Silent Remains

...1...

— Pai, você vai caçar hoje?

— Não filho, hoje não irei, terei que ir ao templo, pode ir sozinho se quiser.

— Tá bom, certeza? Quer que eu vá contigo?

— Não, pode ir.

Ele está no porão arrumando algumas coisas, faz um tempo que não caçamos juntos. Até entendo porque agora o meu pai está mais envolvido com a missão aqui da vila. Ele se tornou um dos conselheiros do nosso culto. Me sinto orgulhoso dele por fazer parte disso, o vejo bem feliz, porém, ocupado demais para sua família. Mas não o julgo, ele é um dos homens mais fiéis que conheço.

Eu preparei minha arma, peguei algumas coisas e estava saindo.

— Já vai caçar Edward? Não vai comer nada antes? — Disse minha mãe, sentada no sofá enquanto costura uma roupa com algumas agulhas.

— Estou sem fome, mãe.

— Você vai demorar, come algo.

Deixei as coisas no canto e fui até a cozinha. Minha casa é bem simples, agora que o meu pai se tornou conselheiro as coisas vão melhorar. Sempre passamos necessidades, por isso que vamos à caça. Os únicos que vivem com a vida boa são "Os Pais", os líderes dessa vila. Moram numa grande mansão ao norte daqui. Isso me deixa um pouco intrigado, porque eles podem e nós não? Todos queriam fazer parte do conselho só para ter uma vida melhor. Porém, não há competição apesar de tudo isso, todos aqui se tratam como irmãos e ajudam um ao outro como pode. Após comer, peguei minhas coisas.

— Mãe, cadê a Emily? — Ela estava aqui alguns minutos, estranho.

— Está lá fora preparando as coisas para buscar água. — Minha mãe fala olhando para agulha com a lareira acesa pelo fogo. Um conforto que ela ama.

— Ah sim.

Sai de casa, e na frente vejo a Emily com dois baldes grandes.

— Quer ajuda irmã? — Me aproximo dela largando minhas coisas para pegar um dos baldes.

— Não, não precisa, eu me viro. — Ela impede minha ação, fico parado olhando para ela, seus olhos estão carregados pela sombria melancolia. Olhos que desde criança jamais decifrei.

— Certeza?

— Você está carregando suas coisas, não precisa

— É, tem razão. — Desisto de tentar ajudar, ela está muito fechada

— O papai vai ao templo hoje?

— Acho que sim. Vai buscar água agora? O campo de caça é próximo, vou contigo.

— Tá bom. — Seu jeito tímido e fechado, ela anda a minha frente

— Você está melhor depois de ontem? — Pergunto, vou tentar quebrar o clima, ter uma conversa normal com a minha irmã.

— Mais ou menos — Ela continua caminhando, mas terras molhados pela chuva que houve pela manhã. Dia nublado e frio.

— Talvez seja melhor esperar mais.

— Esperei tempo demais Eddy, o Paul tá enrolando para falar com papai, ainda mais agora que ele é conselheiro.

— Vou falar com o Paul.

— Paul é um idiota. - A expressão do rosto dela transmite raiva e frustração, mesmo querendo esconder, é um tanto nítido.

— Ele é um cara legal, mas é enrolado mesmo.

— Não é homem de verdade. Cansei dele.

— Rolou mais alguma coisa ontem? — Por mais fechada que ela fosse, no fundo sei que existe algo.

— Quando você saiu, eu peguei ele beijando a Briana. — Sabia

— Briana?

— É, ela mesmo.

— Depois da caça vou falar com ele.

— Ah Eddy não precisa. Se ele está indeciso não é mais problema meu, me cansei dele.

A conversa parou por ali e andamos na nossa pequena e humilde vila. Várias pessoas andando, crianças brincando e barracas de vendas abertas.

— Bom dia meus irmãos — Empolgado falou o senhor Pietro, acenando suas mãos para gente. Fizemos o mesmo gesto e seguimos rumo a saída da vila.

— Bom, vou por ali, se precisar só chamar tá. — Falei a ela

— Tá bom Eddy, capaz da gente se esbarrar por aí, boa caça.

