Capítulo 2 - A Obrigação

É um prazer conhecê-la Senhorita Coraline, eu me chamo Aiden Alexander, e sirvo a coroa como Capitão da Guarda Real - Disse o homem, a voz grave e gentil.

Alexander, esse era um nome que aparecia diversas vezes nos livros de história por incontáveis gerações da família real, seus protetores leais.

     Seus cães de guarda cegos.

     Ele tinha olhos cor de mel amáveis apesar das olheiras de preocupação e cicatrizes de guerra.

- O prazer é meu, Capitão Alexender.

- Querida - Seu pai segurou a mão dela e a guiou até o sofá, estavam frias e suadas, um pouco trêmulas até - Tudo vai parecer confuso agora, mas peço que escute toda a história do Capitão Alexander, tudo vai fazer sentido.

   O homem respirou fundo.

- Antes de mais nada, a senhorita sabe quem são os De Vance.

- Claro, a família da minha mãe.

- Exatamente, seu bisavô teve dois filhos, e eles tiveram cada um uma filha, Sienna, sua mãe, e Primrose, a Rainha.

- É, eu conheço a árvore genealógica da minha família.

- A dezoito anos a Rainha estava no seu sétimo mês de gestação - Começou tão óbvio e ficou sem sentido de repente, mas guardou as perguntas confiando que tudo faria algum sentido como disse seu pai - Numa noite durante um banquete da festividade de primavera o palácio sofreu um ataque, a senhorita deve ter conhecimento sobre as tensões que o Reino sofria naquela época.

- Claro, nosso país vizinho Tarenthe tentava tomar as fronteiras depois que o Rei se recusou a oferecer ajuda quando a região foi assolada pelo inverno rigoroso - Disse Cora e seu pai lhe deu um cutucão nas costas.

      Ho, ela supostamente não deveria falar mal do Rei na frente de um guarda da coroa. O homem pigarreou e continuou.

- Rebeldes invadiram o palácio aquela noite para saquear e manter nobres reféns, a rainha entrou em trabalho de parto com o choque e as criadas conseguiram tira-la do salão por meio das passagens de serviço e ela deu a luz na ala dos criados, infelizmente a criança veio ao mundo sem vida, a Rainha já havia sofrido vários abortos, aquela altura o Rei já tinha outra esposa e ela estava no terceiro mês de gestação, a segunda esposa do Rei é uma nobre de Tarenthe, a mão dela foi dada como uma promessa de paz, naquela situação ninguém queria que o filho da Esposa se Tarenthe fosse o herdeiro da nossa Coroa.

       Mas o Reino tem uma princesa Herdeira, filha da Rainha, e sua tia Primrose, se a criança morreu e a segunda Esposa estava grávida, a conta não bate.

- Depois de perder a criança a Rainha se isolou no palácio da família De Vance, e a muitos quilômetros dali, numa outra propriedade dos De Vance, a agora conhecida como Sienna Prydwen dava a luz a duas meninas saudáveis.

       A mente de Cora ficou em branco por um segundo, ela olhou para seu pai que apenas encarava o chão com os olhos perdidos.

- Duas?

- A você Coraline Prydwen, e a princesa de Domhall, Cordelia.

       Tinha tantas perguntas que não sabia como começar, sua mente girou e decidiu ficar em silêncio enquanto o homem continuava com sua história, que se não fosse pela expressão de seu pai, ela teria absoluta certeza que era absurda.

- O pai da Rainha Primrose convocou um sábio, e os três vieram até esta casa, e fizeram um juramento.

- Fizemos de tudo, sua mãe sofreu tanto... - Seu pai baixou o rosto cobrindo os olhos - Sienna não queria entregar vocês, ela nunca se importou com o peso que seu nome carregava e vocês eram mais importantes que qualquer coisa para ela, mas o duque não aceitaria que sua filha fosse humilhada pela corte por não conseguir dar a luz a um herdeiro, e nem permitiria que o filho de uma estrangeira subisse ao trono, ela seria destituida de seu posto de Rainha-mãe e Magdalenne de Tarenthe se tornaria a primeira Esposa. Então ele trouxe o sábio para que Sienna não pudesse recusar, e para que esse segredo fosse mantido no mais absoluto sigilo.

