Capítulo 4 - A Sombra

Você ficou relaxada não é? Mesmo sendo uma sombra - Disse Riona dando a volta examinando Cora de cima a baixo.

-  A situação exige urgência então desculpe te pegar de surpresa Valery - Ele disse usando o nome falso que inventaram.

Valery du Couteau é uma nobre menor, seu pai é um contribuinte da guarda em sua pequena cidade e sua filha se tornou uma sombra desde nova.

- Mas você sabe o básico não é?

- O que seria o básico?

- A Princesa Cordelia fala cinco dialetos, é uma mestra no piano, violino e harpa, uma exímia dançarina e cantora.

     Que básico.

- Quanto a isso não precisa se preocupar.

- Bom, eu prefiro testar - Ela deu uma piscadela - Primeiro o piano, sonata para o luar, Finch Van Syprees - Ordenou indicando o piano no salão da pousada.

      Cora respirou fundo e se sentou em frente ao piano, isso era tão simples, era a música preferida de sua mãe, elas tocavam juntas quase todos os dias.

      Quando terminou ergueu os olhos para Riona que sorria satisfeita.

- Dança.

      Eles foram para o quarto e Cerise se posicionou no centro e ofereceu uma mão para Cora, ela aceitou a mão, cheia de calos e cicatrizes mas era quente e suave, Cerise colocou uma mão na cintura de Cora e ela por sua vez segurou o ombro dele, tenso, começaram a dançar com o som das palmas ritimadas de Riona, ele era um ótimo dançarino, movimentos firmes e fluídos ao mesmo tempo, e ainda mais bonito de perto.

- Muito bom! - Riona sorriu, então testes de línguas, política, geografia e história e Coraline passou facilmente por todos.

    A noite caiu novamente e eles estavam no salão da pousada.

- Devo admitir que você está muito bem preparada, desculpe duvidar de você.

- Não se preocupe com isso, vendo o retrato da princesa eu devo admitir que deveria ter cuidado um pouco mais da aparência.

- Isso nós podemos resolver facilmente.

*

- Primeiro nós precisamos tratar da sua pele, está bronzeada de mais e tem algumas sardas no seu rosto, quanto aos cabelos não temos escolha a não ser usar apliques, mas vamos precisar clarear o tom dele também, sua estatura é perfeita e sua cintura não vai precisar ser muito torturada, mas você tem uma grave falta de peitos, o que é um problema por que Cordelia gosta de decotes.

- Não estamos na época do frio?

- Cordelia gosta muito de decotes.

- Que coragem. Alexander - Chamou Cora e ele ergueu os olhos de onde estava sentado cercado de papéis - Que história estão usando para justificar a ausência da Princesa?

- Ela está passando alguns dias no palácio da família, não é raro, ela costumava passar muito tempo lá quando mais nova.

- O Palácio de Vance fica no Noroeste, próximo a fronteira de Tarenthe que é um país frio, o estilo das roupas de lá são um pouco diferentes dos da Capital, podemos usar a estadia dela nessas terras para mudar o estilo de roupa que Cordelia costuma usar.

- Eu gostei de você - Riona sorriu - A princesa realmente gosta de roupas extravagantes, de ser destaque, e uma mudança repentina condiz com o estilo dela, podemos tornar as roupas mais fechadas para esconder algumas coisas ao mesmo tempo que adequando a sua personalidade. Muito bem pensado, Senhorita Valery.

*

  A noite caiu de Cora se sentia exausta, o Capitão verificava as janelas e a tranca da porta todas as noites, era extremamente cauteloso, para não dizer paranóico, ela baixou a lista de coisas que Riona preparou para sua rotina nas próximas semanas.

  - Alexander - Cora apertou as folhas nas mãos e ele olhou cima do ombro - Quem fez isso a Cordelia?

    O capitão retesou os ombros largos cobertos de um tecido grosso que parecia absorver a luz.

- Não temos certeza, um dia a princesa estava bem e no outro já não acordava mais, suspeitamos que ela tenha sido envenenada, naquele dia estávamos com alguns visitantes de Calethia no Palácio, havia certa tensão por causa de alguns problemas.

- Calethia, o país da terceira esposa. Como ela é?

- Mirande, é alegre e gentil, ela tem apenas um filho de três anos, e cuida dos acordos comerciais entre os países, seus maiores feitos desde que veio para cá foi financiar a reforma dos portos e criar leis a respeito do comércio marítimo, que cresceu muito nos últimos anos.

