O sol estava no meio do céu, brilhante e morno, a brisa gelada do fim do outono agitou os lençóis no varal, Coraline Prydwen andou lentamente, tentando fazer o mínimo possível de barulho ao pisar na grama úmida, suas botas pouco ajudavam na terefa, viu um vulto passar a alguns metros de distância e se apressou, puxou o lençol e sorriu
- Te encontrei Elara! - Exclamou para o nada.
- Perdeeeu! - Sua irmã mostrou a língua passando por trás dela e correndo em direção a árvore frondosa onde a brincadeira começou, Cora tentou alcança-la mas antes que ambas pudessem chegar ao tronco um corpo voou dentre seus galhos.
- As duas perderam! - Sorriu Fiona.
- Trapaceira! Você ficou o tempo todo na linha chegada! - Elara inflou as bochechas e Fiona deu de ombros.
- Ninguém disse que não podia.
- Você é uma rata sem-vergonha Fiona - Cora cerrou os olhos e sua irmã jogou a trança escura por cima do ombro com um olhar convencido.
- Na-na-não querida, eu só fui mais esperta, aprendam a perder e me passem os vinte por cento da mesada como combinado.
- Chega por hoje meninas! - Seu pai chamou da janela interrompendo a discussão - Hora de entrar.
As três correram para dentro e a mesa do almoço estava posta, Ophelia, a governanta que viu as três crescerem, colocava sobre a mesa delícias e mais delícias que preenchiam o ambiente com um aroma de dar água na boca.
- Comer, e depois, estudar, as duas - Ela disse pausadamente com os olhos cerrados para suas irmãs.
Elas resmungaram e foram lavar as mãos antes de se sentar a mesa.
Seu pai cuidou da educação das três, dado o fato de que viviam muito longe da cidade, eram pelos menos três horas de carruagem até o mais próximo de uma civilização, a propriedade era uma herança da família de sua mãe, apesar de ter uma família influente e diretamente ligada a família Real, ela nunca se importou com política e se mudou para o interior assim que se casou, ela era uma mulher simples e generosa, teve os melhores professores e cresceu na Capital tendo tudo do bom e do melhor, mas se apaixonou por um estudante de ciências e viveu seus dias tranquilos, cultivando flores e cuidando de suas três filhas.
O retrato no topo das escadas ainda causava dor a Cora, já faziam dois anos que ela se fora, mas a saudade ainda era sufocante.
Cora em breve faria dezenove e não tinha idéia do que queria fazer da vida, mas também não tinha pressa, gostava de ler, cavalgar e passar tempo com suas irmãs, Fiona de dezesseis e Elara de quatorze, eram completamente diferentes, Fiona era enérgica e curiosa, constantemente se metia em problemas e não tinha controle da própria língua, puxou os cabelos escuros e lisos de seu pai, bom como a pele cor de canela e os olhos afiados cor de grama, já Elara era comedida e graciosa, falava o necessário e era quase como a consciência de suas irmãs, cabelos loiros e ondulados, olhos grandes e castanhos emoldurados de cílios claros, o rosto redondo e a pele branquinha.
Depois da seção de estudos, a noite caia e todos estavam reunidos na sala de estar, seu pai com os olhos fixos num livro, Fiona e Elara entretidas num jogo de tabuleiro e Ophelia remendava um vestido que sofreu com as últimas aventuras das irmãs.
- Francamente - Ophelia olhou para Cora pelo enorme rombo - Como uma dama consegue abrir um buraco deste tamanho num vestido?
Cora sorriu dando de ombros e jogou um biscoito na boca.
- Ficando presa num galho tentando descer da árvore - Riu Fiona e Cora a deu um chute de brincadeira no braço.
- Não se toca nesse assunto - Disse com a boca cheia da divina massa de chocolate.
- Francamente, quando eu finalmente acho que você vai criar juízo, você já tem dezoito anos Coraline.
- A idade é só um número querida Ophelia, você também é jovem de mais para ser tão ranzinza.
Ela a olhou feio e Cora mandou um beijinho.
A campainha tocou e Ophelia se levantou para atender, então voltou alguns segundos depois com uma mão sobre o peito e os olhos preocupados.
- Meu senhor - Ela chamou e seu pai ergueu os olhos do livro.
*
As três se empilharam atrás da porta do escritório de seu pai enquanto ele falava com um homem misterioso, usava preto dos pés a cabeça, devia ter uns quarenta anos aproxidamente, cabelos castanhos escuros com alguns fios brancos bem arrumados penteados para trás, tinha uma cicatriz na boca que se destacava na pele escura.
