Palácio Branco

1

Palácio Branco. Não há nada nesse lugar, a não ser eu e mais uma pessoa a me encarar. Ela faz um movimento com as mãos, sinalizando o número dois com os dedos. Eu repito. Ela faz o número um, três, dois e quatro. Repito cada movimento. Não há nada aqui. Somente eu e ela.

– Eu vou dizer uma frase, e você vai repeti-la sem errar uma palavra — Sua voz dura e firme. Me faz querer obedece-la. Mas uma parte minha quer negar. — Você me entendeu? – Continua ela.

– Sim.

– Repita comigo "Eu pertenço a esse lugar. Ficarei aqui"

– Eu... — Travo um pouco, seu olhar me pressiona. Sua expressão é pesada

– Diga

– Eu... Pertenço.… — Eu não quero repetir essa frase, mas é tão tentadora.

– Repita a frase. — Manda ela

– Porque eu repetiria? — A questiono, esperando uma resposta plausível

– Porque eu estou mandando. — Não foi uma resposta plausível.

– É a primeira vez que te vejo aqui.

– Não mude de assunto. Repita a frase.

– Não

– Não?

– Não. — Confirmo

– Não vai me obedecer?

– Não.

– Então é isso?

– Sim

– Sim? Tem certeza?

– Quem é você?

– Não vai querer saber.

– Mas eu quero saber.

– Não é preciso.

– Eu moro nesse lugar — Um sorriso nasceu em seu belo rosto. Sim, belo rosto. É uma moça bonita. Seus olhos claros, cabelos loiros, branca. Ela usa uma camiseta... Branca... Ok, tudo é branco nesse lugar certo?

– Você pertence a esse lugar. Acabou de confirmar que mora aqui.

– Foi… foi modo de dizer. Eu só quero que você vai embora.

– Para que? Ficar sozinho nesse lugar?

– Não.

– Não?

– Para de me responder com a pergunta com outra pergunta.

– Porque?

Olho para ela, e a mesma ri da situação.

– Você é engraçado. Mas não repetiu a frase ainda, apesar de confirmar que mora aqui.

– Certo, pra você parar de me encher o saco vou dizer. Eu pertenço a esse.… — Eu corro deixando ela sozinha ali. Não quero ficar perto dela. E de repente sou puxado pra ela de novo. Não consigo fugir. E por mais que eu queira, pra onde eu iria se tudo aqui em volta é branco e não há nada aqui?

– Boa tentativa.

– O que fez comigo?

– Você fala demais sabia? Deveria me obedecer. Você é diferente. — Essa garota é tão complexa.

– Então vamos continuar nessa conversa né.

– Sim.

– Eu pertenço a esse lugar — Falei logo essa frase só pra ela sair e eu ficar sozinho.

– Olha só. Matou você?

.

– Não.

– Bem que você queria né? — Ela discretamente solta um sorriso de canto. Eu não entendi.

– Me explica por favor... O que está acontecendo?

– Sempre a mesma história. O mesmo enredo. Personagem no meio do nada, confuso, e um outro personagem só no blá blá blá... Perdeu a criatividade?

– Eu só quero ficar em paz. Você é pertubadora. — Após dizer isso, duas pessoas apareceram e ficar no meu lado. Não consigo ver o rosto deles, mas sei que são 2 homens bem jovens. A roupa que usam é nem simples. Camiseta preta e ambos parecem serem gêmeos.

Eles dois abram suas mãos. Vejo comprimidos e um lençol. De alguma forma, aquelas coisas...

– MEU DEUS NÃO, NÃO, NAAAAO, PARA, PARA POR FAVOR PAAAAAARAAAAAAA

DESESPERO. MEDO. AGONIA. DOR...MUITA, MUITA DOR.… MEDO.… DESESPERO.… AGONIA

TUDO

ESCURO

^^^ EXATAMENTE ^^^

TUDO

ESTA

ESCURO

2

Me desperto. E uma chuva infinita cai sobre minha cabeça.

– Todos os contos, todos os poemas. Tudo é o seu looping. O que de diferente você tem a mostrar com essa história? Você perdeu sua criatividade. Os personagens são os mesmos. Pessoas lêem e não ver mais novidade. Suas mensagens são óbvias. Você vive brigando com você mesmo nessas histórias sem pé nem cabeça. Uma luta interna. Fraco. Chorar não resolve seus problemas. Você é um fraco. Não sabe fazer nada. O Palácio Branco é o seu refúgio de merda. Onde você fica no seu mundinho com todos esses contos na sua cabeça. Fraco. Ninguém se importa com você de verdade. — Abro os meus olhos. Não tem ninguém perto de mim, então não sei de onde veio ou vem essa voz.

