Capítulo 8

...Manuela...

...— Desculpe por não bater, a Lilian não me disse que já estava aqui. — Digo ao chegar para trabalhar e já encontrar o Vicente na sala em plena segunda-feira....

...— Tudo bem, eu pedi para não avisar, queria te ver surpresa....

...Temos um longo dia de trabalho pela frente.— Vicente, com um sorriso travesso nos lábios....

...E foi assim o mês inteiro, ele chegando cedo, participando atentamente das reuniões e apresentando excelentes ideias. Estava muito satisfeita com a sua mudança repentina, e percebi que a minha presença constante em sua sala e em seus compromissos já não era mais tão necessária, resolvi dizer a ele no fim do dia que a partir da próxima semana voltaria a trabalhar normalmente no meu setor....

...— Vicente, sei que quase sempre sou rude com você, mas quero lhe dar parabéns pelo seu empenho nas últimas semanas. — Ao me ouvir, abriu um largo sorriso....

...— Não precisa me parabenizar, eu devo tudo isso a você. Sei que lhe dou muito trabalho, mas estou tentando fazer o meu melhor....

...Ah, eu vou providenciar para que coloquem uma mesa para você aqui, não deve ser muito confortável dividir a mesa comigo....

...— Era sobre isso que eu queria falar. Não precisa se preocupar com isso, na segunda eu volto para a minha sala. — Ele arregala seus olhos, parecendo totalmente surpreso com o que disse....

...— Por que vai fazer isso comigo Manuela?...

...Não desiste de mim, por favor!— Se levantando e ficando de pé de frente para a janela. Fico sem entender toda aquela cena dramática, mas me levanto e caminho até a janela, me colocando ao seu lado....

...— Não estou desistindo, só acho que já está pronto para caminhar sozinho. Mas estarei a poucas salas de distância para tirar qualquer dúvida que tenha. — Ele se vira, desviando sua atenção, que antes estava na janela, para o meu rosto....

...— Desculpa, acho que me tornei dependente de você. — Descendo seu olhar pelo meu rosto e parando em meus lábios, me fazendo engolir o seco e ele percebe meu constrangimento....

...— Quis dizer aqui na sala, me dizendo o que fazer. — Voltando seu olhar para a janela....

...— Sim, claro, eu sei. — Respondo rapidamente....

...Mas não é mais necessário, você está indo muito bem.— Ele volta a me olhar e encosta a cabeça no vidro da janela....

...Posso te perguntar uma coisa? — Assinto, mesmo com medo do conteúdo de sua pergunta....

...— Minha mãe disse que você visitava frequentemente o meu pai no hospital e que foi até lá no dia em que ele... — Dando uma pausa de olhos fechados....

...— Ele disse algo ao meu respeito para você? Estava decepcionado ou tinha raiva de mim?...

...Eu perguntaria a minha mãe, mas ela ainda chora todas às vezes em que pensa nele, e também não me diria a verdade. — Me aproximo ao ver que algumas lágrimas escorrem pelo seu rosto....

...— Seu pai te amava Vicente, e se deixou tudo isso em suas mãos, é porque confiava em você. — Ergo minha mão para tocar seu ombro, mas desisto e cruzo meus braços a frente do meu corpo....

...— Eu me sinto tão culpado, fui tão egoísta... Eu amava o meu pai, Manuela. — Intensificando suas lágrimas. E meu coração estava ficando cada vez mais apertado de ver um homem daquele tamanho, sempre tão cheio de si, chorando feito um menino, demonstrando toda a sua dor e fragilidade....

...— Você não teve culpa de nada! — Tento consolá-lo dizendo o mesmo que digo a mim mesma todos os dias. Levo minha mão ao seu rosto, secando suas lágrimas com o meu polegar. Seus olhos se abrem lentamente com o meu toque e uma de suas mãos segura a minha, não permitindo que minha mão se afaste de seu rosto. Seus olhos percorrem a minha face, que se aquece com o seu olhar....