- Não consigo ouvir nada - Sussurrou Elara.
- Não consigo ver nada - Resmungou Fiona.
- É por que não deviam - Ophelia segurou as duas pelas orelhas e as afastou da porta.
- Quem é esse homem? - Perguntou Cora.
- Se fosse da sua conta já saberia - Ophelia colocou as mãos nos quadris e a porta se abriu.
- Coraline - Chamou seu pai e as quatro se retesaram, ele fez um gesto para que ela entrasse, Cora olhou para o homem por cima do ombro de seu pai e assentiu o seguindo para dentro do escritório de repente frio, seu pai fechou a porta atrás deles.
E ali terminaram seus dias tranquilos.
É um prazer conhecê-la Senhorita Coraline, eu me chamo Aiden Alexander, e sirvo a coroa como Capitão da Guarda Real - Disse o homem, a voz grave e gentil.
Alexander, esse era um nome que aparecia diversas vezes nos livros de história por incontáveis gerações da família real, seus protetores leais.
Seus cães de guarda cegos.
Ele tinha olhos cor de mel amáveis apesar das olheiras de preocupação e cicatrizes de guerra.
- O prazer é meu, Capitão Alexender.
- Querida - Seu pai segurou a mão dela e a guiou até o sofá, estavam frias e suadas, um pouco trêmulas até - Tudo vai parecer confuso agora, mas peço que escute toda a história do Capitão Alexander, tudo vai fazer sentido.
O homem respirou fundo.
- Antes de mais nada, a senhorita sabe quem são os De Vance.
- Claro, a família da minha mãe.
- Exatamente, seu bisavô teve dois filhos, e eles tiveram cada um uma filha, Sienna, sua mãe, e Primrose, a Rainha.
- É, eu conheço a árvore genealógica da minha família.
- A dezoito anos a Rainha estava no seu sétimo mês de gestação - Começou tão óbvio e ficou sem sentido de repente, mas guardou as perguntas confiando que tudo faria algum sentido como disse seu pai - Numa noite durante um banquete da festividade de primavera o palácio sofreu um ataque, a senhorita deve ter conhecimento sobre as tensões que o Reino sofria naquela época.
- Claro, nosso país vizinho Tarenthe tentava tomar as fronteiras depois que o Rei se recusou a oferecer ajuda quando a região foi assolada pelo inverno rigoroso - Disse Cora e seu pai lhe deu um cutucão nas costas.
Ho, ela supostamente não deveria falar mal do Rei na frente de um guarda da coroa. O homem pigarreou e continuou.
- Rebeldes invadiram o palácio aquela noite para saquear e manter nobres reféns, a rainha entrou em trabalho de parto com o choque e as criadas conseguiram tira-la do salão por meio das passagens de serviço e ela deu a luz na ala dos criados, infelizmente a criança veio ao mundo sem vida, a Rainha já havia sofrido vários abortos, aquela altura o Rei já tinha outra esposa e ela estava no terceiro mês de gestação, a segunda esposa do Rei é uma nobre de Tarenthe, a mão dela foi dada como uma promessa de paz, naquela situação ninguém queria que o filho da Esposa se Tarenthe fosse o herdeiro da nossa Coroa.
Mas o Reino tem uma princesa Herdeira, filha da Rainha, e sua tia Primrose, se a criança morreu e a segunda Esposa estava grávida, a conta não bate.
- Depois de perder a criança a Rainha se isolou no palácio da família De Vance, e a muitos quilômetros dali, numa outra propriedade dos De Vance, a agora conhecida como Sienna Prydwen dava a luz a duas meninas saudáveis.
A mente de Cora ficou em branco por um segundo, ela olhou para seu pai que apenas encarava o chão com os olhos perdidos.
- Duas?
- A você Coraline Prydwen, e a princesa de Domhall, Cordelia.
Tinha tantas perguntas que não sabia como começar, sua mente girou e decidiu ficar em silêncio enquanto o homem continuava com sua história, que se não fosse pela expressão de seu pai, ela teria absoluta certeza que era absurda.
- O pai da Rainha Primrose convocou um sábio, e os três vieram até esta casa, e fizeram um juramento.
