Assim que entrou na casa se deparou com a figura imponente do Capitão no sofá da sala, suas cicatrizes e a farda escura e pesada destoavam da decoração simples e sofisticada da casa de campo.
- Bom dia, senhorita Coraline.
- Bom dia Capitão Alexander.
- Você pensou o suficiente? - Perguntou o soldado com a voz baixa, segurando a xícara delicada com as mãos grosseiras.
- Esqueci de perguntar ontem mas é um convite ou um ultimato?
- É um pedido de socorro - Ele colocou a xícara de lado e se levantou, então se joelhou e baixou a cabeça com um punho no chão e a outra mão sobre o coração - Em nome do Rei, e do nosso Reino, eu imploro.
- Vocês não foram capazes de proteger a princesa, duas vezes, o que vai acontecer comigo?
- Eu fui descuidado, Cordelia é... É um espírito livre - Ele sorriu e se levantou - Eu a vi crescer, já tive que tira-la de muitas árvores e fazer vigia em sua janela para que não fugisse para a cidade a noite, ela gostava de cavalgar e estava constantemente roubando meu cavalo, um momento de descuido, e eu quase a perdi para sempre - Ele fechou os olhos - Eu não posso prometer que estará segura, mas eu vou fazer as coisas diferentes dessa vez, me ajude a acabar com isso de uma vez por todas, não posso ver o Rei e a Rainha, meus estimados amigos, perderam a filha outra vez, e não posso deixar o Reino desamparado novamente.
Cora abraçou os braços e respirou fundo, traçando padrões distraimente no carpete.
- Estou com medo...
- Não posso culpa-la por isso, eu também estou.
Depois de alguns minutos em silêncio Cora ergueu os olhos.
- Como ela é? A Cordelia...
- Rebelde, esperta, e tem um senso de responsabilidade e justiça incomparável.
- Eu acho que usaria essas palavras para descrever a mamãe.
- A vida de Cordelia não foi fácil, mas as visitas de Sienna eram seu porto seguro, a salvaram, e a ajudaram a levantar, muitas vezes.
- Não foi fácil?
- A tensão, a pressão, a vida de um herdeiro não é fácil, de um herdeiro no meio do colapso então.
- Acha que posso fazer isso?
- Eu não sei, não te conheço, mas quando conversei com seu pai ele disse apenas que sua bondade e coragem seria capaz de qualquer coisa, e contou sobre a vez que você foi presa.
- Não é como se eu não tivesse chorado e chamado pelo papai a noite inteira.
- Mas foi para ajudar pessoas que você nem conhecia..
- Conto com sua ajuda então, Alexander.
- Eu serei eternamente grato, Coraline.
*
Cora subiu para seu quarto, Elara estava dormindo tranquilamente em sua cama, os cílios e os cabelos claros brilhavam com a luz fraca do sol, Fiona cochilou enquanto a esperava na ponta da cama os membros espalhados sem nenhuma elegância e um som nasal escapava sempre que ela expirava.
Se deitou entre as duas e Fiona resmungou.
- Line - Elara esfregou os olhos - Você voltou.
- Desculpe preocupar vocês - Cora segurou a mão pequena dela.
- Está tudo bem?
- Mais ou menos, vamos conversar mais tarde, volte a dormir.
Ela abraçou Cora que se aconchegou em seus cachos loiros, Fiona grunhiu se aproximando também e jogou um braço pesado em cima de Cora, acabaram dormindo as três ali.
*
- Ir embora?! Tão rápido? Hoje? Por que tão de repente? - Disse Elara com lágrimas nos olhos.
- Me desculpe, mas é realmente urgente - Disse o soldado.
- Quando você volta Line? - Elara correu abraçando a cintura de Coraline.
- Não sei, pode levar algumas semanas, ou meses, não sei se vou poder visitar vocês enquanto isso - Coraline passou uma mão pelos cabelos claros dela.
- Pare de ser tão chorona Lara! Você devia estar desejando uma boa viagem! - Disse Fiona.
- Mas você também está chorando!
- É o tempo que está muito frio e deixa meus olhos úmidos! - Fiona correu e abraçou as duas - Volte logo Cora, ou nós vamos até lá atrás de você.
- Não precisa se preocupar, demore muito ou pouco eu vou voltar - Coraline passou a mão nos cabelos delas e elas se afastaram fungando.
Fiona limpou o nariz de Elara e então Elara tirou um lenço do bolso e limpou o nariz de Fiona.
- Já arrumei suas coisas querida - Disse Ophelia e Coraline sorriu a abraçando.
- Obrigada Ophe, aproveite para descansar agora que não terá tantos vestidos para remendar.
- Não seja boba, não é nenhum incômodo.
Cora sorriu e a abraçou de novo. Então seu pai parou na frente dela e respirou fundo, as mãos dele estavam trêmulas e seus olhos cheios de olheiras.
- O senhor parece mais preocupado que eu Papai - Ela segurou as mãos dele - Durma direito, não pule as refeições, e saia de vez em quando para tomar um ar. Certo?
Ele assentiu e a abraçou.
- Vou estar aqui, esperando quando você voltar querida.
Ela assentiu e se afastou.
- Até logo - Sorriu.
*
Eles viajariam três horas a cavalo até a cidade onde estava a comitiva do Capitão para então seguir uma longa jornada de uma semana até a capital.