       A corte de Domhall tem sábios que guiam o Reino com seus poderes, Cora nunca conheceu um pessoalmente, mas dizem que são poderosos, alguns podem ver o futuro, outros já viveram mais de duzentos anos, as histórias são muitas e não se sabe o quanto é verdade, mas um juramento feito por um sábio quando quebrado poderia custar sua vida.

- Naquela noite eu e Sienna juramos servir a coroa, sua mãe aceitou o acordo mas com a condição de que Cordelia sempre fosse sua filha, entrega-la para o ninho de cobras que é a corte já era doroloso o suficiente - Explicou seu pai - Cordelia sempre soube que é filha de Sienna, e ela a visitava sempre que Cordelia estava no palácio da família.

- E o que isso tudo tem haver comigo a essa altura do campeonato?

- Cordelia foi envenenada e está em coma a uma semana agora, estamos dando nosso melhor mas no fim das contas não sabemos quando ela vai acordar.

- Então vocês querem substituir a princesa herdeira de novo? E o que acontece quando atacarem outra vez? Tem mais alguma irmã que eu não saiba?

- Coraline...

- Isso tudo é loucura pai, é completamente ridículo... - Cora se levantou e saiu da sala a passos largos, suas irmãs não estavam mais bisbilhotando, Ophelia deve tê-las colocado para correr, desceu as escadas escutando o sangue bombear em seus ouvidos e fazendo sua cabeça doer tanto, estacou e olhou para a pintura de sua mãe no topo das escadas.

      Cerrou os dentes e correu para fora de casa.

*

    Cora correu até os estábulos, selou sua égua castanha e trotou até além dos portões da propriedade.

    Era algo que ela fazia com frequência, talvez o vento em seus ouvidos fizessem seus pensamentos serem abafados e sua mente clareava.

    Parou ao chegar no pequeno lago a alguns minutos de distância de casa, escalou uma árvore que já tinha em seu tronco as marcas de seus pés de tantos anos que ela usou para se refugiar, aquilo não era o que se podia chamar de casa da Árvore, era apenas um assoalho de madeira com alguns tecidos presos aos galhos e almofadas, acendeu as velas dentro dos frascos de vidro e encarou o pavio queimar.

    Não sabia muito de sua família, sabia que tinha pessoas importantes, e dela já vieram Reis e Rainhas consortes a muitas gerações, mas não sabia que tinha pessoas com seu sangue e tão egoístas.

    Quem se importa se o Herdeiro for filho de uma estrangeira? Ele nasceu neste solo, foi criado aqui e tem o sangue do Rei, a mãe dele por acaso era alguma víbora sedenta de poder? Ou apenas mais uma jovem que foi forçada a um acordo comercial?

Arrancaram sua irmã dos braços de seus pais para proteger o ego de pessoas poderosas.

      Aquele homem apareceu como se fizesse um pedido mas Cora sabia que não tinha como fugir disso. Mataram a verdadeira princesa, atentaram contra sua irmã, ela seria só mais um acessório substituível, tentam tanto proteger uma imagem e parece que nunca foram capaz de proteger a princesa.

        Agora sabia por que seu pai odiava tanto a coroa, sabia por que apesar de sua mãe ter uma linhagem tão nobre preferiu vir para o campo e apenas esquecer de tudo isso, mas os problemas da corte deturpada a seguiram.

      Se deitou encarando as estrelas, sua cabeça doía tanto e tantos pensamentos passavam por ela que decidiu simplesmente ignorar, e adormeceu com a vista para o manto escuro salpicado de prata.

*

- Cora? - Fiona se levantou de onde estava encolhida na escada.

Coraline acabou passando a noite toda fora, voltava na companhia de sua égua Bonnie ao amanhecer.

- Fiona, o que está fazendo aqui?

- Te esperei a noite toda, nem consegui dormir, vi quando saiu da sala do papai, você parecia assustada.

     Assustada... Sim, pensou que estivesse com raiva, mas não tinha por que ter raiva de algo que aconteceu a tanto tempo, estava com medo do agora, e do que estava por vir.