Nos separamos, fui andando lentamente pela mata com os ouvidos atentos ao meu redor. Sons de pássaros e de meus passos, pisando na areia. Escuto algo entre as matas. Ando devagar com a arma carregada. Dou primeiro passo, segundo passo, terceiro, quarto, quinto.... Sexto passo. Vejo alguém no canto de uma árvore, nu, comendo alguma coisa.

— Ei você, o que faz aqui?

Não responde. Me aproximo apontando a arma. O homem esta comendo um.... Animal, o sangue esta por todo lado. O homem, magro, careca, velho, olha para mim. Rosto sujo, seus olhos estão estranhos

— Garoto... Sai daqui. — Disse ele, com seu corpo todo se contorcendo. Arranhado e machucado. Olhos vermelhos e vazios.

— O que, o que você fez? — Trêmulo perguntei. Meu corpo gelado como, literalmente.

— Garoto, eu.... — O homem se levantou, parece ter raiva. E do nada ele avançou em cima de mim.... Bati nele com a arma, ele cai no chão e corro para fora da mata. Merda, que cara louco. Ele reapareceu de novo e me atacou. Grita muito de raiva, eu apontei a arma para ele. Sem olhar, atirei enquanto ele quase me atacava de novo. Ele cai no chão morto, sem vida. Fiquei olhando aquilo. Que coisa bizarra e sem sent.....

- AAAAAAAAAA

Emily? Esse grito é da Emily? Eu corro sem pensar duas vezes pela floresta até o poço onde tiram a água. Corro, corro e corro.

— EMILLYYYY?!?!

Não, não por favor, alguém como aquele cara machucou minha irmã??? Por favor, não, isso não, por favor ,não. Chego no poço e os dois baldes estão jogados no chão. Um pedaço do vestido de Emily está jogado.

— EMILLYYYY!!!

Merda, merda, merda, merda.... Eu corro o mais rápido possível para a vila. Meu corpo está suando, meu coração esta mais frio que o inverno. Meus sentimentos estão perdidos. Não consigo pensar em mais nada a não ser na minha irmãzinha. Por favor, cadê você?

Cheguei na vila correndo, pessoas estão olhando pra mim estranho, mas ignorei, deve ser porque estou correndo igual um louco aqui na vila. Chego na minha casa. A porta está quebrada.... Eu entro... Ah não... Isso é um pesadelo??? Ando pra trás e fico enjoado com a cena que vejo e vômito no quintal... Meus pais... Eles estão mortos... Minhas pernas ficaram fracas... Não aguento e choro, quem fez essa merda? Minha irmã sumiu, meus pais estão mortos, o que está acontecendo?

— Garoto. — Uma voz grossa de repente ganha som naquela cena.

Levanto a cabeça, são os sacerdotes do templo, estão em frente a minha casa, todos olhando para mim.

— Você está preso. — Declarou ele

...2...

Eu não entendo. Simplesmente não entendo. Tudo mudou de repente. Esse lugar fede animal morto, me jogaram como se eu fosse um resto de comida podre, outros presos me encaram sombrios no canto da cela, ignorei os olhares. Eu preciso saber o que tá rolando.

— Jovem, você deve ter feito muita merda para está aqui. — Uma voz grossa se manisfesta na escuridão da cela.

— Eu não fiz nada — Sentado no chão sujo e molhado, respondi sem olhar no rosto dele.

— Sim, acredito em você — Noto deboche na voz dele, mas ao mesmo tempo, sinto uma verdade nele.

     Permaneço calado. Não consigo processar tudo o que está acontecendo.

— Me chamo James, esse aqui é Stuart e o outro Roben. Viemos pra cá sem motivo algum, apenas nos colocaram aqui. Vila de merda, eu espero que vão todos pro inferno. Né garoto?

— Sim — Me respondo, mas estou distante. Eu sair de casa, e estou aqui, do nada.

—Não foi você. Todos aqui não cometeram nenhum crime. — Do que esse cara tá falando?? Não tô entendendo mais nada.

— Porque diz isso, meus pais estavam mortos, e eu estava lá. Pensam que fui eu.

— É, estava na hora e no lugar errado. — Ele se mostra certo disso. Alguns coisa ele sabe.

— E ainda perdi minha irmã. Ela é tudo o que me resta. — Estou afundado na minha angústia. A minha mente está muito agitada.

