Capítulo 3 - A partida

     Assim que entrou na casa se deparou com a figura imponente do Capitão no sofá da sala, suas cicatrizes e a farda escura e pesada destoavam da decoração simples e sofisticada da casa de campo.

- Bom dia, senhorita Coraline.

- Bom dia Capitão Alexander.

- Você pensou o suficiente? - Perguntou o soldado com a voz baixa, segurando a xícara delicada com as mãos grosseiras.

- Esqueci de perguntar ontem mas é um convite ou um ultimato?

- É um pedido de socorro - Ele colocou a xícara de lado e se levantou, então se joelhou e baixou a cabeça com um punho no chão e a outra mão sobre o coração - Em nome do Rei, e do nosso Reino, eu imploro.

- Vocês não foram capazes de proteger a princesa, duas vezes, o que vai acontecer comigo?

- Eu fui descuidado, Cordelia é... É um espírito livre - Ele sorriu e se levantou - Eu a vi crescer, já tive que tira-la de muitas árvores e fazer vigia em sua janela para que não fugisse para a cidade a noite, ela gostava de cavalgar e estava constantemente roubando meu cavalo, um momento de descuido, e eu quase a perdi para sempre - Ele fechou os olhos - Eu não posso prometer que estará segura, mas eu vou fazer as coisas diferentes dessa vez, me ajude a acabar com isso de uma vez por todas, não posso ver o Rei e a Rainha, meus estimados amigos, perderam a filha outra vez, e não posso deixar o Reino desamparado novamente.

       Cora abraçou os braços e respirou fundo, traçando padrões distraimente no carpete.

- Estou com medo...

- Não posso culpa-la por isso, eu também estou.

      Depois de alguns minutos em silêncio Cora ergueu os olhos.

- Como ela é? A Cordelia...

- Rebelde, esperta, e tem um senso de responsabilidade e justiça incomparável.

- Eu acho que usaria essas palavras para descrever a mamãe.

- A vida de Cordelia não foi fácil, mas as visitas de Sienna eram seu porto seguro, a salvaram, e a ajudaram a levantar, muitas vezes.

- Não foi fácil?

- A tensão, a pressão, a vida de um herdeiro não é fácil, de um herdeiro no meio do colapso então.

- Acha que posso fazer isso?

- Eu não sei, não te conheço, mas quando conversei com seu pai ele disse apenas que sua bondade e coragem seria capaz de qualquer coisa, e contou sobre a vez que você foi presa.

- Não é como se eu não tivesse chorado e chamado pelo papai a noite inteira.

- Mas foi para ajudar pessoas que você nem conhecia..

- Conto com sua ajuda então, Alexander.

- Eu serei eternamente grato, Coraline.

*

   Cora subiu para seu quarto, Elara estava dormindo tranquilamente em sua cama, os cílios e os cabelos claros brilhavam com a luz fraca do sol, Fiona cochilou enquanto a esperava na ponta da cama os membros espalhados sem nenhuma elegância e um som nasal escapava sempre que ela expirava.

  Se deitou entre as duas e Fiona resmungou.

- Line - Elara esfregou os olhos - Você voltou.

- Desculpe preocupar vocês - Cora segurou a mão pequena dela.

- Está tudo bem?

- Mais ou menos, vamos conversar mais tarde, volte a dormir.

     Ela abraçou Cora que se aconchegou em seus cachos loiros, Fiona grunhiu se aproximando também e jogou um braço pesado em cima de Cora, acabaram dormindo as três ali.

*

- Ir embora?! Tão rápido? Hoje? Por que tão de repente? - Disse Elara com lágrimas nos olhos.

- Me desculpe, mas é realmente urgente - Disse o soldado.

- Quando você volta Line? - Elara correu abraçando a cintura de Coraline.

- Não sei, pode levar algumas semanas, ou meses, não sei se vou poder visitar vocês enquanto isso - Coraline passou uma mão pelos cabelos claros dela.

- Pare de ser tão chorona Lara! Você devia estar desejando uma boa viagem! - Disse Fiona.

