Capítulo 2 - A Obrigação

Cora correu até os estábulos, selou sua égua e cavalgou para além dos portões da propriedade.

Era algo que fazia com frequência — talvez o vento nos ouvidos abafasse seus pensamentos, e a mente clareava.

Parou ao chegar ao pequeno lago a alguns minutos de casa. Subiu na árvore cujos troncos já traziam as marcas de seus pés — um refúgio de tantos anos. Não era uma casa na árvore propriamente dita, mas um assoalho de madeira com alguns tecidos presos aos galhos e almofadas. Acendeu as velas dentro dos frascos de vidro e encarou o pavio arder.

Se deitou ali, encarando as estrelas no céu escuro.

Sabia pouco sobre a família de sua mãe. Sabia que tinha pessoas importantes, e dela já vieram muitos Reis e Rainhas consortes, mas não sabia que tinha pessoas com seu sangue tão egoístas.

O herdeiro ser filho de uma estrangeira não devia importar, ele nasceu naquela terra, foi criado ali e tem o sangue do rei. Sua mãe era uma víbora sedenta por poder? Ou apenas mais uma jovem forçada a um acordo comercial?

Arrancaram sua irmã dos braços dos pais para proteger o ego de pessoas poderosas.

Aquele homem apareceu como se fizesse um pedido, mas Cora sabia: não havia escolha ali.

Mataram a verdadeira princesa. Atentaram contra sua irmã. Agora Cora seria só mais um acessório substituível.

Tentavam tanto proteger a imagem... e nunca foram capazes de proteger a própria princesa.

Agora entendia a aversão dos pais pela coroa. Agora via por que, mesmo com uma linhagem nobre, sua mãe escolhera se afastar. Mas os problemas da corte corrompida ainda a seguiram.

A cabeça doía, os pensamentos transbordavam.

Decidiu ignorar.

E adormeceu com a vista para o manto escuro salpicado de prata.

*

Cora atravessou os portões da propriedade junto com o anoitecer. Avistou nas escadas da frente da casa uma figura encolhida nos degraus, abraçando as próprias pernas.

— Cora? — Fiona se levantou.

— Fiona? O que está fazendo aqui?

— Estava te esperando. Vi quando saiu da sala do papai... você parecia assustada.

Assustada... Cora pensou que estivesse com raiva, mas não. Não havia por que se irritar com algo que já estava feito a muito tempo. O medo era do agora — e do que estava por vir.

— Aquele homem... ele veio pedir que eu fosse para a capital — Disse vagamente.

— Por quê? Quem ele é?

Cora respirou fundo e apertou as rédeas.

— Alguém que trabalha para nossa família.

— E o papai?

— Ele não gosta da ideia. Você sabe como esses nobres são.

— Eu iria, se fosse você.

— Por quê?

— Porque você está perdendo tempo nesse lugar — disse Fiona, pegando as rédeas da irmã e seguindo para os estábulos. — Sério, você devia fazer algo de verdade na capital. Sabe... Eu não gosto de estudar. Matemática me apavora. Olhar um livro já faz minha mente voar pra qualquer lugar, menos pro que eu tô lendo. Mas você? Você sempre foi inteligente. Focada. Sem medo.

— Não é verdade. Estou com bastante medo agora.

— Mas vai mesmo assim, né?

Não por coragem, não por vontade.

Chegaram ao estábulo. Fiona começou a tirar a sela da égua.

— Lembra daquele velho nojento perturbando as meninas na saída da escola? Você foi lá e deu uma lição nele, mesmo sabendo que ele era da guarda.

— Foi ótimo passar a noite na cadeia.

— A festa do pijama que as meninas fizeram pra te agradecer foi melhor. Cora, você é incrível — disse Fiona, segurando suas mãos. — E eu sempre achei esse lugar pequeno demais pra sua grandiosidade.

— Tá me elogiando tanto por quê? Não vou deixar meu quarto pra você.

As duas riram. Fiona baixou os olhos, quase triste.

— Você nunca teve vontade de sair daqui, Cora?

— Por que eu teria? Tenho vocês. Nunca precisei me preocupar.

— Eu tenho. Quando fizer dezoito, quero me alistar na guarda.

— A guarda? Eu não fazia ideia.

— É. Não sou inteligente como você ou o papai. Nem doce como a mamãe ou a Elara. Mas descobri que sou forte, ajudando o cocheiro com os sacos de ração percebi isso. E pensei: talvez eu possa ajudar as pessoas do meu jeito.

— Quem disse que você não é inteligente? Você sempre ganha no pique-esconde com suas táticas mirabolantes. Você é gentil, e divertida. Você vai ser a melhor soldado do mundo, Fiona.