— O que houve com ela?

— Levaram ela. Não sei quem foi.

— Com certeza foram esses sacerdotes.

     Olhei para ele confuso, porquê pegar tanto no pé da liderança da vila. Ele é um homem alto, negro, uma presença decerto, amargurada e confiante.

— Por que diz isso?

— Relaxa moleque, James viaja, cria várias teorias da conspiração. — Disse um homem sentado à direita da cela. É magro, branco, baixo em comparação ao James.

— Tentei entrar na seita, e não consegui por isso eu desconfio de algumas coisas. — O modo dele dizer denuncia o real motivo, a cor de sua pele.

— Que tipo de coisas? — Pergunto mesmo assim.

— Você sabe que o paraíso está para chegar certo? — Ele diz isso, mas não esperava por essa pergunta.

— Sim, eles falam isso nos cultos. — Respondo

— Então é isso.

— Quê? Explica direito.

— Olha garoto, confesso que fico receoso em dizer muita coisa. Eu não confio em você.

— Então porquê falou disso? — Me irritei com ele, que droga.

— Foi mal. Olha, essa noite vamos fugir daqui, outros presos combinaram e vamos conseguir escapar e sair dessa vila, se vier com a gente eu te conto o que sei. Eu prometo. Aí você poderá encontrar sua irmã.

     Aquela proposta é tentadora. Não pude pensar muito, é uma oportunidade única de sair daqui e encontrar a minha irmã e sair dessa vila. Sem responder, apenas afirmei que sim com a cabeça e me deito no chão virado para a parede. Ainda preciso processar tudo o que aconteceu. E muito demais pra mim.

...3...

— Ei, ei.. Acorda moleque, acorda — Uma voz me desperta, é o James.

— Levanta, vamos sair daqui — Cochicha ele, atento e tenso por alguns coisa. Me levantei ainda com os olhos quase se fechando de sono. Ele me deu uma arma, revólver.

— Toma, você vai precisar.

— Cadê os outros? — Pergunto

— Saíram, venha, me siga.

     O portão da cela está aberto. Como eles conseguiram abrir? Não quero fazer perguntas, só quero sair desse lugar e ir atrás logo da Emily. Ao corrermos pouco mais adiante, escutamos tiros, os outros prisioneiros correm e os guardas tentam controlar a situação. Vimos muita gente morta no chão. Algumas celas pegam fogo, fumaças saem de algumas salas, é uma verdadeira zona. Entramos na área do refeitório. Eu e James paramos, um prisioneiro veio correndo desesperado até nós.

— James, James. Não sei o que está acontecendo, não sei. — Ele respira fundo, o medo dele chega ser assustador.

— Que foi? — Pergunta James, tentando acalmar seu amigo.

— Nossos colegas começaram atacar uns aos outros do nada. Os guardas também. É difícil explicar James, venha. — Ele nos chama e seguimos.

    Confuso, sigo eles, mas perguntas ficam na minha cabeça, como assim "Atacar uns aos outros" O que ele quis dizer com isso? Não estou entendendo nada.

A porta do banheiro abre com tudo. É um dos prisioneiros. Ele esta encurvado, bem estranho.

— Ei você, saia da frente, vamos sair logo...

— Eu... Me... Ajudem — Sua voz arrastada e lenta, e me lembra aquele senhor da floresta.

    Ele se aproximou de nós andando de um jeito contorcido. Os seus olhos começam a encarar a gente. Esses movimentos são familiares, ele está agindo igual aquele velho da floresta, de fato. A raiva é expressiva demais em seu rosto. Ele deu um pulo tão de surpresa que ele atacou o nosso colega, e arrancou uma parte do seu pescoço. O grito é ensurdecedor, a carne se encontra em sua boca, e o sangue jorra no chão. Tudo pausou naquele momento, é perturbador demais para minha mente, desvio o olhar com horror em todo o meu corpo. O cara se contorce de dor no chão segurando a mão em seu pescoço e James sem pensar atira na cabeça do cara que matou seu amigo.

— Meu Deus amigo, aguenta firme, vamos tirar você daqui.

— Ta-tarde... Demais

— Não não, não, fala isso.