- Então a relação com Calethia nunca esteve tão boa.

- Os acordos são bons para ambos, e sendo uma ilha um pouco distante do Continente Calethia nunca sofreu com as guerras, e na verdade esteve do nosso lado em questões financeiras.

- Não são um país de soldados, então não seria inteligente envenenar uma princesa de um país que tem feito tão bem a eles.

- Não tem lógica suspeitar de Calethia mas não podemos descartar nada. Afinal, não somos o único país com quem eles tem acordos comerciais.

- Qual motivo da tensão?

- Alguns problemas no mar - Alexander respondeu vagamente e respirou fundo - Mas se formos analisar tudo desde que a Rainha perdeu a primeira Herdeira... Todos parecem ser inimigos em potencial.

- Tenho outra pergunta, se eu não estiver te incomodando.

- Não se preocupe, fique a vontade - Ele sorriu apoiando o quadril no batente da janela.

- Qual exatamente foi a promessa que fizeram ao Sábio?

    Ele pensou alguns segundos antes de responder.

- Só quem sabe exatamente o que foi dito aquela noite são seu pai, a Rainha, o Patriarca, e claro, o Sábio.

- E quanto ao Rei?

- Ele não sabe que Cordelia não é sua filha.

    Cora arregalou os olhos.

- Como isso é possível?

- Durante o ataque eu escoltei a Rainha para a ala dos criados junto com sua criada, Anielisse, que acompanha a Rainha desde que ela assumiu a coroa aos dezenove anos, o palácio estava um caos, mandamos chamar o Rei mas ele não pôde nos encontrar, quem veio foi o pai da Rainha, ele mandou imediatamente que a levassemos para o quarto, Anielisse fez o parto, e infelizmente a criança não sobreviveu, o Patriarca então mandou dizer ao Rei que a Rainha estava em estado de choque por conta do ataque e a gravidez se tornara de risco, e pediu permissão para leva-la ao palácio da família onde ela estaria segura e poderia receber tratamento adequado, o Rei permitiu, então o Patriarca mandou Anielisse se livrar da criança e fomos para o palácio dos De Vance, a Rainha ficou cerca de duas semanas até se recuperar. Depois partiram para a residência da sua família, junto com o Sábio. Mas o Patriarca foi bem claro quando nos ordenou manter esse segredo. E eu vou, pelo Reino, e pela honra dos meus amigos.

- Entendo... Obrigada pelo seu tempo Capitão.

Ele sorriu assentindo.

- Prometo que farei o meu melhor para protege-la, pensávamos estar num momento de relativa paz, a vida de Cordelia não devia estar ameaçada.

O que torna essa situação cada vez mais bizarra.

- Vou dar meu melhor.

- Sei disso - Ele fez uma mesura e saiu trancando o quarto por fora.

*

    Cora nunca teve com o que se preocupar, então teve tempo de sobra para aprender muitas coisas, para visitar muitos lugares e conhecer culturas diferentes, mas agora sua vida estava só constante ameaça, precisava se preparar, Cordelia foi pega de surpresa com um truque covarde, mas se o objetivo era mata-la é estranho que o trabalho não tenha sido concluído, sem saber o que foi usado poderiam tê-la tratado tão rápida e eficientemente para evitar a morte dela?

    Cora ergueu o rosto encarando a janela da carruagem e mordeu a bochecha.

    Um amador teria feito isso?

    Mas alguém com pouca experiência faria algo tão arriscado?

    Se alguém ganharia alguma coisa com a morte de Cordelia teria feito um trabalho bem feito não é?

    Apoiou uma mão na testa e encarou as ilustrações das plantas medicinais de Calethia.

     Por que Cordelia ainda estava viva?

     Todos trataram isso imediatamente como um golpe de estado por se tratar da princesa Herdeira, mas ninguém achou estranho que o ataque não foi bem sucedido?

     Pensou em sair da cabine e conversar com Alexander, mas não teve coragem, de repente toda a história parecia faltar um pedaço, e nem as pessoas que estavam ali para protege-la pareciam confiáveis.

     Que situação você acabou metida Coraline...

*

      Os dias iam passando e Cora passava a maior parte do tempo em sua cabine, tiveram de acampar algumas vezes e outras ficaram em pousadas em várias cidades, ela procurava todas as oportunidades para ir aos mercados e feiras, procurando, estudando e perguntando sobre as ervas, e potenciais venenos, principalmente de Calethia.

    Cordelia foi envenenada aos poucos?

     Será que o trabalho ainda não foi finalizado?