Fiona sorriu e a abraçou, fungando em seu ombro. Cora a abraçou de volta e ficaram ali por alguns instantes, até o vento gelado da manhã atravessou as janelas, bagunçando seus cabelos. Fiona estremeceu.

— Entra. Eu vou logo depois de você — Disse Cora num sussurro.

— Certo. Não demora — disse Fiona limpando os olhos e correndo para casa.

Cora passou a mão pela crina da égua e respirou fundo.

Assim que entrou na casa, Cora se deparou com a figura imponente do Capitão na sala. Estava sentado no sofá, a postura reta mesmo em descanso, e a xícara de porcelana nas mãos ásperas parecia pequena e deslocada. As cicatrizes que riscavam seu rosto contrastavam com a suavidade do ambiente — uma casa de campo simples, com o cheiro morno de café fresco e madeira aquecida pela lareira crepitando no canto

— Senhorita Coraline.

— Capitão Alexander.

Baixou a xícara, ainda meio cheia, com a expressão carregada, e olhou para ela com olhos sombrios, marcados por noites mal dormidas.

— Você pensou o suficiente?

Cora hesitou. Olhou para a xícara, para o uniforme, para o jeito contido com que ele segurava a própria respiração. Então respondeu, mais por instinto do que certeza:

— Esqueci de perguntar, mas... é um convite ou um ultimato?

Alexander sustentou o olhar por um instante. Em seguida, desviou os olhos e colocou a xícara sobre a mesinha lateral com extremo cuidado.

— É um pedido de socorro.

Ele se levantou com um rangido das botas pesadas e, com um gesto cerimonioso e surpreendente, ajoelhou-se. Abaixou a cabeça, pôs um punho no chão e a outra mão sobre o coração.

— Em nome do Rei, e do nosso Reino, eu imploro.

Cora ficou paralisada. O gesto do Capitão — rígido, solene, desesperado — a desarmou.

— Vocês não foram capazes de proteger a princesa... Duas vezes — ela disse num sussurro, sem conseguir controlar o tremor na voz. — O que vai acontecer comigo?

Alexander ergueu o rosto, ainda ajoelhado.

— Eu fui descuidado. Cordelia é... um espírito livre — Ele tentou sorrir, mas o que apareceu foi mais uma sombra de lembrança do que uma expressão de alegria — Eu a vi crescer. Já a tirei de árvores, fiz vigília na janela dela por noites, só para evitar que escapasse escondida... Ela vivia roubando meu cavalo para cavalgar sozinha — ele riu, um som curto, mas cheio de ternura. — Um momento de descuido, e quase a perdemos para sempre.

Ele se levantou devagar, como se o peso da memória o puxasse para baixo.

— Não posso prometer que nada de mal vai acontecer. Mas vou fazer tudo diferente desta vez. Me ajude a acabar com isso de uma vez por todas. Eu não... — ele parou, e respirou fundo. — Eu não posso ver o Rei e a Rainha, meus estimados amigos, passarem por essa dor outra vez, e não posso deixar o Reino desamparado.

Cora se abraçou, apertando os próprios braços. Seu coração batia acelerado. Não era medo apenas — era um vazio estranho, uma ânsia silenciosa.

— Estou com medo... — murmurou.

Alexander soltou o ar, deixando os ombros caírem.

— Não posso culpá-la por isso — respondeu com sinceridade. — Eu também estou.

O silêncio se estendeu entre eles. Pela janela, as folhas balançavam devagar ao vento. Cora olhou para fora, depois para o chão, e finalmente de volta para ele.

— Como ela é?

Alexander suspirou, e seus olhos se perderam num ponto distante da parede.

— Rebelde. Esperta. Com um senso de justiça que ultrapassa qualquer senso de autopreservação.

Ele sorriu de novo — agora de um jeito mais suave, mais sincero.

— Eu acho que usaria essas palavras pra descrever a mamãe — disse Cora.

— Cordelia sempre se sentia à margem. Mas... as visitas de Sienna eram seu porto seguro. Ajudaram a se levantar muitas vezes.

— À margem?

Alexander assentiu devagar.

— A vida de um herdeiro nunca é fácil. E a de um herdeiro num Reino em colapso... é insuportável.

Cora passou a língua pelos lábios, tentando encontrar palavras. Não havia resposta fácil.

— Acha que eu consigo fazer isso?

Alexander demorou a responder. Olhou para ela com uma intensidade que parecia atravessar a superfície.

— Eu não sei. Não te conheço bem. Mas... quando conversei com seu pai, ele disse que sua bondade e coragem seriam capazes de qualquer coisa.

Ele fez uma pausa, inclinando a cabeça.

— Ele me contou sobre a vez em que você foi presa.

Cora arregalou os olhos, sem saber se ria ou se se encolhia de vergonha.