— Eles... O.... Chamaram... — E falando com dificuldade, deu suas últimas palavras nos braços de James, seu sangue se espalhava rápido no chão. Eu estou paralisado.

— O chamaram - Murmurou James, sem querer aceitar essa afirmação. — Venha garoto. — Continuou ele.

Caminhando, eu não me controlo, preciso falar logo.

— Que merda é essa. Eu vi isso antes..

— Viu? Quando?

— Hoje na floresta, um senhor estava comendo restos de um animal.

— Está acontecendo — Ele de novo fala consigo mesmo — A saída está quase perto garoto.

— James, por favor, você pode me dizer o que está acontecendo?

— O dia da profecia chegou.

— Que?

— Você já foi aos cultos, sabe do que estou falando. Salaniel escolherá os seus, e punirá os que irão para a dimensão da morte. — Isso é uma piada, não é possível.

— Para, fica quieto. Isso não está acontecendo?

— Você não acredita na sua própria crença? — Exorta ele, com sua expressão séria e preocupada.

— Não faz sentido isso tudo.

— Você quer salvar sua irmã? A hora é ....

     Algo chama nossa atenção, as coisas começam a tremer e a cair. A estrutura despenca. Ao mesmo tempo, James desaparece nos escombros. Me desequilibro e caio no buraco que se abriu.

     Caio nas águas. É tão suja que mal consigo respirar direito. Eu estou nos esgotos abaixo da prisão.

Meu corpo não esta me respondendo, meus sentidos estão fracos, os olhos se apagam, só escuto sons de homens perdendo suas vidas. Coisas caindo sem parar, eu preciso me levantar, mas não consigo...

...4....

Meu corpo aos poucos volta a ganhar forças após eu despertar do grande tombo que tomei. Esse lugar fede a morte. Me levanto todo desengonçado me apoiando nas paredes. É, estou nos esgotos abaixo da prisão. Não me diga como esse lugar maluco foi construído, com certeza pode ligar à mansão dos "Pais". Sinceramente, eu não sei de nada, é sério, estou tão confuso quanto qualquer pessoa comum que esteja no meu lugar.

Sigo andando em frente acompanhando o trajeto dessa água nojenta. Observo lá em cima de onde cair e não vejo nenhum sinal de vida. Nem mesmo a de James, que a essa altura já deve estar morto, quando as coisas caíram em cima dele. Enfim, acredito que aqui será um bom lugar para fugir. O que me assusta é essa crise de raiva que tem dado nas pessoas. Poxa, deve ser o estresse que é viver nessa vila. Há há há, muito engraçado você Edward, faz piadinhas exatamente quando está com medo né.

Ainda bem que a arma está comigo e sigo andando devagar com receio de aparecer alguém do nada. Observo nas paredes os símbolos da nossa igreja, do culto. Será mesmo o dia que Salaniel virá e levará os seus escolhidos? Por muito tempo ouvi histórias nessa seita, coisas que aprendi desde quando era criança. Cremos em um deus que virá e fará da Terra um lugar do paraíso, porém, o dia da A Escolha, seria de sangue e de morte, onde pecadores serão corrompidos pelas trevas. Apesar dessas coisas sempre fui pouco cético, porém, seguia cada mandamento.

Sinceramente eu não sei de nada mais, eu só quero salvar a minha irmã e ir embora desse lugar, apesar de não saber o que tem fora dessa vila. Sim, os nossos pais nunca deixaram sair daqui, só eles podiam porque o mundo lá fora está destruído e corrompido. Entendo que somente aqui tem vida.

Finalmente consigo sair desse esgoto. Ar puro, eu precisava disso, muito disso. Logo abaixo está a vila, e bem ao norte a mansão. Preciso passar pela vila e a floresta para ir até à mansão. Será que Emily está lá? Não sei, mas devo me recorrer aos "Pais". Caminhando rumo a vila, eu escuto gritos bem ao longe. Isso me deixa agitado por dentro, minha respiração fica mais pesada. São gritos de dores, de pedido de socorro. Não tô com coragem de chegar na vila, mas é necessário ir.

Depois de uns minutos cheguei à vila, mais gente morta jogada no chão. Sério, o que está acontecendo? Fico andando, olhando toda aquela cena, meu estômago revira. Eles foram destroçados por alguma coisa, e eu continuo caminhando.

