CAPÍTULO 4

"Primeiro dia de aula"

Acordei logo nos primeiros raios do dia e apressei-me em ir cuidar das galinhas, presentes de casamento, do meu pai.

Depois disso, foi a vez dos dois porcos que criamos nos fundos do quintal da pequena casa rodeada com um singelo jardim de bancas de flores, confesso que não é uma das coisas que aprecio fazer, contudo, aceitei para mostrar aos meus pais que não havia esquecido de minhas origens.

Enquanto executava minhas tarefas, deixo-me levar pelos devaneios dos últimos acontecimentos, ainda podia sentir em meu rosto, a força do tapa que havia recebido do senhor meu marido.

Depois de tudo, Francisco tratava-me como se nada tivesse acontecido, às vezes ficava pensando se ele sofria algum tipo de esquecimento sempre que embriagava-se.

Resoluta em não pensar sobre isso por hora, entreguei-me aos afazeres com afinco.

A manhã passou tranquila e procurei alegrar-me. Hoje seria o primeiro dia de aula na escola para as crianças da região. Antônio era pura animação, mas o meu coração estava pesaroso pela minha pequena Maria, era difícil explicar para ela os motivos pelos quais uma menina não poderia estudar e que devia ficar em casa para ajudar nos afazeres domésticos.

Mesmo em tenra idade, seu rosto contrariado demonstrava não concordar com ideais tão arcaicos.

Várias vezes tentei argumentar com Francisco em vão, era sempre a mesma asnice, então para evitares cizânia entre as partes deixava-o acreditar que tinha imponência em decidir, sempre redizendo de forma exacerbada:

— O lugar dela é em casa, ajudando você!

Na expectativa que minha pequena sentisse-se menos triste, estimulei-a que fosse junto levar Antônio até a escola, pedido o qual ela aceitou abrindo um grande sorriso. Depois ela ajudou-me a pegar a lousa acomodando dentro de uma pasta que meu senhor marido havia comprado.

Juntei seus lápis de pedra e fiz um lanche de pão com melado, acomodando-o num saco de pão, Maria desaprovando minha exclusiva atenção para com seu irmão, também quis que passasse melado em um pedaço de pão para poder comer no caminho.

Após ceder aos caprichos da pequena, saímos os três a caminho da escola. Enquanto caminhávamos, observei as outras mães levando seus filhos, não pude deixar de não pensar como seriam suas vidas com seus senhores maridos, seria eu a única a sofrer?

Os sorrisos em seus rostos eram verdadeiros ou eram uma máscara amarga ocultando a tristeza vívida e sentida por mim?

Talvez a única coisa importante naquele momento fosse vivenciar a alegria de sua prole, o que eu não discordava, afinal… O sorriso no rosto dos pequenos valiam quaisquer coisas no mundo.

Era um sentimento inusual para a maioria das mães da cidade, suas vidas pacatas e felizes, mas não para mim. Tinha o sentimento de que todas eram tratadas como se utilizassem um cabresto, guiadas por seus donos, senhores maridos.

Eu era uma exceção em um mundo onde as mulheres que estudavam e liam, não eram bem quistas na sociedade.

Lembro de meu pai torcer o nariz ao me ver debruçada em livros, por isso não gostava de me ver conversando com nossa vizinha, a dona Isaura.

Segundo palavras dele, ela gostava de infucas e de encher-me a cabeça com bestices. Mas as sensações foram tão libertadoras que ainda consigo lembrar-se daquelas tardes, hoje tão distantes.

O cheiro das rosas que coloriram a entrada da casa, o tom azul do céu sem nuvens que muitas vezes, deitada no chão, eu imaginava onde se escondiam as estrelas, mas também não consigo esquecer dos resmungos pechosos de meu pai.

— És um disparate o que essa senhora faz conosco, Emília!

Eras o que vivia repetindo feito um tagarela lamurioso para minha mãe, que limitava-se a dizer:

— Deixe-a em paz, Murilo!

O velho Murilo era demasiado teimoso, mas apesar do seu jeito resmungão, sempre acabava ouvindo mamãe e por isso sou eternamente grata a ela e a dona Isaura, sem elas eu provavelmente estaria usando o mesmo cabresto, sendo condicionada a olhar apenas para frente e nunca para o lado.

Sentia não poder fazer o mesmo por minha filha, e me culpava por ser tão fraca, talvez tenha perdido-me no caminho, mas bastava começar a encontrar-me. Por outro lado, ver meu filhote em seu primeiro dia de escola, era um orgulho, o que de certa forma acabou equilibrando o meu pesar.

Francisco havia frequentado a escola até aprender o básico, sabia ler e escrever com certa dificuldade.

Tinha herdado do pai uma quantia irrisória de dinheiro o qual usaste em mobílias para nossa casa, então tinha uma certeza calmante, Antônio seguiria o caminho contrário do pai e teria de ter diligência com os estudos.

Após uma boa caminhada, chegamos na escola que ficava próximo da pracinha da cidade, era uma casa antiga com uma única janela de madeira, dei uma rápida espiada para dentro e vi algumas cadeiras lado a lado e uma separada, que devia ser da professora.

Quando voltei a atenção ao redor, comecei a perceber que parcamente, haviam mães acompanhando seus filhos e as poucas que ali estavam, nos olhavam com cupidez.

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Comments

Valdirene santos

Valdirene santos

tapa do senhor meu demônio 👿 isso sim não marido

2023-07-02

1

Alynne Andrade

Alynne Andrade

antigamente era complicado a mulher sempre na desvantagem.

2023-05-12

0

Sophy

Sophy

Aí pequena Maria 😒

2023-05-02

1

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