- Fizemos de tudo, sua mãe sofreu tanto... - Seu pai baixou o rosto cobrindo os olhos - Sienna não queria entregar vocês, ela nunca se importou com o peso que seu nome carregava e vocês eram mais importantes que qualquer coisa para ela, mas o duque não aceitaria que sua filha fosse humilhada pela corte por não conseguir dar a luz a um herdeiro, e nem permitiria que o filho de uma estrangeira subisse ao trono, ela seria destituida de seu posto de Rainha-mãe e Magdalenne de Tarenthe se tornaria a primeira Esposa. Então ele trouxe o sábio para que Sienna não pudesse recusar, e para que esse segredo fosse mantido no mais absoluto sigilo.
A corte de Domhall tem sábios que guiam o Reino com seus poderes, Cora nunca conheceu um pessoalmente, mas dizem que são poderosos, alguns podem ver o futuro, outros já viveram mais de duzentos anos, as histórias são muitas e não se sabe o quanto é verdade, mas um juramento feito por um sábio quando quebrado poderia custar sua vida.
- Naquela noite eu e Sienna juramos servir a coroa, sua mãe aceitou o acordo mas com a condição de que Cordelia sempre fosse sua filha, entrega-la para o ninho de cobras que é a corte já era doroloso o suficiente - Explicou seu pai - Cordelia sempre soube que é filha de Sienna, e ela a visitava sempre que Cordelia estava no palácio da família.
- E o que isso tudo tem haver comigo a essa altura do campeonato?
- Cordelia foi envenenada e está em coma a uma semana agora, estamos dando nosso melhor mas no fim das contas não sabemos quando ela vai acordar.
- Então vocês querem substituir a princesa herdeira de novo? E o que acontece quando atacarem outra vez? Tem mais alguma irmã que eu não saiba?
- Coraline...
- Isso tudo é loucura pai, é completamente ridículo... - Cora se levantou e saiu da sala a passos largos, suas irmãs não estavam mais bisbilhotando, Ophelia deve tê-las colocado para correr, desceu as escadas escutando o sangue bombear em seus ouvidos e fazendo sua cabeça doer tanto, estacou e olhou para a pintura de sua mãe no topo das escadas.
Cerrou os dentes e correu para fora de casa.
*
Cora correu até os estábulos, selou sua égua castanha e trotou até além dos portões da propriedade.
Era algo que ela fazia com frequência, talvez o vento em seus ouvidos fizessem seus pensamentos serem abafados e sua mente clareava.
Parou ao chegar no pequeno lago a alguns minutos de distância de casa, escalou uma árvore que já tinha em seu tronco as marcas de seus pés de tantos anos que ela usou para se refugiar, aquilo não era o que se podia chamar de casa da Árvore, era apenas um assoalho de madeira com alguns tecidos presos aos galhos e almofadas, acendeu as velas dentro dos frascos de vidro e encarou o pavio queimar.
Não sabia muito de sua família, sabia que tinha pessoas importantes, e dela já vieram Reis e Rainhas consortes a muitas gerações, mas não sabia que tinha pessoas com seu sangue e tão egoístas.
Quem se importa se o Herdeiro for filho de uma estrangeira? Ele nasceu neste solo, foi criado aqui e tem o sangue do Rei, a mãe dele por acaso era alguma víbora sedenta de poder? Ou apenas mais uma jovem que foi forçada a um acordo comercial?
Arrancaram sua irmã dos braços de seus pais para proteger o ego de pessoas poderosas.
Aquele homem apareceu como se fizesse um pedido mas Cora sabia que não tinha como fugir disso. Mataram a verdadeira princesa, atentaram contra sua irmã, ela seria só mais um acessório substituível, tentam tanto proteger uma imagem e parece que nunca foram capaz de proteger a princesa.
Agora sabia por que seu pai odiava tanto a coroa, sabia por que apesar de sua mãe ter uma linhagem tão nobre preferiu vir para o campo e apenas esquecer de tudo isso, mas os problemas da corte deturpada a seguiram.
Se deitou encarando as estrelas, sua cabeça doía tanto e tantos pensamentos passavam por ela que decidiu simplesmente ignorar, e adormeceu com a vista para o manto escuro salpicado de prata.
*
- Cora? - Fiona se levantou de onde estava encolhida na escada.
Coraline acabou passando a noite toda fora, voltava na companhia de sua égua Bonnie ao amanhecer.
- Fiona, o que está fazendo aqui?
- Te esperei a noite toda, nem consegui dormir, vi quando saiu da sala do papai, você parecia assustada.
Assustada... Sim, pensou que estivesse com raiva, mas não tinha por que ter raiva de algo que aconteceu a tanto tempo, estava com medo do agora, e do que estava por vir.