— Não é como se eu não tivesse chorado e chamado pelo papai a noite inteira...

— Mas você foi presa por ajudar pessoas que nem conhecia — disse o Capitão, com um brilho orgulhoso nos olhos.

Cora abaixou os olhos. Cordelia. Pensou no que era carregar um pedaço de alguém que nunca conheceu — e agora, talvez, se tornar esse pedaço.

— Conto com sua ajuda, então, capitão Alexander.

Ele assentiu, com firmeza.

— Eu serei eternamente grato, Coraline.

Ela balançou a cabeça com leveza, sentindo um frio estranho no peito.

Cora subiu para seu quarto. Elara dormia tranquilamente em sua cama, os cílios longos e os cabelos claros brilhando sob a luz suave do amanhecer. Na ponta da cama, Fiona cochilava em uma posição desajeitada, os braços e pernas largados sem nenhuma elegância. Um leve ronco nasal escapava dela a cada expiração.

Cora sorriu com ternura ao vê-las assim. Deitou-se devagar entre as duas, tentando não acordá-las, mas Fiona resmungou, virando-se.

— Line...? — murmurou Elara, esfregando os olhos inchados de sono. — Você voltou.

— Desculpa por preocupar vocês — sussurrou Cora, apertando com carinho a mão pequena da irmã.

— Está tudo bem?

— Mais ou menos... A gente conversa depois, tudo bem? Volte a dormir...

Elara não respondeu, apenas aninhou-se contra ela, Fiona, com um grunhido preguiçoso, se aproximou também, jogando um braço pesado sobre o peito da irmã.

Assim, entrelaçadas como nos velhos tempos, dormiram as três.

---

— Ir embora?! Tão rápido? Hoje?! Por que tão de repente?! — Elara arfava entre lágrimas, o rosto vermelho e a voz embargada.

— Eu sei, é difícil — disse Cora — Mas é urgente.

— Quando você volta, Line? — Elara a Abraçou pela cintura com força, como se pudesse impedir que ela fosse.

Cora demorou um pouco para responder. Alisou os cabelos finos da irmã, tentando conter a própria emoção.

— Eu não sei, pode levar algumas semanas… ou meses. Talvez eu nem consiga visitar vocês nesse tempo.

— Pare de ser tão chorona, Lara! — esbravejou Fiona, embora sua voz falhasse um pouco. — Devia estar desejando uma boa viagem!

— Mas você também está chorando!

— É o tempo! Tá muito frio e deixa meus olhos úmidos! — Fiona correu e abraçou as duas, escondendo o rosto no ombro de Cora. — Volta logo, senão a gente vai até lá te buscar!

Cora riu, ainda que com os olhos marejados. Passou as mãos pelos cabelos das duas com cuidado.

— Não precisa se preocupar. Demore muito ou pouco, eu vou voltar. Prometo.

As duas assentiram, fungando. Fiona tirou o lenço do bolso de Elara e limpou seu nariz com um gesto desajeitado, e Elara retribuiu em seguida, limpando o de Fiona com uma delicadeza atrapalhada. Cora sorriu, o coração apertado.

— Já arrumei suas coisas, querida — disse Ophelia, aproximando-se com um sorriso calmo. Cora se virou e a abraçou forte.

— Obrigada, Ophe. Aproveite pra descansar agora que não vai ter tantos vestidos pra remendar.

— Boba — respondeu ela com carinho. — Não é nenhum incômodo.

Cora a abraçou de novo, mais apertado, como quem não queria soltar.

Seu pai, então, se aproximou. Parou diante dela, silencioso. As mãos trêmulas. As olheiras fundas. Os olhos úmidos.

— O senhor parece mais preocupado que eu, papai — disse Cora, pegando suas mãos. — Por favor, durma direito. Não pule as refeições. Saia de vez em quando pra tomar um pouco de sol. Promete?

Ele assentiu, engolindo em seco, e a puxou para um abraço apertado.

— Vou estar aqui, esperando quando você voltar, minha filha.

Ela fechou os olhos por um instante, sentindo o calor familiar do pai.

— Eu sei. Até logo — disse, abrindo um sorriso que tentava disfarçar a saudade que já doía no peito.

E então se afastou, com os olhos presos nos rostos de quem mais amava.