– Não precisa descobrir onde está minha voz. Eu sou a sua voz. — Por favor para. Eu não aguento mais. Eu só quero ficar bem... Uma fogueira se forma na minha frente.

Escuto uns passos. E alguém senta perto de mim. É uma mulher segurando um filhote de ovelha e dando mamadeira pra ele em seus braços. Outra pessoa se senta ao meu lado com uma lamparina que acompanha uma luz fraca. Uma terceira pessoa aparece, se senta ao meu lado e me entrega um livro, escrito "A Mensagem"

Me levanto.

– Isso, se levante… — Uma delas disseram

Dou uns passos

– Continue, é isso, começou bem — Disse outra moça.

Eu começo a ter lembranças estranhas.

– Não se preocupe, essas lembranças são suas de outros contos que o autor escreveu.

– Minha? Mas não vivi aquilo .

– A sua consciência foi dividida em muitas partes.

Olho para ela, e observo o seu rosto calmo e inocente. A pureza é nítido nela.

– Continue, não desiste. — Ela disse

Ando e na minha frente vejo uma porta. Alguém fica no meu lado.

– Quando abrir a porta. Estarei contigo. Não precisa ter medo.

– Quem é você agora?

– Você não queria que seu próximo conto fosse assim não é? Quer algo diferente e arriscado. Mas a que custo? Ganhar fama? Ser reconhecido? — Essa outra pessoa diz, mas não entendo porque estou ouvindo isso.

Ando e devagar eu abro a porta. A sensação que sinto é diferente. Consigo confiar nessa voz que fala comigo. Consigo confiar nessa pessoa.

Entro no Palácio Branco... Ué… Aqui de novo? A porta atrás de mim desaparece. Me vejo sozinho novamente. Mas lá na frente, bem na frente, vejo algo estranho. Ando e ando novamente. Começa a chover aqui dentro do nada. E vejo uma coisa vermelha na frente. Paro. Fico observando aquilo. Que horror

A coisa vermelha vai crescendo, crescendo e crescendo. Até se tornar uma gosma horrenda vermelha. Ela cria tentáculos enormes pelo cenário Palácio Branco.

– Meu Deus… O que é isso. — A coisa está ficando enorme, e faz barulhos estranhos. Sua pele é gosmenta, e um dos tentáculos rapidamente acerta minha barriga. E fica preso em mim. Estou ficando zonzo...

– Você pertence a esse lugar — O que é isso? A criatura tem a mesma voz daquela mulher.

– O que tá fazendo?

– Sou Salaniel… Me alimento da vida e da energia dos personagens criado pelo seu autor, o meu maior inimigo. E você é só mais um personagem dele. Essa história não tem enredo, é apenas algo abstrato, um pedaço que não foi criado por ele ainda, tudo aqui, todo esse Palácio Branco são apenas ideias que ele guarda. São apenas coisas aleatórias e pequenas que acontecem na vida do autor. Estou agora indo para o Mundo Um, o mundo onde ocorre a história "O Mundo Sinistro" sim, eu tenho tanta consciência quanto o autor, antes me alimentava de Multiversos criados por ele. Agora eu estou o consumindo, e você me diz, já viu essas histórias não é caro leitor? Você está cansado das histórias desse autor não é? Ele perdeu a sua criatividade, e eu estou vencendo.— Os tentáculos perfuram o meu corpo. — E você precisa morrer.

Isso dói demais. Não consigo me mexer. Estou completamente fraco. Meu Deus…

Ele joga o meu corpo no chão. E não para de sangrar. Eu devo tá morrendo... Que merda...

– Eu sou maior que você. — Uma voz forte, de trovão, aparece de repente nesse cenário.

– Você — A criatura expressa medo e horror ao dizer isso.

– Sai. — Com toda autoridade, uma outra figura, no qual so vejo a silhueta. Manda a coisa embora.

A gosma vermelha se apressa e foge rapidamente em um portal que se criou no Palácio. Vejo tudo um tanto escuro, são apenas coisas embaralhadas, e uma luz muito forte toma conta do lugar.

– Eu estou aqui. Nada é maior que o amor que tenho por você. Vai ficar tudo bem. Encerraremos essa história. Novas histórias irão surgir na sua vida, no seu universo. Em breve, espere e confie... Estou com você...

O homem possui uma luz agradável e muito forte. Não consigo ver o seu rosto.

– Estamos novamente aqui né? — Escuto seu sorriso, é agradável e doce..

– Estamos?

– Sim, não é a primeira vez que se vemos nas histórias. E aliás, eu gosto delas.— Seu sorriso me faz descansar. E tudo fica escuro... Estou no doce sono, e sinto paz...

...FIM...

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