> A noite na casa dos Louis tinha sido agradável. Até o momento, ninguém havia se atrevido a destratar Aurora na frente da vovó Mariana, então ela ficou mais calma e aproveitou a refeição servida a ela.
Assim que o carro de Henry estacionou de volta na garagem de casa, ela já sabia o que iria acontecer — e isso lhe causava uma amargura no peito.
— Sobe e se arruma. Daqui a pouco estou indo. — Ele disse, saindo e deixando Aurora sozinha no carro.
Ela olhou para frente, e seu motorista a encarou com um olhar de pena. Esses olhares, ela sabia, jamais esqueceria.
E assim ela fez. Passou pela sala e viu Henry no bar da casa, bebendo seu scotch escocês. Subiu para o quarto, tomou banho, retirou toda a maquiagem, deixou os cabelos soltos, passou seu perfume preferido, vestiu uma camisola branca e sentou-se na beira da cama, esperando.
Duas horas depois, a porta do quarto se abriu, e ela viu Henry, bêbado, entrando. O cheiro de álcool podia ser sentido de longe. Seu estômago embrulhou.
— Pelo menos assim fica mais fácil.
As mesmas palavras que ele dizia há seis anos.
Apesar da repulsa e da dor em seu corpo, Aurora não disse nada. Apenas ficou esperando aquele tormento acabar. Muitas vezes, orou pedindo para que Henry simplesmente broxasse, só para ter um pouco de paz. Mas, infelizmente, ele era viril demais.
Assim que chegou ao fim do orgasmo, ele caiu exausto na cama. Ela se levantou e foi ao banheiro. Em meio à dor física e à água quente do chuveiro, deixou que as lágrimas lavassem também a angústia da alma.
Por quanto tempo ainda teria que suportar aquilo? Por quanto tempo ainda viveria sofrendo? Era o que sempre se perguntava.
Quando terminou o banho e saiu, deparou-se com Henry sentado em uma poltrona ao lado da cama.
— Vamos esperar pra ver se dessa vez você engravida. Se não der certo, vou te levar ao exterior pra ser examinada por outro médico.
— Eu já te disse... eu não tenho problema nenhum. Só não aconteceu ainda. — Disse em um tom quase sufocado.
— Você quer dizer que o problema é meu?
Ele falou, saltando em sua direção. Ela se assustou e foi empurrada contra a parede.
— Eu... eu não disse isso...
— Não me importa. O problema não é meu. Além de minha avó te comprar, ainda te comprou com defeito.
— Henry, por favor... — ela disse, chorando.
Essas palavras rasgaram o coração de Aurora, que começou a chorar ainda mais.
Henry a soltou, e ela caiu no chão.
— Como pode ser tão falsa? — Ele disse, indo em direção à porta.
Assim que ouviu a porta bater, ela desabou. Chorou e chorou.
Quantas vezes isso já havia acontecido? Quantas vezes desejou morrer? Quantas vezes só queria que a dor acabasse?
Depois de um tempo ali, caída no chão e sozinha, teve certeza de que Henry não voltaria mais. Levantou-se e foi até o closet. Em uma gaveta escondida, no fundo, estava o remédio anticoncepcional. Tomou ali mesmo, para não ter o azar de encontrar alguém no caminho.
Aurora sabia que, se trouxesse um filho ao mundo, ele sofreria tanto quanto ela — e isso era inconcebível.
Depois de engolir o remédio, voltou e retirou todos os lençóis da cama. Assim, não sentiria o cheiro dele, nem do álcool impregnado. Deitou-se e ficou pensando em como toda a dor poderia acabar... e acabou adormecendo.
Ao amanhecer, seu corpo ainda sentia as dores da noite anterior.
"Maldito Henry Louis." — pensou.
Depois de se levantar e se arrumar, desceu até a cozinha para tomar café.
— Bom dia, senhora... O senhor Louis pediu pra avisar...
— Eu sei, Sal. Eu sei. Me faz um favor, arruma uns analgésicos. Os meus acabaram.
— Sim, senhora...
Salete a olhou com pena. Todos os funcionários sabiam o que ocorria a cada dois meses na casa dos Louis.
Aurora tomou os analgésicos e se sentou para tomar café em silêncio, de cabeça baixa. Tinha vergonha de todos. Mas antes de terminar, seu telefone tocou — e pelo som, ela soube quem era.
Sabrina Parker, sua amiga de infância. Elas cresceram juntas, estudaram juntas. Tudo o que acontecia na vida de Aurora, Sabrina sabia. Sabia sobre a "venda", o casamento de fachada e sobre a dor que Aurora sentia toda vez que estava com Henry.
— Rory gostosa do cacete! Feliz aniversário atrasado! — ela gritou no celular, fazendo Aurora rir.
Sabrina estava no Japão, em uma apresentação de dança. Ah, Sabrina...
As duas fizeram a mesma faculdade de dança, com a única diferença de que Sabrina era livre. Podia ir para onde quisesse.
— Bibi... que saudades...
— Me desculpa por não ter ligado ontem, mas aqui está uma correria.
— Não se preocupe...
— Mas me diz, por que essa voz baixa, Rory?
— Nada...
— Aquele desgraçado me paga! Assim que eu voltar pra Salt Lake City, vou ter uma conversa com aquele idiota. Babaca. Filho da puta!
— Não, Bibi. Deixe como está.
— Não, Rory. Seis anos e ele ainda te trata como lixo. Larga ele e vai ser feliz.
— Não é tão fácil assim...
— É sim! Olha, meu amigo Christian está indo pra cidade. Ele é advogado. Por favor, conversa com ele.
— Bibi, por favor...
— Rory, eu já te disse: você é uma bailarina fantástica. Tenho certeza que o Alfred vai te receber de braços abertos na companhia. A dívida nunca foi sua — foi da cobra. Se liberte, minha flor.
Depois de mais alguns minutos de conversa, Sabrina desligou.
Mas deixou em Aurora uma ponta de esperança.
Será que era fácil assim? Será que sua vida poderia mesmo ser melhor sem Henry?
Aurora confessava para si mesma: um dia, amou Henry perdidamente. Sempre fez de tudo para que ele viesse a amá-la de volta. Mas, após dois anos de casamento — e dos constantes insultos e humilhações — o encanto se desfez. E o amor... deu lugar à dor.
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Atualizado até capítulo 85
Comments
Aldenora Tavares
começando ler agora mas tomara que ela se divorcio desse monstro que trata a mulher como lixo
2025-02-19
2
Eliana Fazano
olha tantos anos de humilhação acho difícil perdoar ......mas tem burro pra tudo né 🤔
2025-04-25
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Jane Negrinha Joner
coitada tem que deixar ele
2025-01-20
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