- Mas você também está chorando!

- É o tempo que está muito frio e deixa meus olhos úmidos! - Fiona correu e abraçou as duas - Volte logo Cora, ou nós vamos até lá atrás de você.

- Não precisa se preocupar, demore muito ou pouco eu vou voltar - Coraline passou a mão nos cabelos delas e elas se afastaram fungando.

       Fiona limpou o nariz de Elara e então Elara tirou um lenço do bolso e limpou o nariz de Fiona.

- Já arrumei suas coisas querida - Disse Ophelia e Coraline sorriu a abraçando.

- Obrigada Ophe, aproveite para descansar agora que não terá tantos vestidos para remendar.

- Não seja boba, não é nenhum incômodo.

      Cora sorriu e a abraçou de novo. Então seu pai parou na frente dela e respirou fundo, as mãos dele estavam trêmulas e seus olhos cheios de olheiras.

- O senhor parece mais preocupado que eu Papai - Ela segurou as mãos dele - Durma direito, não pule as refeições, e saia de vez em quando para tomar um ar. Certo?

     Ele assentiu e a abraçou.

- Vou estar aqui, esperando quando você voltar querida.

     Ela assentiu e se afastou.

- Até logo - Sorriu.

*

     Eles viajariam três horas a cavalo até a cidade onde estava a comitiva do Capitão para então seguir uma longa jornada de uma semana até a capital.

- Estou me perguntando isso a um tempo, mas que tipo de pessoa é a segunda esposa do Rei? - Perguntou Cora.

- Na verdade não tive muito contato com ela, seu nome é Magdalenne, do Reino de Tarenthe, ela tem três filhos, o mais velho Friedch é um soldado influente, raramente se encontra no palácio, que eu saiba Lady Magdalenne nunca se interessou pelos assuntos políticos, as filhas mais novas mal são vistas até mesmo em eventos, ela é tranquila e agradável, nunca tiveram rumores sobre ela.

- O que reforça minha tese que meu bisavô só queria manter status e tinha uma pitada de preconceito.

- Como assim?

- Você tem alguma garantia que Friedch não seria um bom Rei? Só por a mãe dele ser estrangeira?

- Tem razão, como soldado eu conheço os feitos do príncipe, ele na verdade é muito bondoso, é formado na guarda mas sempre agiu mais de forma diplomática, o Reino não viu mais muitas batalhas depois do término da Guerra.

- Não passa de uma briga de status.

- Talvez você tenha razão, mas também existe um outro lado.

- Outro lado?

- O Patriarca também queria proteger a filha, conheço a Rainha a muito tempo, ela viveu por este papel, e não conseguir dar a luz ao herdeiro da coroa deve ter sido doloroso para ela, e ter que entregar a responsabilidade nas mãos do filho da segunda Esposa.

- Não deixa de ser uma questão de ego, ela não tem culpa de não poder ter filhos.

- As coisas são mais complicadas do que parecem.

- Você concordou com tudo isso então?

- Em grande parte sim, pode me odiar se quiser, mas eu sirvo a coroa.

- Não ganho nada te odiando, na verdade seria ruim agora que minha vida depende de você.

    Ele soltou uma risada e assentiu.

- Lady Magdalenne não fez nada quanto às tensões entre os Reinos? Você disse que o ataque foi coisa de Tarenthe.

- Na verdade foi obra dos rebeldes e plebeus, que foram os que mais sofreram com a época de frio intenso, não havia muito o que se fazer, politicamente as coisas estavam tranquilas graças ao casamento do Rei e Lady Magdalenne.

- Entendi...

   Eles chegaram a uma pousada simpática na cidade depois de algumas horas, o traseiro de Cora estava dolorido e seu estômago roncava, subiram as escadas de madeira até um quarto limpo e aconchegante.

- Vou trazer sua comida em breve, não saia deste quarto a não ser que eu venha te buscar entendeu? E não abra a porta a menos que eu diga que sou eu. Escolhi pessoas de minha confiança para te acompanharem enquanto isso durar, elas não sabem e nem devem saber do seu parentesco com a Princesa, você é apenas uma Sombra de Cordelia.

