4. Quero conversar com você

No dia seguinte estávamos de boa em casa e resolvi já começar encaixotar algumas coisas que quase não usávamos e já ir doando o que realmente não seria usado mais. Minha roupas mesmo doei muita coisa que já estava super fora de moda.

Passei o domingo assim, ajeitando tudo pra depois estar mais fácil pra mudança, desci pouquíssimas vezes, somente para comer mesmo e quase não vi a cara do Marck. Não estava muito no clima, nem mesmo para brigar, isso de mudar me incomoda um pouco, eu amava a casa que morávamos, mas como sempre tínhamos que ir, porque o trabalho da mamãe não nos permitia ficarmos em um lugar fixo. Eu pago de durona com isso e tento ver o melhor lado pelo Marck, que sofre muito com as mudanças, mas a verdade que eu também já estou de saco cheio de tantas idas e vindas.

.XXX.

Anoiteceu e eu tomei um banho, e me ajeitei para dormir, quando Marck entrou no meu quarto do nada, tomei o maior susto, eu ia brigar com ele por entrar daquela forma mas não tive nem tempo. Sem falar nada, ele só me abraçou forte e começou a chorar. Não perguntei o que houve, só retribui o abraço e fiquei ali com ele, fazendo cafuné em seus cabelos. Fosse o que fosse era sério, porque bravo do jeito que ele estava não daria o braço a torcer e viria pro meu quarto tão fácil, e também Marck não era de chorar, então com certeza foi algo grave. Soltei ele do abraço somente para que nós nos ajeitassemos na cama para dormir. Em nenhum momento quis lhe perguntar o que houve, sabia que se ele precisasse contar ele falaria por si só. Acabamos adormecendo abraçados enquanto eu o fazia cafuné.

Marck

Quase não vi a Lucy, passei o dia fechado no quarto, mas vi que ela estava ajeitando tudo da mudança, o que me deixava ainda mais incomodado, eu odeio mudar.

A noite desci e jantamos os três, depois do jantar Lucy logo subiu pro quarto e foi aí que eu e mamãe discutimos, muita coisa foi jogada na cara, e ela chegou a dizer que se estava tão ruim assim morar com ela e ter que se mudar, eu que me virasse para morar sozinho então, ou fosse atrás do imb*cil do meu pai, quem sabe ele me abandonaria de novo e eu daria valor a ela, já que ela não havia me abandonado. Eu não quero morar sozinho, não sem a Lucy, e também ela foi dura de mais quando falou do meu pai, ela nunca tinha dito nada daquilo. Eu e mamãe temos discutido bastante ultimamente, mas discutimos só quando a Lucy não está perto, não quero que ela saiba que nós não estamos bem, afinal o que me prende a essa família e a todas essas mudanças é só ela, sei que ela se faz de forte mas também sofre, então eu tenho que ser forte por ela. Mas fiquei transtornado com a briga afinal, mamãe sempre usou do fato de eu não ter um pai presente para não brigar comigo, aí do nada começou a jogar isso na minha cara, é claro que não deixe quieto também falei muita coisa, até que não aguentei mais, e subi, deixei ela gritando lá de baixo enquanto eu subia fingindo não ouvir, fui direto pro quarto da Lucy, ela viu que eu não estava bem e não perguntou nada. Isso é algo que eu amo nela, ela não precisa saber o que aconteceu, só de perceber que estou mal ela já libera espaço pra que eu deite com ela, e já me dá seu ombro pra que eu possa chorar, não que eu seja de chorar sempre, raramente acontece, mas as vezes estou muito transtornado, e saber que sempre tenho aquele ombro amigo dela, muda minha vida completamente. Tenho medo de perder isso, de não ter mais ela para me apoiar, pra ficar comigo quando eu preciso, embora a gente brigue bastante ela é meu alicerce. Depois de muitos pensamentos acabei adormecendo abraçado a Lucy.

.XXX.

No dia seguinte Lucy acordou e desligou o despertador, e me chamou, eu não queria levantar, então ela foi me empurrando na cama até me jogar no chão para eu acordar. Levantei e comecei a fazer cosquinhas nela que sei que ela odeia. Ela ria e gritava para eu parar. Demos muitas risadas enquanto Lucy me ameaçava caso eu não parasse. Então parei e sai do quarto ainda dando risada, e fui me arrumar.

Lucy

Esse idiota do Marck me fez cócegas logo cedo, idiota, quase que me mijo inteira.

Nos arrumamos pra escola, e graças ao Mack chegamos atrasados e eu perdi o primeiro horário. Ele insistia que a culpa não era dele, sendo que depois que eu estava pronta ele levou mais meia hora para descer. E ainda dizem que as mulheres que demoram.

Acabamos ficando o primeiro horário na biblioteca esperando dar o horário, e o Lucas chegou, também estava atrasado, Marck não olhou nem na cara dele, os dois simplesmente desfizeram uma amizade muito boa que tinham por algo que o Marck acha que aconteceu. Conversei com Lucas e o Marck ficou de cara feia olhando pra nós, falei pra ele que iria conversar com Marck já que aquilo era ridículo nada havia rolado, mas ele mandou eu deixar quieto e falou que estava tudo bem.

Fiquei sentada ao lado de Lucas alguns minutos e comecei a perceber que ele estava chateado mas não parecia ser só o que havia ocorrido com Marck, tinha algo por trás daquele jeito do Lucas, ele era sempre alegre e pra cima, aquele não era o meu amigo que me chama de gatinha, princesa... Tinha algo errado. Comecei a perceber certas trocas de olhares entre ele e o Piter, um garoto muito gato do colégio e que pegava todas, até eu já tinha dado uns beijos, nunca passo disso, mas tinha uma pegada que nossa, tirava até meu fôlego só de lembrar. Os dois se olhavam e desviavam o olhar.

O sinal bateu e todos se levantaram para ir para as salas, foi aí que eu segurei o braço do Lucas.

Lucy: Tu vai ficar aqui, porque eu quero conversar com você.

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