queres acompanhá-los até lá?

Elian: claro, tenho que viajar para Tóquio hoje, quero despedir-me.

—suponho que não nos veremos durante algum tempo.

Elian: de que estás a falar? Não vou perder o aniversário dos meus sobrinhos. —é verdade, eles nunca perdem uma festa, sentiremos falta do pai este ano, ele sempre teve os melhores presentes e ideias para festas.

Elian: e também viajarei sempre que puder escapar.

—esperaremos ansiosos por te receber.

Depois de passar pelos gêmeos fomos a um restaurante, despedimo-nos do meu irmão e agora, depois de duas semanas, estamos de partida para a América no jato que a família Montenegro nos designou.

Assim que o avião aterrissou, um homem vestido com um impecável terno preto entrou.

"Boa tarde Senhor Montenegro, meu nome é Jorge, sou beta, estou encarregado da sua segurança e dos pequenos príncipes" aquela expressão soou-me nostálgica, ao redor do pai, Zoe e Joe eram assim tratados por todo o pessoal, de fato, eles estão muito envolvidos no papel de príncipes, devo dizer que o são.

—muito obrigado, conto contigo. —Joe acordou quase imediatamente, então só tive que carregar a Zoe até ao carro.

Lá embaixo havia mais seis homens.

Jorge: eles são o pessoal de segurança, todos e cada um dos encarregados de vocês e das crianças, são betas ou omegas experientes e qualificados. —agradeço esse gesto por parte do Elian, após o ocorrido os únicos alfas à minha volta foram o pai, Kilian e Elian, a presença de qualquer outro alfa à minha volta desequilibra-me, é como se todo o meu ser rejeitasse a sua mera existência, é uma sensação insuportável, terei que lidar com isso agora, ou pelo menos tentar.

Jorge: quatro deles ficarão encarregados da segurança dos príncipes, e eu e mais dois da sua.

—confio muito nos meus filhos.

Jorge: com certeza, senhor.

Chegámos à casa, mais apropriadamente uma mansão, este lugar é enorme, além disso, o seu design é precisamente igual à nossa casa anterior, é como uma cópia exata, as áreas de brincadeiras dos gêmeos, o seu quarto, as decorações, a cozinha, além de muitas das nossas coisas de valor sentimental estarem perfeitamente arranjadas, Elian realmente esforçou-se para nos fazer sentir em casa, é um grande irmão.

Zoe: papai, estou com fome.

—certo, vamos preparar algo para comer para a minha princesa, o que queres comer?

Zoe: pizza!!

—boa tentativa, senhorita, tente outra vez.

Zoe: massa? —sorri cúmplice, quase sempre tento agradá-los, mas não devo mimá-los demais.

—massa está ótimo, e o que você quer, jovem Joe?

Joe: massa! —não hesita, mas sei que não é um dos seus pratos favoritos, embora de Zoe e do meu sim, ele parecia odiá-las, mas depois de algum tempo começou a comê-las.

—certeza? Podes pedir outra coisa, temos uma casa nova e vamos celebrar.

Joe: não gosto desta casa, papai —é a primeira vez que Joe se mostra insatisfeito com algo, quase nunca manifesta nada, inclusive para saber que não gostava de massa, tive que deduzir, ele nunca disse.

—querido, sei que é difícil, mas a empresa do avô precisa que me ocupe de uns assuntos aqui, prometo que assim que terminar, voltaremos para casa.

Joe: está bem. —abracei o meu filho, não tenho certeza do porquê de não querer estar neste lugar, talvez esteja com saudades dos tios e de tudo o que tínhamos lá atrás.

A nova babá chegará em algumas horas, pedi para conhecê-la antes, se não me transmitir confiança, demiti-la-ei mesmo que tenha sido escolhida pelo Elian, certamente ele fez uma extensa investigação e é a pessoa certa.

Arvan

Estava a tratar de assuntos urgentes, passei pelo escritório do meu irmão e encontrei-o a falar com o inútil do filho.

"Precisamos ganhar o favor daquele procurador, as nossas finanças só pioram" como espera que estejam se entregou o controlo das suas ações a esse incompetente, que apenas desperdiça? A única razão pela qual o grupo Daniel's não passou pelo mesmo é porque eu o administro, juntamente com meus outros negócios. Mais vale não me causarem problemas com os seus ideais de ambição ou eu mesmo os expulsarei daqui.

"Ouvi dizer que esse rapaz é da tua idade, Caled, e é protegido do Jacob há anos, embora nunca tenha aparecido em público"

Caled: protegido? É assim que chamam agora às putas? Certamente era o seu amante. Não te preocupes, sei como lidar com esse tipo de prostitutas, estará a comer na minha mão. —a ideia de que um ômega esteja no comando da companhia é inaceitável para mim, mas, dado que o nosso acordo com os Montenegro é em condições iguais, não posso proibir nada. Ainda mais, devo ser condescendente com esse... ômega, provavelmente será um inútil que acaba indo embora mais rápido do que chegou.

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