O TEMPO DE KAYA.

O médico da delegacia suturou o corte superficial na têmpora de Dion com uma eficiência que beirava o desinteresse. Ele ignorou a dor latejante e a tontura persistente, focando-se unicamente na gravação da ameaça. O agressor não havia deixado digitais, e o pó químico era um agente de desorientação comum, sem traços de toxinas letais. Era um aviso, não uma tentativa de assassinato.

No entanto, a frase ecoava com uma ressonância perturbadora: "Vai ser o horário de sua ruína!"

Dion sabia que sua ruína não viria de um assassino de rua. Ela viria da instabilidade que ele tanto desprezava. Ele dirigiu para casa, não para descansar, mas para confrontar a fonte de sua vulnerabilidade.

A casa que ele e Kaya dividiam era uma mansão modernista, cheia de linhas limpas e vidro, um reflexo do desejo de Dion por transparência controlada. Kaya estava na biblioteca, lendo à luz de um abajur de design escandinavo. Ela não levantou a cabeça imediatamente, mas Dion percebeu a tensão em seus ombros.

"Você está atrasado," ela disse, sua voz calma, mas carregada de uma finalidade que Dion reconhecia como o fim de uma negociação.

"Tive um imprevisto no trabalho," ele respondeu, tirando o paletó ensanguentado e jogando-o sobre uma cadeira de couro – um gesto de desleixo que fez Kaya estremecer.

"Um imprevisto que exigiu pontos na cabeça?" Ela finalmente olhou para ele, e a expressão em seus olhos não era de preocupação, mas de avaliação fria. "Você está se arriscando mais do que o necessário, Dion."

"Estou trabalhando em um caso de assassinato em série," ele retrucou, a defensiva automática disparando. "É perigoso."

"E o nosso divórcio não é perigoso? Você acha que a lei protege a criança de um lar onde os pais não se querem? Isso é uma falha de cálculo, não um risco aceitável."

Dion sentiu a necessidade urgente de confessar, de compartilhar o peso da ameaça, mas as palavras ficaram presas. Como ele explicaria que o assassino sabia sobre o divórcio? Que a hora de sua ruína poderia ser a hora em que ele perderia o controle sobre a narrativa de sua vida?

"Kaya, eu preciso que você entenda," ele começou, aproximando-se. "Eu estou perto de resolver o caso do Relojoeiro. É complexo, e o assassino sabe que estou perto. Eu não posso me distrair agora."

Ela se levantou, colocando o livro de lado. A diferença de altura entre eles parecia diminuir sob a pressão do momento.

"Você sempre usa o trabalho como escudo, Dion. Eu não sou uma testemunha a ser interrogada; eu sou sua esposa. E, mais importante, sou a mãe do seu filho. Eu te dei um prazo de 30 dias para reconsiderar nossa separação. Eu não vou esperar. Eu não posso forçar você a amar, mas não vou permitir que você use nossa situação para se esconder da realidade."

Kaya caminhou até a janela de vidro, olhando para o jardim escuro, uma distância clara e que estava pesando sob os ombros dela há muito tempo.

"Eu marquei a audiência preliminar para a próxima semana. Não para a data final do nosso acordo, mas para iniciar o processo formalmente. Eu preciso de clareza, Dion. Se você quer lutar por nós, lute agora, com honestidade, não com investigações e mentiras de que estava tão ocupado que não pode vir à minha direção... Eu estou exausta de escutar essa frase."

Dion sentiu o chão ceder sob seus pés. A audiência. Ele havia planejado usar os 30 dias para capturar o Relojoeiro e, com a crise resolvida, forçar Kaya a voltar à sua programação. Agora, o cronograma dela havia invadido o dele.

Ele olhou para o relógio de pulso. 19:30. Ele havia perdido tempo precioso na delegacia e na oficina, agora não sabia seu próximo passo, o que era algo desconcertante e totalmente inesperado para o genioso "Dion", que sempre estava passos à frente, mas agora parecia retroceder todos os passos que achava estar na frente dela.

"Você está agindo por impulso," ele conseguiu dizer, a voz falhando levemente.

Kaya se virou, e pela primeira vez, Dion viu algo além de determinação em seus olhos: uma ponta de dor.

"Impulso? Não... Eu estou agindo com a precisão que você me ensinou a admirar. Eu estou definindo um prazo para a minha vida, Dion. O Relojoeiro está te ameaçando com a 'sua ruína'. Eu estou te dizendo que a sua ruína é a sua incapacidade de escolher o que realmente importa antes que o tempo acabe."

Ela entregou-lhe um papel dobrado – um resumo do processo de divórcio com a data da audiência marcada a caneta vermelha.

"Resolva o seu caso, Detetive. Mas não se esqueça que o seu tempo está contando fora do escritório também."

Ela passou por ele, sem adicionar qualquer outra palavra que pudesse os fazer continuar essa discussão, que realmente não iria chegar a lugar algum por agora. Dion ficou sozinho na sala, a ameaça do assassino e a decisão de Kaya se fundindo em uma única pressão esmagadora. Ele tinha duas contagens regressivas rodando em paralelo: uma para a captura de um criminoso metódico, e outra para a perda total de sua vida pessoal. Ele precisava urgentemente entender o que significava 3:17 para o Relojoeiro, porque, de alguma forma, aquilo parecia estar diretamente ligado ao seu próprio relógio biológico.