...Sua outra mão toca gentilmente o meu maxilar e minha pele se arrepia com o seu toque. Ainda segurando a minha mão, ele encurta a distância entre os nossos rostos e me embriaga com o seu perfume. Sinto sua respiração e seu nariz tocar a minha pele de tão perto que estamos um do outro, fecho meus olhos e tento recuperar a minha razão, sei que não podemos fazer isso e para a minha sorte, seu celular toca, fazendo com que se assuste e eu aproveito para me afastar....

...— Bom fim de semana, Vicente! — Pego minha bolsa e saio rapidamente da sala....

...— Está tudo bem, Manuela? Seu rosto está avermelhado. — Lilian me questiona assim que fecho a porta atrás de mim....

...— Estou bem, hoje está abafado, deve ser isso. — Ela me encara com estranheza, pois sabe que a sala do Vicente falta pouco nevar....

...— Bom fim de semana, até segunda! — Me despeço e saio apressada da empresa....

...Chegando em casa, encontro a Tati me esperando na porta....

...

Tatiana, 25 anos...

...— Finalmente! Tentei te ligar, mas está caindo na caixa postal.— Tati diz em voz alta, sem esperar que eu me aproxime....

...— Meu celular descarregou e nem tive tempo de carregar, foi um dia agitado....

...Mas qual o motivo de toda essa animação? — Pergunto encaixando a chave na fechadura para entrarmos....

...— Muito prazer, sou Tatiana, a nova gerente! — Diz animadamente ao passar pela porta....

...— Você conseguiu! Foi promovida!— Ela responde que sim sacudindo a cabeça alegremente. — Eu fecho a porta e lhe dou um abraço apertado....

...— Você merece muito Tati, parabéns! — Digo ainda abraçada a ela....

...— Eu sei, eu mereço mesmo!— Me fazendo rir....

...— E sabe o que eu também mereço?...

...Mereço comemorar com a minha melhor amiga....

...— Vou ver se tenho algo para brindarmos. — Jogo minha bolsa no sofá e dou alguns passos para ir até a cozinha, mas ela segura o meu braço....

...— O que pensa que vai fazer Manu?...

...Olha para mim! — Reparo que está maquiada e que desconheço o vestido que usa, e vejo que está usando saltos no lugar do seu inseparável All star....

...— Você está linda! Aonde vai?— Pergunto achando que ela irá a mais um de seus encontros com caras que conhece por aplicativo....

...— Aonde eu vou não, aonde vamos. Porque você vem comigo! — Me puxando pelo braço na direção do meu quarto....

...— Tati, sei que está feliz, e como disse, você merece muito isso. Mas não vou sair, sabe que prefiro ficar em casa.— Solto o meu braço de sua mão e me jogo de costas na minha cama....

...— Manu, não pode passar o resto da vida indo de casa para o trabalho e vice-versa. Você só tem vinte e quatro anos e já faz três anos que tudo aconteceu, está na hora de voltar a viver. Olha para a sua casa, não mudou absolutamente nada durante esse tempo, isso não te faz bem....

...Não pode viver assim, cercada de recordações de um tempo que não vai voltar. — Minhas lágrimas escorrem ao ouvir suas sinceras palavras, sei que tudo que disse é para o meu bem, mas apagar o passado não é tão fácil quanto parece. Mas faço um esforço para fingir que estou bem....

...— Tudo bem, você está certa, merece comemorar sua conquista. Mas não vou voltar tarde, trabalhei muito hoje e estou cansada....

...— Relaxa Manu, hoje é sexta e amanhã poderá dormir até a hora que quiser. — Diz empolgada abrindo o meu armário....

...Sabe que pode doar essas coisas, não sabe? Tem muita gente precisando. — Me levanto rápido da cama, fecho a porta que abriu e aponto para a porta onde estão as minhas roupas....

...— Vou tomar um banho e já volto.

Põe o meu celular para carregar, por favor.— A deixo de frente para o meu armário, caminho para o banheiro e a ouço gritar: — Vou escolher um vestido arrasador! — Tem hora que acho que a Tati não conseguiu sair dos seus quinze anos....

Continua...

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