- Aquele homem... Ele veio pedir que eu fosse para a Capital.

- Por que? Quem ele é?

      Coraline respirou fundo e apertou as rédeas.

- Alguém que trabalha para nossa família, parece que nosso tio-avô está doente e eles não tem mais nenhum Herdeiro na casa.

- E o que o Papai acha disso?

- Ele não acha a idéia muito boa, você sabe como esses nobres são.

- Eu iria, se fosse você.

- Por que?

- Você é incrível de mais pra esse lugar - Ela pegou as rédeas da mão de Cora e seguiu em direção aos estábulos - De verdade, sabe, eu não gosto muito de estudar, matemática me assusta e olhar para um livro faz a minha mente simplesmente pensar em tudo menos no que estou lendo. Mas você sempre foi muito inteligente, e focada, você nunca teve medo de nada.

- Não é verdade, estou com bastante medo agora.

- Mas você faz mesmo assim não é - Elas chegaram ao estábulo e Fiona começou a tirar a cela - Lembra de quando aquele velho nojento estava pertubando as meninas na saída da escola? Você foi lá e deu um soco nele mesmo sabendo que ele era da guarda.

- Foi muito bom passar a noite na cadeia.

- A festa do pijama que as meninas deram para agradecer foi muito melhor. Cora você é incrível - Fiona segurou as mãos dela - E não tem nada nesse mundo que você não possa fazer, e sempre achei esse lugar pequeno de mais para sua grandiosidade.

- Por que está me elogiando tanto? Não vou deixar meu quarto para você.

        As duas riram e Fiona encarou suas mãos com uma expressão quase tristem

- Você não tem vontade de sair daqui Cora?

- Por que eu iria querer? Tenho vocês, e nunca precisei me preocupar.

- Eu quero, quando eu fizer dezoito, quero me alistar para a guarda.

- Sério? Eu não fazia idéia.

- É - Ela se retesou e respirou fundo - Não sou inteligente como você, ou o papai, nem gentil e doce como a mamãe e Elara, então eu estava pensando no que poderia fazer para ajudar as pessoas do meu jeito enquanto ajudava o cocheiro a carregar os sacos de ração e descobri que sou muito forte.

- Quem disse que você não é inteligente? Você sempre ganha no pique-esconde com suas táticas mirabolantes, e se você pensa nos outros sempre que teve tudo para si você é gentil. Você vai ser a melhor soldado do mundo Fiona.

    As duas se abraçaram, o vento gelado da manhã que entrou pelas janelas bagunçou seus cabelos e Fiona estremeceu.

- Entre, eu vou logo depois de você.

- Certo, não demore - Fiona saiu do estábulo e correu para casa.

  Cora passou uma mão pela crina de Bonnie e respirou fundo.

- Fazer algo pelos outros não é...

