Quando Eu Voltar

Quando Eu Voltar

Capítulo 1. Introdução

A chuva não caiu, despencou do céu. Torrencial e gelada, atingindo com força quem estivesse, por descuido, fora de um abrigo qualquer. Era o caso da mulher que corria pela rua, segurando a barriga volumosa de uma gestação avançada, quase no final.

O seu desespero era tanto, que não sentia o peso das gotas grossas, algumas congeladas, que batiam em seu corpo. Acabou de ver seu marido ser assassinado, sua casa destruída e apenas por um descuido dos assassinos, conseguiu fugir.

            O medo a fez sair da rua e adentrar a reserva florestal, cercada por uma cerca de arame farpado, a qual ela pisou em uma das cordas, forçando-a para baixo e a de cima, afastou para cima o máximo que pode. Passou uma perna pelo espaço que conseguiu abrir, depois o corpo, arrastando a barriga imensa, pelas farpas do arame, arranhando sua pele e rasgando seu vestido, mas conseguiu passar.

            Parou um instante, com as mãos apoiadas nas coxas e segurando a barriga, respirou sofregamente. Ao se erguer, reparou em um pedaço do tecido, preso no arame e retirou. Sempre via nos filmes policiais, que ficava um vestígio para trás, que dava aos bandidos ou a polícia, a direção de por onde foi o fugitivo. Olhou em volta e iniciou a andar novamente, tomando o cuidado de pisar onde tinha relva, para não escorregar na lama e nem deixar pegadas.

            A mata começou a ficar mais densa, conforme adentrou na floresta e sentiu-se perdida. A chuva continuava a cair e relâmpagos cruzavam o céu, pareciam ver seu desespero e a seguiam de perto, pois sentiu que um deles caiu bem próximo e o barulho do tronco de uma árvore rangendo, lhe deu a certeza de que poderia ser atingida a qualquer momento. Parou a caminhada para olhar em volta e percebeu que as árvores eram bem altas e apesar de ainda ser dia, ali dentro da floresta, parecia noite, de tão escuro que estava.

        Seus olhos alcançaram o caminho secreto entre as árvores e se dirigiu para ele, alcançando, finalmente, o caminho para o que ela considerou ser a chance de segurança, onde conseguiria proteção para si e para sua filha. Continuou andando, tentando ser o mais rápido possível, pois sentia que os homens continuavam atrás dela e não demorariam a encontrá-la, caso não conseguisse ajuda urgentemente.

           Ouviu um som miúdo, de folhas se mexendo, diferente das movidas pelo vento, eram eles. Sabia que eram eles, só não sabia como a receberiam. Saiu de lá escorraçada pelo líder, havia nascido uma fêmea, ele queria um macho e queria que obedecesse a ele em tudo. Sua mãe morreu quando ainda era pequena e assim que alcançou a maior idade e mostrou ser inferior a todos, por ser gentil, calma e não uma guerreira, seu pai a deu em casamento para um empresário humano e como ela não aceitou, a expulsaram.

           Observavam ela e a direção que tomou, confirmando que ia de encontro a região de domínio deles. Mas no caminho, o grito dela paralisou tudo, incluindo eles e todas as criaturas da floresta. Aqueles que a perseguiam, também ouviram e seguiram a direção de onde o grito veio.

         A mulher se agachou, segurando a barriga e sentiu o líquido amniótico escorrer por suas pernas, sinal de que o bebê estava nascendo. Outra contração chegou e mais um grito ela deu. Os observadores perceberam a vinda dos perseguidores e se puseram ao redor, para impedi-los de se aproximarem.

            A mulher continuava agachada, sentindo os movimentos de contração de seu ventre e do bebê. Estava no tempo certo, mas considerou que os movimentos exagerados por causa da fuga, adiantaram o parto. Mais um grito e sentiu sua musculatura expulsar aquela que veio ao mundo berrando, ao invés de chorar, parecia sentir o perigo e se manifestava do único modo que sabia.

            Um dos observadores se aproximou rapidamente, cortou o cordão umbilical com seus dentes e pegou a criança,  saindo correndo com ela e deixando a mãe, cansada e histérica, gritando em desespero por sua filha. Não percebeu que todos os outros observadores, o seguiram, deixando seus perseguidores a alcançarem.

            O maior deles olhou para ela e depois virou para olhar na direção que os raptores seguiram. Examinou a sua volta, verificando onde estavam, conhecia aquele lugar e o povinho que vivia lá e preferiu não ir atrás. Olhou de volta para a mulher, que parou de gritar e olhava para ele, apavorada com o que ele poderia fazer com ela.

— Macho ou fêmea? — perguntou ele.

— Fe  fêmea…

— Menos mal. — disse ele.

            A mulher foi erguida e posta nos braços de um outro homem truculento, que se virou voltando pelo caminho que vieram.

— Sugiro que fique quieta, não lhe faremos mal. — disse o primeiro homem.

             Ele olhou mais uma vez para a floresta e fez uma promessa a si mesmo, não descansaria enquanto não recuperasse aquela pequena  fêmea. Seguiu os outros que já sumiam de vista, em direção aos carros. Sumiram pela estrada, depois de todos entrarem nos veículos, levando a mulher.

Seguiram por duas horas, por estradas vicinais, até chegarem em uma cidade, no vale, entre montanhas cobertas de mata virgem, exceto pela presença deles, uma família extensa e unida, liderada com pulso firme, mas justo, com instinto assassino, mas absolutamente fiel aos seus. Sua necessidade era sempre posta em segundo plano, mas no momento, todos exigiam que ele tomasse uma atitude em prol da continuidade da espécie e ele sentia a pressão.

Por isso, foi atrás da mulher, havia vigiado ela, desde que a encontrou na mata, sozinha e acasalou com ela por um descontrole de sua libido. Ela fugiu, assim que ele se distanciou para caçar um alimento para os dois e resolveu não capturá-la, só a seguiu e observou, por todo esse tempo.

Quando percebeu, pelo tempo passado, que sua gestação já estava no final, resolveu enviar olheiros para vigiá-la constantemente e finalmente, levá-la para si. Mas havia um homem junto a ela e não gostou, pois pareciam casados. O homem começou a maltratá-la e ele resolveu agir ao ouvir seus gritos. Sua autoconfiança o levou à displicência e matou o homem, enquanto ela aproveitou e fugiu.

            

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Comments

Maria Helena Macedo e Silva

Maria Helena Macedo e Silva

🤔ela não lembra quem o pai sa menina?

2024-10-18

2

Maria Helena Macedo e Silva

Maria Helena Macedo e Silva

📖 começando mais uma leitura.../Casual/

2024-10-16

1

Ligia Silva

Ligia Silva

iniciando 02/08/24 bora lá

2024-08-03

1

Ver todos

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