— Xiu, ei, garoto, venha aqui — Escuto uma voz de um homem me chamando, ele fez um som e sigo tentando procurar, o encontro. Esta no andar de cima de uma das casas da vila. Fui até lá, alguém abriu a porta e me puxou para dentro da casa.

— Fica quieto.

— Pode me dizer que merda tá acontecendo aqui? — Perguntei.

— Tem gente que não foi pura, e está sendo possuída pelos demônios da dimensão da morte. — Disse o velho, segurando também uma arma, tem outras pessoas dentro daquela casa, mas não queria reparar muito nelas.

— Merda…

— Que foi?

— Vi alguém assim na floresta e também na prisão, fugi de lá agora.

— Então o julgamento começou. — Murmurou ele.

— Então eles estão mesmo... Possuídos?

— Sim.

— Então o que faremos?

— Precisamos ir até a mansão dos "Pais", eles podem nos prote....

De repente um braço passa pela janela e puxa o velho com força. Ele se desespera e outras pessoas tentam ajudar. Eram os possuídos, eu e mais duas pessoas ficaram atirando neles. Não adiantou, o senhor já esta lá fora sendo devorado por eles enquanto outros tentavam abrir a porta. Subimos as escadas correndo tentando procurar uma saída. Achamos uma janela no fim do pequeno corredor, eu e mais duas pessoas passamos, mas um ficou para trás e os possuídos correram e conseguiram alcançar a pessoa arrancando a carne humana dela.

Pulo no chão da vila, e uma outra corrida começa rumo à mansão. Outros possuídos vieram atrás da gente enquanto atiramos neles.

— Vai, vai, vamos irmãos, vamos. — Disse um deles. Esta com um casal, mas nem reparei por conta da adrenalina toda. E na saída ao norte da vila, fomos surpreendidos por dois deles. Tudo acontece ao mesmo tempo, e rápido demais, um deles me derrubou, o moço atirou na cabeça, quase fui devorado. O outro luta com uma mulher, mas ela conseguiu se sobrepor e deu um tiro na cabeça dele. Conseguimos sair da vila.

— Conseguimos, conseguimos — O Moço está morrendo de cansaço, estávamos na floresta próximo à mansão.

— Que loucura, que loucura — Trêmula, a mulher fala se reconstando na árvore.

   A floresta esta escura assim como a noite que se encontra. Eu noto símbolos triangulares nas árvores da minha religião, estão todas pintadas de cor verde, azul e roxa... O mais estranho é que todas as árvores que eu vejo estai assim. O bizarro é que nunca notei isso antes.

... 5...

Tentamos como podíamos entrar na porta principal da mansão. Mas não deu certo. Nós três resolvemos ir para um outro lado. Após tentar dar uma descansada nessa noite maluca resolvemos seguir em frente. E no caminho sempre noto o símbolo nas árvores. Tudo esta quieto e sombrio. Eu não esperava o que viria amanhã, eu apenas quero ficar vivo junto com a minha irmã. Não paro de pensar nela. Como ela está agora? Com quem? Será que estão maltratando minha menina? Ah, estou prestes a explodir com tantas perguntas que perfuram o meu coração.

   Andando um pouco mais abaixo da mansão, encontramos uma pequena entrada abaixo dela. Olhamos um para o outro em silêncio. Todos receosos e com coração na mão incertos pelo que podia vir. A entrada era praticamente dos fundos da mansão. Onde os trabalhadores entram e saem no horário de trabalho, por isso decidimos seguir por esse caminho. Abrimos a porta da pequena casa que dá acesso à mansão. Precisaríamos passar por ela para chegar aos nossos "Pais", que até agora não se manifestaram desde que toda essa loucura começou. Estou começando a achar que de fato estamos enfrentando o dia do julgamento de Salaniel.

— A casa toda destruída — Disse o homem

— O cheiro está ótimo aqui - ironizou a mulher.

— Vocês são forasteiros né? Nunca vi vocês aqui. — Digo a eles

— Sim, vim visitar o meu pai — a mulher responde, mas olhando a janela atenta se alguma coisa podia acontecer.

— Pior visita em séculos.

