O desespero de um dia especial

Nina

Aqui estou eu, parada enfrente ao espelho me olhando vestida de noiva. Não posso negar que o vestido é lindo, digno de uma princesa, e ele representa bem o que dinheiro que o meu pai tem pode comprar: luxo, status, mas não a minha felicidade. Eu mal me reconheço sob toda essa maquiagem que fizeram em mim, não que eu esteja feia, mas não estou acostumada a usar essa quantidade de produtos está no meu rosto, se eu suar um pouco, tenho a impressão que vou derreter.

_ Essa maquiagem não é muito exagerada? Pergunto a maquiadora que se aproxima com mais produto no pincel para aplicar em mim.

_ Não está exagerada, você está linda é essa maquiagem é de primeira qualidade, pode deixar a emoção fluir sem medo e chorar o quanto quiser que não vai borrar. Fala a maquiadora passando o pincel pelo meu rosto. _ Se não estiver gostando da maquiagem, tem que falar com a sua mãe. Fala a mulher sem saber que Joana não é minha mãe de verdade, ela é apenas a mãe de Anne, a minha meia irmã, que agora está parada na porta com um sorriso debochado no rosto, olhando para mim como se tivesse se divertindo, sei que tem dedo dela nessa história.

Olho para maquiadora que segue cuidando de mim, e eu realmente espero que essa maquiagem seja boa e durável, porque o que eu mais quero nesse momento é chorar, e sei que vou chorar pelo destino que não escolhi e que está sendo imposto a mim, tenho vontade de fugir, mas eu sou covarde e não farei isso, tenho medo de perder tudo o que estou conquistando. Faltava apenas um ano para eu me formar e depois disso, eu estaria livre da minha família. Mas tudo mudou... Agora estarei presa durante um ano a alguém que eu nunca vi antes, que não sei se me respeitará, tremo por dentro só de imaginar ser tocada por ele contra a minha vontade.

É nessa hora que sinto mais saudades da minha mãe, foi tão triste perdê-la tão repentinamente. Por que ela tinha que ser atropelada e me deixar com meu pai? Nós éramos tão felizes juntas... Nunca me esquecerei de como ela era doce e amorosa, e de todos os conselhos sensatos que me deu. Lembro até hoje do  último conselho quando estava no leito hospital: ***"busque ser feliz, mas não faça o mal em nome da sua felicidade, o dinheiro é importante, mas não é tudo nessa vida. Sabe que o seu pai é rico, mas a família dele é egoísta, vão querer te fazer mal por causa desse dinheiro, então não queira esse dinheiro, você não precisa dele, ele lhe trará apenas infelicidade... Mas durante o tempo que estiver com a família do seu pai, aproveite as oportunidade que o dinheiro pode facilitar, ele te ajudará muito no  seu crescimento pessoal,  por isso estude, aprenda várias coisas, se qualifique e seja livre deles, seja independente..."***Falou de forma desesperada e de certa forma contraditória antes de morrer, mas eu compreendi o que minha mãe quis dizer.

Era o que eu estava fazendo, aprendi dois idiomas, fiz vários cursos, estudo em uma das melhores faculdades do país, tudo pago pelo dinheiro do meu pai, apenas isso faço questão de ter dele, pois amor eu ja desistir de ter, ainda mais agora que ele está me obrigando a casar.

Quando penso que faltava apenas um ano para eu me formar... faltava pouco tempo para eu ser livre e ter a vida que eu quero e mereço, eu me desespero diante do que vai acontecer. Continuo olhando para o espelho me vendo vestida de noiva, sem me reconhecer, sentindo as lagrimas pesarem nos meus olhos, será impossível conte-las. Parece que esse ano será o ano mais longo e triste dos 21 anos que eu já vivi. Vejo um clarão na janela e em seguida um forte trovão que parece confirmar o que sinto.

Henry

Olho para a janela e vejo que a chuva não para cair do lado de fora. Quem gostaria de casar em dia como hoje? Acabo me fazendo essa pergunta. O curioso é que parece que o tempo sabe que estou com ódio do dia de hoje, o dia do meu casamento. Odeio a ideia de ter que casar por causa de dinheiro, sinto raiva por me casar com alguém que não conheço, que nunca vi, e que já ouvi diversas histórias a respeito que eu não gostei de saber de nenhuma. E para piora a situação, a minha futura esposa está grávida.

Sempre gostei de criança, mas nunca imaginei que teria que ser pai do filho de outro homem. Essa mulher deve ser frívola, um patricinha metida, ou como o meu amigo disse que ela é conhecida nas boates, a princesa do sexo. Quem diria que a filha de um homem conservador com o excelentíssimo juiz Rui Albuquerque é, fosse ser conhecida dessa forma. Se ela acha que vai conseguir me seduzir está muito enganada, dela eu quero distância.

Eu deveria ter insistido mais com o meu pai até que ele permitisse que eu colocasse as minhas ideias em prática, tenho certeza que conseguiria salvar a empresa em menos de um ano. Só porque eu tenho 25 anos de idade, meu pai não me considera capaz de reerguer a empresa, já que ele com mais 25 anos experiência no ramo da construção civil não conseguiu fazer isso. E o qual a solução que ele encontrou? Aceitar o dinheiro daquele homem e eu me vi obrigado a me casar com essa mulher.

Esse será o pior ano da minha vida, eu tenho certeza. Digo me olhando para fora através da janela.

Estou na casa dos meus pais, resolvi me arrumar aqui para ir direto para igreja que fica distante do meu apartamento e perto da casa deles. A que ponto chegamos, terá casamento na igreja, e isso me desanima mais. Escuto alguém bater a porta do quarto e quando a porta se abre, vejo minha mãe entrar, ela está linda e elegante trajando um vestido longo na cor azul marinho.

_ Não sei para que a senhora se arrumou tanto para ir ao circo. Digo e vejo que minha mãe faz cara feia.

_ Não fale assim do seu casamento.

_ Mas eu sinto que estou em um verdadeiro circo, e eu sou o palhaço triste. Minha mãe se aproxima acariciando o meu rosto como sempre fez, desde que eu era criança e estava triste por algum motivo.

_ Vai ficar tudo bem, um ano vai passar voando e em breve você será livre novamente, livre para amar quem você quiser, para se casar... e eu vou querer muitos netinhos lindos como você.

_ Ah dona Lúcia, fala assim porque é minha mãe e está tentando me animar.

_ Não, falo assim porque é verdade. Diz me dando um beijo carinhoso na face. _ Agora termine de se arrumar. Diz olhando para o terno que ainda estava sobre a cama. _ Suas irmãs e seu já estão prontos, só falta você, sabe que o noivo não pode chegar atrasado na igreja, é feio. Fala saindo me deixando sozinho.

Respiro fundo, já que não tem outro jeito, começo a me vestir.

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