Então pude entender o motivo, as crianças eram humildes, não usavam calçado e estavam descalças, algumas não tinham sequer uma lousa em mãos, enquanto as felicitadas por terem, levavam seus materiais em sacos de papel. Maria como sempre atenta a tudo, questionou-me:
— Mãe, por que eles estão descalços? — Maria perguntavas cochichando em meu ouvido.
— Filha, pare de mexericar! Em casa conversamos. — Respondi com um tom firme.
Enquanto chamava a atenção de Maria, uma mulher saiu de uma casa vizinha à escola e se aproximou de todos.
— Boa tarde Crianças e senhoras mães, me chamo Anastácia, sereis a professora das crianças. — Sua fala era meiga, mas imperativa.
Anastácia era uma senhora parda de cabelos grisalhos e usava um vestido cheio na frente e inchado em uma forma de "peito de pombo". Haviam algumas rugas que denunciavam a idade. Tinha uma cintura estreita, que se inclinava de costas para frente e era acentuada por um cinto.
Enquanto falava, um caminhão encostou com cerca de 10 crianças sentadas na carroceria. Todas descalças, sem material em mãos, com roupas sujas e desgastadas. Pularam da carroceria e correram para dentro da escola. Por um minuto fiquei imaginando como todas caberiam lá dentro, então a professora fazendo um aceno com as mãos disse:
— Todos para dentro, pois não quero atrasar-me.
Dei um beijo no rosto de Antônio e então ele correu para dentro com as outras crianças. Eu e Maria fomos caminhando embora, sem perder tempo, ela voltou a perguntar sobre as crianças descalças. Expliquei-lhe que eram pobres, e que seus pais não tinham condição de comprar.
— Mamãe, a senhora podes pegar um dos meus e dares a eles, assim não ficarão descalços.
Sorri, deixando escorrer pequenas lágrimas de meus olhos, enquanto Maria fez-me prometer dar de presente a uma das crianças. Pudera o mundo ter o coração puro das crianças, seria certamente um mundo melhor.
Ao passar na pracinha, meus olhos bateram no banco onde ontem estava sentada na companhia daquele rapaz, o Dário. Subitamente meu coração acelerou, sentindo-me desarrazoada chacoalhei a cabeça de um lado para o outro tentando fazer desaparecer a imagem da mente.
— Estás bem, mamãe? — Perguntou Maria, arqueando as sobrancelhas.
— S-sim filha, por que a pergunta? — Respondi gaguejando.
— Estás a chacoalhar a cabeça, pensei que estivesse enferma ou algo do tipo.
— Fiques tranquila filha, não estou mazelada. — Sorri, mudando de assunto em seguida. — Queres brincar um pouco aqui na praça?
— Sozinha não tem graça mãe. Vamos para casa, assim posso subires na árvore no final da rua e pegar algumas amoras.
— De acordo. — Respondi aquiescendo com a cabeça.
Tinha o costume de cantarolar cantigas com Maria enquanto caminhávamos sozinhas. Era algo que ela gostava, mas tinha vergonha de fazer na frente de seu irmão e do seu pai. Então toda vez que estávamos sozinhas ela pedia para eu começar uma cantiga a qual ela soubesse para assim, cantarmos juntas.
— Vai mãe, comece a cantar uma.
— Deixa pensares... Hmm já sei. Conheces a capelinha do João?
— Não estou lembrada, cante um pouco para mim, mamãe.
— Vou começar. Um, dois, três e já!
Capelinha de melão
É de São João
É de cravo, é de rosa,
É de manjericão
São João está dormindo
Não acorda, não
Acordai, acordai,
Acordai, João!
— Eu não conheço essa, mamãe. Cante outra. — Respondeu levemente decepcionada.
— Tá bom! A próxima é certeza que sabes cantar. Borboletinha tá na cozinha...
— Essa eu sei! — Respondeu-me acompanhando em seguida.
"Fazendo chocolate
Para a madrinha
Poti, poti
Perna de pau
Olho de vidro
E nariz de pica-pau pau pau…"
— Que voz linda, vocês duas tem. — Fomos interrompidas por uma voz masculina.
Fui pega de supetão. Dário sorria gentilmente enquanto estavas encabulada, tentando me recompor.
— Obrigada. Senhor amigo da mamãe. — Maria disse gentilmente. — Sabes cantares também?
— Infelizmente não tenho pendor para isso. — Dário sorria para Maria.
— Hoje estás deveras quente. — Disse tentando recompor-me da acanhação.
— Sim, senhora. Estás abafadiço o dia.
— E tu, estás a andar a esmo? — Precisavas não demonstrar alegria ao vê-lo.
— Estavas voltando do trabalho e não pudes deixares de notá-las cantarolando.
— Minha filha Maria gosta. És algo que gostamos de fazer sozinhas.
— Entendo. Se me permites, deixarei vossas senhoritas continuarem com a sonância. — Disse fazendo uma reverência tirando o chapéu da cabeça.
De canto de olho, espiei Dário indo embora, mesmo com uniforme de trabalho, estavas tão elegante quanto o dia anterior. Sua educação e sua meiguice encantaram-me de tal forma, que fez-me lembrar de ainda existirem homens com brandura.
Continuamos o resto do caminho com mais cantigas. Maria estava particularmente animada, pensei que o fato dela não poder estudar, deixaria-lhe triste, mas para meu assombro, estava tudo bem.
Chegando em casa, levamos um grande susto, a felicidade e as risadas deram lugar para apreensão e nervosismo. Francisco estava no chão, desmaiado e ao lado uma poça de vômito.
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Atualizado até capítulo 78
Comments
Valdirene santos
com certeza é por causa da cachaça, nojento e desumano,
2023-07-02
1
Valdirene santos
a culpa é do Francisco,
se tratasse ela melhor,
não teria espaço pra
pra se apaixonar por outro
2023-07-02
1
ANA LUCIA VANDAM DE SOUZA
Eca 😝 que nojo desse Francisco..podia bem morrer logo,esse agressor maldito!!
2023-06-22
0