Dançado Para O CEO( Revisão)
— Mamãe, você precisa ir trabalhar hoje?
A voz doce da minha filha ecoa como um sussurro dentro do meu peito. Abaixei até sua altura, olhando em seus olhinhos que sempre brilham quando quer me convencer.
— Preciso, meu amor... Mamãe tem que trabalhar, mas você vai ficar com a tia Dely. Ela vai contar aquelas histórias engraçadas de que você gosta, lembra?
— Mas você promete que no sábado vai me levar pra comer hambúrguer... e sorvete?
Ela segura minha mãozinha com força, e o coração aperta. Como dizer não a um pedido tão simples, vindo de um amor tão puro?
— Prometo, meu amor. No sábado, só nós duas. Eu juro — digo, abraçando seu corpinho pequeno.
— Promessa de fada?
— Promessa de fada — confirmo, encostando meu nariz no dela e arrancando uma risadinha baixa que me dá forças para seguir.
Terminamos o jantar. Escovamos os dentes juntas, como sempre. Deito-a na cama, coberta com o lençol de nuvens e estrelas. Conto uma história, daquelas que ela adora ouvir, com fadas, coragem e meninas que vencem dragões com o coração. Só saio do quarto quando seus olhos se fecham. Dou um beijo na testa dela e respiro fundo.
É por ela que eu respiro.
Me visto, passo batom vermelho e encaro meu reflexo. A mulher no espelho aprendeu a ser forte. Entro no carro. São 21h30. Mais uma noite me espera no clube onde danço. Um lugar onde os corpos falam, os olhos pedem e o dinheiro comanda. Mas há regras. Só toca quem tem permissão. E ninguém é obrigada a nada.
Sou dançarina de pole dance. Danço porque amo dançar — não porque preciso agradar.
Durante o dia, sou subgerente de planejamento financeiro numa construtora. Um trabalho que aperta a alma, mas ajuda a pagar as contas. À noite, viro o que realmente sou: livre.
Mas essa liberdade custou caro.
Tive uma infância cercada por cercas invisíveis. Cresci em uma casa cheia de regras, onde dançar era visto como perda de tempo. Um dia, quando ainda era criança, vi pessoas dançando na rua. Meus olhos se encantaram. Meu corpo entendeu antes de mim: era aquilo. Movimento. Música. Liberdade.
Minha mãe até apoiou, me matriculou no balé. Meu pai... não. Ele queria que eu estudasse, me formasse, seguisse os moldes. Tive medo de decepcioná-lo e continuei no balé. Mas, às escondidas, tentava aprender outros estilos. Dançava no meu quarto, de porta trancada, como se meu coração pulasse junto com os pés.
Aos quinze anos, conheci o pole dance. E me apaixonei.
Fiz aulas em segredo. E em uma dessas aulas, conheci Caio — o homem que mudaria minha vida para sempre. Era meu professor, mais velho. Viramos amigos. Aos dezessete, nos envolvemos. Perdi minha virgindade com ele. Começamos a namorar escondidos.
Passei em primeiro lugar na faculdade de Direito, orgulho do meu pai. Ele sorria, eu chorava por dentro. Caio foi o único que percebeu. Ele sabia que aquilo não era o que eu queria.
Quando descobri a gravidez, aos dezoito anos, tudo desmoronou. Ele ficou feliz, eu fiquei apavorada. Já estava com quatro meses quando contei. Nesse meio tempo, meu pai descobriu meu segredo: as aulas de pole dance.
Fui expulsa de casa. Para voltar, teria que abortar, abandonar a dança e terminar com Caio. Eu não consegui. Não queria.
Fui morar com ele.
No começo, ainda existia alguma esperança. Mas, após o nascimento da nossa filha, ele se transformou. Vi um lado sombrio que nunca imaginei. Palavras cruéis, silêncio cortante, controle, ciúmes, portas quebradas, fome. Ele dizia que mudaria. Eu, ingênua, acreditava.
Uma noite, ele chegou bêbado e drogado. Nossa filha já andava. Eu tinha apenas dezenove anos. Ele me espancou. Me humilhou. E quando tudo terminou, eu estava no chão, sangrando. Foi quando senti os dedinhos pequenos tocando meu rosto. Ela me olhava com medo.
Foi ali que eu entendi: se eu não podia fugir por mim, fugiria por ela.
Com dificuldade, liguei para minha mãe. Pedi ajuda. Ela ouviu minha voz tremendo e não hesitou. Foi até a casa onde eu morava, junto com meu irmão. O olhar deles, ao verem onde eu vivia, foi devastador. Disseram que iam me tirar dali. Minha mãe, americana, falou com sua tia. Ela nos receberia.
Planejamos tudo.
Na véspera da viagem, Caio chegou novamente bêbado, exigindo comida. Eu mal tinha forças. Tinha conseguido algo para a pequena comer graças à vizinha. Tranquei-me no quarto, e ele socava a porta enquanto minha filha chorava. Cantei baixinho pra ela dormir, mesmo com o coração em pedaços.
Naquela madrugada, fingi acreditar nas desculpas dele. Quando dormiu, peguei Maddie, sua boneca preferida e a passagem escondida. Meu irmão me esperava. Fugimos.
Peguei dois voos até tocar o chão de uma nova vida. E quando finalmente desci do avião, respirei aliviada. Pela primeira vez em muito tempo, me senti segura.
Minha tia nos recebeu. Me acolheu com carinho. Entrei na faculdade de Economia. Recomecei. Estudo de dia, danço à noite. Cuido da minha filha com tudo o que posso oferecer. E mesmo com as cicatrizes, sigo em frente. Por ela. Por mim.
Porque às vezes, para sermos fadas... precisamos primeiro sobreviver como guerreiras.
continua....
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Atualizado até capítulo 112
Comments
Luisa Nascimento
Começando hoje em: 08/05/2025 às 22:12. 🤔🤔
2025-05-09
0
Gloria Katia Baffa
Lendo agora e gostando muito
2025-04-06
0
Sara Melo
adorando
2025-06-19
0