O que você está fazendo aqui

Estava ansiosa para acabar a faculdade, finalmente poderia viver do que eu amo que é cuidar dos animais, nunca mais precisaria fazer programa e poderia tentar ser um pessoa normal, felizmente amanhã será minha formatura. Desde aquele dia que fui buscar Jéssica na empresa que ela trabalha, nunca mais tive contato nenhum com Pedro, eu estava assustada, sei que ele não vai me procurar e isso me tranquiliza mas também me faz sofrer, sinto falta dos toques dele e dos nossos momentos de intimidade, depois do acidente, eu como uma boba me iludi pensando que estávamos nos apaixonando mas a única que estava se apaixonando era eu. Hoje por sorte só tenho um cliente o último cliente e ele me contratou apenas para lhe acompanhar em jantar, sim as vezes sou contratada apenas para isso, na maioria das vezes são pessoas solitárias e que só querem conversar e serem ouvidas. Me vesti com um lindo vestido de paetê dourado e um salto alto com amarração em um tom bege, peguei minha bolsa clutch e sai, esperei ele a dois quarteirões de onde eu moro, após um tempo esperando, uma BMW 230i parou perto de mim, o vidro se abaixou e nele havia um homem de meia idade.

Armando:

Ele estava vestido com um lindo terno preto sobre medida e com um sorriso muito encantador, ele não era de se jogar fora, logo ele me cumprimentou e se apresentou como Armando Pirelli, eu entrei em seu carro, fomos direto para o restaurante que ele havia reservado, era um lugar fino e sofisticado, por sorte eu tinha me vestido a altura. Nos sentamos na mesa reservada e logo ele começou a puxar assunto comigo:

-" Você é muito bonita sabia." Sorri e o respondi:

-"Muito obrigada, fico lisonjeada com seu elogio."

Não demorou muito o garçom apareceu para saber se já queríamos fazer nosso pedido, foi nesse momento que vi Pedro entrando no restaurante com uma mulher e um menino pequeno que parecia ter uns seis a sete anos, meu corpo gelou assim que aqueles olhos negros pousaram em mim, tentei disfarçar e fingi que não tinha o visto, sorri para Armando que já estava havia escolhido seu pedido:

-" Você está bem, aconteceu alguma coisa? O que você vai querer?" Com sorriso forçado o respondi gaguejando:

-" To- tô bem, vou querer o mesmo." Ele olhou para o cardápio e então perguntou:

-" Você gostaria de beber um vinho?" e eu respondi:

-" Sim, se você me acompanhar."

Ele sorriu e falou para o garçom trazer um Château Petrus. Não sabia nem que vinho era esse, na verdade nunca fui muito de tomar vinho então não era de se esperar que eu soubesse. Dei uma olhada por alto e vi Pedro em uma mesa um pouco distante da nossa, ele me encarava friamente, tentei seguir minha noite fingindo que ele não estava ali. Armando e eu conversamos bastante em quanto tomávamos vinho e aguardava a comida chegar, era agradável conversar com ele, tudo fluía bem, algumas vezes ele pegava em minha mão e eu ficava desconfortável mas era meu trabalho. Quando os nossos pedido chegaram, comemos e assim que terminamos o garçom veio recolher os pratos, achei melhor ir ao banheiro retocar a maquiagem. Antes mesmo de entrar no banheiro senti algum segurando meu braço e me empurrando para dentro, escutei a porta atrás de mim sendo trancada e quando olhei vi Pedro em minha frente, fiquei assustada, eu não estava o seguindo e não tinha como eu saber que ele estaria aqui essa noite. Ele então começou a dizer visivelmente irritado:

-" O que você está fazendo aqui com aquele cara?" Eu respondi com medo dele achar que eu estava o seguindo:

-" Ele é um cliente, me contratou para jantarmos, não sabia que você estaria aqui." Ele falou em um tom dominante:

-" Vamos embora agora."

Fiz uma cara de irritada e antes que eu pudesse dizer algo ele começou a beijar, eu fiquei sem reação, após um tempo só corresponde seu beijo, nosso beijo era quente e intenso, e tinha saudade nele. Após uns minutos se beijando acabamos ficando sem ar e então paramos de se beijar e ficamos nos olhando, eu estava muito confusa, uma hora ele era carinhoso, depois ele me ameaçava e outra hora ele me beija como se nada tivesse acontecido. Não sou brinquedo e não quero estar nessa confusão que ele faz eu sentir, quando voltei a realidade eu falei já fora de mim:

-" O que você quer de mim? tá entediado e quer ficar de joguinho? Não tô afim de participar disso tá okay, eu tenho sentimentos também." Quando estava preste a sair ele colocou a mão na porta me impedindo de abrir e segurou novamente, ele fechou os olhos e respirou fundo, com um tom de voz suave ele falou como um desabafo:

-" Você não entenderia." O olhei esperando que ele continuasse, mas ele não falou mais nada, então eu dei uma risada de cansaço e falei:

-"Já que você não está disposto a tentar me fazer entender então porque não me deixa ir."

Ao falar isso simplesmente me soltei de suas mãos e sai do banheiro, parecia que eu tinha deixado meu coração ali, como eu pude envolver tanto sentimento uma relação que eu sabia que não tinha futuro, estava apaixonada sozinha. Quando voltei para a mesa Armando pareceu percebe que eu não estava bem e voltou a pergunta:

-" Você está bem ? você me parece um pouco abalada." Eu já não estava no clima então o respondi:

-" Estou com um pouco de dor de cabeça." Armando era um cavalheiro então ele fez um sinal com a mão e o garçom rapidamente veio até nossa mesa, ele então pediu a conta e fomos embora. Dentro do seu carro não trocamos uma palavra, só ao chegar no local onde ele havia me buscado que ele voltou a falar:

-" Chegamos, percebi que você não quer conversar sobre o que aconteceu, espero que você fique bem." Forcei um sorriso e o respondi:

-" Obrigada pela compreensão." Ele então pegou em minha mão e falou de forma amorosa:

-" Espero que possamos ter outras noites como essa, me deixa te conhecer melhor, não como cliente como amigo e quem saber também como amante."

Fiquei um pouco sem graça, eu já estava saindo dessa vida e provavelmente não atenderia mais, seria um pouco difícil nos vermos novamente, após pensar um pouco o respondi:

-" Acho difícil, estou saindo dessa vida, esse foi meu último trabalho." Ele não insistiu muito, então me deu um cartão com seu número e falou:

-" Entendi, não vou insistir muito, mas aí está meu número, caso você mude de ideia ou precise de mim não hesite em me procurar."

Assenti com a cabeça e logo me despedi e somente quando seu carro se afastou que comecei a caminhar para ir para casa.

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