- Entendido.

- Pode tomar um banho e tem um baú com alguns itens que pode precisar em baixo da sua cama.

- Obrigada.

     Ele acenou com a cabeça e saiu.

Cora auspirou e puxou o baú, tinham alguns vestidos simples, mas que pela qualidade do material e a costura sofisticada podia dizer que eram caros, alguns itens de higiene, roupas íntimas, sapatos confortáveis e uma capa grossa, então um medalhão, quando o abriu viu um rosto extremamente parecido com o seu, o formato comprido do rosto, o olhos pequenos e amendoados, lábios finos em cima e carnudos em baixo, mas seus cabelos eram longos, claros, brilhantes e cheios de ondas, diferentes dos lisos e escuros de Cora, olhos caídos, sorriso melancólico, ela parecia tão pálida e frágil, essa era sua irmã, Cordelia.

     Guardou o medalhão e escolheu algumas roupas, tomou uma ducha rápida e quando saiu escutou uma batida na porta.

- Sou eu - Disse Alexander e Cora abriu a porta.

     Ele empurrou um carrinho para dentro do quarto.

- Aqui está seu jantar, e quero conheça quem vai te acompanhar quando eu não estiver presente, Cerise, Riona - Ele chamou e duas figuras entraram.

    Cerise não era muito alto, usava roupas pesadas e escuras sobre o corpo definido, tinha ombros largos e rosto quadrado, olhos escuros pequenos e afiados, lábios carnudos, as feições delineadas numa expressão carrancuda e cabelos curtos pretos, bonito, muito bonito. Já Riona tinha um sorriso acolhedor e olhos claros divertidos, pele escura, lábios grossos, cabelos cacheados, pretos, amarrados no topo da cabeça com várias tranças na raíz, corpo curvilíneo com o mesmo uniforme.

- Muito prazer! - Riona sorriu acenando.

- O prazer é meu, por favor cuidem de mim, estou em suas mãos.

- Pode contar conosco, você realmente se parece com a princesa, mas vou ter algum trabalho até te deixar perfeita - Riona fez um biquinho - Ha é! Eu vou te acompanhar como sua criada daqui para frente, já Cerise vai continuar como soldado. Pode comer e descansar, amanhã quando partirmos vamos começar as lições.

- Certo, obrigada.

     Ela sorriu girando nos saltos para sair e Cerise fez uma mesura antes de se retirar também.

- Bom descanso - Disse Alexander.

- O senhor também, durma bem.

