A INVASÃO DO TEMPO PESSOAL.

Dion passou a noite em claro, não na delegacia, mas em seu escritório particular, com o processo de divórcio de Kaya aberto em uma tela e os diagramas do Relojoeiro na outra. Ele tentou encaixar o "3:17" em qualquer código conhecido: um endereço, um número de série, um horário de morte. Nada batia com a cronologia dos assassinatos anteriores.

Na manhã seguinte, ele estava exausto, mas a necessidade de provar a Kaya que ele ainda era capaz de controlar o caos era mais forte que o sono. Ele a encontrou na cozinha, preparando um café forte, vestindo um tailleur impecável e confortável que combinava elegância e estabilidade para sua barriga que não era tão grande, mas já precisava de conforto – a armadura de uma mulher prestes a entrar em batalha legal.

"Eu não vou adiar a audiência," Kaya declarou, sem rodeios, servindo uma xícara para ele com uma precisão robótica. "Eu preciso de um compromisso seu, Dion. Se você está tão focado em honrar um prazo, honre o nosso."

Dion tomou um gole do café, sentindo a cafeína queimar sua garganta. "Eu entendo o prazo. Mas e se o assassino estiver mirando especificamente no dia da audiência? E se ele souber que esse é o dia em que eu estarei mais vulnerável, distraído?"

Kaya cruzou os braços, o olhar penetrante. "Você está tentando me dar uma desculpa para não comparecer? Ou está me dizendo que a sua prioridade é um fantasma que te ameaçou com um relógio, e não a estabilidade do seu filho?"

Ela o olha sem hesitação, a postura decisiva e confiante de uma mulher que não estava mais querendo brigas, apenas uma clara e decisiva resolução para sua mente cansada, afinal Dion já havia usado essa desculpa de estar na mira de"assassinos" antes, ao menos umas quatro vezes, apenas para fugir de um compromisso, ou jantar, ou até mesmo acompanhá-la em algum lugar onde ambos precisassem comparecer juntos, assim ficando difícil fazê-la entender que dessa vez, não eram apenas"desculpas" sem fundamentos!.

"Não é um fantasma, Kaya! Ele me atacou fisicamente! Ele está ligado ao caso do Relojoeiro de uma forma que eu ainda não entendi, mas que é pessoal." Dion bateu a mão na mesa, fazendo a porcelana tilintar. "Eu preciso de tempo para ligar os pontos do 3:17. Se eu puder resolver isso, eu volto para você com a cabeça limpa, provando que sou eficaz."

"E se você falhar? Se a polícia não puder te proteger? O que sobra para nós?" Kaya se aproximou, sua voz baixando para um tom quase de súplica, rompendo a fachada de gelo. "Eu não ligo para sua eficácia, Dion. Eu ligo para a sua presença. Eu não quero um marido detetive que só aparece quando o caso está resolvido... é por isso que estamos entrando em algo que eu sequer esperava que pudesse acontecer entre nós, mesmo diante de tudo o que já passei ao seu lado!!"

Dion sentiu o peso da verdade naquelas palavras. Ele havia se tornado tão obcecado pela lógica dos mecanismos de relógio que havia esquecido o mecanismo de seu próprio casamento.

"Eu vou resolver isso," ele prometeu, a voz rouca. "Mas não vou adiar a audiência. Eu estarei lá. Mas preciso que você me dê uma janela. Me dê 48 horas, até terça-feira à tarde. Se eu não tiver uma pista concreta sobre 3:17 até lá, eu coloco o distintivo de lado e foco apenas em você e no processo."

Kaya o observou, pesando a sinceridade em seus olhos cansados. A oferta era um risco calculado, uma aposta na sua capacidade de cumprir o que prometia sob pressão extrema.

"Terça-feira à tarde," ela confirmou, um aceno breve. "Se você não estiver lá, Dion, não haverá mais prazos a negociar. Eu vou seguir com o processo, com ou sem você."

Dion assentiu, sentindo um misto de alívio por ter ganhado tempo e pavor pelo ultimato. Ele pegou sua pasta de couro. "Vou descobrir o que é 3:17. É a chave para tudo, eu preciso ir trabalhar agora, qualquer coisa, mínima que seja, não exite em me ligar!

Indo para a porta ele para no meio do caminho e ao sair, ele olhou para trás. Kaya estava parada junto à janela, não mais olhando para o jardim, mas para o reflexo dele no vidro, como se estivesse vendo um intruso em seu próprio lar.

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