— Você nos chamou de irmãos, você segue a nossa religião também? — Tento criar um assunto para espantar todo esse medo. Que coisa bizarra, difícil parar para refletir nisso. Tudo é uma grande corrida.

— Lá fora? Sim seguimos. — Carregando sua arma e fazendo melhorias, o homem responde enquanto carrega ela colocando mais munição.

— Amor, de manhã temos que sair daqui, precisamos dar nosso jeito. — A mulher se mostra horrorizada, e com razão.

— Calma Cassandra, desespero não vai levar a lugar nenhum. — Ele dá uma exortação nela.

— Vocês acham que estamos enfrentando o dia do julgamento? — Essa dúvida não sai da minha cabeça. Estou com ela a mil dentro de mim.

— Eu não sei garoto, se estamos, já estamos condenados. Precisamos seguir e encontrar os  "Pais", eles são os únicos que podem nos ajudar — Disse ele. Eu recarreguei minha arma e seguimos o nosso caminho.

    Passamos pela cozinha, o cheiro de queimado paira sobre o ar. Com certeza estavam cozinhando algo para os "Pais". Quieto demais, quieto demais por aqui. Seguimos andando atentos ao redor. Abro uma porta que dá acesso ao corredor e no fundo tinha uma escada, haviam duas portas uma de frente para a outra. Andamos até que escutamos um barulho no lado de dentro da porta. Choro, medo, a atmosfera daquele ambiente é endurecedor. A mulher vai até a escada e o homem fica um pouco mais atrás. Me aproximo da porta, colocou a mão na maçaneta, que faz um ruído só de gira- la. Empurro devagar e vejo algo difícil de descrever, coloco a mão na boca para não vomitar novamente, tudo que vi até agora é nojento e podre. Há uma garota nesse quarto escuro, chorando e ao mesmo tempo devorando a barriga de um homem. Sons de alguém faminto e sendo torturado por está fazendo aquilo. Seu vestido azul com branco ganhou uma cor avermelhada. Ela se vira olhando para mim, era apenas uma adolescente. Seus lindos olhos verdes eram manchados pelo sangue humano e uma raiva de um outro mundo. Ela esta possuída. Ao avançar para cima de mim atirei na cabeça dela. Caída no chão, suas lágrimas escorrem pelos olhos. Tentei ver se tinha alguma coisa de importante no quarto e não havia nada. Que estranho... Cadê o casal que estava comigo?

    Saio do quarto, não os vejo no corredor, subo as escadas e entro na porta a frente. Do nada, literalmente, chegou na mansão ao passar pela porta... Ué?! Imaginei que seria um longo caminho ainda para chegar até lá, mas vejo que já estou aqui.

     A mansão é enorme, a coisa mais linda que já vi na vida, estátuas do nosso deus em vários cantos do salão, os símbolos triangulares rodeam o lugar, e no meio daquela loucura toda o casal esta no centro da mansão com outras pessoas ao redor de alguma coisa que não consigo entender bem o que é. É igualzinho ao templo que tem na vila, porém, ainda mais bela. Me aproximo chamando eles. Não respondem. Sinto uma batida forte na minha cabeça. Caio no chão com tudo... O que está... Acontecendo... Agora?.... Emily...

...6...

— Queria te dizer. Estávamos de alguma forma, ansiosos pela sua vinda.

     Meu olhos se abriram, uma claridade cobre os meus olhos. Alguém esta na minha frente, em pé, usa batina preta com uns traços dourados.... É o líder da vila... Em minha volta vejo os conselheiros, usando o mesmo estilo de roupa dele, mas vermelho. Estou na cadeira amarrado.

— O que... O que aconte...ceu? — Não consigo falar direito, minha cabeça queima pela pancada que me deram.

— Te explicaremos meu filho. O dia do julgamento chegou, Salaniel está prestes a vir e abrir o portal para o paraíso. — Ele anda em volta de mim com ar de arrogância.

— O que... Está dizendo?

— Não veio aos cultos Edward? Seus pais não o ensinaram os nossos costumes?

