Pacto De Sangue
Numa sala com poltronas de couro e aquecida pela brasa estalante de uma lareira, pai e filho discutiam:
— Martino, isso não é uma proposta. É uma ordem. Sabe a diferença?
Don Salvatore era um homem velho e sério, que jamais era contrariado. Ele transpirava autoridade. O luto não era um sentimento incomum para ele, por isso sabia tomar decisões lúcidas mesmo coberto de tristeza. Pai de dois filhos, Martino e Giovani, precisava de pulso firme e paciência para lidar com o comportamento explosivo dos dois. Concluiu que era mais difícil ser pai do que mafioso.
— Luigi foi um dos meus homens mais fiéis e é meu dever honrá-lo após a morte. Além disso, como meu filho mais velho, é necessário que você se case e continue o legado da família.
— Pai, dentre tantas mulheres aqui, entre nós! Mulheres que conhecem o negócio da família. O senhor escolheu logo uma desconhecida para mim?
— Basta. Isso não é discutível. A minha escolha é certa. Prometi a Luigi que cuidaria da família dele. Um homem digno possui uma prole digna, a filha dele será sua esposa. Agora pegue o meu charuto e não falamos mais nisso.
Martino levantou-se e retirou um charuto da caixa, levou até a boca do seu pai e acendeu.
— Ciao. — ordenou Don Salvatore.
— Ciao. — respondeu Martino de má vontade.
Ajoelhou-se para beijar a mão de seu pai e saiu.
Ao sair para rua, Martino acendeu um cigarro. Nada o irritava mais profundamente do que ser contrariado.
...****************...
Na parte mais afastada e humilde da cidade, uma triste senhora costurava um véu branco. As suas mãos eram enrugadas e lentas. Seus olhos lacrimosos já não enxergavam como antes. Luigi era seu único filho. Desde muito novo teve que se tornar o provedor da casa e para isso começou a prestar serviços para Don Salvatore. Durante muitos anos fez o trabalho sujo, até que, infelizmente, o trabalho sujo o pegou. Célia não sabia se tinha valido a pena.
Ela ouviu quando a porta rangeu ao abrir. Era sua neta. Penélope beijou e abraçou sua avó. Havia acabado de chegar da feira onde vendia os tecidos que fabricavam manualmente. Tinha a pele bronzeada do sol e cabelos castanhos desgrenhados amarrados com um lenço.
— Penélope, querida. Il capo virá buscá-la hoje.
O rosto de Penélope encrespou-se de desgosto. Seus lábios carnudos formaram uma gruta, seus hipinotizantes olhos cinzas encheram-se de rancor.
— Não faz nem uma semana que o papai se foi. Isso… isso está rápido demais! Ele não gostaria de nada disso!
— Meu amor, isso é tudo que ele poderia querer. Sua querida filha casada com um Don. Não há maior honra para seu pai. Ele lutou muito para que nós vivêssemos com decência.
— Nonna, não é justo — implorou Penélope enquanto ajoelhava-se aos pés de sua avó.
— Justiça não tem a ver com o que queremos, mas com o que precisamos. Você está pronta, terá que ser corajosa.
As portas da velha casa estremeceram quando Penélope, aos prantos, saiu correndo para a rua.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 13
Comments