Capítulo 4. Desconfiança

Deixou as lembranças de lado e sentiu sua loba se revirando dentro dela e sabia que seus instintos animais estavam alertando da mesma suspeita que tinha. Tranquilizou-a, traçando um plano, que surpreenderia a serva. Tratou de comer, mas antes, cheirou bem tudo e sentiu um cheiro estranho, justamente na carne, o principal alimento dos lobos, jogou-a no canto escuro da cela e comeu o restante.

            Quando a serva voltou com o cesto, já era noite novamente e a maior parte da cela estava escura. Ela abriu, entrou com a cesta e colocou a bebê dentro dela, vendo o vulto da mãe no escuro e esperando que ela a seguisse, só não esperava pelo monstro enorme que apareceu. A loba estava na sua forma crinus, meia lobo, meia mulher e pulou sobre ela sem lhe dar chance de reagir e lhe arrancou a cabeça fora.

           Uma névoa preta e fedorenta saiu de dentro do corpo da serva, pelo pescoço desmembrado e flutuou no ar, a lobisomem rosnou, soltando sua dominância, criando um escudo de proteção para as duas e a fumaça voltou para o corpo. 

            A lobisomem pegou o cesto e saiu da sela, caminhando pelo corredor. Deparou-se com dois seguranças desacordados e viu uma tocha na parede. A parte humana dentro da forma animalesca, instruiu que pegasse a tocha e voltasse para queimar o corpo daquela, que na verdade, era uma bruxa e ela fez exatamente isso, observando o corpo queimar rapidamente e depois saiu.

            A parte do ritual, que a bruxa contou, era verdade e ao ouvir o som de tambores no interior da floresta, se dirigiu para lá. Guiada pelas chamas de uma grande fogueira, parou atrás de algumas árvores e arbustos, para observar o que faziam. Pousou a cestinha no chão oculta entre os arbustos e prestou atenção no que o líder falava.

— Hoje é o grande dia, nossa Luna voltou para o sacrifício derradeiro. A bruxa serva foi buscá-la e logo poderemos completar o ritual. Tragam as filhotes, começaremos por elas. — Ordenou o Alfa.

            Ela viu que havia um altar sacrificial e outras duas bruxas paradas, uma em cada ponta, prontas para sacrificar as crianças que estavam trazendo. A fileira de menininhas, lindas, com menos de três aninhos e vestindo um vestidinho branco simples. Descalças e despenteadas, pareciam desnutridas e maltratadas.

— "Então é para isso que querem filhotes, sacrifícios? Mas para que?" — Pensou Leona.

— " Deve ter algo a ver com bruxaria e poder". — Respondeu a loba.

— "Então, agora você fala?" — Perguntou Leona, sendo irônico e a loba resmungou, continuando a observação. 

            Pela aparência do altar, já tinham executado muitos sacrifícios ali. Havia uma mesa baixa e estreita, com uma curvatura em uma das extremidades, que pelas marcas de sangue escorrido, indicava o apoio para o pescoço sofrer o corte. Por trás da mesa, havia um espaldar em arco, com vários crânios pequenos nas bordas, indicando serem infantis.  

           As meninas, algumas chorando, sem ter a mínima ideia do que estava para acontecer com elas, ficaram paradinhas em fila, esperando para serem sacrificadas. Ao ver aquilo, o estômago da fera se embolou e ela rosnou, atraindo o olhar de alguns lobos que faziam a segurança. 

            Ela esperou eles virem verificar o que estava acontecendo e quando passaram por ela, que se agachara, levantou-se e com um salto sobre eles, cortou com suas garras, seus pescoços, arrancando suas cabeças. Voltou a sua área de observação e viu que não podia mais perder tempo e rodeou o lugar, até ficar atrás do altar.

            Deu um urro terrível e alto, empurrando com as mão o espaldar que caiu arrastando tudo. Aproveitou o susto e agarrou as duas bruxas, uma com cada mão, cravando as garras em seus crânios, quebrando-os e jogou-as na fogueira, onde arderam nas chamas altas, gritando sons pavorosos. Os guinchos das duas mulheres, assustou as crianças, que começaram a chorar alto e tudo virou um pandemônio.

            A fera mirou o Alfa, que já comecava a se transformar, mas não conseguiu completar a transformação, pois um lobo enorme e negro, pulou sobre ele, mordendo-lhe o ombro e outros diversos lobos invadiram o local. A clareira, logo ficou coberta de sangue e a lobisomem, logo estava ajudando o lobo a despedaçar o Alfa e juntos, jogaram as partes na fogueira.

            As crianças foram retiradas dali, mas Leona não viu quem foi que as levou, só percebeu que os invasores estavam vencendo a luta e aproveitando a distração do Alfa, correu para onde deixara sua filhotinha e encontrando a cesta, transformou-se na loba e pegando a alça da cesta com suas mandíbulas fortes, correu para longe daquele lugar.

            Sabia que precisava sair dali o mais rápido possível e sem deixar rastro, então deixou sua loba no controle e passou várias vezes pelos rios que encontrou, se lavando e também se esfregou na lama e em plantas que exalam aromas fortes. Ao amanhecer, a loba parou, cansada e Leona voltou a forma humana.

            Sua bebê dormiu durante todo o percurso percorrido, mas agora começou a acordar, resmungando. Olhando a sua volta, Leona percebeu que estavam em um pequeno aclive descampado, no meio da floresta e avistou uma cabana, logo abaixo.  Sua loba parou em um bom lugar, deixando-as amparadas

            Leona desceu rápido o morro e chegou na cabana, precisava urgente de um lugar para amamentar sua filhotinha. Rodeou a cabana, percebendo os odores e constatou que não havia ninguém ali, há muito tempo pelo que percebeu, então empurrou a porta, que se abriu facilmente e entrou.

            Olhou em volta e encontrou um sofá de frente a uma lareira, coberto por um lençol. Embolou o lençol com cuidado, para evitar espalhar a poeira que estava sobre ele e colocou-o de lado. Sentou, tirou sua bebê do cesto e envolveu-a nos braços, levando-a ao peito. Ela sugou com força e depois de um tempo, tranquilizou-se.

            Depois que a bebê terminou de mamar e arrotou, voltou para o cesto e Leona foi examinar o imóvel. Precisava encontrar, urgente, roupas para si e para a bebê, que estava toda suja pelos próprios dejetos. Abriu uma das janelas, para que entrasse ar fresco e iluminasse melhor o recinto.

Mais populares

Comments

Elenita Ferreira

Elenita Ferreira

Já gostando!!👏🏾👏🏾 Emoção 💓💓 no início da obra, significa que teremos Mais!!!👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾

2025-03-25

0

Ana Regina Fernandes Raposo

Ana Regina Fernandes Raposo

E VERDADE A MÃE E PRA LUTAR PELO FILHO.

2025-01-09

0

Mellika Duarte

Mellika Duarte

e o pai da criança

2025-01-14

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!