A Terceira Herdeira
O sol estava no meio do céu, brilhante e morno, a brisa gelada do fim do outono agitou os lençóis no varal, Coraline Prydwen andou lentamente, tentando fazer o mínimo possível de barulho ao pisar na grama úmida, suas botas pouco ajudavam na terefa, viu um vulto passar a alguns metros de distância e se apressou, puxou o lençol e sorriu
- Te encontrei Elara! - Exclamou para o nada.
- Perdeeeu! - Sua irmã mostrou a língua passando por trás dela e correndo em direção a árvore frondosa onde a brincadeira começou, Cora tentou alcança-la mas antes que ambas pudessem chegar ao tronco um corpo voou dentre seus galhos.
- As duas perderam! - Sorriu Fiona.
- Trapaceira! Você ficou o tempo todo na linha chegada! - Elara inflou as bochechas e Fiona deu de ombros.
- Ninguém disse que não podia.
- Você é uma rata sem-vergonha Fiona - Cora cerrou os olhos e sua irmã jogou a trança escura por cima do ombro com um olhar convencido.
- Na-na-não querida, eu só fui mais esperta, aprendam a perder e me passem os vinte por cento da mesada como combinado.
- Chega por hoje meninas! - Seu pai chamou da janela interrompendo a discussão - Hora de entrar.
As três correram para dentro e a mesa do almoço estava posta, Ophelia, a governanta que viu as três crescerem, colocava sobre a mesa delícias e mais delícias que preenchiam o ambiente com um aroma de dar água na boca.
- Comer, e depois, estudar, as duas - Ela disse pausadamente com os olhos cerrados para suas irmãs.
Elas resmungaram e foram lavar as mãos antes de se sentar a mesa.
Seu pai cuidou da educação das três, dado o fato de que viviam muito longe da cidade, eram pelos menos três horas de carruagem até o mais próximo de uma civilização, a propriedade era uma herança da família de sua mãe, apesar de ter uma família influente e diretamente ligada a família Real, ela nunca se importou com política e se mudou para o interior assim que se casou, ela era uma mulher simples e generosa, teve os melhores professores e cresceu na Capital tendo tudo do bom e do melhor, mas se apaixonou por um estudante de ciências e viveu seus dias tranquilos, cultivando flores e cuidando de suas três filhas.
O retrato no topo das escadas ainda causava dor a Cora, já faziam dois anos que ela se fora, mas a saudade ainda era sufocante.
Cora em breve faria dezenove e não tinha idéia do que queria fazer da vida, mas também não tinha pressa, gostava de ler, cavalgar e passar tempo com suas irmãs, Fiona de dezesseis e Elara de quatorze, eram completamente diferentes, Fiona era enérgica e curiosa, constantemente se metia em problemas e não tinha controle da própria língua, puxou os cabelos escuros e lisos de seu pai, bom como a pele cor de canela e os olhos afiados cor de grama, já Elara era comedida e graciosa, falava o necessário e era quase como a consciência de suas irmãs, cabelos loiros e ondulados, olhos grandes e castanhos emoldurados de cílios claros, o rosto redondo e a pele branquinha.
Depois da seção de estudos, a noite caia e todos estavam reunidos na sala de estar, seu pai com os olhos fixos num livro, Fiona e Elara entretidas num jogo de tabuleiro e Ophelia remendava um vestido que sofreu com as últimas aventuras das irmãs.
- Francamente - Ophelia olhou para Cora pelo enorme rombo - Como uma dama consegue abrir um buraco deste tamanho num vestido?
Cora sorriu dando de ombros e jogou um biscoito na boca.
- Ficando presa num galho tentando descer da árvore - Riu Fiona e Cora a deu um chute de brincadeira no braço.
- Não se toca nesse assunto - Disse com a boca cheia da divina massa de chocolate.
- Francamente, quando eu finalmente acho que você vai criar juízo, você já tem dezoito anos Coraline.
- A idade é só um número querida Ophelia, você também é jovem de mais para ser tão ranzinza.
Ela a olhou feio e Cora mandou um beijinho.
A campainha tocou e Ophelia se levantou para atender, então voltou alguns segundos depois com uma mão sobre o peito e os olhos preocupados.
- Meu senhor - Ela chamou e seu pai ergueu os olhos do livro.
*
As três se empilharam atrás da porta do escritório de seu pai enquanto ele falava com um homem misterioso, usava preto dos pés a cabeça, devia ter uns quarenta anos aproxidamente, cabelos castanhos escuros com alguns fios brancos bem arrumados penteados para trás, tinha uma cicatriz na boca que se destacava na pele escura.
- Não consigo ouvir nada - Sussurrou Elara.
- Não consigo ver nada - Resmungou Fiona.
- É por que não deviam - Ophelia segurou as duas pelas orelhas e as afastou da porta.
- Quem é esse homem? - Perguntou Cora.
- Se fosse da sua conta já saberia - Ophelia colocou as mãos nos quadris e a porta se abriu.
- Coraline - Chamou seu pai e as quatro se retesaram, ele fez um gesto para que ela entrasse, Cora olhou para o homem por cima do ombro de seu pai e assentiu o seguindo para dentro do escritório de repente frio, seu pai fechou a porta atrás deles.
E ali terminaram seus dias tranquilos.
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Atualizado até capítulo 65
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SRC93
começando agora
2022-06-23
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