Soul Parsifal
"A Maria Fumaça"
Muitas vezes procuramos por mudanças em nossas vidas, mas invariavelmente descobrimos que é mera fabulação. Deixei-me levar pelo entusiasmo, isso é verdade, mas quem nunca se apaixonou?
Minha humilde vida, de uma mulher simples do interior cheia de cicatrizes vai além dos sinais do tempo. Dei-me a condição de recusar, mesmo sabendo que mulheres sempre pagarão um preço alto, por serem simplesmente… Mulheres!
O sonho de conseguir alguma coisa é apenas uma ideia, então muitas vezes nos agarramos a ela de forma muito emocional, e quando percebemos que não saiu como gostaríamos, inclinamos a desencorajar.
Ao menos funciona assim no amor e outras vezes no luto. Comigo foi dessa maneira, mesmo ansiando em libertar-me, nunca pensei desejar o pior mal a uma pessoa, mas descobri que não é assim que a vida funciona. Pequenos desejos podem ser realizados, mesmo se ditos da boca para fora.
Nunca achei-me vaidosa, mas por alguma razão ao acordar essa manhã, peguei-me olhando ao espelho. Meus cabelos negros lisos e soltos estavam tão lindos, que fizeram-me lembrar que ainda podia haver beleza em mim.
Essa, tão maltratada e escondida, fruto de um pensamento antiquado, onde a única forma de ser útil era servir ao marido, seu dono, como um objeto.
Então pergunto-me, onde estás o amor? Ou melhor… O que seria o amor? Certamente eu ouviria a resposta, vinda dos senhores, dizendo que o amor é cuidar de seu senhor marido e servi-lo para que esse trouxesse o alimento para casa, mas seria somente isso? Realmente nascemos para isso?
Não podemos escolher quem e quando amar? O que ser e quando ser? Hoje consigo ver tudo isso.
Falando no amor... Li um poema que resume muito bem tudo isso, irei recitá-lo agora, para confortar corações solitários que assim como eu, estiveram presos e assim possam ser libertos.
"Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor."
Amor é uma troca, és o irrefletido. No início não percebe-se isso, ficamos tão abastados com tal sentimento, que vos cega, depois dói, mas sempre cura-se.
Irei lhes contar minha breve história de amor quase verdadeiro, podes achar-me demasiada basbaque, mas quem nunca se deleitou de ilusões com o amor? Ainda mais uma que senti e não durou um verão e depois se esvaiu-se num estalo, tudo começou um ano atrás.
Meu dia como sempre começou comumente, levantei-me indo até o quintal pegar alguns ovos, no escuro da madrugada. O cheiro costumeiro do pé de goiaba do quintal do vizinho, era um perfume o qual trazia-me recordações de quando eu era pueril, saltando o muro do velho senhor Romildo e fugindo ao ouvir seus gritos de "saíam do meu quintal, suas pestes", enquanto corria em nossa direção segurando os suspensórios.
Não pude conter-me e soltei um breve sorriso com tal reminiscência. O cheiro de café parecia ter acelerado meu senhor esposo Francisco, que apressado engoliu um pedaço de pão, despediu-se de mim e saiu em passos apressados, pois o caminhão que levaria para a lavoura, já iria passar e não era tolerado atrasos.
Francisco vinha de uma família humilde, não tinha muito estudo, então era bem rude. Fato esse, que de alguma forma o fez conquistar o respeito de meu pai, que acabou dando-lhe a bênção de casar-me com ele.
Durante muito tempo, foste um fardo pesado para Francisco, o fato de meu pai ter dado nossa casa como prenda do nosso casório.
Sempre ouviu que foi um casamento por interesse, de tão costumeiro, exigiu que morássemos na cidade mesmo não estando em condições de fazê-lo, mas estranhamente foi aceito por meu pai e finalmente tornou-se chefe de sua própria família, fugindo da sombra do sogro.
Após a morte de seus pais, Francisco ficou diferente. Começou a beber, desistiu dos estudos e um jeito bruto tomou conta de suas ações. Começou a ver-me como uma propriedade, um objeto o qual, ele como dono, fazia o que quisesse.
Isso foi o início do fim, foi onde a felicidade começou a dar espaço para a tristeza, mas não havia muito que eu pudesse fazer, apenas ser uma esposa dedicada.
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Atualizado até capítulo 78
Comments
Valdirene santos
coitadinha
2023-07-02
2
Valdirene santos
já quero esganar esse cara e olha que nem passei do primeiro capítulo, já acho ele um idiota, pronto falei
2023-07-02
1
Valdirene santos
cuidado pra não engasgar Francisco 😂
2023-07-02
1