CAPÍTULO 3

Quando chegamos em casa, fiquei surpreendida com a presença de Francisco. Logo percebi que ele havia bebido e estava bêbado, novamente… Confusa, perguntei-lhe o motivo de estar ali essa hora do dia.

— Aconteceste algo? Não eras para estares na lavoura?

— Cale-se! — Respondeu com a voz embaralhada.

Fui recepcionada com um tapa no rosto, ignorando a pergunta feita, disse que a comida feita por mim estava ruim e que não era de minha alçada o que ele devia ou não fazer. Então continuou...

— Tantos anos casados e não aprendeste ainda a cozinhar? Sua imprestável. — Sua voz embaralhada com seu hálito de álcool fazia-me ter nojo.

Mandei as crianças para o quarto, de certa forma estavam acostumadas com aquilo, pois não questionavam mais, apenas iam. Chorei e fui para nosso quarto lamentando o fato de estar casada com esse alcoólatra.

Definitivamente não era um casamento feliz. Foi um casamento de certa forma arranjado, conhecia-o por brincar na fazenda de meus pais, acabamos fazendo amizade e depois criou-se um sentimento entre nós.

Gostava dele e quando ele começou a falar sobre casamento, consenti, mas eu tinha 16 anos e ele 22, não sabia ao certo no que estava prestes a entrar.

Tinha a imatura ideia de que a vida com alguém seria como as novelas transmitidas pelo rádio. Eu sonhava com uma história de amor, mas, minha realidade era muito diferente.

Pior que a agressão física em si, eram as humilhações psicológicas. Tive vontade de desistir da vida, de tudo... Mas achava forças para continuar unicamente por meus filhos.

Confesso que a ilusão de achar que ele mudaria, moldava de certa forma meus sentimentos, pois nos dias seguintes às agressões, Francisco era diferente, era carinhoso e muito atencioso, e eu perguntava-me o motivo de não ser sempre daquele jeito, isso muitas vezes confundia-me e fazia-me sentir-se pior, fazia-me pensar que talvez tivesse culpa, era mui nova e não uma esposa experiente.

Então os dias se passavam, os dias foram virando semanas que depois viraram meses. Quando percebi haviam se passado 8 anos. No meio de tudo isso, as duas gravidezes, que tornar-se-iam a única coisa boa gerada nessa união.

De certa forma eu entendia a pressão em cima de Francisco. Ele sozinho sustentava a casa, poucos na cidade podiam dar-se esse luxo, mas tínhamos uma linda casa, porém humilde. Como fui criada a vida toda na roça da cidade, foi um vislumbre quando me casei, podendo ter minha casa próximo ao centro urbano.

Era um sentimento de representar a vitória de uma mulher da família, não que fosse demérito passar a vida toda na roça, minha mãe havia passado e era devera feliz, mas eu carregava o rótulo da família como a única a ser bem sucedida, como se ter uma casa simples na cidade fosse sinônimo de bem sucedido…

Mas eu mantinha o orgulho, principalmente da minha mãe, e isso dava-me ânimo para sobrevivermos.

Meu pai não se importava muito com isso, tinha sua vida simples, suas posses, suas galinhas e seu porco genovésio, esse que por assombro de todos, fazia parte da família apesar das inúmeras vezes que minha mãe insistiu em matá-lo para fazer um grande boquejo.

Na verdade, para eles aquilo era sinônimo de felicidade, preferiram esconder-se no campo, mesmo podendo ter uma vida na cidade.

Naquela noite peguei no sono enquanto essas lembranças acalentaram meu coração, mas ao colocar a mão no rosto onde havia sido esbofeteada, fez-me chorar e cogitar o impensável, desquitar de Francisco, mesmo sabendo que como mulher, não tinha essa escolha.

Nesses tempos modernos onde as pessoas tinham evoluído e a escravidão parecia ser um problema distante, nós mulheres tínhamos apenas o direito de ficar em casa e cuidar das crianças e do esposo.

Não é que eu achasse isso ruim, mas achava pouco, diria até que bem raso. Talvez eu seja diferente das outras mulheres ou quiça esteja a frente do meu tempo. Talvez os livros que eu tanto li quando criança, graças a vizinha, me encheu de novas perspectivas e vontades.

Todos temos sonhos, mas infelizmente ficamos presas às nossas limitações e realidades. Por mais que eu quisesse ser diferente, de repente me via presa na mesma prisão que qualquer mulher estava. Essa prisão tinha nome e mudava apenas o sobrenome de acordo com cada mulher.

Minha prisão se chamava Casamento e o sobrenome, Francisco!

Entre anseios e sofrimentos, ia seguindo minha vida com pequenas partes de esperança no amanhã. Mesmo que esse "amanhã" parecesse muitas vezes distante, ao menos algumas vezes nos traz pequenos presentes em forma de pessoas educadas.

Seria Dário um desses presentes ou seria uma maldição?

No momento a única coisa que conseguia pensar de verdade era no meu rosto dolorido e no meu coração despedaçado.

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Valdirene santos

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coitadinha quanto sofrimento

2023-07-02

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típico cafajeste

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