- Aquele homem... Ele veio pedir que eu fosse para a Capital.
- Por que? Quem ele é?
Coraline respirou fundo e apertou as rédeas.
- Alguém que trabalha para nossa família, parece que nosso tio-avô está doente e eles não tem mais nenhum Herdeiro na casa.
- E o que o Papai acha disso?
- Ele não acha a idéia muito boa, você sabe como esses nobres são.
- Eu iria, se fosse você.
- Por que?
- Você é incrível de mais pra esse lugar - Ela pegou as rédeas da mão de Cora e seguiu em direção aos estábulos - De verdade, sabe, eu não gosto muito de estudar, matemática me assusta e olhar para um livro faz a minha mente simplesmente pensar em tudo menos no que estou lendo. Mas você sempre foi muito inteligente, e focada, você nunca teve medo de nada.
- Não é verdade, estou com bastante medo agora.
- Mas você faz mesmo assim não é - Elas chegaram ao estábulo e Fiona começou a tirar a cela - Lembra de quando aquele velho nojento estava pertubando as meninas na saída da escola? Você foi lá e deu um soco nele mesmo sabendo que ele era da guarda.
- Foi muito bom passar a noite na cadeia.
- A festa do pijama que as meninas deram para agradecer foi muito melhor. Cora você é incrível - Fiona segurou as mãos dela - E não tem nada nesse mundo que você não possa fazer, e sempre achei esse lugar pequeno de mais para sua grandiosidade.
- Por que está me elogiando tanto? Não vou deixar meu quarto para você.
As duas riram e Fiona encarou suas mãos com uma expressão quase tristem
- Você não tem vontade de sair daqui Cora?
- Por que eu iria querer? Tenho vocês, e nunca precisei me preocupar.
- Eu quero, quando eu fizer dezoito, quero me alistar para a guarda.
- Sério? Eu não fazia idéia.
- É - Ela se retesou e respirou fundo - Não sou inteligente como você, ou o papai, nem gentil e doce como a mamãe e Elara, então eu estava pensando no que poderia fazer para ajudar as pessoas do meu jeito enquanto ajudava o cocheiro a carregar os sacos de ração e descobri que sou muito forte.
- Quem disse que você não é inteligente? Você sempre ganha no pique-esconde com suas táticas mirabolantes, e se você pensa nos outros sempre que teve tudo para si você é gentil. Você vai ser a melhor soldado do mundo Fiona.
As duas se abraçaram, o vento gelado da manhã que entrou pelas janelas bagunçou seus cabelos e Fiona estremeceu.
- Entre, eu vou logo depois de você.
- Certo, não demore - Fiona saiu do estábulo e correu para casa.
Cora passou uma mão pela crina de Bonnie e respirou fundo.
- Fazer algo pelos outros não é...
Assim que entrou na casa se deparou com a figura imponente do Capitão no sofá da sala, suas cicatrizes e a farda escura e pesada destoavam da decoração simples e sofisticada da casa de campo.
- Bom dia, senhorita Coraline.
- Bom dia Capitão Alexander.
- Você pensou o suficiente? - Perguntou o soldado com a voz baixa, segurando a xícara delicada com as mãos grosseiras.
- Esqueci de perguntar ontem mas é um convite ou um ultimato?
- É um pedido de socorro - Ele colocou a xícara de lado e se levantou, então se joelhou e baixou a cabeça com um punho no chão e a outra mão sobre o coração - Em nome do Rei, e do nosso Reino, eu imploro.
- Vocês não foram capazes de proteger a princesa, duas vezes, o que vai acontecer comigo?
- Eu fui descuidado, Cordelia é... É um espírito livre - Ele sorriu e se levantou - Eu a vi crescer, já tive que tira-la de muitas árvores e fazer vigia em sua janela para que não fugisse para a cidade a noite, ela gostava de cavalgar e estava constantemente roubando meu cavalo, um momento de descuido, e eu quase a perdi para sempre - Ele fechou os olhos - Eu não posso prometer que estará segura, mas eu vou fazer as coisas diferentes dessa vez, me ajude a acabar com isso de uma vez por todas, não posso ver o Rei e a Rainha, meus estimados amigos, perderam a filha outra vez, e não posso deixar o Reino desamparado novamente.
Cora abraçou os braços e respirou fundo, traçando padrões distraimente no carpete.
- Estou com medo...
- Não posso culpa-la por isso, eu também estou.