     Ela recebeu uma grande dose de uma vez mas seu corpo foi capaz de suportar?

     Ou talvez não tenham administrado a dose correta para matar.

    Todas as alternativas pareciam dar numa parede sem saída de um labirinto, quanto mais pensava, menos sentido fazia. Uma coisa era fato, Cora tinha de se proteger.

    Procurou pelas medicinas mais perigosas, mais imperceptíveis, não só de Calethia, mas também de Tarenthe e Domhall.

    Haviam muitas perguntas mas não podia baixar a guarda.

     Já pensou em cursar medicina, seu pai era pesquisador e ela já passou muito tempo fazendo trabalhos comunitários relacionados a saúde, sabia exatamente o que fazer para veneno não se tornar mais uma preocupação.

    Esse ciclo teria que terminar com ela.

*

    A torturante semana foi se passando, aulas de etiqueta, dança, aprendendo nomes e posições de ricos metidos a besta, Cora estava sentada numa cadeira com as costas perfeitamente eretas e um livro pesado no topo de sua cabeça.

- Este é o sétimo filho do Rei August de Persephone Theodoro Terceiro de Cressa, o Príncipe Sawyer August Persephone, e noivo da Princesa Cordelia - Disse Riona colocando uma foto em frente a seu rosto.

- Que? - Cora arregalou os olhos e segurou o livro, o equilibrando no centro de sua cabeça novamente.

- Quando ambos tinham dezoito anos de idade o Rei fez um acordo com o Reino vizinho e para a consumação deste acordo assim que completarem dezenove se casarão e o príncipe será oficialmente Rei consorte de Domhall.

    Ele era bonito, rosto longo bem delineado, olhos azul escuros e cabelos pretos lisos perfeitamente arrumados, nariz reto, lábios finos, queixo marcado.

- E como é a relação dos dois?

- É... Amigável, o Príncipe prefere ficar no nosso Reino e raramente volta para casa, você poderia vê-lo constantemente passeando pelos jardins ou tomando chá na sacada da biblioteca.

- Como vou saber como a princesa se comportava em seu círculo íntimo?

- Vamos fazer o máximo para evitar isso, ainda faltam três meses para a primavera quando começa a temporada social, até lá vamos mante-la longe da vista dos outros - Disse Alexander, ele sempre estava em silêncio num canto, às vezes Cora esquecia da presença dele - Lembre-se que no palácio existirão pessoas que sabem da sua identidade, elas são de nossa extrema confiança, e vão estar ao seu lado o tempo todo.

- Quanto mais tempo passa mais acho isso uma péssima idéia.

- No que depender de mim você será mais perfeita do que a própria princesa, e saiba que é um perigo me desapontar - Riona mandou uma piscadela e Cora suspirou.

- Não pretendo fazer isso - Ela tirou o livro da cabeça e olhou para Alexander - O senhor que mais conviveu com a Princesa, o que mais pode dizer dela?

     Ele soltou os papéis e uma pontada de tristeza passou por seus olhos cor de âmbar, ele soltou um sorriso e assentiu.

- Sempre vivi no palácio e acompanhei o crescimento de Cordelia, ela é enérgica e sorridente, sempre foi o que se esperava de uma princesa na frente da corte, não gostava de falar de política e sempre arrumava uma desculpa quando o Rei a convocava para reuniões, quando não conseguia fugir apenas assistia e concordava, tem seus defeitos, mas é uma boa pessoa.

- Não é estranho para uma princesa herdeira com o pé no trono não se interessar por política?

- Nunca soube exatamente o motivo, ela não gostava de opinar mas sei que é muito inteligente e justa, tenho certeza que ela será uma ótima Rainha.

- Assim espero.