Capítulos
1 Capítulo 1 - A tarde de Outono
2 Capítulo 2 - A Obrigação
3 Capítulo 3 - A partida
4 Capítulo 4 - A Sombra
5 Capítulo 5 - A princesa
6 Capítulo 6 - A falsa Cordelia
7 Capítulo 7 - A corte
8 Capítulo 8 - A visita
9 Capítulo 9 - A variável
10 Capítulo 10 - A mudança
11 Capítulo 11 - O noivo
12 Capítulo 12 - A dúvida
13 Capítulo 13 - O risco
14 Capítulo 14 - A Viagem
15 Capítulo 15 - O Rei
16 Capítulo 16 - A companhia
17 Capítulo 17 - A peça
18 Capítulo 18 - O Príncipe
19 Capítulo 19 - O treino
20 Capítulo 20 - A disputa
21 Capítulo 21 - O capitão
22 Capítulo 22 - Os criados
23 Capítulo 23 - O retorno
24 Capítulo 24 - O irmão
25 Capítulo 25 - A noiva
26 Capítulo 26 - Os planos
27 Capítulo 27 - A informante
28 Capítulo 28 - A revolução
29 Capítulo 29 - A inércia
30 Capítulo 30 - A soldado
31 Capítulo 31 - O segredo
32 Capítulo 32 - A escapada
33 Capítulo 33 - O encontro
34 Capítulo 34 - O romance
35 Capítulo 35 A confusão
36 Capítulo 36 - Os primeiros passos
37 Capítulo 37 - A oferta
38 Capítulo 38 - A chuva
39 Capítulo 39 - O passeio
40 Capítulo 40 - O encontro
41 Capítulo 41 - A escolha
42 Capítulo 42 - A temporada social
43 Capítulo 43 - O casal
44 Capítulo 44 - A estrela cadente
45 Capítulo 45 - A ameaça
46 Capítulo 46 - O médico
47 Capítulo 47 - O dom
48 Capítulo 48 - O futuro
49 Capítulo 49 - O amuleto
50 Capítulo 50 - O plano de fuga
51 Capítulo 51 - A criada
52 Capítulo 52 - A declaração
53 Capítulo 53 - O Estranho
54 Capítulo 54 - A dor de cotovelo
55 Capítulo 55 - O selo
56 Capítulo 56 - O aprendiz
57 Capítulo 57 - A irmã
58 Capítulo 58 - O despertar
59 Capítulo 59 - A crise
60 Capítulo 59 - A crise
61 Capítulo 60 - A verdade
62 Capítulo 61 - A mentira
63 Capítulo 62 - O nome.
64 Capítulo 63 - O recomeço
65 Capítulo 68
Capítulos

Atualizado até capítulo 65

1
Capítulo 1 - A tarde de Outono
2
Capítulo 2 - A Obrigação
3
Capítulo 3 - A partida
4
Capítulo 4 - A Sombra
5
Capítulo 5 - A princesa
6
Capítulo 6 - A falsa Cordelia
7
Capítulo 7 - A corte
8
Capítulo 8 - A visita
9
Capítulo 9 - A variável
10
Capítulo 10 - A mudança
11
Capítulo 11 - O noivo
12
Capítulo 12 - A dúvida
13
Capítulo 13 - O risco
14
Capítulo 14 - A Viagem
15
Capítulo 15 - O Rei
16
Capítulo 16 - A companhia
17
Capítulo 17 - A peça
18
Capítulo 18 - O Príncipe
19
Capítulo 19 - O treino
20
Capítulo 20 - A disputa
21
Capítulo 21 - O capitão
22
Capítulo 22 - Os criados
23
Capítulo 23 - O retorno
24
Capítulo 24 - O irmão
25
Capítulo 25 - A noiva
26
Capítulo 26 - Os planos
27
Capítulo 27 - A informante
28
Capítulo 28 - A revolução
29
Capítulo 29 - A inércia
30
Capítulo 30 - A soldado
31
Capítulo 31 - O segredo
32
Capítulo 32 - A escapada
33
Capítulo 33 - O encontro
34
Capítulo 34 - O romance
35
Capítulo 35 A confusão
36
Capítulo 36 - Os primeiros passos
37
Capítulo 37 - A oferta
38
Capítulo 38 - A chuva
39
Capítulo 39 - O passeio
40
Capítulo 40 - O encontro
41
Capítulo 41 - A escolha
42
Capítulo 42 - A temporada social
43
Capítulo 43 - O casal
44
Capítulo 44 - A estrela cadente
45
Capítulo 45 - A ameaça
46
Capítulo 46 - O médico
47
Capítulo 47 - O dom
48
Capítulo 48 - O futuro
49
Capítulo 49 - O amuleto
50
Capítulo 50 - O plano de fuga
51
Capítulo 51 - A criada
52
Capítulo 52 - A declaração
53
Capítulo 53 - O Estranho
54
Capítulo 54 - A dor de cotovelo
55
Capítulo 55 - O selo
56
Capítulo 56 - O aprendiz
57
Capítulo 57 - A irmã
58
Capítulo 58 - O despertar
59
Capítulo 59 - A crise
60
Capítulo 59 - A crise
61
Capítulo 60 - A verdade
62
Capítulo 61 - A mentira
63
Capítulo 62 - O nome.
64
Capítulo 63 - O recomeço
65
Capítulo 68

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!