Depois de alguns minutos em silêncio Cora ergueu os olhos.
- Como ela é? A Cordelia...
- Rebelde, esperta, e tem um senso de responsabilidade e justiça incomparável.
- Eu acho que usaria essas palavras para descrever a mamãe.
- A vida de Cordelia não foi fácil, mas as visitas de Sienna eram seu porto seguro, a salvaram, e a ajudaram a levantar, muitas vezes.
- Não foi fácil?
- A tensão, a pressão, a vida de um herdeiro não é fácil, de um herdeiro no meio do colapso então.
- Acha que posso fazer isso?
- Eu não sei, não te conheço, mas quando conversei com seu pai ele disse apenas que sua bondade e coragem seria capaz de qualquer coisa, e contou sobre a vez que você foi presa.
- Não é como se eu não tivesse chorado e chamado pelo papai a noite inteira.
- Mas foi para ajudar pessoas que você nem conhecia..
- Conto com sua ajuda então, Alexander.
- Eu serei eternamente grato, Coraline.
*
Cora subiu para seu quarto, Elara estava dormindo tranquilamente em sua cama, os cílios e os cabelos claros brilhavam com a luz fraca do sol, Fiona cochilou enquanto a esperava na ponta da cama os membros espalhados sem nenhuma elegância e um som nasal escapava sempre que ela expirava.
Se deitou entre as duas e Fiona resmungou.
- Line - Elara esfregou os olhos - Você voltou.
- Desculpe preocupar vocês - Cora segurou a mão pequena dela.
- Está tudo bem?
- Mais ou menos, vamos conversar mais tarde, volte a dormir.
Ela abraçou Cora que se aconchegou em seus cachos loiros, Fiona grunhiu se aproximando também e jogou um braço pesado em cima de Cora, acabaram dormindo as três ali.
*
- Ir embora?! Tão rápido? Hoje? Por que tão de repente? - Disse Elara com lágrimas nos olhos.
- Me desculpe, mas é realmente urgente - Disse o soldado.
- Quando você volta Line? - Elara correu abraçando a cintura de Coraline.
- Não sei, pode levar algumas semanas, ou meses, não sei se vou poder visitar vocês enquanto isso - Coraline passou uma mão pelos cabelos claros dela.
- Pare de ser tão chorona Lara! Você devia estar desejando uma boa viagem! - Disse Fiona.
- Mas você também está chorando!
- É o tempo que está muito frio e deixa meus olhos úmidos! - Fiona correu e abraçou as duas - Volte logo Cora, ou nós vamos até lá atrás de você.
- Não precisa se preocupar, demore muito ou pouco eu vou voltar - Coraline passou a mão nos cabelos delas e elas se afastaram fungando.
Fiona limpou o nariz de Elara e então Elara tirou um lenço do bolso e limpou o nariz de Fiona.
- Já arrumei suas coisas querida - Disse Ophelia e Coraline sorriu a abraçando.
- Obrigada Ophe, aproveite para descansar agora que não terá tantos vestidos para remendar.
- Não seja boba, não é nenhum incômodo.
Cora sorriu e a abraçou de novo. Então seu pai parou na frente dela e respirou fundo, as mãos dele estavam trêmulas e seus olhos cheios de olheiras.
- O senhor parece mais preocupado que eu Papai - Ela segurou as mãos dele - Durma direito, não pule as refeições, e saia de vez em quando para tomar um ar. Certo?
Ele assentiu e a abraçou.
- Vou estar aqui, esperando quando você voltar querida.
Ela assentiu e se afastou.
- Até logo - Sorriu.
*
Eles viajariam três horas a cavalo até a cidade onde estava a comitiva do Capitão para então seguir uma longa jornada de uma semana até a capital.
- Estou me perguntando isso a um tempo, mas que tipo de pessoa é a segunda esposa do Rei? - Perguntou Cora.
- Na verdade não tive muito contato com ela, seu nome é Magdalenne, do Reino de Tarenthe, ela tem três filhos, o mais velho Friedch é um soldado influente, raramente se encontra no palácio, que eu saiba Lady Magdalenne nunca se interessou pelos assuntos políticos, as filhas mais novas mal são vistas até mesmo em eventos, ela é tranquila e agradável, nunca tiveram rumores sobre ela.
- O que reforça minha tese que meu bisavô só queria manter status e tinha uma pitada de preconceito.
- Como assim?