- Estou me perguntando isso a um tempo, mas que tipo de pessoa é a segunda esposa do Rei? - Perguntou Cora.
- Na verdade não tive muito contato com ela, seu nome é Magdalenne, do Reino de Tarenthe, ela tem três filhos, o mais velho Friedch é um soldado influente, raramente se encontra no palácio, que eu saiba Lady Magdalenne nunca se interessou pelos assuntos políticos, as filhas mais novas mal são vistas até mesmo em eventos, ela é tranquila e agradável, nunca tiveram rumores sobre ela.
- O que reforça minha tese que meu bisavô só queria manter status e tinha uma pitada de preconceito.
- Como assim?
- Você tem alguma garantia que Friedch não seria um bom Rei? Só por a mãe dele ser estrangeira?
- Tem razão, como soldado eu conheço os feitos do príncipe, ele na verdade é muito bondoso, é formado na guarda mas sempre agiu mais de forma diplomática, o Reino não viu mais muitas batalhas depois do término da Guerra.
- Não passa de uma briga de status.
- Talvez você tenha razão, mas também existe um outro lado.
- Outro lado?
- O Patriarca também queria proteger a filha, conheço a Rainha a muito tempo, ela viveu por este papel, e não conseguir dar a luz ao herdeiro da coroa deve ter sido doloroso para ela, e ter que entregar a responsabilidade nas mãos do filho da segunda Esposa.
- Não deixa de ser uma questão de ego, ela não tem culpa de não poder ter filhos.
- As coisas são mais complicadas do que parecem.
- Você concordou com tudo isso então?
- Em grande parte sim, pode me odiar se quiser, mas eu sirvo a coroa.
- Não ganho nada te odiando, na verdade seria ruim agora que minha vida depende de você.
Ele soltou uma risada e assentiu.
- Lady Magdalenne não fez nada quanto às tensões entre os Reinos? Você disse que o ataque foi coisa de Tarenthe.
- Na verdade foi obra dos rebeldes e plebeus, que foram os que mais sofreram com a época de frio intenso, não havia muito o que se fazer, politicamente as coisas estavam tranquilas graças ao casamento do Rei e Lady Magdalenne.
- Entendi...
Eles chegaram a uma pousada simpática na cidade depois de algumas horas, o traseiro de Cora estava dolorido e seu estômago roncava, subiram as escadas de madeira até um quarto limpo e aconchegante.
- Vou trazer sua comida em breve, não saia deste quarto a não ser que eu venha te buscar entendeu? E não abra a porta a menos que eu diga que sou eu. Escolhi pessoas de minha confiança para te acompanharem enquanto isso durar, elas não sabem e nem devem saber do seu parentesco com a Princesa, você é apenas uma Sombra de Cordelia.
- Entendido.
- Pode tomar um banho e tem um baú com alguns itens que pode precisar em baixo da sua cama.
- Obrigada.
Ele acenou com a cabeça e saiu.
Cora auspirou e puxou o baú, tinham alguns vestidos simples, mas que pela qualidade do material e a costura sofisticada podia dizer que eram caros, alguns itens de higiene, roupas íntimas, sapatos confortáveis e uma capa grossa, então um medalhão, quando o abriu viu um rosto extremamente parecido com o seu, o formato comprido do rosto, o olhos pequenos e amendoados, lábios finos em cima e carnudos em baixo, mas seus cabelos eram longos, claros, brilhantes e cheios de ondas, diferentes dos lisos e escuros de Cora, olhos caídos, sorriso melancólico, ela parecia tão pálida e frágil, essa era sua irmã, Cordelia.
Guardou o medalhão e escolheu algumas roupas, tomou uma ducha rápida e quando saiu escutou uma batida na porta.
- Sou eu - Disse Alexander e Cora abriu a porta.
Ele empurrou um carrinho para dentro do quarto.
- Aqui está seu jantar, e quero conheça quem vai te acompanhar quando eu não estiver presente, Cerise, Riona - Ele chamou e duas figuras entraram.
Cerise não era muito alto, usava roupas pesadas e escuras sobre o corpo definido, tinha ombros largos e rosto quadrado, olhos escuros pequenos e afiados, lábios carnudos, as feições delineadas numa expressão carrancuda e cabelos curtos pretos, bonito, muito bonito. Já Riona tinha um sorriso acolhedor e olhos claros divertidos, pele escura, lábios grossos, cabelos cacheados, pretos, amarrados no topo da cabeça com várias tranças na raíz, corpo curvilíneo com o mesmo uniforme.
- Muito prazer! - Riona sorriu acenando.
- O prazer é meu, por favor cuidem de mim, estou em suas mãos.
- Pode contar conosco, você realmente se parece com a princesa, mas vou ter algum trabalho até te deixar perfeita - Riona fez um biquinho - Ha é! Eu vou te acompanhar como sua criada daqui para frente, já Cerise vai continuar como soldado. Pode comer e descansar, amanhã quando partirmos vamos começar as lições.
- Certo, obrigada.
Ela sorriu girando nos saltos para sair e Cerise fez uma mesura antes de se retirar também.
- Bom descanso - Disse Alexander.
- O senhor também, durma bem.
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Atualizado até capítulo 65
Comments
Maria Ines Groff Ferreira
está interessante
2022-07-25
2