Iminência

Martino havia passado o dia ocupado indo de um lado ao outro. Um carregamento de munições e bebidas deveria chegar aquela noite ao armazém. Para colaborar não sabia onde seu pai estava, ele havia saído de casa antes do pôr do sol e não voltara. Não que estivesse preocupado, mas seu pai inspirava confiança nos outros Dons e isso ajudaria a tornar o processo mais rápido. Não sendo possível, ele e seu irmão Giovani tiveram que visitar vários pontos da cidade a fim de planejar e preparar a rota do carregamento.

Dons mais velhos como seu pai quase nunca colaboravam se Don Salvatore não estivesse no comando. Para eles, Giovani não passava de um folião irresponsável e valentão, enquanto Martino era presunçoso e arrogante. Seus filhos precisam amadurecer, diziam para Don Salvatore, que concordava.

No entanto, nessa noite em especial, foram bem recebidos pelas famílias que visitaram. Parece que todos já sabiam do casamento. Martino foi recebido calorosamente pelos homens, que o abraçavam ou davam batidinhas em suas costas em sinal de empatia. As esposas efusivas teciam elogios à noiva que nem conheciam, enquanto as filhas cabisbaixas observavam emburradas.

Chegaram em casa durante a madrugada, Don Salvatore estava em seu escritório conversando com Ticiana.

— Buona notte! Pai, eu e Giovani conferimos a rota da entrega, está tudo certo.

Don Salvatore concordou com a cabeça.

— Muito bem. Porém, não é com isso que estou preocupado.

— Já sei. Aliás, todos parecem saber — respondeu Martino desolado.

— A sua noiva está dormindo no quarto de hóspedes. Quero que descanse, amanhã terá muito o que fazer, seu irmão pode terminar o serviço.

— Pai, não é para tanto... eu preciso estar lá hoje, Giovani não pode ir sozinho, o senhor o conhece...

— Se eu ganhasse dinheiro todas as vezes que você argumenta comigo estaríamos mais ricos.

— Ele está certo, Salvatore. Algo pode acontecer com Giovani — interveio Ticiana.

— Ele não é uma criança, não deve agir sob supervisão todo o tempo. Você não pode protegê-los deles mesmos, Tici. Se Martino teme tanto este casamento como faz parecer, é melhor enfrentá-lo e não evitá-lo fugindo para o trabalho.

— Não estou fugindo, pai.

— Então mostre-me! — gritou Don Salvatore, exaltado — Essa moça foi corajosa o suficiente para deixar sua avó e seus mortos para estar nesta casa. Não deixarei que ela se case com um ingrato. Mude sua atitude ou talvez seu irmão seja mais adequado para herdar este casamento e este negócio.

Os dois homens encararam-se com seriedade. Martino foi o primeiro a desviar o olhar. Beijou sua mãe e saiu do escritório.

Passou pela copa, onde Giovani devorava um prato de espaguete. Sua boca estava suja de molho.

— O velho está tranquilo? - perguntou.

— Igual um tiroteio. Você vai sozinho hoje, é melhor limpar essa cara.

— Espera! Sozinho? Onde você vai?

Mas Martino já tinha subido as escadas. Ao passar pelo corredor deteve-se na frente da porta do quarto de hóspedes. Encostou a cabeça na madeira e fechou os olhos. Não queria se casar, não agora. Não quando os negócios iam tão bem! Ainda mais com uma total estranha, que podia muito bem ser uma parva. Abriu vagarosamente a porta até que pudesse enxergar pela fresta. Estava escuro e ele só pôde constatar a silhueta de alguém deitado na cama. Nesse momento o peso no seu peito dissipou-se e o seu corpo formigou de curiosidade. Essa era sua noiva então? Fechou a porta e dirigiu-se para seu quarto. O novo sentimento não deixou que ele dormisse.

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