O PESO DO NOME RISE.

Kaya decidiu que não anunciaria a separação apenas em um tribunal frio; ela o faria na casa dos sogros, os influentes Comandante Roger Rise (aposentado da Polícia Civil) e a socialite/ex-cantora de Bossa Nova, Lúcia Rise. Era uma jogada estratégica, uma forma de garantir que a decisão fosse irrevogável e que Dion não pudesse usar a influência familiar para negociar um adiamento.

Na tarde de sexta-feira, o *coche* de Kaya deslizou pela alameda arborizada do bairro nobre, em direção à residência dos Rise. Ela sentia o peso do nome "Rise" sobre os ombros; um nome sinônimo de ordem, carreira e, ironicamente, de uma fachada de perfeição que ela não podia mais sustentar.

Ao chegar, Roger a recebeu com um aperto de mão firme, mas desconfiado. Ele notou a ausência de Dion.

"Kaya, que surpresa. Onde está o garoto? Ele deveria estar aqui para o nosso chá da tarde semanal."

"Ele está ocupado, Senhor Roger. Com o trabalho." Kaya respondeu, entrando na sala de estar opulentamente decorada, onde Lúcia estava afagando um gato persa.

Lúcia, sempre dramática, levantou-se com um suspiro melódico. "Dion sempre ocupado. Meu filho é um herói, mas às vezes parece um fantasma, não é, querida?"

Kaya sorriu educadamente, sentando-se no sofá de veludo. Ela respirou fundo, ignorando a indireta sobre a ausência de Dion.

"Eu vim hoje porque tenho algo importante para anunciar a vocês dois. Eu e Dion estamos iniciando os procedimentos de divórcio."

O silêncio que se seguiu foi mais denso que a névoa da manhã. Lúcia deixou cair a xícara de chá, que Roger pegou no ar com reflexos surpreendentes para um homem aposentado.

"Divórcio?" Roger recuperou a compostura rapidamente, mas seus olhos estavam duros. "Isso é algum tipo de blefe, Kaya? Vocês dois têm uma vida perfeita, uma carreira brilhante e um filho a caminho... O que aconteceu?"

"O que aconteceu?!" Kaya começou, olhando diretamente para Roger, "é que Dion escolheu um parceiro diferente para sua vida: a carreira dele. Eu não sou uma parceira de apoio; sou um acessório que ele está prestes a descartar na próxima reorganização."

Lúcia interveio, com a voz cheia de melancolia ensaiada. "Mas o trabalho dele é tão importante! Ele está atrás daquele assassino, o Relojoeiro. É perigoso, sim, mas é um chamado, Kaya."

"Não é o perigo que me afasta, Lúcia," Kaya rebateu, sua voz firme. "É a falta de presença. Eu não me divorcio porque ele é um detetive. Eu me divorcio porque ele me trata como uma testemunha que precisa ser acalmada e dispensada, não como uma esposa. Ele está tão focado em resolver o *tempo* de outras pessoas que esqueceu que o *nosso* tempo acabou... Eu nunca contei a vocês, mas ele me trata assim desde o início, eu apenas não queria contar que ele sempre me tratou com distância, desinteresse e obrigação! Eu apenas guardei o máximo que podia, mas agora não vejo mais motivos para guardar o que me feria tanto!

Roger, o ex-comandante, processou a informação com a frieza de um interrogatório. "Ele está envolvido com o Relojoeiro de forma pessoal, não está? Esse caso está consumindo-o. É por isso que ele está agindo de forma errática, mas 2 anos é realmente muito tempo. Hmph... Não tenho palavras para isso!"

Kaya balançou a cabeça. "Exatamente, o caso é o sintoma, senhor Roger. A doença é a incapacidade dele de priorizar o que é real e imediato sobre o que é abstrato e urgente. Eu marquei a audiência preliminar para a próxima semana. Eu não vou esperar mais 30 dias para ter um marido que só existe nas entrelinhas de um boletim de ocorrência."

Lúcia começou a chorar discretamente, um som que parecia ensaiado para a ópera. Roger, no entanto, apenas assentiu lentamente.

"Entendo. Você está tirando o poder dele de adiar o inevitável. Inteligente. Mas saiba disto, Kaya: seu filho é um Rise. Dion nunca o abandonará, e nós não o deixaremos."

A ameaça velada era clara: a batalha legal seria travada não apenas contra Dion, mas contra a influência de toda a família Rise.

Kaya se levantou, sentindo-se estranhamente mais leve por ter dito a verdade em voz alta. "Eu sei. E é por isso que eu preciso que vocês entendam: esta não é uma briga de carreira contra casamento. É uma questão de tempo. E o meu tempo está acabando, mas agradeço a compreensão de vocês dois."

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