Depois de tudo o que passei, jurei a mim mesma que nunca mais dependeria de ninguém. Que a única pessoa capaz de mudar meu destino seria eu. E por um tempo, estava conseguindo.
Consegui um emprego como professora de balé numa pequena escola de dança. Ensinar me fazia bem, me trazia de volta à menina que um dia fui. Aquela que sonhava em brilhar no palco e não em sobreviver entre sombras. Como falo inglês e espanhol fluentemente, logo ganhei destaque. Um dia, sem esperar, ganhei uma bolsa de estudos para cursar Economia. Foi minha segunda chance. E agarrei com força.
Durante o dia, estudava e dava aulas. À noite, continuava com as aulas de pole dance. Não apenas como exercício ou prazer, mas como resistência. Era o único momento em que me sentia verdadeiramente viva. Estava guardando dinheiro, sonhando em comprar um pequeno apartamento, um cantinho só meu e da Maddie. Tínhamos pouco, mas o suficiente. Estabilidade. Paz.
Mas a paz durou pouco.
Há cerca de um ano e meio, tudo mudou. Eu notei que Maddie estava diferente. Ela andava mais quieta, pálida, os olhinhos sempre tristes. Pensei que fosse cansaço ou uma virose comum. Mas naquela tarde, enquanto eu preparava o lanche, ela simplesmente desabou nos meus braços. Estava queimando em febre. O mundo girou.
No hospital, os exames foram rápidos e certeiros. Leucemia. Minha filha... Meu bem mais precioso... Com câncer.
As palavras do médico ecoaram como um trovão surdo: “vamos precisar iniciar o tratamento imediatamente”. Quimioterapia. Medicação de alto custo. Internações. Sessões. Desespero.
O plano de saúde não cobria nem metade. E mesmo com dois empregos, eu não conseguiria bancar tudo. Por semanas, chorei escondida, dormi no chão do hospital, vendi minhas roupas, vendi minhas joias, vendi meu medo. Até que um dia, um homem se aproximou.
— Você já pensou em dançar num clube?
No começo, senti nojo. Respondi que não. Eu não era uma garota de programa.
— Não precisa se envolver com ninguém — ele disse. — Só dançar. A sensualidade já paga bem. E você dança como ninguém.
Me entregou um cartão. Eu rasguei. Mas naquela noite, em casa, quando vi Maddie dormindo e percebi que não tinha dinheiro nem para o próximo antibiótico, lembrei do valor que ele tinha mencionado.
E aceitei.
Minha tia, que sempre me ajudou como pode, conseguiu um emprego para mim numa construtora — a Montana. Entrei como assistente, e com esforço, subi de cargo há seis meses. Hoje, sou subgerente. O salário melhorou, mas o cansaço triplicou. Trabalho de dia, danço à noite. Aos sábados de manhã, ainda dou aula de balé. Vivo exausta.
Mas tudo vale a pena quando vejo o sorriso da minha filha. Maddie está em tratamento. Já perdeu os cabelinhos, mas nunca a doçura. Eu faço de tudo para que ela não veja a dor nos meus olhos.
Com muito esforço, consegui comprar um pequeno apartamento e um carro usado. Minha mãe e meu irmão ajudam como podem. Meu pai... meu pai ainda me odeia. Nunca me perdoou por ter seguido um caminho diferente do que ele planejou.
Agora é noite. Preciso ir trabalhar e encarar aqueles homens outra vez.
Chego ao clube e caminho até o camarim, onde as outras meninas já se arrumam. O ambiente é uma mistura de laquê, purpurina e segredos. O Night of Lust é dividido por categorias: dançarinas de palco, dançarinas de salão, os strippers masculinos, os VIPs. Eu faço parte do time de elite — danço nos salões VIP, onde só entram os muito ricos, os muito poderosos... e os muito perigosos.
Danço apenas duas vezes por semana nesses salões. São os dias mais rentáveis: sábado e domingo. E os mais pesados também.
Não durmo com clientes. Nunca dormi. E nunca vou dormir.
Enquanto me maquio, a Kim invade o camarim, com sua risada escandalosa e seus cílios exagerados. Todas nós temos um segundo nome, uma identidade inventada. A minha é Angel.
— Angel! — grita Kim, entrando de supetão. — Tem uns bonitões lá fora. Despedida de solteiro! Ouvi dizer que é gente rica, tipo milionário.
— E daí, Kim? Já te disse, eu não tô à venda — respondo, prendendo o cabelo num coque alto.
— Ai, que chata! — ela ri, se olhando no espelho. — Você devia aproveitar mais a vida.
Nem respondo. Eu sei o que vim fazer aqui. E não é me apaixonar por idiotas com dinheiro.
Alguém bate à porta.
— Angel, em dez minutos você entra. Está pronta?
É a Roxy. Ela também dança, mas coordena os shows. É a amante do Leonel, o dono do clube. Hoje, está abatida.
— Meninas... não sei o que fazer com o Leonel — diz, jogando-se no sofá com um suspiro.
— Ele gosta de você, amiga. Mas agora deixa eu me concentrar. A gente conversa depois.
Ela sorri, ainda tensa.
— A música já está no ponto. Vai lá e arrasa, garota.
Respiro fundo. Visto a fantasia preta, sensual e provocante. Coloco a máscara que esconde meu rosto e meu passado. Quando subo ao palco, não sou mais mãe, nem mulher. Sou apenas Angel.
As luzes se apagam. A batida da música começa — Trampoline, na voz rouca e arrastada de Shaed. As luzes focam no centro do palco. Meu corpo acompanha o ritmo. Meus movimentos são precisos, hipnotizantes. Cada giro no mastro é uma explosão de liberdade.
Lá embaixo, os homens aplaudem. Um deles me observa de maneira diferente. Não é só desejo. Há algo nos olhos dele que me inquieta. Um brilho, um reconhecimento... ou uma ameaça? Não sei. Mas sinto um frio na espinha.
Quando termina a apresentação, o público grita meu nome de palco. Sou a favorita. Desço e corro para o camarim, ainda ofegante.
Troco a fantasia por um vestido preto colado com uma fenda alta. Continuo com a máscara. Roxy me chama.
— Angel, você tem um show privado agora. Salão VIP 4. O grupo da despedida de solteiro quer algo especial.
— Já estou pronta — respondo, com a alma pesada.
Ela sorri. Mas seus olhos não. Há algo errado.
— Só... tenha cuidado, tá?
Caminho pelo corredor mal iluminado até a porta de vidro espesso. O segurança me abre espaço. O ambiente do salão VIP é mais silencioso, mais escuro. Há sofás, champanhe, música baixa.
E ali está ele.
O homem que me olhou de maneira diferente.
Ele me encara de novo, como se soubesse quem eu sou.
E então... ele sorri.
Um sorriso que me arrepia a pele.
Porque eu conheço aquele sorriso. Mas não lembro de onde.
Continua...
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Atualizado até capítulo 112
Comments
Luciana Cavalcante
tbm lir e sim maravilhosa é esplêndido
2025-06-24
0
Patrícia Oliveira
Pai sendo pai né machista 🤦🏼♀️🤦🏼♀️
2025-04-28
0
Luisa Nascimento
Hum! vai e arrasa.
2025-05-09
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