Don Salvatore chegou à casa da enlutada antes do entardecer. Bateu apenas uma única vez na antiga porta, que se abriu quase como num passe de mágica para ele.
— Entre, senhor.
— Obrigado, Célia. Sinto muito por sua perda, novamente. Deus sabe que não é fácil perder um filho. Luigi era um irmão.
— Sei, sei.
— Bom, vamos ao que interessa: onde está a menina?
Célia sentou-se na cadeira de balanço.
— Fugiu para rua. Teremos que esperar.
— Ora, essa. Não posso ficar a noite toda esperando!
— Eu sei.
— E se ela não voltar?
A velha senhora não respondeu, voltou sua atenção para a costura. Resignado, Don Salvatore sentou-se para esperar. Se não fosse uma promessa, pensou. O sol levou embora as últimas horas do dia, a escuridão tomou conta do céu. A cena não mudou até que a porta voltou a se abrir. Penélope, em silêncio, ajoelhou-se para beijar a mão do Don, depois, abraçou a velha senhora que amava mais que qualquer outra coisa na terra. Então subiu as escadas para pegar suas coisas.
— Agradeço por confiar em mim, Célia. A senhora sabe que pode ir junto, uma família grande é uma família unida.
— O meu filho confiou em você primeiro, Don Salvatore. Eu apenas sigo o exemplo. Quanto a mim, Deus tirou meu único filho e agora cuidará da minha neta, a minha missão na terra está terminada. Não quero viver num mundo sem Luigi.
Don Salvatore assentiu. Penélope desceu as escadas com uma pequena mala e um saco. Beijou sua avó pela última vez e recebeu o véu de presente. Enfiou-o dentro do saco e seguiu Don Salvatore noite à dentro.
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Chegaram ao casarão tarde da noite. A mesa de jantar ainda estava posta. Penélope estava assustada com o quanto tudo aquilo era novo, mas sua avó pediu para ser corajosa.
— Está com fome, filha? Sente-se e coma.
— Não, obrigada, Don, eu… eu não estou com fome.
Era mentira. Nessa hora uma senhora formidável saiu por detrás das cortinas que separavam a copa da sala de descanso. Ticiana era esposa de Don Salvatore.
— O cheiro não é bom? Posso fazer algo que lhe agrade. — sugeriu.
— Aí está você. Aparece somente quando não esperamos, menina, se acostume. Ticiana, por favor, receba a ragazza.
Don Salvatore cumprimentou as duas e saiu, meia-noite para ele era como meio-dia. Ticiana olhou Penélope de cabeça aos pés e levantou as sobrancelhas. Era esbelta e dura. Os seus cabelos grisalhos estavam elegantemente presos num modesto coque. Seus olhos azuis eram capazes de gelar o inferno.
— Então, você é a filha do Luigi? Bom, espero que você não dê trabalho para nós. Muitas meninas pensam que fazer parte desta família é um sonho. Acho melhor que você deixe os sonhos pro travesseiro ou irá se arrepender de estar aqui. Porém, se você é forte e trabalhadora, viverá bem. Se for minha amiga, serei sua amiga. Acima de tudo, não minta para mim. Nem aja como se essa casa fosse antes sua do que minha.
Penélope oscilou.
— Sim, senhora.
— Ticiana, por favor. Agora vamos fazer algo para você comer, está muito abatida. Deve ser o luto.
— Não é necessário, eu estou be-
— Do que você gosta? Diga e farei.
— Comerei o que já está pronto, senhora.
Ticiana serviu um grande banquete. Depois levou Penélope até um quarto no segundo andar, onde ela dormiria.
— Descanse, querida. Amanhã é um grande e longo dia. Não se incomode com os sons lá de baixo ou não dormirá.
Quando se apagaram as luzes, Penélope ainda escutou os passos preocupados no andar de baixo. Não parou de pensar nos entes que havia perdido e no quão frios eram os que ficaram em seus lugares.
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Atualizado até capítulo 13
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