- Você tem alguma garantia que Friedch não seria um bom Rei? Só por a mãe dele ser estrangeira?
- Tem razão, como soldado eu conheço os feitos do príncipe, ele na verdade é muito bondoso, é formado na guarda mas sempre agiu mais de forma diplomática, o Reino não viu mais muitas batalhas depois do término da Guerra.
- Não passa de uma briga de status.
- Talvez você tenha razão, mas também existe um outro lado.
- Outro lado?
- O Patriarca também queria proteger a filha, conheço a Rainha a muito tempo, ela viveu por este papel, e não conseguir dar a luz ao herdeiro da coroa deve ter sido doloroso para ela, e ter que entregar a responsabilidade nas mãos do filho da segunda Esposa.
- Não deixa de ser uma questão de ego, ela não tem culpa de não poder ter filhos.
- As coisas são mais complicadas do que parecem.
- Você concordou com tudo isso então?
- Em grande parte sim, pode me odiar se quiser, mas eu sirvo a coroa.
- Não ganho nada te odiando, na verdade seria ruim agora que minha vida depende de você.
Ele soltou uma risada e assentiu.
- Lady Magdalenne não fez nada quanto às tensões entre os Reinos? Você disse que o ataque foi coisa de Tarenthe.
- Na verdade foi obra dos rebeldes e plebeus, que foram os que mais sofreram com a época de frio intenso, não havia muito o que se fazer, politicamente as coisas estavam tranquilas graças ao casamento do Rei e Lady Magdalenne.
- Entendi...
Eles chegaram a uma pousada simpática na cidade depois de algumas horas, o traseiro de Cora estava dolorido e seu estômago roncava, subiram as escadas de madeira até um quarto limpo e aconchegante.
- Vou trazer sua comida em breve, não saia deste quarto a não ser que eu venha te buscar entendeu? E não abra a porta a menos que eu diga que sou eu. Escolhi pessoas de minha confiança para te acompanharem enquanto isso durar, elas não sabem e nem devem saber do seu parentesco com a Princesa, você é apenas uma Sombra de Cordelia.
- Entendido.
- Pode tomar um banho e tem um baú com alguns itens que pode precisar em baixo da sua cama.
- Obrigada.
Ele acenou com a cabeça e saiu.
Cora auspirou e puxou o baú, tinham alguns vestidos simples, mas que pela qualidade do material e a costura sofisticada podia dizer que eram caros, alguns itens de higiene, roupas íntimas, sapatos confortáveis e uma capa grossa, então um medalhão, quando o abriu viu um rosto extremamente parecido com o seu, o formato comprido do rosto, o olhos pequenos e amendoados, lábios finos em cima e carnudos em baixo, mas seus cabelos eram longos, claros, brilhantes e cheios de ondas, diferentes dos lisos e escuros de Cora, olhos caídos, sorriso melancólico, ela parecia tão pálida e frágil, essa era sua irmã, Cordelia.
Guardou o medalhão e escolheu algumas roupas, tomou uma ducha rápida e quando saiu escutou uma batida na porta.
- Sou eu - Disse Alexander e Cora abriu a porta.
Ele empurrou um carrinho para dentro do quarto.
- Aqui está seu jantar, e quero conheça quem vai te acompanhar quando eu não estiver presente, Cerise, Riona - Ele chamou e duas figuras entraram.
Cerise não era muito alto, usava roupas pesadas e escuras sobre o corpo definido, tinha ombros largos e rosto quadrado, olhos escuros pequenos e afiados, lábios carnudos, as feições delineadas numa expressão carrancuda e cabelos curtos pretos, bonito, muito bonito. Já Riona tinha um sorriso acolhedor e olhos claros divertidos, pele escura, lábios grossos, cabelos cacheados, pretos, amarrados no topo da cabeça com várias tranças na raíz, corpo curvilíneo com o mesmo uniforme.
- Muito prazer! - Riona sorriu acenando.
- O prazer é meu, por favor cuidem de mim, estou em suas mãos.
- Pode contar conosco, você realmente se parece com a princesa, mas vou ter algum trabalho até te deixar perfeita - Riona fez um biquinho - Ha é! Eu vou te acompanhar como sua criada daqui para frente, já Cerise vai continuar como soldado. Pode comer e descansar, amanhã quando partirmos vamos começar as lições.
- Certo, obrigada.
Ela sorriu girando nos saltos para sair e Cerise fez uma mesura antes de se retirar também.
- Bom descanso - Disse Alexander.
- O senhor também, durma bem.
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