Capítulos
1 Capítulo 1 - A última tarde tranquila
2 Capítulo 2 - A Obrigação
3 Capítulo 3 - A Sombra
4 Capítulo 4 - A princesa
5 Capítulo 5 - As criadas
6 Capítulo 6 - A impostora
7 Capítulo 7 - A corte
8 Capítulo 8 - A visita
9 Capítulo 9 - A variável
10 Capítulo 10 - A mudança
11 Capítulo 11 - O noivo
12 Capítulo 12 - A dúvida
13 Capítulo 13 - O risco
14 Capítulo 14 - A Viagem
15 Capítulo 15 - O Rei
16 Capítulo 16 - A companhia
17 Capítulo 17 - A peça
18 Capítulo 18 - O Príncipe
19 Capítulo 19 - O treino
20 Capítulo 20 - A disputa
21 Capítulo 21 - O capitão
22 Capítulo 22 - Os criados
23 Capítulo 23 - O retorno
24 Capítulo 24 - O irmão
25 Capítulo 25 - A noiva
26 Capítulo 26 - Os planos
27 Capítulo 27 - A informante
28 Capítulo 28 - A revolução
29 Capítulo 29 - A inércia
30 Capítulo 30 - A soldado
31 Capítulo 31 - O segredo
32 Capítulo 32 - A escapada
33 Capítulo 33 - O encontro
34 Capítulo 34 - O romance
35 Capítulo 35 A confusão
36 Capítulo 36 - Os primeiros passos
37 Capítulo 37 - A oferta
38 Capítulo 38 - A chuva
39 Capítulo 39 - O passeio
40 Capítulo 40 - O encontro
41 Capítulo 41 - A escolha
42 Capítulo 42 - A temporada social
43 Capítulo 43 - O casal
44 Capítulo 44 - A estrela cadente
45 Capítulo 45 - A ameaça
46 Capítulo 46 - O médico
47 Capítulo 47 - O dom
48 Capítulo 48 - O futuro
49 Capítulo 49 - O amuleto
50 Capítulo 50 - O plano de fuga
51 Capítulo 51 - A criada
52 Capítulo 52 - A declaração
53 Capítulo 53 - O Estranho
54 Capítulo 54 - A dor de cotovelo
55 Capítulo 55 - O selo
56 Capítulo 56 - O aprendiz
57 Capítulo 57 - A irmã
58 Capítulo 58 - O despertar
59 Capítulo 59 - A crise
60 Capítulo 59 - A crise
61 Capítulo 60 - A verdade
62 Capítulo 61 - A mentira
63 Capítulo 62 - O nome.
64 Capítulo 63 - O recomeço
65 Capítulo 68
Capítulos

Atualizado até capítulo 65

1
Capítulo 1 - A última tarde tranquila
2
Capítulo 2 - A Obrigação
3
Capítulo 3 - A Sombra
4
Capítulo 4 - A princesa
5
Capítulo 5 - As criadas
6
Capítulo 6 - A impostora
7
Capítulo 7 - A corte
8
Capítulo 8 - A visita
9
Capítulo 9 - A variável
10
Capítulo 10 - A mudança
11
Capítulo 11 - O noivo
12
Capítulo 12 - A dúvida
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Capítulo 13 - O risco
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Capítulo 14 - A Viagem
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Capítulo 15 - O Rei
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Capítulo 16 - A companhia
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Capítulo 17 - A peça
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Capítulo 18 - O Príncipe
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Capítulo 19 - O treino
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Capítulo 20 - A disputa
21
Capítulo 21 - O capitão
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Capítulo 22 - Os criados
23
Capítulo 23 - O retorno
24
Capítulo 24 - O irmão
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Capítulo 25 - A noiva
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Capítulo 26 - Os planos
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Capítulo 27 - A informante
28
Capítulo 28 - A revolução
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Capítulo 29 - A inércia
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Capítulo 30 - A soldado
31
Capítulo 31 - O segredo
32
Capítulo 32 - A escapada
33
Capítulo 33 - O encontro
34
Capítulo 34 - O romance
35
Capítulo 35 A confusão
36
Capítulo 36 - Os primeiros passos
37
Capítulo 37 - A oferta
38
Capítulo 38 - A chuva
39
Capítulo 39 - O passeio
40
Capítulo 40 - O encontro
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Capítulo 41 - A escolha
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Capítulo 42 - A temporada social
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Capítulo 43 - O casal
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Capítulo 44 - A estrela cadente
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Capítulo 45 - A ameaça
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Capítulo 46 - O médico
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Capítulo 47 - O dom
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Capítulo 48 - O futuro
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Capítulo 49 - O amuleto
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Capítulo 50 - O plano de fuga
51
Capítulo 51 - A criada
52
Capítulo 52 - A declaração
53
Capítulo 53 - O Estranho
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Capítulo 54 - A dor de cotovelo
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Capítulo 55 - O selo
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Capítulo 56 - O aprendiz
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Capítulo 57 - A irmã
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Capítulo 58 - O despertar
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Capítulo 59 - A crise
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Capítulo 59 - A crise
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Capítulo 62 - O nome.
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Capítulo 63 - O recomeço
65
Capítulo 68

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