— Ensinaram, mas acho loucura como tudo está acontecendo... — Após eu ter dito isso, no meio dos conselheiros apareceu a "Mãe". Ela é loira, cabelos curtos, olhos azuis que escondem melancolia. Ela se aproximou de mim, se agachou para ficar em minha altura, e ficou ali, parada, me encarando.

— Albert, o nosso filho está perdendo a fé - D

Ela coloca a mão no meu rosto, dirigindo sua fala para o Albert. Sinto uma falsa compaixão vindo dela. O "Pai", que até então não sabia qual era o nome dele, deu de ombros e caminhou até o centro do templo.

— Seu "Pai" vai fazer você voltar a ter fé de novo meu pequeno Edward. — Ela confirma com a cabeça

— Meus pais morreram, não me chamam de filho.

— Foi um propósito eles terem morrido.

— Como assim?

— Eles recusaram a dar a sua irmã como uma oferta para nós.

— Do que está falando?

— Albert não te contou querido? Seus pais morreram porque negaram Salaniel. Negaram a oferta do dia do nosso deus.

— Me soltem, me tirem daqui!

— Dia do julgamento Edward, você verá algo lindo. Uma pena sua família ter sido desleal com Salaniel.

— Sua irmã jovem rapaz, é a moça perfeita para receber Salaniel em sua alma. — Disse Albert de costas, enquanto contemplam alguma coisa em cima do templo, não consigo enxergar direito pra ver o que é.

— Deixa minha irmã fora disso!

— Xiii — Disse a "Mãe" — Respeita o seu "Pai".

— O que vocês fizeram com a Emily. — A fúria queima como fogo dentro dos meus ossos. Me mexo na cadeira Max está impossível de sair.

— Fique em paz, ela estará bem.

    Ela se levantou, e juntou-se com os conselheiros em volta no centro do templo. Eu não estava entendendo nada. E todos começaram a orar em uma língua estranha. Em todos esses anos que frequentei e aprendi isso tudo, eu nunca vi nada assim.

É sombrio demais tudo aquilo. Meu coração começou a tremer, uma sensação sufocante apertou minha alma. Atmosfera naquele lugar é completamente bizarra e perturbadora. Cada um deles ora em cima dos símbolos triangulares de forma bem sincronizada. De repente. Todos caem no chão e se debatem, gritando muito. Incluindo os "Pais".

Estou paralisado, o suor percorre o meu rosto... Até que uma gota bate no chão. Começo a me mexer na cadeira tentando sair, me livrar das cordas. Vejo algo se mexendo no centro do templo... Merda... Vi o braço se levantando, outro também, e vi o corpo dobrando para fora de onde estava. Aquela coisa tem gosmas brancas, como uma tinta em todo o seu corpo. A coisa se arrasta e tem uma figura humanoide bizarro. Ele vem em minha direção. Merda, merda, merda, merda.... A corda está bem amarrada.. Que coisa é essa... Droga... Ela se arrasta, e se arrasta... Escuto tiros... De onde está vindo esses tiros???

   

     Quando percebo a coisa já estava de pé. É Emily, toda cheia de gosma com seu rosto distorcido e o corpo com muitos machucados.  Alguém atira nela.

— EMILY!!!

— Garoto, não é ela, acredite em mim.

— O que você fez? Não estava morto? — Tanta pergunta. Tantos porquês.

— Longa história. — Ele veio me desamarrando. Corro até a Emily caída no chão.

— Garoto, essa não é mais a Emily, temos que dá o fora daqui.

— Não vou sem ela!

    Ele anda até mim e me puxa.

— Ela não está morta, apenas desacordada. Salaniel está ganhando forças ainda, venha.

— Como sobreviveu? Como saberei que posso confiar em você? Hein?

— Eu consegui escapar. Tomei um caminho mais longo para chegar até aqui. Mas vejo que não está tão seguro...

     Quando menos esperamos. O corpo de Emily levanta.

— Emily — Chamo com esperança dela de me responder.

— Edward. - Ela olha pra mim, ela está irreconhecível, e a sua voz não é mais a mesma. Aquele olhar triste ainda está intacto como antes.

— Por favor, vamos embora daqui. — Insiste o James, mas o ignoro.

— Edward, não caia nessa.

— Porquê iria, isso é gostoso demais Edward. Venha comigo meu amor, irmão meu. — Sou tentado a deixar Salaniel me envolver. Max sou desperto. O corpo dela cai no chão e começa a se debater.