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Maria Ines Groff Ferreira

Maria Ines Groff Ferreira

está interessante

2022-07-25

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Capítulos
1 Capítulo 1 - A tarde de Outono
2 Capítulo 2 - A Obrigação
3 Capítulo 3 - A partida
4 Capítulo 4 - A Sombra
5 Capítulo 5 - A princesa
6 Capítulo 6 - A falsa Cordelia
7 Capítulo 7 - A corte
8 Capítulo 8 - A visita
9 Capítulo 9 - A variável
10 Capítulo 10 - A mudança
11 Capítulo 11 - O noivo
12 Capítulo 12 - A dúvida
13 Capítulo 13 - O risco
14 Capítulo 14 - A Viagem
15 Capítulo 15 - O Rei
16 Capítulo 16 - A companhia
17 Capítulo 17 - A peça
18 Capítulo 18 - O Príncipe
19 Capítulo 19 - O treino
20 Capítulo 20 - A disputa
21 Capítulo 21 - O capitão
22 Capítulo 22 - Os criados
23 Capítulo 23 - O retorno
24 Capítulo 24 - O irmão
25 Capítulo 25 - A noiva
26 Capítulo 26 - Os planos
27 Capítulo 27 - A informante
28 Capítulo 28 - A revolução
29 Capítulo 29 - A inércia
30 Capítulo 30 - A soldado
31 Capítulo 31 - O segredo
32 Capítulo 32 - A escapada
33 Capítulo 33 - O encontro
34 Capítulo 34 - O romance
35 Capítulo 35 A confusão
36 Capítulo 36 - Os primeiros passos
37 Capítulo 37 - A oferta
38 Capítulo 38 - A chuva
39 Capítulo 39 - O passeio
40 Capítulo 40 - O encontro
41 Capítulo 41 - A escolha
42 Capítulo 42 - A temporada social
43 Capítulo 43 - O casal
44 Capítulo 44 - A estrela cadente
45 Capítulo 45 - A ameaça
46 Capítulo 46 - O médico
47 Capítulo 47 - O dom
48 Capítulo 48 - O futuro
49 Capítulo 49 - O amuleto
50 Capítulo 50 - O plano de fuga
51 Capítulo 51 - A criada
52 Capítulo 52 - A declaração
53 Capítulo 53 - O Estranho
54 Capítulo 54 - A dor de cotovelo
55 Capítulo 55 - O selo
56 Capítulo 56 - O aprendiz
57 Capítulo 57 - A irmã
58 Capítulo 58 - O despertar
59 Capítulo 59 - A crise
60 Capítulo 59 - A crise
61 Capítulo 60 - A verdade
62 Capítulo 61 - A mentira
63 Capítulo 62 - O nome.
64 Capítulo 63 - O recomeço
65 Capítulo 68
Capítulos

Atualizado até capítulo 65

1
Capítulo 1 - A tarde de Outono
2
Capítulo 2 - A Obrigação
3
Capítulo 3 - A partida
4
Capítulo 4 - A Sombra
5
Capítulo 5 - A princesa
6
Capítulo 6 - A falsa Cordelia
7
Capítulo 7 - A corte
8
Capítulo 8 - A visita
9
Capítulo 9 - A variável
10
Capítulo 10 - A mudança
11
Capítulo 11 - O noivo
12
Capítulo 12 - A dúvida
13
Capítulo 13 - O risco
14
Capítulo 14 - A Viagem
15
Capítulo 15 - O Rei
16
Capítulo 16 - A companhia
17
Capítulo 17 - A peça
18
Capítulo 18 - O Príncipe
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Capítulo 19 - O treino
20
Capítulo 20 - A disputa
21
Capítulo 21 - O capitão
22
Capítulo 22 - Os criados
23
Capítulo 23 - O retorno
24
Capítulo 24 - O irmão
25
Capítulo 25 - A noiva
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Capítulo 26 - Os planos
27
Capítulo 27 - A informante
28
Capítulo 28 - A revolução
29
Capítulo 29 - A inércia
30
Capítulo 30 - A soldado
31
Capítulo 31 - O segredo
32
Capítulo 32 - A escapada
33
Capítulo 33 - O encontro
34
Capítulo 34 - O romance
35
Capítulo 35 A confusão
36
Capítulo 36 - Os primeiros passos
37
Capítulo 37 - A oferta
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Capítulo 38 - A chuva
39
Capítulo 39 - O passeio
40
Capítulo 40 - O encontro
41
Capítulo 41 - A escolha
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Capítulo 42 - A temporada social
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Capítulo 43 - O casal
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Capítulo 44 - A estrela cadente
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Capítulo 45 - A ameaça
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Capítulo 46 - O médico
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Capítulo 47 - O dom
48
Capítulo 48 - O futuro
49
Capítulo 49 - O amuleto
50
Capítulo 50 - O plano de fuga
51
Capítulo 51 - A criada
52
Capítulo 52 - A declaração
53
Capítulo 53 - O Estranho
54
Capítulo 54 - A dor de cotovelo
55
Capítulo 55 - O selo
56
Capítulo 56 - O aprendiz
57
Capítulo 57 - A irmã
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Capítulo 58 - O despertar
59
Capítulo 59 - A crise
60
Capítulo 59 - A crise
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Capítulo 60 - A verdade
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Capítulo 62 - O nome.
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Capítulo 63 - O recomeço
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Capítulo 68

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