Capítulos
1 Capítulo 1 - A tarde de Outono
2 Capítulo 2 - A Obrigação
3 Capítulo 3 - A partida
4 Capítulo 4 - A Sombra
5 Capítulo 5 - A princesa
6 Capítulo 6 - A falsa Cordelia
7 Capítulo 7 - A corte
8 Capítulo 8 - A visita
9 Capítulo 9 - A variável
10 Capítulo 10 - A mudança
11 Capítulo 11 - O noivo
12 Capítulo 12 - A dúvida
13 Capítulo 13 - O risco
14 Capítulo 14 - A Viagem
15 Capítulo 15 - O Rei
16 Capítulo 16 - A companhia
17 Capítulo 17 - A peça
18 Capítulo 18 - O Príncipe
19 Capítulo 19 - O treino
20 Capítulo 20 - A disputa
21 Capítulo 21 - O capitão
22 Capítulo 22 - Os criados
23 Capítulo 23 - O retorno
24 Capítulo 24 - O irmão
25 Capítulo 25 - A noiva
26 Capítulo 26 - Os planos
27 Capítulo 27 - A informante
28 Capítulo 28 - A revolução
29 Capítulo 29 - A inércia
30 Capítulo 30 - A soldado
31 Capítulo 31 - O segredo
32 Capítulo 32 - A escapada
33 Capítulo 33 - O encontro
34 Capítulo 34 - O romance
35 Capítulo 35 A confusão
36 Capítulo 36 - Os primeiros passos
37 Capítulo 37 - A oferta
38 Capítulo 38 - A chuva
39 Capítulo 39 - O passeio
40 Capítulo 40 - O encontro
41 Capítulo 41 - A escolha
42 Capítulo 42 - A temporada social
43 Capítulo 43 - O casal
44 Capítulo 44 - A estrela cadente
45 Capítulo 45 - A ameaça
46 Capítulo 46 - O médico
47 Capítulo 47 - O dom
48 Capítulo 48 - O futuro
49 Capítulo 49 - O amuleto
50 Capítulo 50 - O plano de fuga
51 Capítulo 51 - A criada
52 Capítulo 52 - A declaração
53 Capítulo 53 - O Estranho
54 Capítulo 54 - A dor de cotovelo
55 Capítulo 55 - O selo
56 Capítulo 56 - O aprendiz
57 Capítulo 57 - A irmã
58 Capítulo 58 - O despertar
59 Capítulo 59 - A crise
60 Capítulo 59 - A crise
61 Capítulo 60 - A verdade
62 Capítulo 61 - A mentira
63 Capítulo 62 - O nome.
64 Capítulo 63 - O recomeço
65 Capítulo 68
Capítulos

Atualizado até capítulo 65

1
Capítulo 1 - A tarde de Outono
2
Capítulo 2 - A Obrigação
3
Capítulo 3 - A partida
4
Capítulo 4 - A Sombra
5
Capítulo 5 - A princesa
6
Capítulo 6 - A falsa Cordelia
7
Capítulo 7 - A corte
8
Capítulo 8 - A visita
9
Capítulo 9 - A variável
10
Capítulo 10 - A mudança
11
Capítulo 11 - O noivo
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Capítulo 12 - A dúvida
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Capítulo 13 - O risco
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Capítulo 14 - A Viagem
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Capítulo 15 - O Rei
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Capítulo 16 - A companhia
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Capítulo 17 - A peça
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Capítulo 18 - O Príncipe
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Capítulo 19 - O treino
20
Capítulo 20 - A disputa
21
Capítulo 21 - O capitão
22
Capítulo 22 - Os criados
23
Capítulo 23 - O retorno
24
Capítulo 24 - O irmão
25
Capítulo 25 - A noiva
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Capítulo 26 - Os planos
27
Capítulo 27 - A informante
28
Capítulo 28 - A revolução
29
Capítulo 29 - A inércia
30
Capítulo 30 - A soldado
31
Capítulo 31 - O segredo
32
Capítulo 32 - A escapada
33
Capítulo 33 - O encontro
34
Capítulo 34 - O romance
35
Capítulo 35 A confusão
36
Capítulo 36 - Os primeiros passos
37
Capítulo 37 - A oferta
38
Capítulo 38 - A chuva
39
Capítulo 39 - O passeio
40
Capítulo 40 - O encontro
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Capítulo 41 - A escolha
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Capítulo 42 - A temporada social
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Capítulo 43 - O casal
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Capítulo 44 - A estrela cadente
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Capítulo 45 - A ameaça
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Capítulo 46 - O médico
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Capítulo 47 - O dom
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Capítulo 48 - O futuro
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Capítulo 49 - O amuleto
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Capítulo 50 - O plano de fuga
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Capítulo 51 - A criada
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Capítulo 52 - A declaração
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Capítulo 53 - O Estranho
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Capítulo 54 - A dor de cotovelo
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Capítulo 55 - O selo
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Capítulo 56 - O aprendiz
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Capítulo 57 - A irmã
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Capítulo 58 - O despertar
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Capítulo 59 - A crise
60
Capítulo 59 - A crise
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Capítulo 60 - A verdade
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Capítulo 61 - A mentira
63
Capítulo 62 - O nome.
64
Capítulo 63 - O recomeço
65
Capítulo 68

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