      O corpo dela estoura espalhando s#ngue em todo lugar. As suas costas criam asas. O que fizeram com a minha irmã... Emily... Ela grita, e de repente todos que estam caídos começaram a gritar e a se debater no chão. Até que todos sofrem uma parada e param de se mexer, e a Emily, fica cada vez mais horripilante e monstruosa, e ela flutua sobre o ar. A forma dela é de um anjo caído, parece aquelas estátuas do templo. Suas asas são enormes e ela possui três pedras em volta do pescoço. É azul, verde e roxo. O cheiro daquilo é de algo mais bizarro e nojento que já senti. Cheiro de enxofre, e seu corpo pinga uma tinta branca. Olha, é complicado descrever algo assim. James me passou uma arma.

— Vamos precisar.

— Obrigado por ter vindo a tempo...E me desculpe Emily.

  Ele flutua sobre o ar.

— Eu Sou ... Salaniel... — E pousa no chão. Já não é mais minha irmã, é de fato Salaniel.

  .   Na mesma hora sem pensar duas vezes eu dou um tiro. James também. Parece que não dá nenhum arranhão nele.

— Edward, tenta atirar nas pedras no pescoço.

    Salaniel criou raios amarelos em suas mãos e jogou na gente. Conseguimos desviar. Ele andava lentamente, com ar de superioridade. A desgraça é um deus, tem motivo de se sentir assim.

— James, a espingarda, me dê a espingarda!

    Ele jogou mais raio na gente. James joga a arma em minha mão. Só tem cinco balas. Merda... É agora ou nunca mais. Miro nela, mas novamente ela joga essa merda de raio. Salaniel ataca e vem se aproximando. Aqui é um lugar grande, preciso me afastar e atirar em uma das pedras, James deu uma ótima ideia. Mas como vou me afastar?

     Miro novamente nela, e rapidamente atiro. Salaniel cai no chão sofrendo de dor. É isso, são as pedras!

— James, você está certo, as pedras. Atire nelas.

— Certo.

   Quando menos esperamos, Salaniel atacou novamente. O raio pegou em James, que voou contra a parede. Caiu no chão e bateu a cabeça muito forte, na minha frente... Ele esta morto... Morreu na hora... James... Ah merda... Me movi para me esconder em outro lugar enquanto Salaniel se prepara para um outro ataque. Isso já está demorando muito. Muito de novo...  Acerto mais um tiro.... Isso... Tempos de caça foi o propósito né... Salaniel cai no chão de novo, aproveito a brecha e dou mais um tiro com a espingarda. Outro, outro e outro... Acabou a munição... Salaniel grita de dor e agonia, e uma grande quantidade de energia se instaurou naquele lugar. Não consigo enxergar nada com tanta luz. E Salaniel virou apenas uma poeira levado para os ares... Quando olho para cima, vejo vários.... Eu mesmo...????.... De diversas formas e jeitos... Como se fosse um sonho.... O que eu estou fazendo naquelas imagens? E tudo se apagou de repente. O que foi que eu acabei de ver? Olho em volta, os corpos estão no chão. Todos mortos...Inclusive minha irmã que teve todo seu corpo estourado pelo Salaniel.

Ainda tenho perguntas, mas a maioria das respostas foram respondidas, acho que sobrevivi ao dia do julgamento... Não sei, mas a melancolia ganhou espaço na minha alma, um vazio, mil coisas se passam aqui na minha mente. Que imagens eram aquelas que eu a vi? Porque eu vi a mim mesmo? Tantas coisas malucas. Eu jogo minha arma no chão, e saio naquela casa maluca.

      Caminho para fora da vila. Minha cabeça não esta muito boa, tudo esta vazio e quieto, a neblina cobre os corpos e o sangue derramado. Parece que sou o único sobrevivente disso tudo. E sigo andando, sem ter para onde ir, apenas sigo andando para uma estrada que dá acesso lá fora, para o mundo fora da vila.

...FIM...

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Comments

Wan Marte

Wan Marte

Bravo! Bravo! 👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽
Melhor história!!

2022-09-19

1

Wan Marte

Wan Marte

James?

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