Revelações

Passados alguns minutos, quando Wendel, já está pegando no sono, ele escuta alguém bater na porta de vidro na entrada da funerária. Ele se levanta do sofá onde estava cochilando e vai até lá ver quem é. Ao chegar na porta da funerária, se depara com Violeta.

O coração dele dispara.

Violeta Eu posso entrar? (Solta um leve sorriso)

Wendel Entre!

Ao invés de abrir a porta, ela lentamente passa através da porta de vidro, diante dos olhos de Wendel, que fica espantando.

Violeta Essa cara que você faz quando me vê, é muito engraçada.

Wendel Todas às vezes que te vejo, eu não sei o que devo fazer, eu não sei oque devo perguntar. Eu estou habituado a receber visita de vivos, e não de mortos.

Violeta E toda vez que você fala assim, me machuca.

Wendel Mas por acaso eu estou falando alguma mentira? Até hoje, eu não sei porque diabos você está atrás de mim. (Levanta o tom de voz)

Violeta para na porta do escritório, e fica olhando para Wendel, como se estivesse reprovando a atitude dele.

Ele se senta no sofá, e fica olhando para Violeta também.

Wendel Está olhando o quê? (Grita)

Violeta Bati na porta para não te assustar, estou te tratando bem até agora, e nem apareci para você lá no cemitério, também, para não te assustar, e você me trata assim? (Decepcionada)

Wendel Então, você estava lá mesmo no cemitério?

Violeta Você percebeu? (Risos) Tinha eu e mais centenas de espíritos, mas você só sentiu a minha presença.  Parece que temos uma ligação, não é? (Ela se senta ao lado de Wendel)

Wendel, olha para o lado, e olha para ela, muito curioso.

Ele olha as roupas dela, e nota que são diferentes da última vez que ela esteve lá.

Ela, está de mini saia preta, bota preta, cano longo, e meia arrastão. E usa um corselete, preto, e vileta, e apesar de os seios não serem grandes, o corselete, faz os seios dela sobressaírem.

Os cabelos estão longos, e cacheados, e a pele dela é bem morena, como um jambo bem maduro.

Wendel Você, está muito bonita. (Olhando o corpo dela) Você era assim, em vida?

Violeta Sim! Desta forma, deste jeito, que fui amada como nunca, em nenhuma outra vida. (Diz com uma certa emoção na voz)

Wendel_ É? Do que exatamente você está falando? (Curioso)

Violeta pula do sofá, e diz:

Violeta Um dia eu te conto, mas quero saber se posso vir te ver, preciso dessa sua autorização.

Wendel Onde você fica, quando não está comigo? Onde fica a maioria do tempo, vagando no cemitério, ou em algum outro lugar?

Violeta Em um lugar muito sem graça, com pouca luz... As árvores são feias, e dificilmente o sol aparece.

É muito difícil para mim falar disso.

Wendel Violeta, eu te fiz algum mal, você quer se vingar de mim?

Violeta se aproxima dele, e se abaixa diante dele no sofá. Ela vai segurar as mãos dele, mas desiste. Ela olha para ele e diz:

Violeta Não sou um espírito de luz. Mas, também não sou um espírito mal. Estou presa entre mundos, porque eu quero. Eu jamais quero te fazer mal. Por que você não responde minha pergunta?

Wendel Se você pode vir me ver? Pode, sim! Desde que seja aqui, ou no cemitério, porque, eu não quero ser assombrado dentro do ônibus, ou no cinema.

Violeta Se você confiar em mim, aos poucos vou te falando tudo que você precisa saber. Fiquei feliz, porque você me achou bonita.

Wendel Você me disse que você mentaliza a forma que você quer aparecer para mim, então, você estava falando das roupas, ou do seu corpo.

Violeta, se levanta, anda pela sala, e suspira. Ela vira de frente para Wendel, e diz:

Violeta Quantas perguntas, heim? Mas eu vou responder!

Quando a gente morre, se for por acidente, ou algo grave, você pode aparecer para uma pessoa da forma que você morreu, ou com o corpo perfeito. Onde eu estou, estou da forma que morri, pois não fui restaurada. Mas eu posso aparece desta forma para você, porque eu mentalizo, a forma que eu quero que você me veja.

Wendel Você sofreu um acidente?

Violeta Sim! Mas eu não quero falar sobre isso ainda. Eu preciso que você me dê um tempo, para eu ir te explicando umas coisas.

Eu tenho que ir... Mas eu quero te encontrar, fora daqui. Lá na rua principal, perto de onde você mora, tem uma rua, chamada rua da macumba. Onde as pessoas fazem despachos, você sabe onde é?

Wendel Sim! Na entrada da rua fazem os despachos, é uma rua de terra. Lá no final, tem um monte, e um rio no pé do monte.

Violeta Isso, exatamente!  Tem uma árvore grande na beira do rio. Quando tiver se escurecendo no domingo, eu vou estar lá embaixo da árvore te esperando.

Wendel Tem algum motivo especial?

Violeta Você tem outra coisa melhor para fazer? Tem encontro com alguém?

Wendel Não!

Violeta Então, te peço, que você vá! Por favor?

Wendel Ok! Eu vou!

Violeta_ Tchau!

Violeta, entra no banheiro, e Wendel, se levanta, e quando entra no banheiro, ela já não está mais lá.

No dia seguinte, Wendel, conta todo acontecido para o pessoal do centro.

Alan Ela está numa espécie de Umbral. E pelo jeito, ela não quer sair de lá.

Wendel Umbral?

Alan Sim! O Umbral, é um lugar, onde pessoas que não desapegaram da matéria completamente ficam. Tem vários tipos de Umbral. Para pessoas violentas, pessoas muito ruins, e para pessoas que não são tão ruins. No caso dela, dá para perceber, que está em um local de castigo leve. Ela não deve ter cometido perversidades, pode ser que esteja lá por motivos emocionais.

João Tem pessoas que vão para o Umbral, por causa de avareza, por causa de vícios... E não ficam sofrendo muito, porque, na verdade, prejudicaram a si mesmas. Cada pessoa no fim tem o Umbral que merece, entende?

Wendel Estou entendendo. Um assassino, nunca ficará no mesmo umbral, que um pai que não reconheceu seus filhos, ou no umbral de alguém que roubava para comer, correto?

Alan Justamente!

Wendel Ela também me falou que morreu de acidente.

João Queimada!

Wendel O quê?

João Morreu queimada em algum incêndio. Nas minhas visões, quando estava com a luva dela, senti o cheio de carne queimada, e vi o fogo. Mas não vi o rosto dela.

Wendel Então, é isso! (Pensando)  Mas e o tal Guilherme, que ela chamou na sua visão?

João Talvez, seja você mesmo!

Wendel_ Como assim?

Continua...

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