Capítulos
1 O CÓDIGO... E ONDE TUDO COMEÇOU A DESMORONAR!
2 O MECANISMO DA AMEAÇA.
3 O TEMPO DE KAYA.
4 A INVASÃO DO TEMPO PESSOAL.
5 O PESO DO NOME RISE.
6 A REVELAÇÃO DE QUE AGORA, A NOTÍCIA NÃO É SÓ ENTRE ELES!
7 A MARCA DA URGÊNCIA E O TERCEIRO ATO DO DESCON...
8 O TAPETE DE MEMÓRIAS E O PONTO DE RUPTURA.
9 O ALVO REVELADO E A FUGA DESESPERADA.
10 O PRESENTE MALIGNO E A ILUSÃO DA SEGURANÇA.
11 O RASTRO DO SEDÃ E A ESCOLHA IMPOSSÍVEL.
12 A EMBOSCADA NA INTERSTATE.
13 O PREÇO DA ESCOLHA DE PERSEGUIR O HOMEM ERRADO E A DISTRAÇÃO.
14 PREÇO DO SANGUE.
15 O SILÊNCIO DE WILLOW CREEK.
16 O CONFLITO EM WILLOW CREEK.
17 O PLANO DE INFILTRAÇÃO.
18 CÓDIGO LÓTUS.
19 O VÉU DA CIDADE, QUE ENCOBRIA A FUGA DE VOLTA AO INTERIOR.
20 A SOMBRA NO CONCRETO.
21 A FRUSTRAÇÃO E O NOVO TEMOR.
22 O DESESPERO DE DESAPARECER DE NOVO
23 O ENCONTRO INESPERADO NA MATA E O PRÓXIMO PASSO.
24 O REFÚGIO EM HAJIN
25 O PESO DA NEGLIGÊNCIA.
26 NO SILÊNCIO DE HAJIN.
27 A TEIA DE ROGER.
28 O RELÓGIO DEIXADO COMO AVISO.
29 O MAPA DE MENDES E O DESPERTAR DOS SENTIMENTOS.
30 A CONFISSÃO NO TELEFONE.
31 O PREÇO DA VERDADE.
32 A OBSESSÃO DE ALEXANDER POR SEU "TROFÉU" ROUBADO.
33 O CERCO NO ARMAZÉM.
34 O SACRIFÍCIO DE MENDES.
35 O LUTO E A PROMESSA.
36 O COMANDANTE E O SILÊNCIO QUEBRADO.
37 O PREÇO DA HONRA E A BUSCA EM HAJIN.
38 O PEDIDO DE PERDÃO E O ABRAÇO NECESSÁRIO.
Capítulos

Atualizado até capítulo 38

1
O CÓDIGO... E ONDE TUDO COMEÇOU A DESMORONAR!
2
O MECANISMO DA AMEAÇA.
3
O TEMPO DE KAYA.
4
A INVASÃO DO TEMPO PESSOAL.
5
O PESO DO NOME RISE.
6
A REVELAÇÃO DE QUE AGORA, A NOTÍCIA NÃO É SÓ ENTRE ELES!
7
A MARCA DA URGÊNCIA E O TERCEIRO ATO DO DESCON...
8
O TAPETE DE MEMÓRIAS E O PONTO DE RUPTURA.
9
O ALVO REVELADO E A FUGA DESESPERADA.
10
O PRESENTE MALIGNO E A ILUSÃO DA SEGURANÇA.
11
O RASTRO DO SEDÃ E A ESCOLHA IMPOSSÍVEL.
12
A EMBOSCADA NA INTERSTATE.
13
O PREÇO DA ESCOLHA DE PERSEGUIR O HOMEM ERRADO E A DISTRAÇÃO.
14
PREÇO DO SANGUE.
15
O SILÊNCIO DE WILLOW CREEK.
16
O CONFLITO EM WILLOW CREEK.
17
O PLANO DE INFILTRAÇÃO.
18
CÓDIGO LÓTUS.
19
O VÉU DA CIDADE, QUE ENCOBRIA A FUGA DE VOLTA AO INTERIOR.
20
A SOMBRA NO CONCRETO.
21
A FRUSTRAÇÃO E O NOVO TEMOR.
22
O DESESPERO DE DESAPARECER DE NOVO
23
O ENCONTRO INESPERADO NA MATA E O PRÓXIMO PASSO.
24
O REFÚGIO EM HAJIN
25
O PESO DA NEGLIGÊNCIA.
26
NO SILÊNCIO DE HAJIN.
27
A TEIA DE ROGER.
28
O RELÓGIO DEIXADO COMO AVISO.
29
O MAPA DE MENDES E O DESPERTAR DOS SENTIMENTOS.
30
A CONFISSÃO NO TELEFONE.
31
O PREÇO DA VERDADE.
32
A OBSESSÃO DE ALEXANDER POR SEU "TROFÉU" ROUBADO.
33
O CERCO NO ARMAZÉM.
34
O SACRIFÍCIO DE MENDES.
35
O LUTO E A PROMESSA.
36
O COMANDANTE E O SILÊNCIO QUEBRADO.
37
O PREÇO DA HONRA E A BUSCA EM HAJIN.
38
O PEDIDO DE PERDÃO E O ABRAÇO NECESSÁRIO.

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