Entro no salão VIP e a porta se fecha atrás de mim com um estalo abafado.
Cinco homens estão sentados em poltronas de couro, cercados de garrafas caras e fumaça de charuto. Estão rindo alto, afogados em álcool e arrogância. Mas um deles me chama a atenção. É o mesmo que me olhava antes, do lado de fora do palco. O olhar dele... não sei descrever. Há algo nele que arrepia a minha pele.
As meninas já estão em cena. Kim está sentada no colo de um, rindo de algo que ele cochicha em seu ouvido. Do outro lado, vejo Lua dançando com movimentos provocantes, escorregando sensualmente por um dos canos metálicos laterais. O palco aqui é menor, mas o impacto da dança é o mesmo. Talvez até mais intenso, por estar tão perto.
Eles ainda não notaram minha entrada. Avalio o ambiente, procurando o noivo. Presumo que seja o do meio — é o único calado. Ao lado dele, está o homem de olhos cinzentos que não tira os olhos de mim.
Mas finjo que não percebo. Entro no ritmo da música, colocando “Earned It”, do The Weeknd, no volume exato. O som toma conta do ambiente, abafando as conversas e congelando os risos.
A luz baixa destaca o brilho da minha pele sob a fantasia preta. Caminho devagar, desfilando por entre os sofás com passos calculadamente sensuais. Sinto todos os olhares se voltarem para mim, mas ignoro. Meu corpo fala por si.
Me aproximo do noivo. Danço à sua frente, sem tocá-lo. A regra é clara: ninguém toca sem permissão. Minha presença o intimida e o fascina ao mesmo tempo. Faço um giro leve e puxo a Kim pela mão, dançamos juntas. As meninas percebem e entram no ritmo. Criamos uma dança coordenada, como se tivéssemos ensaiado por semanas.
Cílios. Cintura. Pele.
Giro em torno da cadeira do noivo, meus passos lentos e firmes. O amigo dele, o homem dos olhos cinzentos, me observa com um interesse silencioso. Não é lascívia. É outra coisa. Algo mais profundo — e perigoso.
Vou até outro convidado, um loiro abusado, bonito demais para o próprio bem. Seus olhos percorrem meu corpo com uma fome que me incomoda. Quando tenta me tocar, levanto o dedo indicador com firmeza. "Não."
Ele sorri como se fosse um desafio.
Subo com leveza sobre a mesa, sem derrubar nada. Deito de cabeça para baixo, braços estendidos, cabelos escorrendo pelo ar. Os peitos se projetam. As luzes refletem sobre o brilho da minha pele. Sinto cada olhar queimando minha carne.
Mas há um deles que me toca... sem tocar. O olhar do homem de olhos cinza me atravessa como uma corrente elétrica. Cada movimento meu parece ser coreografado para ele — mesmo que eu não queira.
Levanto com elegância, encaro-o de frente e danço para ele. Ele não sorri, não comenta, não desvia. Apenas observa, como se me conhecesse.
As outras meninas se aproximam. Dançamos juntas. Uma coreografia improvisada, mas harmoniosa. Eu corro até o pequeno palco, seguro no mastro e inicio uma sequência de pole dance que arranca suspiros e aplausos. O corpo se move com controle e leveza, como se desafiasse a gravidade.
A música muda. Continuo dançando. O salão inteiro está hipnotizado.
O noivo finalmente se solta. Está rindo com as outras meninas, uma delas o beija. Não me importa.
Estou descendo do palco quando ouço:
— Ei, gata! — uma voz masculina me chama.
É o loiro abusado. Me aproximo com cautela, mantendo a máscara firme no rosto.
— O valor? — pergunta ele, sorrindo com um ar de quem acha que pode comprar qualquer coisa.
Finjo não entender.
— O valor da dança já está incluído no pacote que vocês contrataram — digo, cordial, mantendo o profissionalismo.
Eles riem. Todos. Menos os dois silenciosos.
— Não estou falando da dança — ele insiste, com um olhar sujo. — Estou falando do seu programa.
Meu estômago revira.
— O senhor deve estar confundido — digo com um sorriso sarcástico. — Há um catálogo virtual com os nomes disponíveis para esse tipo de serviço. O senhor viu o meu nome lá? Angel?
— Não — responde, dando um gole longo na cerveja. — Achei que fosse... exclusiva.
— Eu não durmo com clientes. Só danço. E, por falar nisso, meu horário está quase acabando. Há muitas meninas aqui que podem oferecer o tipo de prazer que o senhor procura. Com licença.
Viro as costas, pronta para sair com elegância.
— Espera.
Paro. Dou meia-volta, sem perder o controle.
Preciso manter a educação. Engolir o orgulho. É parte do jogo.
— Um milhão.
A frase corta o ar como uma lâmina.
— O quê? — pergunto, surpresa, achando que entendi errado.
— Um milhão — repete o amigo dele. — Gael, você tá louco?
— Eu quero ela — diz Gael, com a voz embriagada de ego.
— Só você mesmo pra pagar caro por um p***\, tendo tantas de graça — comenta outro.
Sinto o sangue ferver. Os olhos cinzentos continuam me observando. E o noivo permanece calado.
Dou um passo à frente. Minha voz sai firme, carregada de desprezo.
— Nem por três milhões.
Viro as costas e saio da sala com dignidade. O salto ecoa no chão como um aviso: ninguém me compra.
Troco de roupa rápido. Visto um vestido discreto, pego minha bolsa e sigo para o estacionamento. Entro no carro e solto o ar que estava preso nos pulmões.
O cheiro do perfume barato e dos homens nojentos ainda parece grudado na pele. Quando chego em casa, vou direto para o banho. A água quente lava o suor, o glitter, e parte da revolta que não consegui esconder.
Visto meu pijama e vou até o quarto da Maddie. Ela dorme tranquila, abraçada à sua boneca preferida. Beijo sua testa com carinho.
Mas minha mente insiste em voltar para os olhos cinzentos.
Não, Agatha. Não faça isso. Ele é um cliente. Um homem como tantos outros.
Mas por que sinto que não é?
Acordo com o som do despertador. São 7h. Poucas horas de sono, mas tenho uma rotina a cumprir. Faço minha higiene, escondo as olheiras com uma maquiagem leve e coloco minha roupa de trabalho.
Beijo a testa da minha filha, brinco alguns minutos com ela e sigo para a empresa. Entro às 8h30. Sou subgerente e termino a faculdade este ano. Estudo EAD, indo à universidade três vezes por semana apenas para as provas. Ninguém lá sabe da minha vida dupla. Nem da Maddie.
Sou discreta. Profissional. Irretocável.
Namorar? Nem pensar. Tenho medo de me envolver de novo, de cair em outra armadilha como Caio. Aqui, ninguém desconfia da verdade. Nem mesmo minha tia.
Moro sozinha com minha filha. A cuidadora, quando precisa, dorme conosco. Pago bem. Confio nela. É uma das poucas pessoas que conhecem parte da minha realidade.
E sigo vivendo nessa linha tênue entre o palco e o escritório. Entre a máscara e o espelho.
Mas aqueles olhos... por que ainda me perseguem?
Continua...
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Atualizado até capítulo 112
Comments
Izaura Pessi
Eu estou adorando, é uma pena ela tem pouca convivência com a filha,tá perdendo tudo o que acontece com a filha ....
2025-06-22
1
Mary
Nossa eu estou adorando a história manduquei com muita dó da Ágatha
2025-03-26
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Maria Isabel Ribeiro
o pior que já li estou lendo de novo
2025-06-01
0